O conceito de AfroHumanitude proposto aqui é a África como berço da humanidade e centro da história universal do mundo. Afro-Humanitude é África e a Humanitude conectada: África onde a humanidade surgiu e Humanitude o vínculo universal que liga toda a humanidade.
A Humanitude é um conceito de natureza antropológica, que nos leva a ver as raízes da nossa condição humana. O conceito de Humanitude foi definido por Albert Jacquard, em 1987, inspirado no conceito de Negritude, de Aimé Cesaire. Mais tarde, em 1989, um geriatra francês, Lucien Mias, introduziu pela primeira vez o termo da humanitude nos cuidados da medicina com idosos. Em 1995, Rosette Marescotti e Yves Gineste decide escrever uma nova filosofia de cuidados que eles chamaram de “filosofia da humanitude“, na aplicação aos cuidados de enfermagem.
Na nossa perspectiva Humanitude é Ubuntu, uma filosofia tradicional Africana que nos oferece uma compreensão de nós mesmos em relação com o mundo. De acordo com Ubuntu, existe um vínculo comum entre todos nós e é deste elo, através de nossa interação com nossos companheiros seres humanos, que descobrimos nossas próprias qualidades humanas. No ensino do Ubuntu uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas.
Neste sentido Ubuntu/humanitude também é uma filosofia quântica. A mecânica quântica ecoa o antigo conhecimento do Ubuntu e do Kemet (Egito Negro) e outras culturas antigas em todo o mundo como: “a crença em um vínculo universal de partilha que liga toda a humanidade”. Ubuntu está bem descrito em ensinamentos antigos que são analisados na ciência moderna, incluindo a noção de totalidade e similaridade, postulada no campo de Física Quântica por David Bohm.
“Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas”. (Umuntu ngumuntu ngabantu). Provérbio Zulu e xhosa.
O Sul Africano Nobel da Paz Arcebispo Desmond Tutu descreve Ubuntu como:
É a essência do ser humano. Ela fala do fato de que minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligado na sua. Eu sou humano, porque eu pertenço. Ela fala sobre a totalidade, ela fala sobre a compaixão. Uma pessoa com Ubuntu é acolhedora, hospitaleira e generosa, disposta a compartilhar. Essas pessoas são abertas e disponíveis para os outros, disposto a ser vulnerável, apoiam os outros, não se sentem ameaçados que os outros são bons e capazes, porque eles têm uma boa auto-confiança que vem de saber que eles pertencem a um todo maior. Eles sabem que estão diminuído quando outros são humilhados, diminuído quando outros são oprimidos, diminuído quando outros são tratados como se fossem menos de quem eles são. A qualidade do Ubuntu dá às pessoas resistência, permitindo-lhes sobreviver e emergir ainda ser humano, apesar de todos os esforços para desumanizar-los.
Acredito que a Afrohumanitude tem muito para contribuir com a questão racial no Brasil e no mundo. Entendo que a África é o berço da humanidade e a Humanitude é Ubuntu que liga toda a humanidade. Essa conexão forma a AfroHumanitude, que contempla: a indigenitude, negritude, branquitude, e continua aberta e disponível para outras humanitudes.
Neste artigo procurei traçar uma pequena introdução do que é AfroHumanitude, e resgatar esse conceito na perspectiva da nossa caminhada. Portanto, há uma necessidade de compreender, revitalizar e promover as virtudes da Afrohumanitude.
Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut
Bibliografia e referências:
humanitude, teste, Genebra, Labor et Fides Ed, 1980
Gineste, Yves et Rosette Marescotti. Soins, corps communication. Les liens
d’humanitude ou l’art d’être ensemble jusqu’au bout de la vie.
http://perso.wanadoo.fr/cec-formation.net/philohumanitude.html. Consultado em 5 de Março, 2007.
Gineste, Yves et Rosette Marescotti. La philosophie de l’humanitude.
http://perso.orange.fr/cec-formation.net/humanitude1.htm Consultado em 3 de Março, 2007.
ALTUNA, Raul Ruiz de Asúa. Cultura Tradicional Banto. Luanda, Secr.Arquidioc.de Pastoral. 1985. ANSELMO, Antônio Joaquim.
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