O Movimento da Parditude: Surgimento e Controvérsias

Nas últimas décadas, o Brasil tem observado uma mudança significativa em seu cenário racial. A população que se identifica como negra, composta por pessoas de cor parda e preta, agora constitui a maioria estatística do país. Leia o artigo: Os pardos são a maioria dos brasileiros, o que isso muda na Parditude e na Negritude? Este fenômeno tem gerado debates intensos, especialmente nas redes sociais, sobre identidade racial e as políticas públicas voltadas para essa população. No centro dessas discussões, emerge o movimento da Parditude. Este movimento visa reconhecer e celebrar a identidade das pessoas pardas como uma categoria distinta dentro da população negra. No entanto, esta iniciativa tem provocado reações mistas, especialmente entre os militantes do Movimento Negro. Alguns membros do Movimento Negro acusam a Parditude de tentar dividir o movimento e de ser uma ferramenta utilizada pela direita para enfraquecer a luta pelos direitos dos negros. Eles argumentam que a fragmentação da identidade negra pode diluir a força política e social conquistada ao longo de décadas de luta.

A discussão sobre a identidade dos mestiços é vista como necessária e há muito aguardada dentro do Movimento Negro. No entanto, o debate tem se mostrado divisivo, com trocas de acusações entre alguns membros da Parditude e militantes do Movimento Negro. Alguns argumentam que “ser negro está na moda” e que os pardos estão se apropriando das políticas voltadas para os negros, com uso de adjetivos pejorativos direcionados às pessoas pardas. Esta visão desconsidera o fato de que muitas dessas políticas foram formuladas com base no quantitativo da soma das populações parda e preta. Recentemente, o Mestre em Antropologia Social Mauro Baracho, da página @afroestima2 no Instagram, ofereceu uma análise crítica ao conceito de “parditude”. Em sua análise, Baracho expressa desconforto com a comparação dos movimentos negros aos eugenistas, uma comparação feita por alguns membros do movimento da Parditude. Ele reafirma a reivindicação do Movimento Negro de incluir os pardos na categoria negro, destacando a importância da união na luta contra o racismo.

Vale lembrar que o Movimento Negro, especialmente nas décadas de 70, 80 e 90, desempenhou um papel crucial na formulação da identidade negra como categoria política. A campanha do Censo de 1990, promovida por várias organizações civis com o slogan “Não deixe sua cor passar em branco – use o bom c/senso“, exemplifica esse esforço. Na época, houve discussões sobre a eliminação da categoria parda em favor da categoria negro, argumentando que se não havia diferentes categorias de cor para a raça branca, o mesmo deveria valer para a raça negra. Uma reportagem no site #Colabora, do jornalista Igor Soares, aborda uma fala do Frei David, diretor da Educafro, onde afirma que é preciso tratar da questão da Parditude com ‘seriedade”.

O Brasil sempre fugiu do debate racial”, afirma o diretor da ONG, que ressalta que o país precisa fazer reparações pelos danos da escravatura. Para ele, o termo usado pelo IBGE é, de fato, questionável, uma vez que é preciso saber que pardos são esses. “Nos anos 1970, a comunidade lutou para abandonar o uso do termo ‘pardo’. Entendemos que há o ‘pardo-preto’, que sofre racismo constantemente, o ‘pardo-pardo’, que pode sofrer racismo, e ‘pardo-branco’, que nunca sofre racismo”, afirma, ressaltando que é uma interpretação do atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, adotada pela EducAfro. (#Colabora 2025)

A fala de Frei Davi, diretor da Educafro, traz à tona questões fundamentais sobre a complexidade da identidade racial no Brasil. Ao identificar diferentes categorias de “pardos” — ‘pardo-preto‘, ‘pardo-pardo‘ e ‘pardo-branco‘ — ele destaca como a experiência do racismo varia significativamente entre essas categorias. Além disso, ele aponta preocupações sobre a possibilidade de fraudes em ações afirmativas, caso pessoas brancas se passem como pardas. A distinção feita por Frei Davi entre ‘pardo-preto’, ‘pardo-pardo’ e ‘pardo-branco’ ilustra a diversidade de experiências dentro da categoria “pardo”. Conforme ele menciona, ‘pardo-preto’ refere-se àqueles que sofrem racismo constantemente, enquanto ‘pardo-pardo’ pode ou não sofrer racismo, e ‘pardo-branco’ não sofre racismo. Essa diferenciação reconhece que a vivência do racismo não é homogênea e que a cor da pele influencia diretamente essas experiências.

O debate sobre a identidade racial no Brasil é complexo e multifacetado. Embora a discussão sobre a identidade parda seja válida e necessária, é crucial que essa conversa não leve à fragmentação do movimento negro. O objetivo deve ser a união e o fortalecimento da luta contra o racismo, reconhecendo a diversidade dentro da população negra e trabalhando juntos por um futuro mais justo e igualitário. A unificação da luta do Movimento Negro e da Parditude é essencial para enfrentar os desafios e injustiças que ainda persistem na sociedade brasileira. Por meio do diálogo respeitoso, reconhecimento da diversidade, educação, fortalecimento de políticas públicas, parcerias estratégicas e celebração das conquistas, é possível construir um movimento mais coeso e forte, capaz de promover mudanças significativas e duradouras. A crescente presença das redes sociais como palco para discussões sobre questões raciais evidencia a importância de abordagens inovadoras para promover a compreensão e a justiça. Nesse contexto, a AfroHumanitude surge como uma abordagem que pode enriquecer o debate e contribuir para a resolução de controvérsias relacionadas à Parditude e ao Movimento Negro. Baseada nos princípios de respeito, empatia e reconhecimento da humanidade compartilhada, a AfroHumanitude propõe um novo paradigma para tratar de questões raciais de maneira mais inclusiva e construtiva.

A AfroHumanitude é uma filosofia que valoriza a dignidade e a humanidade de todas as pessoas. Ao promover uma compreensão mais profunda das realidades vividas pelas pessoas negras, a AfroHumanitude busca construir pontes de empatia e solidariedade entre diferentes grupos raciais. Esse conceito se fundamenta na ideia de que o reconhecimento mútuo e o respeito pelas diferenças são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Nas redes sociais, onde as discussões sobre questões raciais frequentemente se tornam acaloradas e polarizadas, a AfroHumanitude pode desempenhar um papel crucial. Ao incentivar o respeito e a empatia nas interações online, essa abordagem ajuda a criar um ambiente mais saudável para o diálogo. Em vez de perpetuar divisões e preconceitos, os princípios da AfroHumanitude promovem a compreensão mútua e a cooperação. Conforme destacado por Frei David, diretor da Educafro, a questão racial no Brasil é frequentemente evitada, e é necessário abordar esse tema com seriedade. A Parditude, como conceito discutido atualmente, traz à tona preocupações sobre a identificação racial e as implicações para ações afirmativas. A AfroHumanitude pode contribuir para esse debate ao fornecer uma estrutura que reconheça as nuances e complexidades da identidade racial, evitando generalizações e estereótipos prejudiciais.

Ao integrar a AfroHumanitude em iniciativas educacionais e políticas de justiça social, podemos criar uma base mais sólida para a promoção da equidade racial. Isso inclui o fortalecimento de programas que visem à reparação histórica e a implementação de ações afirmativas de maneira justa e eficaz. A AfroHumanitude oferece uma abordagem promissora para enfrentar as controvérsias raciais observadas nas redes sociais e além. Ao promover o respeito, a empatia e o reconhecimento da humanidade compartilhada, essa filosofia pode ajudar a transformar o debate racial em uma oportunidade para a construção de uma sociedade mais justa e harmoniosa. Adotar os princípios da AfroHumanitude é um passo importante na jornada rumo à verdadeira equidade racial e ao fortalecimento do Movimento Negro no Brasil.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

AfroHumanitude na Promoção do Letramento Racial

Reconhecendo a África como o berço da humanidade e o conceito de Ubuntu (Humanitude), que liga todos os seres humanos, a AfroHumanitude enfatiza que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais. A AfroHumanitude tem o potencial de enriquecer e transformar o debate racial no Brasil e no mundo.  A  AfroHumanitude propõe um entendimento mais inclusivo e holístico das diferenças humanas. A ideia de que a África é o berço da humanidade e que o conceito de Ubuntu conecta todos os seres humanos é poderosa e inspiradora.

Assista ao vídeo completo aqui:

No vídeo, exploramos a inovadora proposta da AfroHumanitude, que vai além das tradicionais dicotomias raciais. Vamos entender como esse conceito unificado e inclusivo reconhece que todos pertencemos à mesma espécie, Homo sapiens, e celebra a diversidade humana em suas múltiplas expressões:   NegritudeIndigenitude,  BranquitudeParditude.

O Que é Letramento Racial?

O letramento racial é um processo de conscientização e educação que visa capacitar as pessoas a entenderem e combaterem o racismo. É uma forma de responder às tensões raciais de forma individual e de reeducar as pessoas em uma perspectiva antirracista.

Do Afrokut

 

O termo pardo e a Parditude no Brasil

No Brasil, o termo “pardo” tem uma história complexa e multifacetada, refletindo a diversidade racial e cultural do país. Desde o século XVI, início da colonização portuguesa, a palavra foi usada para descrever pessoas mestiças, especialmente aquelas de origem indígena e africana. Na famosa carta de Pero Vaz de Caminha em que o Brasil foi descrito pela primeira vez pelos portugueses, os nativos americanos eram chamados de “pardo”: “Pardo, nu, sem roupa”.

Diogo de Vasconcelos, um conhecido historiador mineiro, menciona a história de Andresa de Castilhos. Segundo as informações do século XVIII, Andresa de Castilhos foi assim descrita:

Declaro que Andresa de Castilhos, mulher parda … foi liberta … é descendente dos nativos da terra … Declaro que Andresa de Castilhos é filha de um homem branco e de uma mulher nativa”.

A historiadora Maria Leônia Chaves de Resende explica ainda que o vocábulo pardo era empregado para denominar pessoas de ascendência indígena ou mesmo os próprios indígenas: um Manoel, filho natural de Ana carijó, foi batizado como pardo; na Campanha vários indígenas foram classificados como pardos; os indígenas João Ferreira, Joana Rodriges e Andreza Pedrosa, por exemplo, foram denominados pardos forros; um Damaso se autodenominou pardo forro do natural da terra; etc.

Ainda, segundo Maria Leônia Chaves de Resende, o crescimento da população parda no Brasil abrange os descendentes de indígenas e não apenas os de ascendência africana:

o crescimento do segmento pardo não se deu apenas com os descendentes de africanos, mas também com os descendentes de indígenas, em especial os carijós e bastardos, incluídos na condição de pardo”.

Com o tempo, o termo passou a incluir também misturas com europeus e asiáticos, tornando-se uma categoria ampla e muitas vezes ambígua. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pardo é uma classificação ampla que abrange brasileiros multirraciais. O termo “pardo” foi usado pela primeira vez em um censo brasileiro em 1872. O censo seguinte, em 1890, substituiu a palavra pardo por mestiço (aquele de origem mista). Os censos de 1900 e 1920 não perguntaram sobre raça, argumentando que “as respostas escondem em grande parte a verdade”.

A partir de 1950, “pardo” foi incorporado como uma categoria oficial no Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atualmente, o IBGE define “pardo” como alguém que se identifica com uma mistura de duas ou mais opções de cor ou “raça”, incluindo branca, preta e indígena. Segundo o Censo de 2022, 45,3% da população brasileira se identifica como parda, tornando este o maior grupo racial do país.

A “Parditude” é um conceito que busca valorizar e reconhecer a identidade e a cultura dos pardos no Brasil. Este termo destaca a importância de entender as experiências e desafios únicos enfrentados por pessoas mestiças, que muitas vezes vivem em um “meio termo” racial. A Parditude enfatiza a diversidade dentro da categoria parda, reconhecendo as diferentes origens ancestrais e experiências de vida que compõem esse grupo.

Os pardos enfrentam desafios significativos em áreas como mercado de trabalho, educação, saúde e justiça. Apesar de serem a maioria da população, eles ainda estão sub-representados em cargos de liderança e poder, e frequentemente experimentam discriminação e desigualdade. A Parditude, portanto, não só celebra a diversidade cultural e racial dos pardos, mas também busca combater o racismo e promover a inclusão social.

Portanto, o termo “pardo” e o conceito de Parditude são fundamentais para compreender a complexidade das relações étnico-raciais no Brasil. Eles nos lembram da importância de valorizar a diversidade e de lutar por uma sociedade mais justa, igualitária e com valores da AfroHumanitude, onde propõe que todos os seres humanos pertencem a uma única espécie, o Homo sapiens, e que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

A importância de reconhecer a Parditude

A Parditude é um conceito que busca reconhecer e valorizar a identidade e a cultura das pessoas pardas ou mestiças no Brasil. Em um país marcado pela miscigenação, os pardos são a maioria dos brasileiros, a parditude destaca as experiências únicas e os desafios enfrentados por aqueles que possuem uma herança racial mista, geralmente envolvendo ancestrais indígenas, africanos e europeus. Assim, a Parditude é uma forma de afirmar a identidade mestiça, reconhecendo a riqueza cultural e a diversidade que essa mistura representa. Ela se posiciona contra o racismo e o apagamento histórico que muitas vezes invisibiliza as pessoas pardas, forçando-as a se enquadrarem em categorias raciais binárias.

As pessoas pardas, no Brasil, frequentemente enfrentam uma série de desafios, incluindo: a sensação de não pertencimento a um grupo racial específico, o que pode levar a um sentimento de exclusão social e apagamento de ancestralidade; a falta de reconhecimento e representação nas políticas públicas e na sociedade em geral, o que pode resultar em consequências psicológicas graves;  o constante questionamento sobre a própria “raça” e a pressão para se autodeclarar de uma forma específica.

A importância de reconhecer a  Parditude é essencial para entender a complexidade das relações étnico-raciais no Brasil. Ela permite que as pessoas pardas afirmem sua identidade e lutem por seus direitos, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e justa.  A Parditude, assim como a Negritude, é uma forma de resistência e afirmação cultural, mostrando que a diversidade é uma força e não uma fraqueza. Ao valorizar a Parditude, celebramos a riqueza da diversidade e promovemos a igualdade racial. Isso inclui a aceitação e o orgulho de suas origens múltiplas, bem como a luta contra o racismo e o apagamento histórico que muitas vezes enfrentam. Além disso, é uma forma de afirmar a cidadania e os direitos dos pardos na sociedade brasileira. Nessa perspectiva, é fundamental compreender que a Parditude não é separada da NegritudeIndigenitude e da Branquitude, pois compõe a essência da Afro-humanitude que mostra que a humanidade é uma só, mas com múltiplas expressões.

Lembrando que a  AfroHumanitude propõe que todos os seres humanos pertencem a uma única espécie, o Homo sapiens, e que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais. A ciência moderna, especialmente a genética, tem mostrado que a variação genética dentro de qualquer grupo racial é maior do que a variação entre grupos diferentes. Isso significa que as categorias raciais tradicionais não têm uma base biológica sólida.

Entretanto, as categorias raciais binárias, como “branco” e “negro”, foram historicamente usadas para classificar e hierarquizar pessoas com base em características físicas visíveis, como a cor da pele. Essas classificações foram amplamente utilizadas durante o colonialismo e a escravidão para justificar a exploração e a opressão de pessoas. No entanto, essas categorias são simplificações que não capturam a complexidade da diversidade humana. A aceitação da AfroHumanitude e a rejeição das categorias raciais binárias são passos importantes para reconhecer e valorizar a Parditude.

No entanto, é crucial continuar a refletir e agir sobre como a AfroHumanitude pode desempenhar um papel vital na valorização da Parditude e na promoção de uma sociedade mais inclusiva e equitativa, respeitando a diversidade e promovendo a inclusão.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

 

O Brasil miscigenado e o reconhecimento da parditude

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Pela primeira vez, a população parda aparece como grupo majoritário da população brasileira.

O gráfico abaixo, apresenta os dados do quesito raça/cor dos censos demográficos do IBGE, de 1991 a 2022.

Nota-se que a população autodeclarada branca era maioria em 1991 (51,6%) e no ano 2000 (53,7%), mas perdeu o status de maioria absoluta em 2010 (com 47,7%) e perdeu o status de maioria simples em 2022 (com 43,5%).

A população autodeclarada parda vinha logo abaixo no percentual dos indivíduos autodeclarados brancos, com 42,5% em 1991, 38,5% em 2000, 43,1% em 2010 e assumiu a maioria simples em 2022, com 45.3%. A população autodeclarada preta era de 5% em 1991, passou para 6,2% em 2000, 7,6% em 2010 e alcançou 10,2% em 2022. A população autodeclarada indígena passou de 0,2% em 1991 para 0,6% em 2022. E a população autodeclarada amarela ficou estável em torno de 0,4% no período.

 

A tabela abaixo apresenta os valores absolutos do quesito raça/cor dos censos de 1991 a 2022. Observa-se que a população branca diminui em termos absolutos entre o ano 2000 e 2022, enquanto a população parda apresentou o maior crescimento do período, passando de 62,3 milhões em 1991 para 92 milhões em 2022. A população preta passou de 7,3 milhões em 1991 para 20,7 milhões em 2022. A população indígena, embora percentualmente pequena, apresentou um grande crescimento absoluto de 294 mil em 1991 para 1,2 milhão em 2022. A população amarela ficou aproximadamente estável no período.

 

Segundo o IBGE, A pergunta sobre cor ou raça não retrata apenas a “cor” ou apenas a “raça” da população, pois, além de existirem vários critérios que podem ser usados pelo informante para a classificação (origem familiar, cor da pele, traços físicos, etnia, pertencimento comunitário, entre outros), as cinco categorias estabelecidas na investigação (branca, preta, amarela, parda e indígena) podem ser entendidas pelo informante de forma variável. Vale lembrar ainda que o IBGE utiliza o conceito de “raça” como uma categoria socialmente construída na interação social e não como um conceito biológico.

Assim, o pertencimento étnico-racial é investigado respeitando o critério de autoidentificação. Cada informante, responde ao censo a sua percepção sobre a sua cor ou raça e sua percepção sobre como os outros moradores se auto-identificam numa das cinco categorias.

 

Muitos pesquisadores e ativistas costumam agrupar as categorias “parda” e “preta”, como categoria “negra”. Evidentemente, existem diversas razões que justificam este tipo de agrupamento. Porém, não seria correto definir todos os negros como afrodescendentes, pois muitas pessoas que se autodeclaram pardas são fruto da miscigenação entre brancos e indígenas, ou, em menor proporção, entre brancos e amarelos, ou mesmo entre pardos e brancos. Desta forma, os pardos possuem múltiplas ascendências e uma rica e plural ancestralidade.

Isto fica claro quando analisamos os dados para as Unidades da Federação (UFs), conforme mostra a tabela abaixo. Nota-se que a percentagem de pardos é maior nas UFs do Norte e Nordeste, especialmente naqueles estados onde existe grande quantidade de população indígena. As pessoas que se autodeclaram pardas são mais de dois terços da população no Pará e no Amazonas.

As duas UFs com maior percentagem de população autodeclarada preta são a Bahia e o Rio de Janeiro. Na Bahia há 22,4% de indivíduos autodeclarados pretos (com 57,3% de população parda) e no Rio de Janeiro há 16,2% (com 41,6% de população parda). No total há 18 UFs com maioria de população parda, há 5 UFs sem qualquer maioria absoluta e 4 UFs com maioria da população autodeclarada branca.

Portanto, os pardos são maioria absoluta em 18 Unidades da Federação, são maioria simples em 5 UFs e somente são minoria em 4 UFs (SP, PR, SC e RS). Portanto, o Brasil é um país marcado pela miscigenação entre brancos, pretos, amarelos e indígenas e a presença parda se distribui de forma diferenciada no território brasileiro.

O artigo de Beatriz BuenoReconhecendo a parditude: Consciência mestiça na sociedade brasileira”, publicado na Revista Fórum (23/3/2024) alerta que: “Hoje em dia, as pessoas mestiças se veem , no centro de uma disputa ideológica, sendo obrigadas a se categorizar apenas entre branco e negro. Diante desse cenário, é crucial que as próprias pessoas pardas investiguem suas experiências. Assim nasce a Parditude”.

A autora relata que a Parditude abrange uma série de experiências e desafios:
• “Ambiguidade Racial: Pessoas mestiças, resultado principalmente das misturas afro/euro/indígena, vivem situações de não pertencimento sócio racial.
Exclusão e silenciamento: A sensação de “não lugar” causa apagamento de ancestralidade e constrangimentos sociais, levando a consequências psicológicas graves.
Identidade em questão: O constante questionamento sobre a própria raça e a pressão para se autodeclarar de uma forma específica.
Luta pela identidade: Mesmo ao escolher se autodeclarar como branco, negro, indígena ou pardo, há sempre questionamentos externos, pois sua aparência física não é objetiva e cada um afirma o que pensa de acordo com as próprias ideologias e percepções.
Exclusão nas Políticas Públicas: O direito de cota é negado em diversas bancas de heteroidentificação do país, pois não é considerada a aparência ambígua, ignorando a vulnerabilidade social histórica do grupo mestiço”.

Parditude é um termo que se refere à identidade e à cultura dos pardos ou mestiços brasileiros, valorizando a diversidade e a riqueza cultural que os pardos e mestiços representam, reconhecendo suas origens indígenas, africanas, europeias e asiáticas. A consciência mestiça não se opõe a outros grupos, apenas garante a afirmação de uma especificidade que é muito própria da história do Brasil.

O pardo não deveria ser definido como o outro, muito menos ser visto como branco pelos pretos ou preto pelos brancos. Os pardos não deveriam ser vistos como uma categoria residual, definidos como “brancos escuros” ou “pretos claros”. O fato é que a população parda – que é maioria da população brasileira – costuma se sentir discriminada na categorização “brancos” versus “não-brancos”, ou na percepção de “brancos retintos” versus “pretos retintos”.

Assim, parditude é uma afirmação da identidade e da cidadania da população mestiça, que reivindica seus direitos e sua participação na sociedade brasileira de forma multifacetada e não-binária.

Por conseguinte, a parditude é real e legítima não devendo ser subsumida ou “obscurecida” em uma das pontas da diversidade étnico-racial do país. Há quem afirme que a mestiçofobia é uma espécie de genocídio estatístico da população parda, particularmente daqueles alinhados à ancestralidade dos povos originários.

Em geral, o contingente de pessoas que se autodeclaram pardos são reconhecidos no denominador das políticas públicas, mas, no particular, costumam ser excluídos do numerador, uma vez que a recusa de vagas no sistema de cotas expõe preconceitos e até racismo contra as pessoas pardas pobres.

A especificidade da população parda já estava presente em um artigo que escrevi há cerca de 14 anos – “A definição de cor/’raça’ do IBGE” – no Portal Ecodebate, dizendo: “Chegamos, assim, na principal dificuldade existentes nos estudos de cor/raça, qual seja, definir a cor parda. Fica evidente pela definição do manual do recenseador do IBGE que pardo não é “marrom”, “trigueiro”, “escurinho” ou uma outra tonalidade de cor entre o branco e o preto. Pardo, na definição do manual é uma mistura de cor, ou seja, é uma pessoa gerada a partir de alguma miscigenação, seja ela “mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça” (Alves, 28/06/2010). Nesta mesma linha, falei ao jornalista Bruno Alfano sobre os problemas na definição de negro como a soma de pretos com pardos, em reportagem no jornal O Globo, em 23/07/2022.

Indubitavelmente, a parditude não deve ser encarada como mais uma manifestação identitária, mas sim como afirmação da especificidade de um grupo que é majoritário na população brasileira.

O reconhecimento da desigualdade não significa apoiar qualquer forma de singularismo, sectarismo ou tribalismo, mas sim garantir as legítimas expressões étnico-raciais do país, viabilizando a unidade na diversidade.

A despeito das inúmeras diferenças, existe sempre um terreno comum onde se pode interagir, colaborar e atuar no sentido da defesa da equidade social e “racial” da população brasileira.

Referências:

ALVES, JED. A definição de cor/’raça’ do IBGE, Ecodebate, 28/06/2010
https://www.ecodebate.com.br/2010/06/28/a-definicao-de-corraca-do-ibge-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Bruno Alfano. Ex-pesquisador do IBGE aponta problemas na definição de negro como a soma de pretos com pardos, O Globo, 23/07/2022
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/07/ex-pesquisador-do-ibge-aponta-problemas-na-definicao-de-negro-como-a-soma-de-pretos-com-pardos.ghtml

Beatriz Bueno. Reconhecendo a parditude: Consciência mestiça na sociedade brasileira, Revista Fórum, 23/3/2024
https://revistaforum.com.br/opiniao/2024/3/23/reconhecendo-parditude-conscincia-mestia-na-sociedade-brasileira-156166.html

IBGE. Censo Demográfico 2022, Identificação étnico-racial da população, por sexo e idade. Resultados do universo, IBGE, 2023
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/13ee0337cffc1de37bf0cd4da3988e1f.pdf

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Fonte: EcoDebate 

Imagem: Afrokut – Inspirado no video: Caetano Veloso – Pardo

A Parditude e os Dilemas dos Pardos, Maior Grupo Étnico-Racial do Brasil

O artigo da BBCOs dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022” oferece uma análise abrangente da complexa situação dos pardos no Brasil, que representam 45,3% da população, tornando-se o maior grupo étnico-racial do país. O texto explora as diversas nuances da identidade parda, os desafios enfrentados por essa população e as diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade brasileira. O artigo destaca os desafios que os pardos enfrentam em áreas como o mercado de trabalho, educação, saúde e justiça. 

Apesar de serem a maioria da população, eles ainda estão sub-representados em cargos de liderança e poder, e frequentemente experimentam discriminação e desigualdade.

O artigo da BBC perde uma oportunidade de enriquecer o debate sobre a identidade parda ao não mencionar a Parditude, mesmo que de forma breve. A inclusão do termo, ainda que sem um aprofundamento maior, poderia despertar a curiosidade dos leitores e motivá-los a buscar informações mais profundas sobre o tema.

Ao abordar a Parditude, mesmo que superficialmente, o artigo poderia:

  • Ampliar o escopo da discussão: O foco do artigo se limita aos desafios práticos enfrentados pela população parda, como discriminação e desigualdade. A Parditude, por outro lado, introduz uma perspectiva histórica e cultural à discussão, reconhecendo a trajetória específica dos pardos na formação da sociedade brasileira.
  • Reconhecer a heterogeneidade da população parda: A Parditude valoriza a diversidade dentro da categoria parda, reconhecendo as diferentes origens ancestrais, experiências de vida e tons de pele que compõem esse grupo. Essa abordagem contribui para combater a ideia de que a identidade parda é homogênea e monolítica.
  • Conectar o debate à academia: A Parditude é um conceito teórico com base em estudos acadêmicos. Ao mencioná-la, o artigo poderia conectar o debate público à produção intelectual sobre raça e identidade no Brasil, dando visibilidade ao trabalho de pesquisadores renomados como Lilia Moritz Schwarcz, Eduardo de Oliveira e Silva e Kabengele Munanga.
  • Estimular o debate e a reflexão: A inclusão da Parditude no artigo poderia gerar um debate mais rico e aprofundado sobre a identidade parda, incentivando os leitores a refletirem sobre suas próprias experiências e posicionamentos em relação à “raça” no Brasil.

Lembramos que a omissão da Parditude no artigo não invalida seu valor como um importante ponto de partida para a reflexão sobre os desafios enfrentados pela população parda no Brasil.

Essa omissão pode ser explicada por alguns motivos:

  1. Foco no Censo 2022: O artigo se concentra em apresentar os dados do Censo 2022 e suas implicações para a população parda. O termo “Parditude”, embora importante para o debate acadêmico e político sobre “raça” no Brasil, não é uma categoria oficial utilizada pelo IBGE.
  2. Abrangência para o público leigo: O texto da BBC parece ter como objetivo alcançar um público amplo, incluindo pessoas que não estejam familiarizadas com os termos específicos do debate racial no Brasil. Nesse sentido, o uso de um termo como “Parditude” poderia dificultar a compreensão da mensagem principal do artigo.
  3. Complexidade do conceito: A Parditude é um conceito teórico complexo que envolve diversas nuances e diferentes correntes de pensamento. Abordar esse conceito em um artigo de jornal poderia desviar o foco do tema central e gerar confusões entre os leitores.
  4. Ênfase nos desafios práticos: O artigo da BBC prioriza a análise dos desafios práticos enfrentados pela população parda, como a discriminação no mercado de trabalho e a desigualdade no acesso à educação e à saúde. O foco na Parditude, por outro lado, poderia levar a uma discussão mais abstrata sobre identidade e subjetividade.
  5. Espaço limitado: É importante considerar que um artigo de jornal possui um espaço limitado para abordar um tema complexo como a identidade parda. A escolha de quais aspectos abordar é feita em função do público-alvo e dos objetivos específicos do texto.
  6. Pluralidade de perspectivas: O artigo apresenta diferentes perspectivas sobre a identidade parda, mas não se aprofunda em nenhuma delas. Essa abordagem pode ter sido escolhida para evitar a polarização do debate e apresentar um panorama mais abrangente da questão.

O artigo da BBC oferece uma visão abrangente dos dilemas e desafios enfrentados pelos pardos no Brasil. A análise da heterogeneidade da identidade parda e das diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade contribui para um debate mais rico e aprofundado sobre raça e desigualdade no país.

Pontos-chave adicionais do artigo:

  • A autodeclaração racial é um processo complexo e influenciado por diversos fatores, como contexto social, familiar e histórico.
  • O Censo 2022 revelou um aumento no número de pessoas que se declaram pardas, o que pode ser explicado por diversos fatores, como o crescimento do movimento negro e a maior visibilidade da temática racial na sociedade brasileira.
  • A ascensão de políticos que defendem a “democracia racial” e minimizam o problema do racismo no Brasil pode ter um impacto negativo na luta pela igualdade racial, inclusive para a população parda.
  • A coesão entre os diferentes grupos que compõem a população negra (pretos e pardos) é fundamental para o combate ao racismo estrutural no Brasil.

É fundamental que continuemos buscando informações e diferentes perspectivas sobre o tema, a fim de construirmos uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

A Parditude reconhece que a identidade parda é complexa e multifacetada, marcada pela herança africana, indígena e europeia. Ela se contrapõe à ideia de que a identidade racial no Brasil é binária, dividida entre preto e branco.

A Parditude ainda é um conceito em desenvolvimento, mas vem ganhando cada vez mais espaço no debate sobre raça e identidade no Brasil. Ela é uma ferramenta importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as pessoas, independentemente de sua cor de pele, sejam reconhecidas e valorizadas.

Embora o artigo da BBC não mencione o termo “Parditude“, ele oferece uma análise valiosa dos desafios enfrentados pela população parda no Brasil. A leitura do artigo pode ser um ponto de partida para pesquisas e reflexões mais aprofundadas sobre a identidade parda e seu papel na sociedade brasileira.

Segue link para uma Leitura completa do artigo da BBC

Os dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Afrokut 

Os pardos são a maioria dos brasileiros, o que isso muda na Parditude e na Negritude?

De acordo com o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,3% da população brasileira se autodeclarou parda, o que equivale a 92,1 milhões de pessoas. Essa é a primeira vez na história do Brasil que os pardos são a maioria da população.

Segundo o IBGE os pretos representam 10,6% da população, os brancos 42,8% e os indígenas e amarelos somam 1,3%. Ainda de acordo com o Censo Demográfico de 2022, a região com a maior proporção de pessoas que se declararam pardas é a Norte, com 72,3%. Em seguida vem a região Nordeste, com 64,7%, e a região Centro-Oeste, com 55,3%. As regiões com a menor proporção de pessoas que se declararam pardas são a Sul, com 20,9%, e a Sudeste, com 37,3%.

As diferenças regionais na distribuição da população parda podem ser explicadas por fatores históricos e sociais. A região Norte foi o principal destino da imigração africana forçada para o Brasil, e a miscigenação entre brancos, pretos e indígenas foi mais intensa nessa região. A região Nordeste também tem uma longa história de miscigenação, devido à colonização portuguesa e à escravidão. A região Centro-Oeste foi ocupada mais recentemente, e a população parda é predominantemente descendente de indígenas e de migrantes de outras regiões do país. As regiões Sul e Sudeste têm uma população parda mais baixa, devido à imigração europeia, que ocorreu em maior escala nessas regiões.

 

O resultado do Censo Demográfico de 2022 é um passo importante para movimento da Parditude que busca dar visibilidade e reconhecimento aos pardos no Brasil.  O fato de os pardos serem a maioria da população brasileira torna o movimento da Parditude mais forte e legítimo. A Parditude  defende a ideia de que os pardos são um grupo étnico-racial com uma história e uma cultura próprias. Como o movimento da Parditude ainda está em desenvolvimento, o Censo demonstra que os pardos são um grupo importante e que merecem ser representados na sociedade brasileira. Além disso, o crescimento da população parda também pode ter implicações políticas. Os pardos são um grupo heterogêneo, mas eles tendem a se identificar com os movimentos sociais que lutam por direitos das minorias. Isso pode levar a uma maior participação dos pardos na vida política do país.

O movimento da Parditude pode se beneficiar desse resultado de várias maneiras. A Parditude pode:

  • Aumentar a conscientização sobre a identidade e a cultura parda;
  • Fortalecer a luta por direitos dos pardos;
  • Influenciar as políticas públicas para atender às necessidades dos pardos;
  • Promover a inclusão dos pardos na sociedade brasileira.

Assim o  movimento da Parditude se fortalece com os pardos sendo a maioria dos brasileiros, pois isso demonstra que os pardos são um grupo importante e que merecem ser representados na sociedade brasileira. O movimento da Parditude busca dar visibilidade e reconhecimento aos pardos, e o fato de eles serem a maioria da população brasileira torna esse objetivo mais alcançável.

O movimento da Negritude também se beneficia do crescimento da população parda, pois isso aumenta a visibilidade e o reconhecimento dos negros no Brasil. O movimento da Negritude busca valorizar a cultura e a história dos negros, e o crescimento da população parda pode ajudar a promover essa causa.

No entanto, é importante ressaltar que os movimentos da Parditude e da Negritude são diferentes. E que chegou a hora da Negritude deixar a Parditude se aprofundar nas suas especificidade. Pois a Parditude busca representar os pardos como um grupo étnico-racial com uma história e uma cultura próprias, enquanto o movimento da Negritude busca representar os negros como um grupo étnico-racial que sofreu com o racismo e a discriminação.
É possível que os dois movimentos coexistam e se complementem, somando com a Indigenitude e a Branquitude,  para o objetivo final, que é a Unificação do Ser através da Afro-humanitude.

Aqui estão algumas maneiras específicas pelas quais os movimentos da Parditude e da Negritude podem se beneficiar um do outro:

  • A Parditude pode usar a visibilidade  da Negritude para promover sua própria causa;
  • A Negritude pode usar o apoio da Parditude para fortalecer sua luta contra o racismo e a discriminação;
  • Os dois movimentos podem trabalhar juntos para promover políticas públicas que beneficiem os pardos e os pretos;
  • O crescimento da população parda é uma oportunidade para os movimentos da Parditude, Negritude, Branquitude, e Indigenitude   fortalecerem suas lutas e promoverem uma sociedade mais justa e inclusiva e um mundo melhor.

 Enfim, Negritude, Branquitude, Indigenitude, e Parditude entrelaçados, cria um Campo Mórfico,  formando a Afro-humanitude, que nos conecta, mostrando que somos todos Um.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

A diferença entre Parditude e Negritude

A Parditude surgiu na inspiração do conceito de Negritude, de Senghor e de Césaire. A Negritude foi um movimento literário e político que teve origem nas décadas de 1930 e 1940, no contexto do colonialismo e da escravidão, que deixaram marcas profundas na história e na identidade dos povos africanos e afrodescendentes. A palavra “Negritude” é uma junção dos termos “negro” e “atitude”, e representa a valorização da cultura, história e identidade negra. A Negritude busca combater estereótipos e preconceitos raciais, promovendo o orgulho e a valorização da herança africana.

A Parditude, por sua vez, é um termo mais recente, que busca dar visibilidade e reconhecimento aos pardos ou mestiços no Brasil, que são aqueles que possuem origens indígenas, africanas, europeias e asiáticas. A Parditude é uma afirmação da identidade e cidadania dos pardos e mestiços, reivindicando seus direitos e sua participação na sociedade brasileira.

A diferença entre Parditude e Negritude é que a Parditude se refere à identidade e à cultura dos pardos ou mestiços no Brasil, enquanto a Negritude se refere à identidade e à cultura dos negros ou afrodescendentes no mundo. Ambos os conceitos buscam valorizar a diversidade e a riqueza cultural que esses grupos representam, reconhecendo suas origens e contribuições para a humanidade. No entanto, a Parditude e a Negritude também possuem suas especificidades e desafios, de acordo com os contextos históricos e sociais em que surgiram e se desenvolveram.

A Parditude não é separada da Negritude, Indigenitude e da Branquitude, pois compõe a essência da Afro-humanitude que mostra que a humanidade é uma só, mas com múltiplas expressões.  Assim, a Parditude e a Negritude são conceitos que se complementam e se fortalecem na luta contra o racismo e pela valorização da diversidade cultural.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

O que é Parditude?

Parditude é um termo que se refere à identidade e à cultura dos pardos ou mestiços no Brasil. Uma forma de valorizar a diversidade e a riqueza cultural que os pardos e mestiços representam, reconhecendo suas origens indígenas, africanas, europeias e asiáticas. Parditude é uma afirmação da identidade e cidadania dos pardos e mestiços, reivindicando seus direitos e sua participação na sociedade brasileira.

Segundo a definição de Beatriz Bueno, uma pesquisadora e ativista do movimento racial brasileiro, Parditude é “a consciência de que somos um povo mestiço, que temos uma história própria, que não somos nem brancos nem negros, mas sim uma mistura de ambos, e que temos orgulho disso”. Parditude também é o nome de um canal no YouTube, onde Beatriz Bueno compartilha seus conhecimentos e experiências sobre o tema.

Parditude é uma forma de resistir ao racismo e ao apagamento histórico que os pardos e mestiços sofrem no Brasil, onde muitas vezes são invisibilizados ou forçados a se enquadrar em categorias raciais binárias. Os pardos no Brasil são as pessoas que se identificam como tendo uma mistura de origens étnicas, principalmente de brancos, negros e indígenas.

De acordo com o IBGE, pardo é um termo que se refere às pessoas que se identificam como tendo uma mistura de origens étnicas, principalmente de brancos, negros e indígenas. Preto é um termo que se refere às pessoas que se identificam como tendo uma ascendência oriunda de nativos da África, independentemente de seu território ou construção social, pelo fenótipo manifestado por sua pele de cor escura. Negro é um termo que se refere ao conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pelo IBGE, ou que adotam autodefinição análoga.

Os pardos são o maior grupo racial do Brasil, representando 46,8% da população, de acordo com a PNAD de 2019. Os pardos estão presentes em todas as regiões do país, mas são predominantes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Os pardos têm uma história e uma cultura própria, que refletem a riqueza da diversidade brasileira.

A origem da palavra pardo vem do latim pardus, que significa leopardo, Panthera pardus, também chamado de pantera, faz parte da família dos felinos. Essa palavra teria passado para o grego como párdos, e depois para o português como pardo, designando uma cor entre o escuro e o menos escuro, por comparação com a cor do felino. No Brasil, a palavra pardo foi usada desde o século XVI para se referir às pessoas mestiças, especialmente de origem indígena e africana, que não se encaixavam nas categorias raciais impostas pelos colonizadores. A palavra pardo, portanto, tem uma origem complexa e uma história marcada pela diversidade e pela resistência.

O termo Parditude surge na inspiração do conceito de Negritude, de Senghor e de Césaire. Assim, a Parditude não é separada da Negritude, Indigenitude e da Branquitude, pois compõe a essência da Afro-humanitude que mostra que a humanidade é uma só, mas com múltiplas expressões. A Afro-humanitude é um conceito que propõe a África como o berço da humanidade e o centro da história universal do mundo. A Afro-humanitude é a conexão entre a África e a Humanitude (Sumak Kawsay, Teko Porã, e Ubuntu), que é o vínculo universal que liga toda a humanidade. A Afro-humanitude contempla a Negritude, a Indigenitude, a Branquitude, a Parditude, e continua aberta e disponível para outras humanitudes, reconhecendo a diversidade e a riqueza cultural que elas representam.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut