Só Jesus Expulsa o Racismo da Igreja Evangélica brasileira

CARTA ABERTA AO BRASIL BATISTA

Em decorrência da minha participação no Despertar 2019 (evento promovido pela Juventude Batista Brasileira, onde teremos, eu e o querido pastor Marco Davi Oliveira, a rica oportunidade de falar com jovens de todo o país sobre a prática do racismo na ambiência eclesiástica), venho sofrendo ataques difamatórios via redes sociais de pessoas que eu nem sequer conheço e que, consequentemente, também não me conhecem, não conhecem minha caminhada, não vivenciam a jornada da vida ao meu lado, não comeram nem uma colher de sal comigo.

Por essa razão, eu, Fabíola Oliveira, filha de Dona Maria da Penha, nossa ancestral, serva de Jesus Cristo, o Favelado de Nazaré, venho por meio desta carta dizer que Só Jesus Expulsa o Racismo da Igreja Evangélica brasileira.

Mas, antes de expulsá-lo, Jesus o revela.
Ele faz com que o seu nome seja conhecido: racismo.

Ele faz a comunidade perceber que há uma perseguição específica aos corpos pretos que denunciam o pecado do racismo dentro das instituições.

Ele, o Cristo da Cruz, faz saltar aos olhos dos que ainda não vêem, que há um incômodo direcionado àquilo que vozes pretas podem dizer. E dirão!

Basta de silêncio.
Porque nossas vozes anunciam o Reino de Deus. E onde o Reino de Deus é anunciado, há profecia. E onde há profecia, há quebra do jugo do silenciamento. E onde o jugo do silenciamento é desmantelado, há libertação.

Quem fala aqui é uma serva de Deus, liberta da opressão do racismo. Em franco processo de cura dos anos de perversidade contra a minha existência e contra a existência dos meus ancestres.

Quem fala aqui é uma mulher livre, que conheceu verdadeiramente a Jesus na vida adulta, e ao ser convidada para trilhar o caminho que é o próprio Cristo, foi também convidada à liberdade.

Não me incomodo com as ofensas.
Já me chamaram de vagabunda, de prostituta. (Peço perdão pelos termos fortes, mas é para que os irmãos e irmãs vejam como o fanático religioso evangélico pode ser raivoso.) Já me disseram que eu era motivo de vergonha pra comunidade evangélica brasileira.
Motivo de vergonha porque falo do Cristo que Ama e não odeia; do Cristo que não é proselitista, mas é respeitador e incentivador da agência e da autonomia humana; do Cristo que não demoniza a experiência de fé dos nossos irmãos e irmãs do candomblé.

Ainda assim, não me incomodei.
Segui, compreendendo que o que dizem a meu respeito é de responsabilidade de quem diz. E o que sou não pode ser forjado pelo outro.

Mas me incomodo enormemente com calúnias e inverdades em relação à caminhada que tenho feito unicamente inspirada pelo autor da minha fé.

            Ser chamada de “cristã do ecumenismo entre o evangelho e a macumba” pelo pastor Eduardo Baldaci denuncia duas coisas, nitidamente:

1) o desconhecimento do conceito de ecumenismo, que é a ideia de unidade entre as expressões de fé cristã. Por isso, por si só, o ecumenismo entre evangelho e candomblé é impossível!!!! E pensá-lo possível já demonstra a fragilidade do conhecimento do autor da ofensa mentirosa e maldosa acerca do tema;

2) o racismo religioso.
Tema extremamente caro para mim!
Porque diz respeito à práticas que atravessam séculos: prática de animalização e coisificação do corpo de pessoas pretas. Prática de desqualificação do modo de se relacionar com o Sagrado de pessoas pretas. Prática de demonização de tudo aquilo que vem ou se refere à África. Prática de generalização despudorada em relação a todos os elementos da cultura africana e afrobrasileira, fazendo com que se chame pelo nome de um instrumento musical toda uma prática religiosa com seus dogmas, performances e elementos cúlticos específicos.

Eu, enquanto mulher preta cristã na resistência e na re-existência me utilizo das propostas do debate interreligioso para promover dignidade e direitos entre o meu povo. Povo que crê em Jesus Cristo. Povo que crê nos Orixás. Povo que, para além das conexões espirituais, têm uma conexão ancestral com África.

Uso da interreligiosidade para promover o respeito, para denunciar o racismo, para estabelecer pontes de diálogo que construirão entre nós elos de justiça e unidade.

Uso da interreligiosidade para a reconciliação.
Porque o meu povo que está nos terreiros e o meu povo que está nas igrejas evangélicas se vêem como inimigos!
Familiares do candomblé estão há anos sem falar com parentes que estão na igreja.
Amigos que se conheceram na umbanda rompem o vínculo afetivo e fraternal quando um deles vai pra Jesus.
Amores são destruídos porque o pastor afirma que o ogã é do diabo e que esse casamento não pode dar certo.

Em Cristo eu reconheço a Justiça e a Reconciliação.
Em Cristo eu reconheço o conceito revolucionário do respeito.
Vejam que eu não disse tolerância – eu disse respeito! Porque eu não quero tolerar meus irmãos e irmãs do candomblé: eu quero amá-los, em toda a potência do Amor.

Não aceito o desmerecimento, o desprestígio e a demonização.

São dois caminhos que se lançam diante de mim.

Um é estar em consonância com o cenário de omissão que se abateu sobre a instituição evangélica brasileira e ser omissa, e me calar diante da opressão.

O outro é crer no dom profético da Igreja de Jesus, denunciando o pecado do racismo pra glória de Deus.

Em nome de Jesus eu escolho escandalizar o brasil batista e anunciar o reino de paz, alegria e Justiça que me resgatou da morte e me deu vida, vida em abundância.

Sigo em oração permanente e diária pelas instituições, para que haja arrependimento e perdão.

Que o Amor de Deus, esse que lança fora todo o medo, preencha o coração de todos e todas que foram enrijecidos pelo sistema e pela omissão.

Por Fabíola Oliveira

II Encontro de Mulheres Negras Cristãs

A Rede de Mulheres Negras Evangélicas realiza o II Encontro de Mulheres Negras Cristãs.

Queremos articular ações e fomentar a mobilização das mulheres negras evangélicas em todo Brasil para o engajamento antirracista, antissexista e a promoção da justiça social para as mulheres negras.

Desde 2016 o Brasil tem sofrido com significativos retrocessos de direitos sociais que afetam agudamente a vida das mulheres negras em todo país, base de nossa pirâmide social e econômica. A ampliação de práticas sociais baseadas no discurso de ódio, da intolerância e hostilidade às diferenças fragiliza ainda mais nossas relações democráticas. Como mulheres negras evangélicas comprometidas com a luta antirracista e antissexista em contexto religioso, nos preocupamos com os efeitos do protagonismo negativo e omisso, de expressiva parcela do segmento evangélico diante das restrições e perdas de direitos sociais que afetam de modo estrutural a população negra, e de modo mais perverso as mulheres negras. Por isso, através de nosso compromisso de fé com a justiça social, propomos o encontro para o fortalecimento da nossa recém-criada Rede de Mulheres Negras Evangélicas para sua consolidação e fortalecimento com fins de articular ações territoriais relevantes de defesa e fortalecimento da democracia.

Data: 9 a 11 de Agosto de 2019

Objetivos do II Encontro:

Promover a leitura popular e feminista e da bíblia desde uma perspectiva antirracista e antissexista;

Fortalecer a incidência pública através da organização coletiva das mulheres negras evangélicas, privilegiando a importância do trabalho em rede;

Inscrições: https://www.sympla.com.br/encontro-nacional-de-negras-cristas__543503

Local:
Salvador – BA (prédio a confirmar)

Qual a cor da sua fé?

Diálogo entre os pastores Ariovaldo RamosMônica Francisco Marco Davi Oliveira sobre evangélicos, negritude e racismo

O auditório do Sindicato dos Bancários no centro do Rio de Janeiro foi o ponto de encontro para mais de cem pessoas na noite da última sexta (15), apesar da chuva que insistia em cair na cidade. A maior parte do público: evangélicos negros das mais diversas igrejas e denominações, e de diversas regiões do Rio. O evento promovido pela Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito com apoio do Movimento Negro Evangélico, dentro dos 21 Dias de Combate ao Racismo foi uma referência para ampliar as diversas iniciativas que acontecem entre os evangélicos para debater a presença dos negros dentro das igrejas protestantes e o combate ao racismo – até mesmo dentro das próprias instituições religiosas.

O encontro reuniu os pastores Ariovaldo Ramos, um dos coordenadores da Frente de Evangélicos, a pastora Mônica Francisco, deputada estadual pelo PSOL no Rio de Janeiro e o pastor Marco Davi de Oliveira, um dos fundadores do Movimento Negro Evangélico e pastor da Nossa Igreja Brasileira – uma igreja batista que existe há um ano no Rio tendo como proposta construir uma liturgia a partir dos elementos culturais do Brasil.

Além do ministério pastoral, os três tem em comum o viver na pele a realidade racial. Três negros, com trajetórias que possuem similaridades e divergências. Ariovaldo se converte quase adolescente. Mônica quase adulta. Marco Davi nasceu em família evangélica, com pais que se converteram na juventude.

Para nenhum dos três a vida foi fácil. Como – ainda – não é fácil para nenhum negro brasileiro. Mônica Francisco, que está no primeiro mandato na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, começou seu ativismo político quando as chuvas destruíram parte da Morro do Borel, e ela se envolveu na luta por moradia. A conversão veio depois, na Igreja Universal do Reino de Deus. Chegou a estudar na Escola de Obreiros, de onde saiu para a igreja batista. De batista, foi para uma igreja pentecostal, onde é pastora há três anos. Nesse caminho, a militância a levou para a Faculdade de Ciências Sociais.

Filho de pai operário e mãe costureira, Ariovaldo Ramos viveu a infância e a adolescência na periferia, em São Paulo e em Guarulhos. É de sua história pessoal, como ter morado em cortiço, que carrega o compromisso com os pobres. A conversão foi na Igreja Metodista Livre. Pastor de formação e estudioso de filosofia, está envolvido com o ministério religioso desde 1974.

Quando as chuvas causaram um estrago sem tamanho no estado do Rio em 1966, deixando 250 mortos e mais de 50 mil desabrigados, os pais de Marco Davi – que perderam a casa na tragédia – foram residir num espaço da Primeira Igreja Batista em Teresópolis. Quando conseguiram ter um lugar para morar, as dificuldades eram extremas, incluindo fome. Aos 15 anos decidiu que seria pastor. Aos 20 anos foi para o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. É no exercício do ministério pastoral que surge o incomodo com a questão racial e os posicionamentos das igrejas sobre a identidade negra e o racismo.

Identidade negra – Durante o encontro da Frente, Ariovaldo destacou a importância de demarcar a identidade negra e cristã, enfatizando que o racismo no Brasil é produto de uma falha na compreensão do sentido da vida cristã: “As igrejas protestantes produziram e mantiveram o racismo no país”.

Mônica fez uma caminhada pela história recente das igrejas evangélicas pentecostais e suas omissões diante do racismo. A deputada apontou os problemas da igreja, a opressão sobre as mulheres e a juventude: “Cresce o número de desigrejados por causa da postura da igreja. É preciso pedir perdão”.

Marco Davi propôs o equilíbrio entre os pontos negativos e positivos da igreja, e o quanto a igreja foi fundamental para a promoção da população negra: “Há sentimento de pertencimento, a sociedade brasileira vê o corpo negro com suspeição, e a igreja – que é um espaço sagrado – acolhe esses corpos, onde nos se tornam sujeitos”.

As abordagens diferentes na forma, idênticas na denúncia do racismo, deram o tom do debate, suscitando a participação do público. As perguntas revelaram o quanto esse assunto precisa ser abordado nos estudos bíblicos, em congressos, seminários, simpósios e nos púlpitos das igrejas. Os evangélicos brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) mapeados no Censo 2010, são em maioria negros e pobres, que vivem com renda per capita inferior a um salário mínimo por mês.

Por Nilza Valeria Zacarias Nascimento, jornalista. Coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

Assista o vídeo com o diálogo Qual a cor da sua fé?

Os principais desafios para criar inteligência artificial sem racismo

Em um mundo ideal, sistemas inteligentes e seus algoritmos seriam objetivos, frios e imparciais; mas esses sistemas são construídos pelos seres humanos e, como os dados mostraram, pelo contexto social, histórico e político em que foram criados. Os principais desafios para criar inteligência artificial sem racismo, são:

Primeiro, deve haver acesso fácil ao conhecimento de aprendizado de máquina;

Segundo, o desenvolvimento “justo e responsável” precisava ser feito na sociedade ao lado do progresso da IA, de acordo com Jeff Dean, pesquisador sênior do Google;

Terceiro, promovendo a transparência e a abertura em conjuntos de dados algorítmicos. Repositórios de dados compartilhados que não pertencem a nenhuma entidade única e podem ser controlados e auditados por órgãos independentes, podem ajudar a atingir esses desafios;

Quarto, a Física Quântica e a inteligência artificial podem andar de mãos evolucionárias, interrompendo muitos dos problemas de racismo ao longo do caminho. O aprendizado de máquinas com idéias da física quântica também poderiam melhorar as aplicações gerais da inteligência artificial.

O processo de aprendizado da Inteligência Artificial é baseado nos dados que eles recebem. No entanto, pode ser possível que até que os preconceitos conscientes e inconscientes do criador sejam reduzidos, os criados continuarão a ter esses problemas.

Continua: O que aprendemos sobre racismo na inteligência artificial?

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico Negro – Do Afrokut

O que aprendemos sobre racismo na inteligencia artificial

Aprendemos nossos preconceitos de uma maneira muito semelhante as maquinas. Nós crescemos com a compreensão do mundo através da linguagem e histórias de gerações anteriores. Aprendemos que “homens” podem significar “todos os seres humanos”, mas “mulheres”, aprendemos que ser mulher é ser outra – ser uma subclasse de pessoa, não o padrão. Aprendemos que quando nossos líderes e pais falam sobre como uma pessoa se comporta com seu “próprio povo”, eles às vezes significam “pessoas da mesma raça” – e assim entendemos que pessoas de um tom de pele diferente de nós não fazem parte desse “nós“. Aprendemos que gênero é a característica definidora de uma pessoa, e não há mais do que dois.

A linguagem em si é um padrão para prever a experiência humana. Não descreve apenas o nosso mundo – também o define. As intolerâncias codificadas dos sistemas de aprendizado de máquina nos dão a oportunidade de ver como isso funciona na prática. Mas os seres humanos, ao contrário das máquinas, têm faculdades morais – podemos reescrever nossos próprios padrões de preconceito e privilégio, e devemos fazê-lo.

Às vezes, deixamos de ser tão justos como gostaríamos de ser – não porque nos propusemos a ser fanáticos e intimidadores, mas porque estamos trabalhando a partir de suposições que internalizamos sobre ‘raça’, gênero e diferença social. Aprendemos padrões de comportamento baseados em informações ruins e desatualizadas, e às vezes desonestas. Isso não nos torna pessoas más, mas também não nos desculpa da responsabilidade pelo nosso comportamento. Espera-se que os algoritmos atualizem suas respostas com base em informações novas e melhores, e a falha moral ocorre quando as pessoas se recusam a fazer o mesmo. Se um robô pode fazer isso, nós também podemos.

Há benefícios e lados obscuros em todas as tecnologias disruptivas, e a inteligência artificial não é uma exceção à regra. O importante é que identifiquemos os desafios que estão diante de nós e reconheçamos nossa responsabilidade de garantir que podemos aproveitar ao máximo os benefícios e, ao mesmo tempo, minimizar os problemas sendo pessoas melhores.

Este artigo faz parte da serie: Inteligência Artificial e Racismo

Porque a inteligencia artificial é racista?

Computadores não se tornam racistas por conta própria. Eles precisam aprender isso de nós. Durante anos, a vanguarda da ciência da computação tem trabalhado no aprendizado de máquina, geralmente fazendo…

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico Negro – Do Afrokut

Inteligência artificial já está entre nós e ela é racista

A Inteligência Artificial (AI) é a construção de computadores, algoritmos e robôs que imitam a inteligência observada em humanos, como aprender, resolver problemas e racionalizar. Ao contrário da computação tradicional, a IA pode tomar decisões em uma variedade de situações que não foram pré-programadas por um humano.

Existem duas formas de IA, Inteligência Artificial Fraca e a  Inteligência Artificial Forte. A Inteligência Artificial Fraca está relacionada com a construção de máquinas ou softwares de certa forma inteligentes, porém, eles não são capazes de raciocinar por si próprios. Por outro lado, a Inteligência Artificial Forte está relacionada à criação de máquinas que tenham autoconsciência e que possam pensar; e não somente simular raciocínios.

Enquanto cientistas e vozes mais proeminentes da indústria tecnológica estão preocupadas com o futuro potencial apocalíptico da IA Forte (inteligência Artificial Forte), há menos atenção dada aos problemas gerados pela IA Fraca de como evitar que esses programas amplifiquem as desigualdades do nosso passado e afetem os membros mais “vulneráveis” da nossa sociedade.

O CEO da Tesla, Elon Musk, descreveu a inteligência artificial como “o maior risco que enfrentamos como civilização” e pediu uma intervenção governamental rápida e decisiva para supervisionar o desenvolvimento da tecnologia.

Por enquanto, vamos focar nos problemas que temos agora com IA Fraca, porque a Inteligência Artificial Forte é uma aposta para o futuro. Neste sentido, é imperativo que essas preocupações não seja só de cientistas e pessoas ligadas as industrias tecnológicas, mas de todas as pessoas.

Problemas gerados pela IA Fraca.

Programas desenvolvidos por empresas na vanguarda da pesquisa de IA resultaram em uma série de erros que parecem estranhamente os mais obscuros preconceitos da humanidade:

Um programa de reconhecimento de imagens do Google classificou os rostos de vários negros como gorilas; um programa de publicidade do LinkedIn mostrou uma preferência por nomes masculinos em buscas, e um chat da Microsoft chamado Tay passou um dia aprendendo no Twitter e começou a enviar mensagens anti-semitas.

Esses incidentes foram todos rapidamente solucionados pelas empresas envolvidas e geralmente foram considerados “gafes“. Mas a revelação do Compas e o estudo de Lum sugerem um problema muito maior, demonstrando como os programas podem replicar o tipo de preconceitos sistémicos em grande escala que as pessoas passaram décadas fazendo para educar ou legislar.

Os dados que alimentamos as máquinas refletem a história de nossa própria sociedade desigual, estamos, na verdade, pedindo ao programa que aprenda nossos próprios preconceitos e racismo.

CONTINUA: Por que a Inteligência Artificial é racista?

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico Negro – Do Afrokut

Google não tem consciência Negra!

O Google não fez o Doodle da Consciência Negra

O dia 20 de Novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares, data na qual morreu, lutando pela liberdade do seu povo no Brasil, em 1695. Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi um personagem que dedicou a sua vida lutando contra a escravatura no período do Brasil Colonial, onde os escravizados começaram a ser introduzidos por volta de 1594. Um quilombo é uma região que tinha como função lutar contra as doutrinas escravistas e também de conservar elementos da cultura africana no Brasil.

Em 2008 começamos acompanhar os doodles do Google. No dia 20 de novembro daquele ano, Dia da Consciência Negra, o Google preferiu homenagear René Magritte um pintor europeu e não Zumbi. Neste dia questionamos esse deslize no Google Discovery, enviando e-mails para os dirigentes do Google no Brasil.

Depois do incidente esperamos em 2009 o doodle da Consciência Negra do Google, não aconteceu. Em 2010 também não foi feito e no 20 de novembro em 2011, o Google permaneceu o mesmo, sem nenhum doodle. Em 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 em 2021 também não aconteceu o doodle da Consciência Negra.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut


Consciência Negra

Milton Santos em doodle

O Google presta homenagem com um doodle dedicado ao geógrafo brasileiro Milton Santos .

O estudioso brasileiro, que nasceu em Brotas de Macaúbas (Bahia) e viveu grande parte da vida em São Paulo, defendeu, durante seus mais de 50 anos de carreira, uma “Nova Geografia”, que abrangia não só as características naturais de um território, mas também sua organização social, a distribuição do espaço e dos recursos. Essa nova escola de pensamento, dotada de valores críticos, rendeu-lhe, em 1994, o prêmio Vautrin Lud, instituído pelo Festival Internacional de Geografia e considerado o “Nobel” da área. Mais sobre  Milton Santos visite o  site oficial.

Desde 2008 o Afrokut, tem acompanhado os doodles do Google, e tem questionado a não homenagem com um Doodle no Dia Nacional da Consciência Negra.

Em 2008 na data 20 de novembro, dia da Consciência Negra, o Google preferiu homenagear René Magritte um pintor europeu e não Zumbi. Neste dia, foram questionados por isso através de e-mails enviados aos dirigentes do Google no Brasil.

Depois disso, era esperado que em 2009 o Doodle da Consciência Negra do Google, aparecesse, mas não aconteceu. De 2010 a 2017,  no  Dia 20 de novembro, o Google permaneceu o mesmo, sem nenhum doodle da Consciência Negra. Esperamos que em 2018 aconteça o Doodle no Dia Nacional da Consciência Negra.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

O que é Kemet?

Acredita-se que Kemet é sinônimo de Egito antigo, porém, desta forma, ignora-se que a palavra “Egito” é o nome que os antigos gregos deram ao país. Kemet e Egito são duas identidades diferentes. Vejamos nesta série de artigos elaborada pelo Afrokut, um pouco da história de Kemet e o que ela representa hoje para Africanos, a Diáspora Africana e para todo o mundo.

A palavra Kemet foi escrita em Medu Neter, linguagem escrita mais antiga da Terra, com quatro hieróglifos:

um pedaço de pele de crocodilo com espinhos fazendo o som K; uma coruja fazendo o som M e um meio pedaço de pão fazendo o som T. O símbolo redondo representa uma encruzilhada e mostra que, neste contexto, este é um nome de lugar.

A Kemet começou a se formar no final do período paleolítico, quando o clima árido do Norte da África e a desertificação do Saara, levaram muitos africanos a se mudarem para o Vale do Nilo, formando várias comunidades agrícolas que viviam em grupos ao redor do Rio Nilo. Mas, foi no período chamado pré-dinástico, antes que houvesse um Faraó e Kemet fosse unificada, que as culturas keméticas formadas pelas comunidades ribeirinhas do Nilo começaram a se unificar e formar pequenos Estados ao longo do Rio Nilo, este período começou por volta de 4000 aC, que é mais de 6.000 anos atrás. Segundo a Pedra de Palermo o Kemet se unificou em dois reinos, um no Alto e outro no Baixo Kemet.

Kemet se transformou em um complexo de civilizações formadas por diversas nações africanas, ao redor do Rio Nilo, em uma área que se estendia desde a Núbia, Sudão, até ao rio Eufrates. Por volta de 3300 aC, há evidências de um reino unificado, como mostram os achados em Qustul, a cultura Núbia/kushita teve uma grande contribuição para a unificação da Kemet, que se desenvolveu por milhares de anos e se tornou a civilização com mais influência em sua época e tornando-se mãe de todas as civilizações modernas.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut


VEJA TAMBÉM:

https://membro.afrokut.com.br/2020/10/10/introducao-ao-yoga-kemetica/

Sacada do Self da nova militância negra

No programa Conversa com Bial, que abordou reflexões acerca da temática dos 130 anos da abolição da escravatura, o Rapper Emicida comenta uma declaração do então presidente José Sarney que abria oficialmente as comemorações do Centenário da Abolição. Em seguida, o professor Hélio Santos comenta a fala de Emicida e revela a sacada do Self da nova militância negra, dizendo:

“Eu sou de uma geração, Emicida, que não é a sua, que lutava muito para mudar a sociedade. O pessoal da sua geração não quer mudar a sociedade não, eles tão mudando eles mesmos… E com isso vão mudar a sociedade.”

A fala do professor nos remete a refletir sobre essa nova geração com outros olhos, e incentiva a sermos mais observadores sobre tais mudanças. Acredito que, a geração a qual o professor Helio Santos se refere, seja a dos nascidos da década de 80 até meados dos anos 90, a chamada “geração Y”. O  rapper Emicida nasceu em 1985.

O principal objetivo dessa geração, segundo estudos, é a satisfação pessoal, equilíbrio entre corpo, mente e espírito é o valor mais importante. Eles procuram por um lugar em que possam descobrir a si mesmos (Self), e a ideia de viver a vida de forma plena é mais importante do que o sucesso material. É a primeira geração genuinamente globalizada, cresceram com a tecnologia e usam-na desde a primeira infância. Eles são os sucessores da geração X, incorporaram a geração Z, e juntos estão construindo o caminho para a Geração F (a geração Facebook, composta pelos jovens que nasceram na era  das mídias sociais).

Essa geração apontada pelo professor Hélio, “tão mudando eles mesmos”? Pois, me parece, que tal mudança não é algo intencional, ela ocorre, segundo alguns estudiosos, devido o individualismo e narcisismo dessa geração. Dessa forma, essa mudança tem sido superficial, ou seja, não há uma transformação interior, o que desejam, sentem e pensam, esteja voltado tão somente para uma “selfie” e não para seus Self. Podem até interferir na sociedade, por sua vez, gera pouco impacto. É importante considerar que essas projeções universalistas idealizadas de comportamento geracional não são verdades absolutas. A nossa reflexão aqui é dentro de uma perspectiva da geração de negros e negras que tem suas diferenças dentro dessas gerações pesquisadas.

Nesse contexto, o professor refere-se a “Geração Y de negros e negras militantes“, que inclui também a primeira geração de estudantes formados após a implantação do sistema de cotas raciais (Conquista da luta das gerações X e anteriores), que vem mudando o perfil das profissões como direito, comunicação, arquitetura, engenharias, odontologia, medicina, que, até o ano 2000 eram praticamente profissões exclusivas da classe média branca, e da elite. E na carreira acadêmica fazendo também uma presença crescente de negros e negras na pesquisa e na intelectualidade.

O princípio fundamental da psicologia Kemética: “conhece a ti mesmo”, é essa a sacada que o professor Hélio Santos observou nessa nova geração. Esses negros e negras podem ( ou já estão) alicerçar-se no “Self Kemetico” calcado no tripé: amar, conhecer, e mudar, ou seja, amar a si mesmo é conhecer a si mesmo e mudar a si mesmo é ser o seu “Eu Negro“.

O Self: amar a si mesmo, conhecer a si mesmo, e mudar si mesmo é o salto quântico em direção a essa mudança apontada pelo professor. Amar a si mesmo é revolucionário, porque a menos que a pessoa ame a si mesma a pessoa nunca conhecerá a si mesma. Quando nos amamos, estamos sempre abertos às mudanças, especialmente internas, para cada vez mais atingirmos o Eu Negro (Self Kemético).

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico Negro – Do Afrokut

VÍDEO:

Emicida assiste discurso do Sarney sobre abolição da escravatura

Essa foi no Conversa com Bial. Você reagiria assim também?

Posted by Emicida on Friday, June 1, 2018