Série: Etnoquê? Introdução à etnografia

A série de vídeos sobre etnografia, além da sua relevância para as políticas internacionais sobre moradias populares em todo  mundo, é também uma homenagem ao antropólogo e professor John Burdick. A série, fruto de um projeto que John Burdick coordenava, é ilustrada com imagens e exemplos concretos da pesquisa-ação etnográfica internacional.

“John coordenava um projeto de pesquisa sobre a questão habitacional no centro e acompanhava há alguns anos a nossa luta e o nosso trabalho por moradia digna, em especial no Quilombo da Gamboa e na Ocupação Vito Giannotti. Mas, mais do que isso, era um grande companheiro, parceiro e apoiador de nossas causas”. Nota da Central de Movimentos Populares do Rio de Janeiro.

Para o antropólogo Rolf Malungo de Souza, da Universidade Federal Fluminense, e apresentador da série Etnoquê? Introdução à etnografia. “O que John Burdick propunha era uma antropologia implicada com a justiça social.”

Série: Etnoquê? Introdução à etnografia

Etnoquê? é uma série de 7 curtos vídeos didáticos introduzindo as bases do método de pesquisa etnográfica voltada para a luta pela justiça social. O público-alvo dos vídeos são principalmente estudantes e pesquisadores das ciências sociais e militantes de movimentos sociais. A série é apresentada pelo professor e antropólogo Rolf Malungo de Souza (UFF), e ilustrada com imagens e exemplos concretos da pesquisa-ação etnográfica internacional “Lutas Pela Moradia No Centro Da Cidade”, que visa estudar e sustentar diversas lutas em prol da moradia popular em torno da zona portuária do Rio de Janeiro.


Ethnowhat? is a series of 7 short didactic videos introducing the basics of the ethnographic research method, focused on social justice. The target audience are mainly students and researchers in the social sciences, as well as social movement activists. The series is hosted by professor and anthropologist Rolf Malungo de Souza (UFF) and illustrated with concrete examples from the international action research project “Helping the Poor Stay Put“, which aims at studying and supporting diverse struggles for the right to popular housing in and around Rio de Janeiro‘s port area.





Parceiros | Partners:

Syracuse University
King’s College London
Universidade Federal Fluminense
Universidade Federal do Rio de Janeiro
National Science Foundation
Economic and Social Research Council


Equipe | Team:

John Burdick
Jeffrey Garmany
Melinda Gurr
Luciana Lago
Michelle Lima Domingues
Rolf Malungo de Souza
Sarah Miller
Roberto Santos
Priscila Tavares
Hugo Virgilio


Videomaker:

Émilie B. Guérette

Morre o antropólogo e professor John Burdick

John Burdick nasceu em Massachusetts, era professor de antropologia da Syracuse University, EUA. John viveu na Baixada Fluminense na década de 80, era conhecido entre nós no Brasil pelas suas pesquisas engajadas e tom militante. Burdick veio ao Brasil pela primeira vez em 84 influenciado pela Teologia da Libertação. Segundo a família, o professor morreu sábado (04/06), nos Estados Unidos, após uma batalha de 8 meses com um cancro extremamente agressivo. John Burdick era casado com  Judy Malkin, e deixa dois filhos:  Ben Burdick e Molly Burdick.

John Burdick foi inovador na sua pesquisa, discutindo relações entre pentecostalismo e identidade negra no Brasil. Burdick também pesquisou sobre o Movimento Negro Evangélico, levando a luta dos negros cristãos para o campo acadêmico. Atualmente John Burdick estava liderando um projeto que busca contribuir para discussões de políticas internacionais sobre moradias populares em todo  mundo. Reunindo antropólogos, um geógrafo, um arquiteto / urbanista e um defensor da habitação, no centro do Rio de Janeiro.

John Burdick deixa um grande legado na forma de muitos livros e artigos publicados, alguns inclusive já traduzidos no Brasil. Como o seu primeiro livro, “Procurando Deus no Brasil“, publicado pela editora Mauad. O público brasileiro precisa conhecer o seu pensamento,  assim, ao assimilar alguns de seus mais importantes conceitos, possa também aplicá-los na análise da nossa realidade e caminhada.

“Ele queria tanto marchar com o movimento Black Lives Matter. Ele nem conseguia andar, mas queria marchar. Eu sempre vou me orgulhar dele.” Molly Burdick, filha de John Burdick.

Por se tratar de uma pessoa dessa grandeza e com um tão importante legado, segue  uma lista de alguns dos seus livros e artigos:

Livros de autoria de John Burdick

  • A Cor do Som: Raça, Religião e Música no Brasil. Nova York: New York University Press.

  • Legados da libertação: a Igreja Católica Progressiva no Brasil no início de um novo milênio. Londres: Ashgate International

  • Abençoada Anastácia: Mulheres, Raça e Cristianismo Popular no Brasil. Nova York: Routledge.

  • Procurando Deus no Brasil: A Igreja Católica Progressiva na Arena Religiosa do Urbano Brasil. Berkeley: University of California Press. Traduzido para o português como A Procura de Deus no Brasil: Uma Igreja Católica Progressista na Arena Religiosa do Brasil Urbano. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 1998.

Artigos de John Burdick em revistas especializadas:

  • Os cantores negros do evangelho são intelectuais orgânicos? Música, Religião e Identidade Racial em São Paulo, Brasil ”. Revista Afro-Hispânica 28.2: 211-222

  • Uma conversa entre estudiosos da resolução de conflitos e do movimento social”. Em co-autoria com Beth Roy e Louis Kriesberg, Conflict Resolution Quarterly 27/4: 347-368

  • A voz do cantor e a política racial no cenário da música evangélica brasileira“. Revista Latino-Americana de Música 30: 1: 25-55,

  • Identidade coletiva e pensamento racial na cena negra da música gospel de São Paulo”. Música e artes em ação 1: 2: 16-29

  • Classe, lugar e negrume no cenário da música gospel de São Paulo”, Estudos Étnicos e Raciais da América Latina e Caribe Volume 3, Edição 2 julho: 149 – 169

  • Por que o movimento evangélico negro está crescendo no Brasil? ” Revista de Estudos Latino-Americanos 37/2 (maio): 311-332.

  • Negra e Mestiça: significados emergentes na pastoral negra do Brasil“, Luso-Brazilian Review 39/1 (março): 95-101.

  • Tortura e Redenção “. Religião e Sociedade 20/1: 55-65.

  • A Igreja Católica Liberacionista no Brasil.” Antropólogo americano. 101 (2): 420-423.

  • Qual é a cor do Espírito Santo? Pentecostalismo e identidade negra no Brasil“. Latin American Research Review 34/2: 109-131.

  • O círculo eleitoral perdido dos movimentos de consciência negra do Brasil”, Perspectivas Latino-Americanas 98/2 (janeiro): 136-155.

  • A cura e a hegemonia: interpretação da política de uma comunidade brasileira”, Nova Antropologia: Revista de Ciências Sociais. Vol. 15, n. 50 (outubro): 91-112.

  • O espírito dos escravos rebeldes e dóceis: a versão negra da umbanda brasileira.” Journal of Latin American Lore.18: 163-187.

  • Unindo teoria e prática no estudo dos movimentos sociais: notas em direção a um realismo esperançoso“. Anthropology Dialectical 20 (1995): 361-385.

  • A Igreja Católica Progressista na América Latina: dando voz ou ouvindo vozes?” Latin American Research Review 29/1 (Primavera): 184-196.

  • Observações sobre a Campanha da Fraternidade de 1988 na Baixada Fluminense.” Comunicações do ISER 40: 42-47.

  • Fofocas e sigilo: a articulação de conflitos domésticos em três religiões do Brasil urbano”, Análise Sociológica 51/2 (verão). 153-170.

  • A Queda do Profeta Negro: O Significado Ambivalente de Raça no Pentecostalismo”. Comunicações do ISER 33: 43-63.

  • Da virtude à boa forma: a acomodação de um plantador na Virgínia pós-guerra“. Revista de História e Biografia da Virgínia 93/1 (janeiro): 14-35.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Ser negro evangélico não é ser capitão do mato

Ser negra, negro e evangélico tem sido uma conjugação muito difícil! Somos a maioria dos evangélicos, e a maioria de nós é evangélica, numa Igreja liderada, ainda, por brancos.

Aí há quem ache que somos os negros errados, que negro certo é de matriz afro.

Por 4 séculos os brancos impuseram o lugar dos negros! Com todo respeito e solidariedade aos de confissão afro, nosso lugar é nossa escolha: somos evangélicos!

Aí aparecem negros evangélicos apoiando fascistas e racistas, passando a idéia de que ser negro evangélico é ser capitão do mato. Mentira!

Irmão irmã, negra e negro como eu, fiquemos firmes  na fé e na luta contra o racismo e fascismo; e na luta para ocupar nosso lugar na liderança evangélica; sempre houve capitães do mato, nós, em nome de Jesus, os venceremos, como já o fizemos na história.


Por Ariovaldo 

Ariovaldo Ramos é pastor e professor. Foi membro do Conselho de Segurança Alimentar da Presidência da República, que representou na 32ª Conferência da FAO, realizada em Roma, Itália, em 2006. É um conhecido defensor da teologia da Missão Integral, como alternativa para a igreja evangélica brasileira. Em seus ensinos estão sempre presentes valores como justiça, igualdade e equidade, valorização e oportunidades para os pobres.

Manifesto 2020 – Rede de Mulheres Negras Evangélicas do Brasil

Nós, mulheres negras cristãs, jovens e adultas oriundas de distintas tradições do protestantismo brasileiro (metodistas, assembleianas, batistas, anglicanas, pentecostais), de diferentes regiões brasileiras, levantamos nossas vozes em favor da vida de todas as mulheres negras e da população negra do Brasil.

É sob o amor, a esperança e o doce sussurro de Ruah (1) que nos movemos e somos unidade.

Somos nós, mulheres negras que mais sofremos com as reverberações de uma política pública racista e misógina. A pandemia do novo coronavírus escancarou nosso sofrimento histórico, psíquico e social e revelou a profundidade do cinismo dos que trabalham a serviço da morte e se mantém afastados do Evangelho. Como disse o Bom Mestre, “pelos frutos reconhecereis a árvore” (Mateus 7.16).

Nesse momento de medos e perdas, testemunhamos nossas irmãs, irmãos, nossas crianças e nossos velhos terem suas vidas negligenciadas pela vaidade de governantes incompetentes e perversos. Sofremos com a falta de renda e alimento. Sofremos com a violência institucional armada e assassina que adentra nossas comunidades e invade nossas casas ceifando vidas inocentes. Sofremos com ausência de saneamento, de água potável e materiais de proteção no combate às doenças endêmicas. Sofremos com a violência doméstica. Violências físicas e psíquicas que nos atingem de modo interseccional, cujas opressões raciais, de gênero, de classe, dentre outras formas de discriminações, nos atingem a nível individual e coletivo, consolidando ainda mais os processos de subalternização que são direcionados aos nossos corpos.

Desta maneira, nos agregamos em oração e denúncia e unimos nossas vozes ao movimento de luta em prol das nossas vidas e das dos nossos. Reivindicamos:

  • A ordenação aos mesmos cargos que os homens;
  • A inclusão de mulheres da Bíblia como tema das ministrações, realçando o antigo e novo testamentos;
  • A escalação de mulheres para ministrarem em cultos públicos, seminários, congressos, assembleias, reuniões etc., possibilitando também a inclusão daquelas que não têm cargos na igreja ou parentescos específicos com os líderes, dando vez e lugar para as diversas vozes presentes na congregação.
  • O enfrentamento ao machismo, misoginia e sexismo, discriminação, preconceito e racismo serem temáticas a serem incluídas nas ministrações dos cultos.
  • A intensificação e popularização da educação política.
  • Adoção pelas igrejas evangélicas de educação antirracista e antimisógina nos cultos e também nas escolas bíblicas dominicais;
  • Adoção da cultura de paz, do respeito à diversidade religiosa e do combate às práticas de intolerância.

Repudiamos as ações políticas e policiais que põem em risco de morte e/ou mortificam nossa população e aqueles que coadunam com tais práticas anticristãs.

Posicionamo-nos em defesa da vida de todas as mulheres, com atenção particular para as mulheres negras e indígenas, grupos profundamente vulnerabilizados. Colocamo-nos a disposição das igrejas protestantes para um diálogo baseado na verdade e na reconciliação mediante a realidade do racismo estrutural que nos afeta.

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(1) No relato da Criação, “a Ruah de Deus (em hebraico, Ruah é feminino) pairava sobre as águas”: trata-se de uma bela imagem da matriz ou útero originário fecundo de tudo quanto existe; tudo é amorosamente acolhido, fecundado, gestado, carregado neste grande ventre cósmico que podemos chamar divino: “Deus”. Alento, sopro, vento, respiração, força, fogo… Com nome feminino que fala de maternidade e de ternura, de vitalidade e carícia. Seu calor gera harmonia no caos, realça a beleza e originalidade de cada criatura, dando a cada uma seu lugar, o espaço que necessita para potencializar seu ser. Nessa relação adequada, cada erva, cada montanha, cada ser que vive, tem seu lugar e seu sentido.- Fonte: https://catequesehoje.org.br/raizes/espiritualidade/723-ruah-santo-o-sopro-que-nos-une

Via Novos Diálogos.


Manifesto de negras e negros evangélicos

Manifesto de negras e negros evangélicos

Precisamos de uma igreja antirracista, que construa e promova a justiça

“Ai dos que promulgam leis iníquas, os que elaboram escritos de opressão, para suprimir os direitos dos fracos, e privar de justiça os pobres do meu povo.” Isaías 10:1-2.

Nós, negras e negros evangélicos brasileiros, nos manifestamos para clamar a urgência de a igreja se posicionar a denunciar o racismo como pecado, e pecado estrutural.

Quantas irmãs de nossas igrejas já perderam os filhos assassinados? Quantos jovens de nossas igrejas já foram mortos? Quantas irmãs oram por seus filhos presos? Queremos vida, mas as oportunidades são negadas, as portas de empregos cada vez mais são fechadas, o acesso à educação e ao sonho da universidade ainda não é para todos. Na maioria das vezes, nos falta o básico, nos faltam casa, alimento e água.

Quantos irmãos e irmãs estão morrendo nas filas dos hospitais e tantos outros nem conseguiram ter atendimento quando foram buscar a cura? É hora de reconhecer que muitas destas tragédias não são respondidas e explicadas pela “desigualdade” pura e simplesmente. Elas revelam o racismo da sociedade e o legado do descaso com vidas negras desde a era colonial do Brasil.

João Pedro e George Floyd eram negros e evangélicos. Aqui e nos Estados Unidos, estes irmãos foram vítimas de um sistema racista legislado por um Estado impregnado pelo racismo estrutural que sufoca, fuzila, desumaniza e silencia negros e negras. O caso de Miguel Otávio, menino negro de cinco anos —de família evangélica— que caiu do nono andar de um prédio em Recife, também denuncia as condições de trabalho do povo negro nesse sistema que violenta diretamente as famílias negras brasileiras. Em especial as mulheres negras, que desde a escravidão são submetidas a posições de servidão, negação de direitos e da própria humanidade.

Diante de estruturas de morte como estas, é necessária uma igreja que se levante e denuncie. Precisamos de uma igreja antirracista, que persegue, constrói e promove a justiça para todas e todos, e que olha em especial para os órfãos e viúvas de nossa época.

Infelizmente, parte dos líderes evangélicos de grandes igrejas —que possuem todo tipo de mídia nas mãos— estão comprometidos com o interesse dos poderosos e só pensam em armas e em tramar nossas mortes. Eles colocam o dinheiro e o poder acima da vida. Uma outra parte das lideranças decidiu ficar em silêncio, e isso também é escolher o lado do opressor.

Precisamos de uma igreja antirracista, que persegue, que constrói e que promove a justiça. Sabemos que todos os que odeiam e se levantam contra as obras de justiça que trazem vida ao povo negro amam a morte, amam o sistema racista e tudo que nele existe. No entanto, acreditamos no que o nosso irmão Martin Luther King Jr. afirma:

“A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”.

Na crença e no clamor, convocamos irmãs e irmãos em oração para agir. O racismo é um projeto do inimigo, um projeto de morte, assim como a política de Herodes, que exterminava crianças, que colonizava territórios e que usava da religião para controlar os povos. Por isso, cabe a nós lutar pela libertação do nosso povo enquanto não houver igualdade, levantar nossa voz profética e denunciar o racismo. Pois sem justiça e sem vida plena e abundante para a favela, não é possível falar de paz.

Jackson Augusto é um jovem batista que integra a Coordenação Nacional do Movimento Negro Evangélico do Brasil. É membro do Colegiado Nacional do Miqueias Brasil, articulador social no Usina de Valores, produtor de conteúdo no projeto Afrocrente e ativista da teologia negra no Brasil.

Luciana Petersen é uma jovem batista estudante de jornalismo, feminista negra, editora e podcaster no Projeto Redomas.

Wesley Teixeira é um jovem negro membro da Igreja Evangélica Projeto Além do Nosso Olhar, militante da Frente de Evangélicos Pelo Estado Democrático de Direitos e do Coletivo Esperançar. Filiado ao MNU (Movimento Negro Unificado), que compõe a Coalizão Negra por Direitos.

Ronilso Pacheco é teólogo pela PUC-Rio, negro e nascido em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. É ativista, escritor e mestrando em teologia no Union Theological Seminary (Columbia University), em Nova York.

PerifaConnection

PerifaConnection é uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Nina da Hora, Salvino Oliveira e Jefferson Barbosa.

Fonte: Folha de São Paulo


Manifesto 2020 – Rede de Mulheres Negras Evangélicas do Brasil