No Mapa de Estrabão o Oriente Médio fazia parte da África

A divisão do mundo em continentes, na atualidade, divide o mundo em seis continentes: África, América, Ásia, Europa, Oceania e Antártida. De acordo com essa divisão, o Oriente Médio faz parte da Ásia. Portanto, antigamente, a região era conhecida como “Crescente Fértil” devido ao seu solo rico e abundância de agricultura. O termo “Oriente Médio” foi cunhado pela primeira vez pelos britânicos no início do século XX para se referir à área entre o Mediterrâneo oriental e o subcontinente indiano. Geograficamente e antropologicamente o Oriente Médio está à parte da África, geopoliticamente é a Ásia. Além disso, antropologicamente, a maioria, senão todas as populações, nem sequer são populações indígenas.

O mapa, que foi escrito no primeiro século dC, divide o mundo em três continentes: Europa, Ásia e África. O Oriente Médio está localizado na parte sul da Ásia, mas Estrabão o incluiu na ÁfricaEstrabão era um geógrafo grego que viajou extensivamente pelo mundo antigo. Ele era fascinado pela geografia e pela cultura de diferentes lugares. Estrabão é considerado um dos fundadores da geografia moderna. Ele foi o primeiro a tentar descrever o mundo de forma sistemática e abrangente. Sua obra teve uma grande influência nos geógrafos posteriores, incluindo Ptolomeu e Mercator. A Geografia é a obra mais importante de Estrabão. Ela é dividida em 17 livros, cada um dos quais trata de uma região específica do mundo. A obra é uma fonte valiosa de informações sobre a geografia, a história e a cultura do mundo antigo.

Seu mapa é um dos mais importantes documentos da geografia antiga:

A inclusão do Oriente Médio na África por Estrabão pode ser explicada por vários fatores. Em primeiro lugar, o Oriente Médio está localizado na mesma massa continental da África. Em segundo lugar, as culturas do Oriente Médio e da África têm muitas semelhanças. Em terceiro lugar, Estrabão pode ter visto o Oriente Médio como uma extensão da civilização egípcia, que ele considerava parte da África.

Entretanto, não deve-se olvidar de uma reflexão sobre o contexto bíblico do primeiro século: na região de Israel e o Mapa de Estrabão. Na perspectiva do Mapa de Estrabão, Oriente Médio, incluindo Israel, estava localizado na África. Como vimos, o mapa divide o mundo em três continentes: Europa, Ásia e África. Portanto, se Jesus nasceu em Belém de Judá, como diz a bíblia, que era parte de Israel, então Jesus nasceu na África. Sabemos que a visão de Estrabão sobre o Oriente Médio como parte da África foi contestado por alguns estudiosos modernos. No entanto, seu mapa ainda é uma fonte importante de informações sobre a geografia e a cultura do mundo antigo.

Estrabão nasceu na cidade de Amasia, antiga capital do reino do Ponto, por volta do ano 60 a.C., e morreu aproximadamente no ano 24 da nossa Era. Ele estudou filosofia e geografia em Atenas, e viajou extensivamente pelo mundo antigo. Suas viagens o levaram a Roma, onde ele conheceu o imperador Augusto.

Alguns dos principais pontos de vista de Estrabão:

  • Ele acreditava que a geografia era uma ciência importante, pois poderia ajudar as pessoas a entender o mundo ao seu redor.
  • Ele argumentou que a geografia deveria ser baseada em observações e evidências empíricas, em vez de especulações.
  • Ele acreditava que a geografia deveria ser uma ciência holística, que levasse em consideração a história, a cultura e a economia dos lugares que ela descreve.

A Geografia de Estrabão é uma obra seminal que continua a ser importante até hoje. É uma fonte valiosa de informações sobre o mundo antigo e sobre a evolução da geografia como ciência.

Por Hernani Francisco da Silva  – Do Afrokut

No mês da Consciência Negra Praia Grande vai instalar o cabo submarino Firmina, do Google

O Google vai instalar cabos submarinos na costa de Praia Grande, no litoral de São Paulo. Esses cabos fazem parte do projeto chamado de Firmina, em homenagem à escritora negra Firmina dos Reis, autora de Úrsula e primeira romancista mulher do país. Em Praia Grande a previsão é que o projeto  seja concluído ainda no mês de novembro, Mês da Consciência Negra.

Este cabo fará a conexão de Myrtle Beach (EUA) à Las Toninas (Argentina).  O cabo Firmina tem dois pontos de aterragem no Brasil: Praia Grande, no litoral de São Paulo, e Fortaleza, no Ceará.

O cabo submarino Firmina do Google é uma infraestrutura de rede que está em desenvolvimento há mais de dois anos e entrará em funcionamento ainda em 2023. A instalação é realizada por seis embarcações, além dos mergulhadores, máquinas e operários em terra, na faixa de areia.

Sua finalidade é transportar dados entre a América do Norte e a América do Sul, proporcionando acesso rápido e de baixa latência aos serviços do Google, como busca, Gmail, YouTube e Google Cloud.

A homenagem a Firmina é um importante reconhecimento de sua contribuição para a cultura brasileira. Ela foi uma mulher pioneira e sua obra continua a ser relevante até hoje. O Google explicou que a homenagem a Firmina foi uma forma de reconhecer sua importância como escritora, abolicionista e defensora dos direitos das mulheres. A empresa também disse que espera que a homenagem inspire outras pessoas a aprender sobre a história e a obra de Firmina.

Maria Firmina dos Reis foi uma escritora, professora, abolicionista e defensora dos direitos das mulheres brasileira. Ela nasceu em São Luís, no Maranhão, em 1822, e morreu em 1917. Firmina foi a primeira mulher a publicar um romance no Brasil, Úrsula, em 1859. O romance conta a história de uma jovem negra que é escravizada e depois se liberta. Úrsula é um importante documento histórico da escravidão no Brasil e também é considerado uma obra literária significativa.

Além de Úrsula, Firmina também escreveu outros romances, contos, poemas e peças de teatro. Ela também foi uma importante educadora e lutou pelos direitos das mulheres.

O cabo submarino Firmina é uma importante infraestrutura de comunicação que deve beneficiar a população do Brasil e da América Latina. Ele deve ajudar a promover o desenvolvimento econômico e social da região.

Aqui estão alguns dos benefícios específicos que o cabo Firmina deve trazer para o Brasil:

● Melhoria da qualidade da internet: o cabo Firmina deve aumentar a capacidade de tráfego de dados, o que deve melhorar a qualidade da internet no Brasil. Isso significa que os usuários devem experimentar velocidades de conexão mais rápidas e tempos de resposta mais curtos.

● Redução da latência: o cabo Firmina deve reduzir a latência, o tempo de resposta da internet. Isso significa que os usuários devem experimentar uma conexão mais responsiva, o que é importante para atividades que exigem tempo real, como jogos online e videoconferências.

● Maior acesso à internet: o cabo Firmina deve ajudar a aumentar o acesso à internet no Brasil. Isso é importante para o desenvolvimento econômico e social do país, pois a internet é uma ferramenta essencial para a educação, a saúde e a comunicação.

● Crescimento do mercado de tecnologia: o cabo Firmina deve ajudar a impulsionar o
crescimento do mercado de tecnologia no Brasil. Isso é importante para a criação de
empregos e o desenvolvimento econômico do país.

Em geral, o cabo submarino  Firmina é uma importante infraestrutura que deve trazer diversos  benefícios.  Para Praia Grande, além desses benefícios, trás uma importante celebração na conclusão do projeto Firmina no Mês da Consciência Negra.

Por Hernani Francisco da Silva
Do Afrokut

A População Negra Evangélica

Em comparação com o caso dos Estados Unidos, em que existem igrejas pentecostais “exclusivamente negras”, nas quais se constituiu um importante espaço para a tomada da consciência racial, reivindicação e luta pelos direitos civis, aqui no Brasil por muito tempo as instituições cristãs foram agentes perpetuadores e legitimadores do racismo na sociedade brasileira. Essa realidade se dá por vários fatores. Segundo Vagner Gonçalves da Silva (2017), as especificidades do racismo brasileiro, o tipo de missão evangelizadora das igrejas protestantes “que enfatizam a universalidade do acesso aos dons do Espírito Santo e da prática de sua fé”, e a demonização das práticas religiosas não cristãs seriam fatores fulcrais para se entender a realidade negra e evangélica brasileira. Outro ponto de discordância nessa narrativa se refere ao lugar atribuído às heranças culturais negras e africanas na cultura brasileira, sobretudo as relativas às religiões afro-brasileiras, em que a intolerância religiosa é um entrave para o diálogo entre esses dois setores na construção de uma agenda do movimento negro evangélico.

Uma diferença importante entre os negros protestantes estadunidense e os brasileiros é que desde as suas origens o pentecostalismo dos Estado Unidos sempre esteve atrelado à espiritualidade dos povos negros escravizados que ali residiam, que com isso desenvolveram “um estilo diferenciado de culto baseado em cantos efusivos e experiências de avivamento com alegria e dança”. A expressão dessa musicalidade derivou em ritmos e estilos musicais tais como rock, blues, soul, spiritual, jazz, rap, funk entre outros, todas oriundas da ancestralidade e religiosidades africanas (SILVA, 2017).

Na realidade brasileira contemporânea de crescente intolerância religiosa e aumento do conservadorismo, formou-se nas últimas décadas uma agitação entre os fiéis evangélicos negros e com consequência houve um princípio de mobilização, o que posteriormente foi chamado de Movimento Negro Evangélico (MNE). Em sua tese de doutorado intitulada “A cor da fé: ‘identidade negra’ e religião”, Rosenildo Silva de Oliveira (2017), na sessão destinada aos evangélicos negros, argumenta que o recente processo de formação de um movimento negro antirracista dentro das igrejas evangélicas brasileiras deve ser encarado como em constante processo de construção e não como um projeto consolidado, diferentemente do caso católico que já possui grupos institucionalizados (OLIVEIRA, 2017).

Devido à sua grande pluralidade de denominações, a própria mobilização negra dentro do protestantismo é dificultada, inviabilizando o estabelecimento de organismos centralizados do MNE, visto que a sua principal característica é a descentralização de suas ações. Diferentemente do catolicismo, que conta com três grandes grupos que pautam as questões raciais dentro da mesma instituição religiosa, são eles a Pastoral Afro-Brasileira, o Instituto Mariama (organização que reúne diáconos, padres e bispos negros) e o Grupo de Religiosos e Religiosas Negros e Indígenas (GRENI), possuindo políticas coordenadas e estreita relações de cooperação, já que parte significativa dos seus integrantes pertencem às três organizações, desenvolvendo ações em conjunto. No caso evangélico, as iniciativas observáveis são de caráter independente, em sua grande maioria por meio de plataformas digitais e redes sociais (OLIVEIRA, 2017).

As primeiras iniciativas foram fóruns em redes sociais como o MSN em 2002, como o Fórum de Afrodescendentes Evangélicos, que foram se expandindo em outras plataformas como o Orkut, Twitter e Facebook reunindo evangélicos de várias denominações. Na onda deste movimento, Hernani Silva cria em 2008 o Afrokut, rede social exclusiva para a interação, criação e propagação de conteúdo produzido por negros evangélicos. Ainda nessa empreitada, o trabalho de Hernani Silva nos mostra uma tentativa de “resgate da presença negra nas raízes do cristianismo”, ao mesmo tempo que critica o que ele chama de “teologia evangélica racista”. Essas ideias foram compiladas na publicação do livro “O Movimento Negro Evangélico” (2011). Nessa obra, o autor tenta retratar a história do negro evangélico brasileiro a partir da reformulação da narrativa hegemônica que invisibiliza esses indivíduos. Isso é feito através da reinterpretação da história da presença evangélica no Brasil, por exemplo, a descoberta do pregador negro Agostinho José Pereira, apelidado de “Lutero Negro”, considerado o primeiro pregador brasileiro e fundador da Igreja do Divino Mestre em 1841 na cidade de Recife (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2011).

Outra iniciativa nesse movimento tem como objetivo demonstrar a influência africana no cristianismo por meio de um resgate das heranças africanas para essa religião, colocando em evidências os personagens bíblicos negros e elementos que legitimam a luta pelos seus direitos, como a luta do povo de Deus em nome da libertação de toda forma de opressão. Esses preceitos têm ligação com a chamada “Teologia Negra”, uma variante da Teologia da Libertação, surgida nos anos de 1960 nas igrejas negras e protestantes dos Estados Unidos em um contexto de luta pelos direitos civis. A libertação da escravidão do povo hebreu no Egito é uma das passagens mais citadas dessa experiência de libertação ocorrida em terras africanas (SILVA, 2017).

Hernani Silva (2011) ainda desenvolve a ideia de que a formação do Movimento Negro Evangélico Contemporâneo teve um momento de guinada nas décadas de 1970 e 80, pois, neste recorte temporal houve diversas iniciativas institucionais e tomadas de consciência para com sua negritude. A relativa consolidação do MNE na atualidade, pós ascensão das redes sociais, transformou esse movimento em umas “das mais novas forças de combate ao racismo e de consciência negra no Brasil”, sendo a missão do MNEpromover a reflexão e o debate bíblico/teológico e em uma perspectiva negra e combater toda forma de racismo” (OLIVEIRA, 2017, p. 138 e SILVA, 2011, p. 16).

Apesar disso, o MNE também tem suas cisões internas e divergências de pautas, sobretudo no que tange à visão que cada um tem de como se dialoga com a herança africana do Brasil. Existem duas correntes que defendem abordagens distintas quanto a essa pauta. Por um lado temos os que defendem uma visão pan-africanista/afrocentrista da questão e outros com uma visão mais voltada à negritude cristã brasileira. Ambas as perspectivas têm em comum a visão de que existe uma origem africana no cristianismo, porém, se pode distinguir o pan-africanismo/afrocentrismo por defenderem uma herança exclusivamente africana, abdicando da formação miscigenada brasileira. E foi justamente essa postura defendida pelo Conselho Nacional de Negras e Negros Cristão (CNNC), durante o 1º Encontro Nacional de Negras e Negros Evangélicos, que aconteceu em Salvador em abril de 2007 (OLIVEIRA, 2017).

Por fim, Oliveira (2017) salienta que independente das visões ideológicas, dois fatores se tornaram consenso, são eles: “a tentativa de se criar uma igreja evangélica negra e o investimento na formulação intelectual de uma teologia da negritude, inclusive com a perspectiva de publicação de uma bíblia da negritude” (p.142). O autor também chama a atenção para o fato da maioria das iniciativas em torno dessa causa está nas igrejas protestantes históricas, e não nas pentecostais ou neopentecostais, das quais detêm o maior número de fiéis negros. Isso seria devido à abordagem adotada historicamente pelas igrejas pentecostais e neopentecostais, já que contra a exclusão social sofrida pelos negros historicamente “foram os pentecostais quem ofereceram acolhimento e espaços em que eles seriam valorizados, independentes de suas origens, e ofereceram a possibilidade de prosperarem materialmente” (p.144), muito embora que para isso fosse necessária uma conversão plena e rejeição de qualquer herança cultural afro-brasileira (OLIVEIRA, 2017).

De acordo com o livro “A religião mais negra do Brasil” (2015), do pastor Marco Davi de Oliveira, embasado por dados do Censo demográfico, a maioria dos brasileiros pretos e pardos (que nos parâmetros do IBGE juntos formam o grupo dos negros) que professam uma religião, ou seja, são praticantes assíduos da religião, encontra-se no segmento evangélico, mais concentrado nos protestantes pentecostal. Seu argumento é sustentado a partir da análise de que “embora cerca de 61 milhões de negros se declarem católicos contra aproximadamente 15 milhões de evangélicos pentecostais a maioria dos negros que professam o catolicismo não frequenta ativamente a igreja, ao contrário do que acontece com os negros pertencentes às igrejas evangélicas, que participam de forma efetiva de suas comunidades locais” (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2017)

A despeito da afirmativa “a maioria dos negros brasileiros são evangélicos”, e considerando as tabelas 1 e 2, podemos abstrair algumas inferencias dessa análise. Primeiramente é correto afirmar que “as igrejas evangélicas de origem pentecostal detém o maior percentual de membros negros em relação ao número total de fiéis no seu segmento” (14.545.768, ou seja, 57,33%), na frente se compararmos com as igrejas evangélicas tradicionais (3.393.957 ou 46,75%)”. Dentro da Assembleia de Deus é ainda maior o percentual (cerca de 12.314.410 do total de 42.275.440 adeptos ou 29% dos evangélicos), desses 61% (7.547.959) se autodeclaram negros. Se ainda compararmos com o candomblé, teremos outra interpretação, veremos que 68% dos candomblecistas se auto declaram negros (cerca de 114.629 adeptos), portanto, em termos proporcionais o candomblé é “a religião mais negra do Brasil”, enquanto em termos absolutos o catolicismo (com 61 milhões de adeptos) também pode ser considerada “a religião mais negra do Brasil” com mais adeptos (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2017).

Autor: Bruno Alcântara Conde da Silva (UFRGS) – Texto Artigo: A ascensão evangélica na política brasileira: a presença dos negros no movimento evangélico

Artigo apresentado no 45º Encontro Anual da Anpocs no SPG09. Democracia, Laicidade e Neoconservadorismos, bem como o artigo publicado nos anais, é uma versão final da pesquisa apresentada como requisito para a aprovação na disciplina “Competição Partidária e Base Eleitoral dos Partidos”, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCP-UFRGS)

Para ler o artigo completo: A ascensão evangélica na política brasileira: a presença dos negros no movimento evangélico.docx

Imagem: Criador de imagens do Bing

5 Santos Negros e Negras da Igreja Católica

Os Santos Negros e Santas Negras são figuras importantes na história do catolicismo. A Igreja Católica tem alguns santos e santas negros reconhecidos ao longo de sua história, mas que são uma ínfima minoria se comparados às figuras retratadas como brancas.

Para conquistar os povos colonizados, os europeus canonizaram figuras negras que pudessem ser uma forma de representação para eles. Porém a expansão foi limitada: com a escravidão no século 19, o culto às entidades negras ficou restrito e a reforma da Igreja Católica na mesma época enfatizou as celebrações de santos brancos.

Alguns exemplos de santos negros incluem:

1 – Santa Josefina Bakhita

É uma das poucas santas negras católicas. O nome “Bakhita”, que significa “afortunada”, “sortuda” ou “bem-aventurada”, não lhe foi dado ao nascer mas lhe foi atribuído pelos raptores. Foi capturada e vendida por mercadores de escravos negros no mercado de El Obeid e de Cartum  ao cônsul da Itália no Sudão, D. Calixto Legnani, que logo lhe deu uma carta de liberdade. No período de escravidão, Bakhita sofreu as humilhações, sofrimento físico, psicológico e moral dos escravizados.

Na casa do cônsul Legnani, Bakhita trabalhava como mulher livre e isto lhe deu momentos de serenidade. Quando Legnani teve de regressar ao país, Bakhita decidiu acompanhá-lo, e chegando a Gênova  é transferida para a localidade de Zianigo, ao serviço da família Michieli como “ama-seca”, e posteriormente, passou à Congregação das Filhas da Caridade de Santa Madalena de Canossa (Canossianas) de Veneza, onde recebeu os primeiros sacramentos do catecumenato, em 9 de janeiro  de 1890, foi batizada com o nome de Josefina e em 8 de dezembro de 1896 tomou o habito e ingressou na ordem das Irmãs Canossianas, com o nome religioso de Irmã Josefina.

Josefina Bakhita se destacou pela piedade e amor a Cristo e à Eucaristia, também pelo serviço social pelos demais pobres e desamparados, o que fez com que ficasse conhecida como o apelido em vêneto de “Madre Morèta” (Mãe Moreninha).

Faleceu no convento canosiano de Schio, em 1947, com a idade de 78 anos; foi enterrada no começo na capela de uma família de Schio, os Gasparella, provavelmente na espera de um sepultamento definitvo no Templo da Sagrada família. E assim foi em 1969, quando o corpo encontrado incorrupto de Bakhita foi sepultados sob o altar da Igreja do mesmo convento.

Foi beatificada em 1992 e canonizada em Roma, pelo Papa João Paulo II, em outubro de 2000.

2 – Santo Antônio de Categeró

É uma figura importante para a comunidade negra. Nasceu na cidade de Barca, Cirenaica, na África e, no início de sua vida religiosa, professava a fé em Maomé.

Por ocasião de um aprisionamento foi  escravizado,  e  levado à Sicília, para trabalhar em galeras. Vendido como trabalhador escravo a João Landavula (camponês dos arredores de Noto), transformou-se em pastor. Detentor de alma sincera, grande retidão de caráter e agudeza de espírito, aproximou-se da fé em Cristo. Muito disciplinado, sabia controlar seu corpo a ponto de vencer as fraquezas. O que se pode perceber da descrição do caráter do bem-aventurado Santo Antônio de Categeró é que o seu ascetismo foi responsável pela superação das condições sociais adversas. Quando conquistou liberdade, dedicou-se totalmente ao trabalho em hospitais (cuidar dos doentes) e à vida religiosa (homem de orações) o que o levou a ingressar para a Ordem Terceira de São Francisco e, por fim, optou por uma vida contemplativa como grande eremita no deserto. Sua morte deu-se no dia 14  de março de 1549.

O estudo do padre italiano Salvatore Guastella sobre a vida do santo – Santo Antônio de Categeró: sinal profético do empenho pelos pobres – repisa as qualidades aqui expostas, além de traçar uma possível rota do estabelecimento da fé no bem-aventurado Santo no Novo Mundo e pontuar os principais locais de sua veneração no Brasil.

3 – Nossa Senhora Aparecida

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, popularmente chamada de Nossa Senhora Aparecida, é uma das invocações de Maria, mãe de Jesus. É a padroeira do Brasil.

O título, sempre evocado na Ladainha Lauretana, faz relação com o dogma da Imaculada Conceição. Com efeito, no dia 08 de dezembro a Igreja Católica celebra a solenidade de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, esta data lembra o dia 08/12/1854 na qual o Papa Pio IX proclama o dogma da Imaculada Conceição, porém a festa já tinha longa tradição. Esta devoção tem profunda relação com Portugal e consequentemente com o Brasil, pois desde 08 de dezembro de 1147, Portugal consagrou seu país à Imaculada Conceição.

Venerada na Igreja Católica, Nossa Senhora Aparecida é representada de pele negra por uma pequena imagem de terracota de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, atualmente alojada na Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida, localizada na cidade de Aparecida, em São Paulo.

Sua festa litúrgica é celebrada em 12 de outubro, um feriado nacional no Brasil desde 1980, quando o Papa João Paulo II consagrou a basílica, que é o quarto santuário mariano mais visitado do mundo, capaz de abrigar até 30 mil fiéis.

4 – Santo Elesbão

Elesbão de Axum, também conhecido como Santo ElesbãoEla Asbá (Ella Asbeha/Atsbeha) ou Elasboas (em grego: Ελεσβόας; m. 555)  foi um rei do Império de Axum que reinou entre  os anos 493 a 531dc. É um santo da Igreja Católica, venerado no dia 27 de outubro. Representado como um rei negro da Etiópia, a veneração de Elesbão teve muita difusão no Brasil colonial entre os escravizados africanos e seus descendentes.  Seu título real era bisi lazen.

5 – São Benedito

São Benedito, o Negro, conhecido também como São Benedito, o Mouro (cor escura da pele); Benedito, o AfricanoBenedito de Palermo, é um santo católico, que possui duas versões históricas: na primeira delas, teria sido um italiano descendente de africanos escravizados na Etiópia; em outra, teria sido um mouro islâmico escravizado ao norte da África, acontecimento comum no sul da Itália na época.

Aos 18 anos de idade, decidiu consagrar-se ao serviço religioso, e aos 21, um monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis chamou-o para viver entre eles. Benedito aceitou, fazendo votos de pobreza, obediência e castidade. Assim caminhava descalço pelas ruas e dormia no chão sem cobertas. Sendo muito procurado pelo povo, que desejava ouvir conselhos e pedir-lhe orações.

Cumprindo seu voto de obediência, depois de 17 anos entre os eremitas, foi designado para ser cozinheiro no Convento dos Capuchinhos.

Sua piedade, sabedoria e santidade levaram seus irmãos de comunidade a elegê-lo Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo (sem ordenação de sacerdote). Seus irmãos o consideravam iluminado pelo Espírito Santo, pois fazia muitas profecias. Ao terminar o tempo determinado como Superior, reassumiu as atividades na cozinha do convento.

São Benedito morreu aos 65 anos, no dia 4 de abril de 1589, em Palermo (Itália). Na porta de sua cela, no Convento de Santa Maria de Jesus de Palermo, encontra-se uma placa com a inscrição em italiano indicando que era a Cela de São Benedito e, embaixo, as datas 1524-1589, indicando o nascimento e falecimento. Alguns autores indicam 1526 como o ano de seu nascimento, mas os Frades do Convento de Santa Maria de Jesus consideram que a data certa é 1524.

Em Portugal, é venerado desde o sé­culo XVI como parte das Devoções Negras.

A Igreja Católica  tem outros santos e santas considerados negros e negras, abordamos apenas esses cincos.  A celebração deles, muitas vezes é restrita a grupos específicos de devotos. Também tiveram  grande influência para trazer os povos conquistados ao catolicismo.

Do Afrokut

Branquitude e Branquidade Por Edith Piza

Embora até então os termos branquitude e branquidade tenham sido utilizados para falar da situação de privilégio que o branco detém nas sociedades estruturadas pelas hierarquias raciais, em 2005 a autora Edith Piza propõe uma nova forma de pensar as nomenclaturas. No texto publicado no Simpósio Internacional do Adolescente a autora utiliza o termo branquidade, como foi utilizada na publicação da coletânea de Vron Ware, e estabelece a seguinte definição:

Ainda que necessite amadurecer em muito esta proposta, sugere-se aqui que branquitude seja pensada como uma identidade branca negativa, ou seja, um movimento de negação da supremacia branca enquanto expressão de humanidade. Em oposição à branquidade (termo que está ligado também a negridade, no que se refere aos negros), branquitude é um movimento de reflexão a partir e para fora de nossa própria experiência enquanto brancos. É o questionamento consciente do preconceito e da discriminação que pode levar a uma ação política antirracista (PIZA, 2005, p. 07).

A autora sugere que, diferente da forma como vem sendo trabalhada até então, a branquitude seja trabalhada como uma fase de superação da branquidade. Ou seja, a branquitude não representaria uma situação em que os brancos julguem todos iguais independente da cor da pele, muito pelo contrário. Significa que este indivíduo branco reconhece a situação de vantagem estrutural baseado na brancura e nega estes privilégios através de práticas antirracistas, também, no interior do “universo” branco.

É primeiramente o esforço de compreender os processos de constituição da branquidade para estabelecer uma ação consciente para fora do comportamento hegemônico e para o interior de uma postura política anti-racista e, a partir daí, uma ação que se expressa em discursos sobre as desigualdades e sobre os privilégios de ser branco, em espaços brancos e para brancos; e em ações de apoio à plena igualdade (PIZA, 2005, 07-08).

Edith Piza chama ainda atenção para o esforço que o branco precisa realizar no sentido de negar a posição de superioridade para alcançar uma branquitude e compara esta situação com o período da adolescência em questionamentos como “o que sou e o que não sou” são frequentes. “Este movimento exige que nos questionemos em termos não apenas de relação, mas de interação, pois só na interação, não mediada pelos mecanismos institucionais e pela racionalização em torno dos nossos processos conscientes e inconscientes” (PIZA, 2005, p. 08).

A autora Ruth Frankenberg (2004) em Branquidade já chamava atenção para o esforço contínuo e diário que o branco precisa ter para se tornar vigilante e contrário a atitudes que vão de encontro a manutenção da superioridade.

O trabalho do pesquisador Lourenço Cardoso (2010) estabelece uma diferenciação que se aproxima do conceito sugerido por Edith Piza. Cardoso desenvolve duas categorias para situar a branquitude no quadro social: branquitude crítica e branquitude acrítica. Segundo ele, “a branquitude crítica refere-se ao indivíduo que desaprova publicamente o racismo”.

branquitude acrítica refere-se ao indivíduo ou coletividade que luta pela manutenção do status de superioridade racial branca. “Apesar do apoio as práticas racistas ou da inação diante delas, a branquitude acrítica pode não se considerar racista porque, segundo sua concepção, a superioridade racial branca seria uma realidade inquestionável” (CARDOSO, 2010, p. 63).

Segundo Cardoso, uma das razões para distinguir a branquitude em crítica e acrítica, se sustenta pelo fato de que os principais estudiosos estabelecem uma diferenciação ao tratar as diversas formas de racismos, mas ao definir a branquitude o fazem de maneira genérica o que não é suficiente para compreender como se configura o conflito racial que tem se perpetuado.

“Ao observar o grupo branco de longe, de repente, pode surgir a impressão de que a branquitude é homogênea, porém, com a aproximação percebe-se o quanto os brancos são diversos” (IBIDEM). Dito isto, o autor atesta a necessidade de se pensar a branquitude nos seus aspectos mais específicos e mutáveis.

Texto do artigo de Camila Moreira de Jesus:

BRANQUITUDE X BRANQUIDADE: UMA ANÁLISE CONCEITUAL DO SER BRANCO

O Caibalion: Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da Grécia

Baseado nos princípios egípcios conhecido como Leis HerméticasO Caibalion (Kybalion, palavra que pode ser traduzida como “tradição ou preceito manifestado por um ente de cima”) é um livro esotérico sobre os princípios herméticos sistematizados pela primeira vez no ocidente com este formato em 1908, escrito originalmente em língua inglesa.

No Brasil, sua primeira edição surgiu em 1922, lançada pioneiramente em nosso país pela Editora Pensamento.

Até hoje não se sabe quem realmente o escreveu, sendo normalmente atribuído a três indivíduos autointitulados Os Três Iniciados.

Há rumores que na realidade isso seja apenas mais uma alcunha de William Walker Atkinson, escritor e mentalista norte-americano conhecido também pelo pseudônimo de Yogi Ramacharaka.

Segundo Os Três Iniciados, esse livro contêm a essência dos ensinamentos de Hermes Trismegistos, tal como ensinado nas escolas herméticas do Antigo Egito e da Grécia.

O título Caibalion compartilha a mesma raiz da palavra Qabala, e muitas das ideias apresentadas neste livro anteciparam conceitos relativamente modernos como a Lei da Atração e das ideias ligadas ao Movimento do Novo Pensamento.

Afrokut

9 negros que dão nome a ruas e avenidas de São Paulo

Preparamos uma lista com 9 negros que dão nome a ruas e avenidas de São Paulo, são brasileiros negros, que marcaram a historia do país. Sabemos que existem outras personalidades negras que dão nome a ruas,  avenidas e monumentos,  essa pequena lista que elaboramos é para ficarmos atentos a nossa historia:

1 – Torres Homem

Filho do padre Apolinário e da negra Maria Patrícia, conhecida como Maria “Você me Mata”, neta da escravizada Eva da Serra de Taubaté, Torres Homem, retratado como um macaco em caricaturas da época. É considerado o negro que conseguiu maior destaque durante o Império. Ele era contra a escravidão, mas escondia seu cabelo com perucas e usava pó de arroz para clarear a pele. Dava muita importância à aparência. Segundo ele, é “preciso não deixar os medíocres e tolos sequer essa superioridade: trajarem bem. As exterioridades têm inquestionável importância.” (Campos, 1954, p.19). Fez parte de sociedades secretas republicanas e mais de uma vez desrespeitou o Império. Apesar disso, recebeu o título de Visconde do Imperador em 1871. Foi deputado geral, presidente do Banco do Brasil, ministro da Fazenda, conselheiro de Estado e senador do Império do Brasil de 1868 a 1869.

2 – Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto, nasceu no Rio de Janeiro, mais conhecido como Lima Barreto, foi um jornalista e escritor que publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta  obra em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX. A maior parte de sua obra foi redescoberta e publicada em livro após sua morte por meio do esforço de Francisco de Assis Barbosa e outros pesquisadores, levando-o a ser considerado um dos mais importantes escritores brasileiros.

3 – Teodoro Sampaio

Nasceu no Engenho Canabrava, pertencente ao visconde de Aramaré, hoje localizado no município baiano de Teodoro Sampaio. Era filho da escravizada Domingas da Paixão do Carmo e do padre Manuel Fernandes Sampaio. Ainda em Santo Amaro estuda as primeiras letras no colégio do professor José Joaquim Passos. É levado pelo pai, em 1864 para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde estuda no Colégio São Salvador e, em seguida, ingressa no curso de Engenharia do Colégio Central. Ao tempo em que estuda leciona nos Colégios São Salvador e Abílio, do também baiano Abílio César Borges (Barão de Macaúbas), sendo ainda contratado como desenhista do Museu Nacional.

Formou-se em 1877, quando finalmente volta a Santo Amaro, na Bahia, onde nasceu. Ali, revê a mãe e os irmãos, e comprando, no ano seguinte, a carta de alforria de seu irmão Martinho, gesto que repete com os irmãos Ezequiel (1882) e Matias (em 1884). Sampaio nunca foi um escravizado. Em 1879 integra a “Comissão Hidráulica”, nomeada pelo imperador Dom Pedro II, sendo o único engenheiro brasileiro entre estadunidenses.

4 – José do Patrocínio

José Carlos do Patrocínio, nasceu em Campos dos Goytacazes, foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros e ex-escravizados. Filho de João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes e orador sacro de reputação na Capela Imperial, com Justina do Espírito Santo, uma jovem escravizada Mina de quinze anos, cedida ao serviço do cônego por D. Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, proprietária da região.

5 – Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no Rio de Janeiro, foi um enxadrista e escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

6 – Luiz Gama

Luís Gonzaga Pinto da Gama, nasceu em Salvador, foi um rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro. Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo escravizado aos 10, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado “o maior abolicionista do Brasil”.

Teve uma vida tão ímpar que é difícil encontrar, entre seus biógrafos, algum que não se torne passional ao retratá-lo — sendo ele próprio também carregado de paixão, emotivo e ainda cativante. A despeito disto o historiador Boris Fausto declarou que era dono de uma “biografia de novela”. Autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro; pautou sua vida na defesa da liberdade e da república, ativo opositor da monarquia, veio a morrer seis anos antes de ver seus sonhos concretizados.

7 – Mário de Andrade

Mario Raul Moraes de Andrade, nasceu em São Paulo, foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta brasileiro. Ele foi um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922. Andrade exerceu uma grande influência na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso—foi um pioneiro do campo da etnomusicologia—sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil.

Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Músico treinado e mais conhecido como poeta e romancista, Andrade esteve pessoalmente envolvido em praticamente todas as disciplinas que estiveram relacionadas com o modernismo em São Paulo, tornando-se o polímata nacional do Brasil.

8 – Cruz e Souza

João da Cruz e Sousa, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, foi um poeta brasileiro. Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi um dos precursores do simbolismo no Brasil. Segundo Antonio Candido, Cruz e Sousa foi o “único escritor eminente de pura raça negra na literatura brasileira, onde são numerosos os mestiços”. Filho dos escravizados alforriados Guilherme da Cruz, mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, João da Cruz desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. A esposa de Guilherme Xavier de Sousa, Dona Clarinda Fagundes Xavier de Sousa, não tinha filhos, e passou a proteger e cuidar da educação de João. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Em 1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor de Laguna por ser negro.

Em 1885, lançou o primeiro livro, Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea. Cinco anos depois foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com diversos jornais. Em fevereiro de 1893, publicou Missal (prosa poética baudelairiana) e em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao simbolismo no Brasil que se estende até 1922. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose, levando-a à loucura.

9 – André Rebouças

André Rebouças, nasceu em Cachoeira, foi um engenheiro, inventor e abolicionista brasileiro. Ele passou seus últimos 6 anos trabalhando pelo desenvolvimento de alguns países africanos. André Rebouças era filho de Antônio Pereira Rebouças e de Carolina Pinto Rebouças. Seu pai, filho de uma escravizada alforriada e de um alfaiate português, era advogado autodidata, deputado e conselheiro de D. Pedro II (1840 – 1889). Dois dos seus seis irmãos, Antônio Pereira Rebouças Filho e José Rebouças, também eram engenheiros. André ganhou fama no Rio de Janeiro, então Capital do Império, ao solucionar o problema de abastecimento de água, trazendo-a de mananciais fora da cidade. Servindo como engenheiro militar na guerra do Paraguai, André Rebouças desenvolveu um torpedo, utilizado com sucesso.

Em 1871, André e seu irmão Antônio, também engenheiro, apresentaram ao Imperador D. Pedro II o projeto da estrada de ferro ligando a cidade de Curitiba ao litoral do Paraná, na cidade de Antonina. Quando da execução do projeto, o trajeto foi alterado para o porto de Paranaguá. Até hoje, essa obra ferroviária se destaca pela ousadia de sua concepção. Ao lado de Machado de Assis, Cruz e Souza, José do Patrocínio, André Rebouças foi um dos representantes da pequena classe média negra em ascensão no Segundo Reinado e uma das vozes mais importantes em prol da abolição da escravatura. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora.

Em 2015, no mês da Consciencia Negra, o coletivo João Silva, grupo formado por publicitários, fez alguns adesivos, que foram colados junto a diversas placas de negros que dão nome a ruas e avenidas, com um pequeno perfil dos homenageados.

Do Afrokut

Os vestígios Históricos do Lutero Negro e a Gênesis do Protestantismo Brasileiro

A chegada da corte portuguesa, os processos de independências do Brasil e as primeiras leis abolicionistas marcaram significativamente a primeira metade do século XIX e deram o tom para as transformações políticas, econômicas, sociais e religiosas em solo brasileiro. E é sobre esse contexto que surge, em 1841 na cidade de Recife, Agostinho Jose Pereira pregador negro e precursor do protestantismo no Brasil, fundador da Igreja do Divino Mestre, que segundo Hernani Francisco da Silva foi a primeira igreja protestante no país.

Os vestígios históricos sobre Agostinho ainda são poucos, mas o que se pode afirmar, diante das fontes jornalísticas é que, ele sabia ler e escrever e fez de seu ministério uma possibilidade para falar sobre liberdade e o fim da escravidão e por isso ensinava os seus adeptos a ler e escrever. Ainda segundo Hernani Francisco da Silva, “As ideias de Agostinho eram avançadas e perigosas para a época onde a igreja católica era a religião oficial do Estado.” Entretanto, não foram as ideias e convicções religiosas do Pastor Negro que despertaram o descontentamento das autoridades do poder espiritual (Igreja) e as autoridades do poder temporal (Estado), mas sim suas ideias abolicionistas e seus inúmeros discursos que apontavam o Haiti como um exemplo de luta contra as formas de escravização do corpo negro.

Não podemos nos esquecer que a Revolução Haitiana, também conhecida por Revolta de São Domingos, que levou à eliminação da escravidão e à independência do Haiti, foi um dos maiores marcos históricos para a população afro-diaspórica no continente americano. As repercussões da Revolução geraram um medo eminente de revolta dos “escravizados” contra os seus “senhores”. Em sua tese de doutoramento, em Antropologia Social do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Rosenilton Silva de Oliveira aponta Agostinho como um ícone para o Movimento Negro Evangélico (MNE), pois enquanto a história oficial considera o início do protestantismo no país, no ano de 1858, com a fundação da Igreja Fluminense pelo reverendo Roberto Kalley; o MNE em uma tentativa de reescrever a presença evangélica no Brasil contextualiza o ano de 1841, quando Agostinho José Pereira funda a Igreja Divino Mestre, como a gênesis está do protestantismo brasileiro.

Segundo os vestígios históricos, apontados por Silva, “o que sabemos é que ele era um negro letrado, e que fundou a primeira igreja protestante brasileira, essa igreja era negra. Sabemos também que na sua trajetória política conheceu Sabino o líder da revolta baiana conhecida como a sabinada, também participou da confederação do Equador“. Perseguido e preso, por conta de suas ideias em prol das liberdades, sua trajetória foi se esvaindo no tempo e solapada pela história oficial. Por isso, ao pontuar Agostinho Jose Pereira na História, como líder, pregador abolicionista, não corremos o risco de uma história única que tente a invisibilizar a participação de homens e mulheres negros e negras nas narrativas oficiais.

Autor:

Babalawo Ivanir Dos Santos

O Prof°. Babalawô Ivanir dos Santos, é Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ); membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), Pesquisador do Laboratório de História das Experiências Religiosas (LHER-UFRJ) e Laboratório de Estudos de História Atlântica das sociedades coloniais pós coloniais (LEHA-UFRJ); Coordenador da Coordenadoria de Religiões Tradicionais Africanas, Afro-brasileira, Racismo e Intolerância Religiosa (ERARIR/LHER/UFRJ); Conselheiro Estratégico do Centro de Articulações de População Marginalizada (CEAP); Interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR); Conselheiro Consultivo do Cais do Valongo; Vice-presidente da América Latina no Conselho Internacional das Sociedades de Antigas Religiões de Descendentes de Africanos (ARSADIC), Nigéria. Tem experiência nas seguintes áreas ; Educação Étnico-racial e questões africanas, Direitos Humanos e Cidadania; Relações Internacionais; Religiões tradicionais da África Ocidental e Afro-brasileiras.


Referências:
http://www.espiritualidades.com.br/…/SILVA_Hernani_Francisc…

OVILEIRA, Rosenulton Silva de. A cor da fé: “identidade negra” e religião. Tese de Doutorado em Antropologia Social do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2017.

Fonte da foto: https://afrokut.com.br/blog/reforma-protestante-negra/



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Exposição sobre o Kemet – Antigo Egito

A exposição Egito Antigo: do cotidiano à eternidade, em cartaz no CCBB –  Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, há pouco mais de três meses  já recebeu mais de 1 milhão de visitantes, devido ao enorme sucesso e o crescente interesse do público, foi prorrogada a visitação até 02/02. Depois deixará o Rio para ser apresentada em outras quatro localidades: CCBB São Paulo (em 19/02), CCBB Brasília (em junho) e CCBB Belo Horizonte, em setembro de 2020.

A mostra tem entrada gratuita e durante a exibição serão apresentadas 140 peças do Museu Egípcio de Turim (Museo Egizio), na Itália. Fundado em 1824 por Carlo Felice di Savoia, rei da Sardenha, o museu italiano reúne a segunda maior coleção egiptológica do mundo (depois do Museu do Cairo no Egito), com cerca de 26.500 artefatos do Kemet (Egito Antigo). Seu acervo é resultado da junção das peças da Casa Savoia (adquiridas desde o século 17) às da coleção que o monarca comprara das escavações de Bernardino Drovetti, cônsul da França no Egito (1820-1829) – e outra parte do acervo foi descoberta pela Missão Arqueológica Italiana (1900-1935), quando ainda era possível a divisão dos achados arqueológicos.

Kemet – Egito Antigo

A Kemet começou a se formar no final do período paleolítico, quando o clima árido do Norte da África e a desertificação do Saara, levaram muitos africanos a se mudarem para o Vale do Nilo, formando várias comunidades agrícolas que viviam em grupos ao redor do Rio Nilo. Mas, foi no período chamado pré-dinástico, antes que houvesse um Faraó e Kemet fosse unificada, que as culturas Kemética formadas pelas comunidades ribeirinhas do Nilo começaram a se unificar e formar pequenos Estados ao longo do Rio Nilo, este período começou por volta de 4000 aC, que é mais de 6.000 anos atrás. Segundo a Pedra de Palermo o Kemet se unificou em dois reinos, um no Alto Kemet e outro no Baixo Kemet. Kemet se transformou em um complexo de civilizações formadas por diversas nações africanas, ao redor do Rio Nilo, em uma área que se estendia desde a Núbia, Sudão, até ao rio Eufrates. Saiba mais: O que é Kemet?

A exibição da exposição “Egito Antigo: do cotidiano à eternidade“ é dividida em três seções: vida cotidiana, religião e eternidade, que ilustram o laborioso cotidiano das pessoas do vale do Nilo, revelam características do neteru egípcio e abordam suas práticas funerárias. Cada seção apresenta um tipo particular de artefato arqueológico, contextualizado por meio de coloração e iluminação projetadas para provocar efeitos perceptuais, simbólicos e evocativos. As cores escolhidas são: amarelo para a seção da vida cotidiana; verde para a religião; azul para as tradições funerárias – associadas a três intensidades da iluminação (brilhante, suave e baixa).

Local e data da exposição “Egito Antigo: do cotidiano à eternidade“:|

CCBB Rio de Janeiro: 12/10/2019 a 02/02/2020

CCBB São Paulo: 19/02/2020 a 11/05/2020

CCBB Distrito Federal: 02/06/2020 a 30/08/2020

CCBB Belo Horizonte: 16/09/2020 a 23/11/2020

Do Afrokut

O Movimento Negro Evangélico e o futuro

Parte das demandas lançadas sobre as costas de militantes e ativistas negros/negras têm a ver com o passado. As questões relacionadas à escravidão, ao colonialismo, às desigualdades e a um passado que nós nem conhecemos e sequer entendemos são parte das várias questões que além do racismo que se projeta claramente no nosso presente, vivem a assombrar e perseguir os membros dos movimentos negros. Como disse Mano Brown em entrevista ao Le Monde Diplomatique Brasil“hoje o negro está mais ligado ao futuro do que ao passado”(1).

Os debates sobre afro futurismo, mundos possíveis e a superação do racismo são por demais sedutores. Afinal, quem não adoraria que Wakanda fosse real? O que todo negro/negra quer é justamente não precisar mais falar de racismo, falar de dor e de violência. Essa necessidade é um possível explicador para a quantidade gigantesca de pessoas pretas nas igrejas evangélicas, sobretudo nas denominações que falam sobre salvação com certa ênfase. Para o povo negro, é importante pensar a vida em uma outra perspectiva que não seja a deste mundo em que vivemos.

Estamos vivendo uma crise mundial. Até para o espectador mais ingênuo, é nítido que o mundo está vivendo um período cataclísmico e de crises múltiplas. As crises políticas, econômicas e até de identidades representam todo um processo de adoecimento do que Ailton Krenak chamou de Antropoceno:

Como é que ao longo dos últimos 2 mil ou 3 mil anos, nós construímos a ideia de humanidade? Será que ela não está na base de muita das escolhas erradas que fizemos, justificando o uso da violência? (KRENAK, 2019, p. 11).

Mais do que nunca precisamos falar de futuro. O passado deve ser apenas o ponto de partida para nossas críticas; mas no momento, o foco deve ser o futuro. A comunidade negra precisa criar dentro de si a possibilidade de pensar um outro mundo, uma realidade libertária. Quando falamos de decolonialidade, é sobre essa possibilidade de pensarmos mundos possíveis, outras experiências. Se essas experiências serão sem a presença do racismo, eu não sei, o que sei é que o mundo está fumegando e este é o momento para que haja uma real transformação.

Em ideias para adiar o fim do mundo (2019), o líder indígena Ailton Krenak reflete justamente sobre essas questões. Pensar o futuro e o tempo em uma perspectiva decolonial é transcender as fronteiras de um mundo fragmentado. Ou como Frantz Fanon escreveu em Os condenados da terra, “um mundo cindido em dois” (1961). Esse mundo, chamado de Ocidente, foi construído para que os seus dois lados se autoanulem e nunca se encontrem de forma harmônica. Assim, uma guerra que foi declarada por um dos lados impede que o outro lado, o lado dos colonizados, se recuse a guerrear. Por isso, desde a colonização, a violência passou a ser um tipo de linguagem universal que expressa o fim de todo conflito, diálogo, debate ou embate.

A igreja evangélica no Brasil como parte desse mundo em colapso, têm mantido relações estreitas com o poder dos colonizadores, tendo no seu núcleo uma massa de membros formada majoritariamente pelos povos colonizados e que está sendo largamente influenciada pelas estruturas de poder colonial por motivos mais complexos que o binarismo alienados alienadores comumente utilizado pelos devotos do materialismo histórico.

Nada é tão simples.

E é por não ser tão simples que existem grupos de evangélicos como o Movimento Negro Evangélico.

No início da década o censo do IBGE apontou o avanço gigantesco da população evangélica (2) e o provável é que, havendo um novo censo, esse número tenha em muito aumentado. A problemática é que, como já foi apontado em pesquisas, o Brasil é um dos países com maior número de evangélicos, mas também um dos países que mais mata jovens negros (3) e é nesse ponto que emerge a urgência de movimentos que dialoguem com a fé desse grupo que está em crescimento e as demandas de um país ainda preso às amarras coloniais.

O Movimento Negro Evangélico (MNE) é uma ideia para adiar o fim do mundo. Precisamos, negros e negras, entender as perguntas que estão sendo feitas pelas pessoas nas igrejas, na periferia e nas favelas para que nossas respostas sejam audíveis e efetivas. Precisamos entender o que os movimentos de esquerda não entenderam ou não quiseram entender. Precisamos nos apropriar das narrativas e dos discursos que podem potencializar um novo horizonte para um mundo que vive em constante queda rumo à morte para talvez “não eliminar a queda, mas inventar e fabricar milhares de paraquedas coloridos, divertidos, inclusive prazerosos” (KRENAK, 2019).

Que o MNE entenda a sua possibilidade de reconstruir um novo céu e uma nova terra. Que o MNE entenda que isso não se trata e nunca se tratará de converter todo o mundo ao cristianismo, mas salvar todo o mundo, inclusive, o próprio cristianismo.

Bem-aventurados, nós, os pacificadores, com fome e sede de justiça.

Por João Marcos Bigon, mestrando em Relações Étnico-Raciais pelo PPRER/CEFET-RJ e Licenciado em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias. Membro da Nossa Igreja Brasileira.

Via: Novos Diálogos


Notas

(1) Mano Brown, um sobrevivente do inferno | Entrevista completa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=U_OsF4y4zuY&t=720s. Acesso em: 05 de Jan, 2020.

(2) Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangélicos, espíritas e sem religião. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?id=3&idnoticia=2170&view=noticia. Acesso em 8 de Jan, 2020.

(3) 75% das vítimas de homicídio no país são negras, aponta Atlas da violência. Disponível em: https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,75-das-vitimas-de-homicidio-no-pais-sao-negras-aponta-atlas-da-violencia,70002856665. Acesso em: 8 de Jan, 2020.