O termo pardo e a Parditude no Brasil

No Brasil, o termo “pardo” tem uma história complexa e multifacetada, refletindo a diversidade racial e cultural do país. Desde o século XVI, início da colonização portuguesa, a palavra foi usada para descrever pessoas mestiças, especialmente aquelas de origem indígena e africana. Na famosa carta de Pero Vaz de Caminha em que o Brasil foi descrito pela primeira vez pelos portugueses, os nativos americanos eram chamados de “pardo”: “Pardo, nu, sem roupa”.

Diogo de Vasconcelos, um conhecido historiador mineiro, menciona a história de Andresa de Castilhos. Segundo as informações do século XVIII, Andresa de Castilhos foi assim descrita:

Declaro que Andresa de Castilhos, mulher parda … foi liberta … é descendente dos nativos da terra … Declaro que Andresa de Castilhos é filha de um homem branco e de uma mulher nativa”.

A historiadora Maria Leônia Chaves de Resende explica ainda que o vocábulo pardo era empregado para denominar pessoas de ascendência indígena ou mesmo os próprios indígenas: um Manoel, filho natural de Ana carijó, foi batizado como pardo; na Campanha vários indígenas foram classificados como pardos; os indígenas João Ferreira, Joana Rodriges e Andreza Pedrosa, por exemplo, foram denominados pardos forros; um Damaso se autodenominou pardo forro do natural da terra; etc.

Ainda, segundo Maria Leônia Chaves de Resende, o crescimento da população parda no Brasil abrange os descendentes de indígenas e não apenas os de ascendência africana:

o crescimento do segmento pardo não se deu apenas com os descendentes de africanos, mas também com os descendentes de indígenas, em especial os carijós e bastardos, incluídos na condição de pardo”.

Com o tempo, o termo passou a incluir também misturas com europeus e asiáticos, tornando-se uma categoria ampla e muitas vezes ambígua. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pardo é uma classificação ampla que abrange brasileiros multirraciais. O termo “pardo” foi usado pela primeira vez em um censo brasileiro em 1872. O censo seguinte, em 1890, substituiu a palavra pardo por mestiço (aquele de origem mista). Os censos de 1900 e 1920 não perguntaram sobre raça, argumentando que “as respostas escondem em grande parte a verdade”.

A partir de 1950, “pardo” foi incorporado como uma categoria oficial no Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atualmente, o IBGE define “pardo” como alguém que se identifica com uma mistura de duas ou mais opções de cor ou “raça”, incluindo branca, preta e indígena. Segundo o Censo de 2022, 45,3% da população brasileira se identifica como parda, tornando este o maior grupo racial do país.

A “Parditude” é um conceito que busca valorizar e reconhecer a identidade e a cultura dos pardos no Brasil. Este termo destaca a importância de entender as experiências e desafios únicos enfrentados por pessoas mestiças, que muitas vezes vivem em um “meio termo” racial. A Parditude enfatiza a diversidade dentro da categoria parda, reconhecendo as diferentes origens ancestrais e experiências de vida que compõem esse grupo.

Os pardos enfrentam desafios significativos em áreas como mercado de trabalho, educação, saúde e justiça. Apesar de serem a maioria da população, eles ainda estão sub-representados em cargos de liderança e poder, e frequentemente experimentam discriminação e desigualdade. A Parditude, portanto, não só celebra a diversidade cultural e racial dos pardos, mas também busca combater o racismo e promover a inclusão social.

Portanto, o termo “pardo” e o conceito de Parditude são fundamentais para compreender a complexidade das relações étnico-raciais no Brasil. Eles nos lembram da importância de valorizar a diversidade e de lutar por uma sociedade mais justa, igualitária e com valores da AfroHumanitude, onde propõe que todos os seres humanos pertencem a uma única espécie, o Homo sapiens, e que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

(Visited 18 times, 1 visits today)
Compartilhe Afrokut
Deixe um comentário