MULHERES NEGRAS: A LUTA EVANGÉLICA CONTRA O RACISMO E SEXISMO

Quando comecei a pensar sobre nós negras evangélicas, lembrei dos filmes hollywoodianos que mostravam a força das mulheres negras escravizadas ou empregadas domésticas, resistindo as “desgraças” entoando cânticos gospel. Isso marcou minha vida, especialmente o filme Imitação da Vida de 1959, onde uma mulher negra, Juanita Moore ajuda uma atriz em início de carreira branca e acaba morando com ela juntamente com sua filha, que tem a pele clara. Durante todo o filme, podemos ver a ascensão da mulher branca, que vive romances. Enquanto a mulher negra, vive o dilema do racismo com a filha que a rejeita por ser negra. Mulher dócil, servil, sem reclamar de nada, cujo sonho era ter um funeral com cavalos brancos.

Quem não se lembra da personagem negra de “E o Vento Levou”, a atriz Hattie McDaniel, que ganhou um Oscar por sua atuação? Ela cuidava da sra. Scarlete. Era brava, às vezes, amava sua sinhá, era extremamente obediente e servil. Hattie não pôde participar da festa do Oscar e nem pôde ser enterrada no cemitério em Los Angeles por ser negra.

Essa imagem da mulher dócil, a mamãe cozinheira, sempre prestativa, persiste até os dias de hoje, especialmente nas igrejas. Quem não conhece uma senhora negra, gentil, que não tem dia, nem hora, nem lugar para ela? Que se sente feliz em estar sempre à disposição do pastor e dos membros da igreja?

As imagens de filmes, das histórias contadas nos flanelógrafos da APEC (Aliança Pró-Evangelização das Crianças), os quadros e vitrais das igrejas tiveram uma forte influência no que entendemos sobre Deus, Jesus Cristo e personagens bíblicos.

“Uma imagem vale mais que mil palavras” – Essa frase, que alguns atribuem a Confúcio, transformou-se em clichê. Repetida bem mais de mil vezes, não perdeu, por isso, sua validade. Ela é especialmente verdadeira quando se trata de cinema. E, mais ainda, quando o cinema é utilizado como arma de propaganda política e controle da opinião pública. Esse é o tema do livro “O Poder da Imagem”, de Wagner Pinheiro Pereira. (https://bit.ly/3pLhsJH extraído em 5/10/2020)

Aprendemos na Escola Dominical que Deus é um homem branco, sentado no trono, com barbas brancas e muitas vezes, com um olhar de superioridade. Jesus Cristo também é branco, de cabelos longos, olhos claros, com um olhar dócil. E o Espírito Santo é representado por uma pomba branca.

Obviamente, poucas vezes, nas histórias e filmes, personagens centrais foram representados e apresentados próximos da realidade. Jesus jamais seria loiro, com pele, cabelos claros e olhos claros, nascendo em Belém. Graças à tecnologia, podemos ter imagens de um Jesus como um homem de pele escura, cabelos curtos, o que, provavelmente, seria o mais próximo do real.

Portanto, as imagens transmitidas durante anos também reforçaram estereótipos para as etnias não brancas e isto atinge especialmente as mulheres negras. Mulheres negras não são retratadas nas histórias bíblicas. Quando o são, aparecem somente as figuras da escrava Agar, Rainha de Sabá e a mulher morena, porém formosa dos Cânticos dos Cânticos.

Sempre foi esperado e suportado nas igrejas protestantes, especialmente nas chamadas “históricas”, que as mulheres negras desempenhassem o papel de figurantes, subalternas, obedientes e gratas por estarem entre os brancos das igrejas. Seu destaque é limitado. É permitido na área do entretenimento, ou seja, nas músicas, nas artes e na culinária. É suportado nas lideranças de mulheres e no cuidado com as crianças, com a organização da igreja e com a ornamentação. Mas não é permitido nas estâncias superiores de decisão.

Foram mulheres negras, muitas nada “boazinhas”, que colaboraram na construção de uma identidade negra nas igrejas evangélicas. Podemos identificar movimentos no Brasil, nas décadas de 80 e 90. Com uma pesquisa mais extensa e profunda, com certeza, encontraremos iniciativas anteriores. Não temos tempo hábil para apresentar todos. Por isso, vamos destacar alguns movimentos importantes.

Por ELIAD DIAS


Parte do artigo “MULHERES NEGRAS: A LUTA EVANGÉLICA CONTRA O RACISMO E SEXISMO“, da Reva. Eliad Dias, presente na REVISTA DE EDUCAÇÃO CRISTÃ PARA ADULTOS com o tema “POR UMA FÉ CONTRA O RACISMO“. A revista com a temática especial “racismo”, foi organizada pelo Rev. Robson de Oliveira, que conta com a contribuição de várias autoras e autores, um material didático para pastoral de combate ao racismo.


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