A Igreja do Divino Mestre

A Igreja do Divino Mestre,  era original, com elementos  de uma reforma religiosa, diferentes das igrejas europeias e americanas. Era uma Igreja Negra no sentido de reunião de pessoas “negras” e também no sentido teológico: tinha uma Teologia Negra; uma revolução como objetivo; abominava a escravidão. Era também uma igreja que estudava a Bíblia, e dava  destaque às passagens que mencionam a liberdade dos cativos e expectativa da redenção. O Mestre Agostinho ensinava a não crença em imagens de santos, ensinava a prática da leitura da Bíblia, pregava um Jesus Cristo Negro, enfatizava passagens que falavam da libertação do cativeiro fazendo da bíblia um instrumento de resistência contra a ordem escravocrata.

Os membros da Igreja do Divino Mestre, sua maioria eram mulheres,  diziam  aprender sem mestre. Um dos seus discípulos o africano Joaquim José Marques afirmava que, embora tenha visto Agostinho praticar, aprendeu a lei por si mesmo; uma mulher negra falava que havia sido ensinada pelas Escrituras; a esposa de Agostinho – respondia que não era mestra de nenhuma daquelas mulheres que ali se encontravam com ela, posto que todas elas sabiam ler.

Segundo um de seus seguidores interrogados, teria aproximadamente trezentos seguidores todos negros forros e negras libertas, que aprenderam a ler e escrever com o mesmo.(DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 29/09/1846)

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

O Divino Mestre

Agostinho José Pereira, não se denominava “Divino Mestre“. Mesmo com seu trabalho de alfabetização vinculado ao ensino das Escrituras, Agostinho não se deixava ver como um divino mestre. O Diário de Pernambuco acrescentava:

“[He assim, que chamam ao tal Agostinho José Pereira, não só este pobre fanático, como todos os outros, que se tem deixado levar de suas alicantinas… ]” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 1846).

Agostinho não ficava a vontade com o nome de Divino Mestre, e respondia em depoimento:

 “o povo quem diz isto!”

Sua inspiração divina era, complementava, indiferente [ … ] para que o povo me trate com este nome. O “povo quem diz isto” na resposta de Agostinho mostra que o apelido, Divino Mestre, se originava do seu legado.

Quando Agostinho foi preso um de seus discípulos, o africano forro Joaquim José Marques, pediu para ser preso junto, dizendo:

“Quero compartilhar a sorte com meu divino mestre!”

CONTINUA:

https://afrokut.com.br/blog/a-igreja-do-divino-mestre/

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut


Citações e Referências:

Léonard, Émile-G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP e ASTE, 1981.

Marcus JM de Carvalho – Rumores e rebeliões: estratégias de resistência escrava no Recife, 1817-1848 – 49 – Tempo – Revista do Departamento de Historia da UFF – Nº 6 Vol. 3 – Dez. 1998.

Marcus JM de Carvalho “FÁCIL É SEREM SUJEITOS, DE QUEM JÁ FORAM
SENHORES”: O ABC DO DIVINO MESTRE Afro-Ásia, número 031 Universidade Federal da Bahia, Brasil pp. 327-334, 2004.

O DIVINO MESTRE OU NOTAS SOBRE UMA DEVOÇÃO DE FRONTEIRA – Alexandro Silva de Jesus – Doutorando em Sociologia pela uFpE.

A Reforma Protestante Negra brasileira do Divino Mestre

O pastor negro Agostinho José Pereira foi o primeiro pregador brasileiro, também pode ser considerado o Pai da Reforma Protestante Negra no Brasil. Agostinho também formou a  primeira igreja protestante, provavelmente em 1841 ou mesmo antes desta data. Só depois em 1858 o reverendo Roberto Kalley fundou a Igreja Fluminense, episodio considerado pela historia oficial data de fundação da primeira igreja protestante do Brasil.

O movimento religioso liderado por Agostinho José Pereira foi diferente de todos os movimentos ligados ao protestantismo europeu e norte americano. O pastor negro Agostinho não tinha nenhum vinculo com  missionários ou grupos protestantes. As pregações do mesmo tinham muitas diferenças com relação as pregações oficiais das denominações estrangeiras no Brasil.

Reforma Protestante Negra

Provavelmente Agostinho ouviu ou teve contato com a literatura protestante,  percebe-se em sua pregação aproximações com linhas protestantes, mesmo assim esse contato não faz com que o mesmo aderisse as doutrinas professas por qualquer uma das denominações em atividade no país. Com a chegada da família real abriu-se uma brecha no monopólio católico, permitindo a presença de outra religião que não fosse a Igreja Católica Romana a religião oficial do Brasil: os protestantes estrangeiros não podiam pregar nem abrir uma igreja com formato de templo, mais podia se reunir  em suas casas, também podia comercializar a bíblia e até distribui-la. Fatos documentais apontam uma representação de Agostinho José Pereira enquanto reformador religioso:

“Diante de um quadro de possível adesão ao protestantismo as autoridades passam a questionar por quem Agostinho e seus seguidores e seguidoras haviam sido doutrinados. Agostinho responde que foi doutrinado “por uma inspiração divina”. As autoridades riem diante desse argumento. O Agostinho, entretanto, permanece firme na defesa de suas crenças.” (DIÁRIO NOVO, 30/10/1846, p.1-2).

O naturalista britânico Charles Mansfield de passagem por Pernambuco, em 1852, ouvira os populares falarem ainda do acontecimento, passando, então a referir-se ao Agostinho Pereira como um “Lutero negro”. (CARVALHO, 2004, p.329).

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Continua:

O Lutero Negro


Citações e Referências:

Léonard, Émile-G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP e ASTE, 1981.

Marcus JM de Carvalho – Rumores e rebeliões: estratégias de resistência escrava no Recife, 1817-1848 – 49 – Tempo – Revista do Departamento de Historia da UFF – Nº 6 Vol. 3 – Dez. 1998.

Marcus JM de Carvalho “FÁCIL É SEREM SUJEITOS, DE QUEM JÁ FORAM SENHORES”: O ABC DO DIVINO MESTRE Afro-Ásia, número 031 Universidade Federal da Bahia, Brasil pp. 327-334, 2004.

O DIVINO MESTRE OU NOTAS SOBRE UMA DEVOÇÃO DE FRONTEIRA – Alexandro Silva de Jesus – Doutorando em Sociologia pela uFpE.


Cinco pensamentos de Lélia Gonzalez

A professora Angela Davis, ex-Pantera Negra e reconhecida militante da luta contra o racismo em todo o mundo, ressaltou os feminismos negros do Brasil, e citou nomes como Marielle Franco, Luiza Bairros, Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus. Angela ressaltou que ela não precisa ser a referência do feminismo negro brasileiro, pois aprendeu muito com as feministas negras do país.

“Eu me sinto estranha quando sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Eu acho que aprendo mais com Lélia Gonzales do que vocês poderiam aprender comigo”, argumentou Davis.

Lélia sempre acreditou que uma sociedade solidária e fraterna é possível. Para isso, compreendia como necessário que, além do engajamento na luta política mais ampla, os grupos não dominantes, excluídos do poder, deviam produzir seu próprio conhecimento.

Segue 5 pensamentos de Lélia Gonzalez: 

1 – Construção da identidade

O importante é procurar estar atento aos processos que estão ocorrendo dentro dessa sociedade, não só em relação ao negro, ou em relação à mulher. Você tem que estar atento a esse processo global e atuar no interior dele para poder efetivamente desenvolver estratégias de luta. …só na prática é que se vai percebendo e construindo a identidade, porque o que está colocado em questão, também, é justamente uma identidade a ser construída, reconstruída, desconstruída, num processo dialético realmente muito rico.

2 – Frente Negra Brasileira /e/ a consciência racial no centro urbano:

O primeiro grande movimento ideológico pós-abolição, a Frente Negra Brasileira (1931-1938), buscou sintetizar ambas as práticas (assimilacionismo e prática cultural), na medida em que atraiu os dois tipos de entidade para o seu seio. Por aí, dá para entender também o sucesso de sua mobilização. Afinal, ela conseguiu trazer milhares de negros para os seus quadros. Precedida pelo trabalho de uma imprensa negra cada vez mais militante, a FNB surgiu exatamente no grande centro econômico do país que era, e é, São Paulo…. Com isso estamos querendo ressaltar o seu caráter eminentemente urbano, uma vez que é o negro da cidade que, mais exposto às pressões do sistema dominante, aprofunda sua consciência racial.

3 – As Escolas de Samba:

O golpe de 1964 implicaria na desarticulação das elites intelectuais negras, de um lado, e no processo de integração das entidades de massa numa perspectiva capitalista, de outro. As escolas de samba, por exemplo, cada vez mais, vão se transformando em empresas da indústria turística. Os antigos mestres de um artesanato negro, que antes dirigiam as atividades nos barracões das escolas, foram sendo substituídos por artistas plásticos, cenógrafos, figurinistas etc. e tal… Os “nêgo véio” da Comissão de Frente foram substituídos por mulatas rebolativas e tesudas. Os desfiles transformaram-se em espetáculos tipo teatro de revista, sob a direção de uma nova figura: o carnavalesco.

4 – A responsabilidade na militância /e/ Candeia:

Papo vai, papo vem, ele (Candeia) nos presenteou com o folheto do enredo para o próximo carnaval: Noventa Anos de Abolição [para a Escola de Samba Quilombo, fundada por ele, junto com Lélia e outros/as, em 1975]. Fora escrito por ele, Candeia, “baseado nas publicações de Edson Carneiro, Lélia Gonzalez, Nina Rodrigues, Arthur Ramos (…), Alípio Goulart”… Surpresa e emocionada, disse-lhe que ainda não tinha um trabalho publicado digno de ter meu nome ao lado daqueles “cobras” (afinal, um artiguinho aqui, outro acolá, e de tempos em tempos, não significava nada). Ele retrucou, dizendo que sabia muito bem do trabalho que eu vinha realizando “por aí” e que isso era tão importante quanto os livros dos “cobras’. E foi aí, então, que me incumbiu de representar o Quilombo no Ato Público (contra o racismo): “Não importa o que você diga, que eu assino embaixo”. Pela primeira vez, para mim, alguém me fazia refletir sobre a responsabilidade que se tem quando se começa um trabalho “por aí”.

5 – O aparecimento do Movimento de Mulheres Negras:

Em, 1975, quando as feministas ocidentais se reuniam na Associação Brasileira de Imprensa para comemorar o Ano Internacional da Mulher, elas ali compareceram, apresentando um documento onde caracterizavam a situação de opressão da mulher negra. Todavia, dados os caminhos seguidos por diferentes tendências que se constituíram a partir do “Grupão”, esse grupo pioneiro acabou por se desfazer e suas componentes continuaram a atuar, então, nas diferentes organizações que se criaram.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Artigo publicado originalmente em 2012 no Afrokut, atualizado em 22/10/2019


Referências:

Entrevista concedida à revista SEAF.

Lugar de Negro, p. 23

Lugar de Negro, p. 28

Em São Paulo, 07 de julho de 1976, com o objetivo de “protestar contra os últimos acontecimentos discriminatórios contra negros, amplamente divulgados pela imprensa.”

Lugar de Negro, p. 45-46.

Artigo Lélia Gonzalez: Mulher Negra na História do Brasil – Ana Maria Felippe

Morre o professor Carlos Nobre

Carlos Nobre Cruz, 66 anos, morreu na manhã desta terça-feira, 15 de outubro, dia do professor – categoria profissional a qual tão bem representou junto a seus alunos. Ele sofreu três paradas cardíacas, duas das quais revertidas durante a madrugada, em decorrência dos problemas com a diabetes. O enterro será nesta quarta-feira, às 13h no cemitério de Irajá. Não haverá velório.

Carlos Nobre foi um jornalista comprometido com a defesa dos Direitos Humanos e a igualdade racial. Um pesquisador e professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. Formado em Jornalismo, mestre em Ciências Penais pela Universidade Cândido Mendes, pesquisador Nirema (Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente) do Departamento de História da PUC-Rio.

Nobre, com currículo tão rico, nunca deixou de ser repórter. Sempre atento, apurando e investigando fatos, que seriam objetos de matérias jornalísticas, livros, seriados ou cursos voltados para releituras das ligações históricas entre o continente africano e o Brasil. Autor de oito livros sobre discriminação racial, segurança pública e cultura afrobrasileira. Foi autor e coordenador da Coleção de Livros Personalidades Negras da Editora Garamond(RJ).

Descansa em Paz Irmão!

Rede Afrokut

O Doodle da Abolicionista, negra e feminista: Maria Firmina dos Reis

Doodle 194º aniversário de Maria Firmina dos Reis

O Doodle de hoje celebra a vida e o trabalho de uma mulher negra que ousadamente se manifestou contra a escravidão em um momento em que poucos ousariam.

Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, em 11 de março de 1822, mas foi registrada somente em 21 de dezembro de 1825, como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Era prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis por parte da mãe. Em 1830, mudou-se com a família para a vila de São José de Guimarães, no continente. Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna mais bem situada economicamente. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária nessa localidade e, sendo aprovada, ali mesmo exerceu a profissão, como professora de primeiras letras, de 1847 a 1881.

“É horrível lembrar que as criaturas humanas tratam seus semelhantes assim”, escreveu a escritora e educadora brasileira Maria Firmina dos Reis em seu romance abolicionista de 1859, Úrsula.

Maria publicou poesia, ensaios, histórias e quebra-cabeças em jornais e revistas locais, além de compor canções abolicionistas. Publicada sob o nome Uma Maranhense (“uma mulher maranhense”), Úrsula retratava os escravizados como seres humanos desejando liberdade e expunha os males daqueles que lucravam com o tráfico de escravos. Agora reconhecido como o primeiro romance afro-brasileiro, o trabalho pseudônimo caiu na obscuridade antes de ser revivido na década de 1960. Úrsula foi reimpressa, desde então, inspirando uma nova apreciação para essa pensadora e ativista pioneira.

Maria Firmina dos Reis, é a única mulher dentre os bustos da Praça do Pantheon, que homenageiam importantes escritores maranhenses, em São Luís.

Google não tem consciência Negra!

O Google não fez o Doodle da Consciência Negra

Desde 2008 o Afrokut, vem acompanhando os doodles do Google, tem questionado a não homenagem com um Doodle no Dia Nacional da Consciência Negra.

Em 2008 na data 20 de novembro, dia da Consciência Negra, o Google preferiu homenagear René Magritte um pintor europeu e não Zumbi. Neste dia foram questionados, através de e-mails enviados, os dirigentes do Google no Brasil.

Depois disso, era esperado que em 2009 o Doodle da Consciência Negra do Google, aparecesse, mas não aconteceu. De 2010 a 2018,  no  Dia 20 de novembro, o Google permaneceu o mesmo, sem nenhum doodle da Consciência Negra. Esperamos que em 2019 aconteça o Doodle no Dia Nacional da Consciência Negra.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

A Hollywood negra construída em uma antiga base confederada do Exército

O maior estúdio de Hollywood pertence a um negro e foi  construído em uma antiga base confederada do Exército. 

O ator e cineasta Tyler Perry fez história ao ser o primeiro negro a possuir um grande estúdio de cinema. O Tyler Perry Studios é maior que o Burbank, na Califórnia, o Walt Disney Studios e o Paramount Studios da Warner Bros. E, além disso,  fez a “justiça poética” de construir o estúdio em uma base do exército confederado que apoiava o movimento escravagista nos EUA.

“Pense na justiça poética nisso”, disse ele. “O Exército Confederado está lutando para manter os negros escravizados nos Estados Unidos, lutando, estratégia, planejando exatamente isso. E agora esse terreno é de minha propriedade.”

A inauguração foi no último sábado, 05 de outubro de 2019, celebridades vieram comemorar o cortar da fita deste gigante estúdio na cidade de Atlanta.

 

Entre os convidados que participaram do evento histórico estavam Oprah Winfrey, Halle Berry, Whoopi Goldberg, Vanessa Williams, Beyoncé , Jay-Z , Kelly Rowland, Kelly Rowland, Michelle Williams, Tiffany Haddish, Storm Reid e muitos outros. Whoopi Goldberg disse:

“Por que demorou tanto tempo? “Por que ele foi o primeiro a conseguir? Agora ele é o homem que toma as decisões, escolhe os filmes e não precisa pedir nada a ninguém…”

Perry acumulou centenas de milhões de dólares através de receitas de bilheteria de filmes, bem como dos seus programas de televisão e peças de teatro.

 

Mas isso não é tudo: o escritor, diretor e ator de 50 anos acaba de construir um estúdio de cinema de 330 acres em Atlanta, apresentando uma dúzia de palcos sonoros com nomes de ícones negros de Hollywood. O diretor Spike Lee, que esteve presente no evento, foi homenageado por ter um estúdio de som com o nome dele. Todos os palcos dos Estúdios Tyler Perry receberam o nome de outros membros da comunidade negra que o inspiraram, incluindo Will Smith, Oprah, Denzel Washington e Cicely Tyson.

“Todos os negros que vêm trabalhar aqui dizem: ‘Oh, meu Deus, é o paraíso, estamos lá, estamos representados’. LGBTQ representado. Preto, branco, gay, hetero, tanto faz. Estamos todos representados, a trabalhar de mãos dadas, de braços dados”, afirmou Perry.

Da Redação do Afrokut

Consiliência Negra na superação da Dupla Consciência

A Ciência Espiritual Kemética e as abordagens psicoterapêuticas estão em acordo: “as pessoas são divididas tanto interna quanto externamente“. Essa divisão é uma das principais razões para o sofrimento humano e suas doenças. São diversos os tipos de divisões para alcançar a UNIDADE dentro da dualidade que vivemos. Essas dualidades coexistem com: matéria e energia, material e espiritual, feminina e masculina, visível e invisível, vida e morte, leste e oeste, branca e negra, esquerda e direita, dia e noite, forte e fraca, você e eu… Entre outras muitas divisões dentro da nossa realidade humana.

Para os negros e negras  da diáspora, pensar na dualidade de sua identidade é um movimento de resistência na superação do racismo. O conceito de mais de um século de Du Bois da Consciência Dupla ainda é válido e relevante nos dias atuais.

Diversos estudos revelam que o racismo está conectado a uma maior prevalência de doenças cardiovasculares e depressão entre a população negra.  No nível individual, a dupla consciência é praticada nas interações diárias e, no nível institucional, afeta o modo como as pessoas negras vivem em toda a sociedade.

“O racismo contribui para a Dupla Consciência que coloca a pessoa negra numa posição neurótica, num confronto psíquico contra si próprio e como consequência nasce o “complexo de inferioridade” (Fanon)”.

A consciência dupla não apenas vê os negros de sua própria perspectiva única, mas também os obriga a se ver como podem ser percebidos por um “mundo externo branco”. A dupla consciência cria um “falso equilíbrio” entre as pessoas para atender padrões de como os outros os percebem, e também como eles se percebem. Esse dualismo cria limites invisíveis para a pessoa negra alcançar a UNIDADE.

A Ciência Espiritual Kemética oferece o conhecimento para transcender a dualidade da Dupla Consciência.  Nesta perspectiva a Consiliência Negra é uma unidade holística funcional da Ciência Espiritual Kemética: uma sinergia que gera  cura interna do nosso corpo, mente, espírito e é otimizada para  o desenvolvimento da autoconsciência na unidade do autoconhecimento. A “Consiliência Negra” é a vontade de juntar conhecimento e informação polar oposta sobre si mesmo para criar uma unidade da divisão e superação da Dupla Consciência através da Ciência Espiritual Kemética.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

O que é AfroHumanitude?

O conceito de AfroHumanitude proposto aqui é a África como berço da humanidade e centro da história universal do mundo. Afro-Humanitude é África e a Humanitude conectada: África onde a humanidade surgiu e Humanitude o vínculo universal que liga toda a humanidade.

A Humanitude é um conceito de natureza antropológica, que nos leva a ver as raízes da nossa condição humana. O conceito de Humanitude foi definido por Albert Jacquard, em 1987, inspirado no conceito de Negritude, de Aimé Cesaire. Mais tarde, em 1989, um geriatra francês, Lucien Mias, introduziu pela primeira vez o termo da humanitude nos cuidados da medicina com idosos. Em 1995, Rosette Marescotti e Yves Gineste decide escrever uma nova filosofia de cuidados que eles chamaram de “filosofia da humanitude“, na aplicação aos cuidados de enfermagem.

Na nossa perspectiva Humanitude é Ubuntu, uma filosofia tradicional Africana que nos oferece uma compreensão de nós mesmos em relação com o mundo. De acordo com Ubuntu, existe um vínculo comum entre todos nós e é deste elo, através de nossa interação com nossos companheiros seres humanos, que descobrimos nossas próprias qualidades humanas. No ensino do Ubuntu uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas.

Neste sentido Ubuntu/humanitude  também é uma filosofia quântica. A mecânica quântica ecoa o antigo conhecimento do Ubuntu e do Kemet (Egito Negro) e outras culturas antigas em todo o mundo como: “a crença em um vínculo universal de partilha que liga toda a humanidade”.  Ubuntu está bem descrito em ensinamentos antigos que são analisados na ciência moderna, incluindo a noção de totalidade e similaridade, postulada no campo de Física Quântica por David Bohm.

“Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas”.  (Umuntu ngumuntu ngabantu). Provérbio Zulu e xhosa.

O Sul Africano Nobel da Paz Arcebispo Desmond Tutu descreve Ubuntu como:

É a essência do ser humano. Ela fala do fato de que minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligado na sua. Eu sou humano, porque eu pertenço. Ela fala sobre a totalidade, ela fala sobre a compaixão. Uma pessoa com Ubuntu é acolhedora, hospitaleira e generosa, disposta a compartilhar. Essas pessoas são abertas e disponíveis para os outros, disposto a ser vulnerável, apoiam os outros, não se sentem ameaçados que os outros são bons e capazes, porque eles têm uma boa auto-confiança que vem de saber que eles pertencem a um todo maior. Eles sabem que estão diminuído quando outros são humilhados, diminuído quando outros são oprimidos, diminuído quando outros são tratados como se fossem menos de quem eles são. A qualidade do Ubuntu dá às pessoas resistência, permitindo-lhes sobreviver e emergir ainda ser humano, apesar de todos os esforços para desumanizar-los.

Acredito que a Afrohumanitude tem muito para contribuir com a questão racial no Brasil e no mundo. Entendo que a África é o berço da humanidade e a Humanitude é Ubuntu que liga toda a humanidade. Essa conexão forma  a AfroHumanitude, que contempla: a indigenitude, negritude, branquitude, e continua aberta e disponível para outras humanitudes.

Neste artigo procurei traçar uma pequena introdução do que é AfroHumanitude, e resgatar esse conceito na perspectiva da nossa caminhada. Portanto, há uma necessidade de compreender, revitalizar e promover as virtudes da Afrohumanitude.

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut


Bibliografia e referências:

humanitude, teste, Genebra, Labor et Fides Ed, 1980

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. Soins, corps communication. Les liens

d’humanitude ou l’art d’être ensemble jusqu’au bout de la vie.

http://perso.wanadoo.fr/cec-formation.net/philohumanitude.html. Consultado em 5 de Março, 2007.

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. La philosophie de l’humanitude.

http://perso.orange.fr/cec-formation.net/humanitude1.htm Consultado em 3 de Março, 2007.

ALTUNA, Raul Ruiz de Asúa. Cultura Tradicional Banto. Luanda, Secr.Arquidioc.de Pastoral. 1985. ANSELMO, Antônio Joaquim.


Afro-Humanitude


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Finalmente, John Burdick afirma que, além da música, há outros locais no protestantismo evangélico que promovem a identidade étnico-racial negra e o antirracismo. Uma sugestão final: como indicado ao longo…

John Burdick discute as limitações e potencialidades da etnografia ativista, sugerindo que a etnografia pode revelar dimensões ocultas e fragmentadas da consciência que podem atrair novos públicos. Contudo, ele questiona…

O estudo de Burdick revela que, apesar das barreiras teológicas, o Movimento Negro Evangélico no Brasil conseguiu articular uma identidade negra orgulhosa e antirracista, utilizando a música como uma ferramenta…

Ao investigar mais profundamente, Burdick descobriu a rica diversidade da música negra evangélica em São Paulo. A cidade abrigava uma vasta gama de artistas cristãos que tocavam soul, funk, gospel,…

Yoga Kemética um caminho para a Ascensão

Yirser Ra Hotep, instrutor mestre de Yoga e o criador do Método YogaSkills.A palavra ioga em si vem da raiz sânscrita “yuj” (pron. “Yug”) que significa “unir”, “conectar” ou “integrar”. Nossos ancestrais em Kemet ( O que é Kemet?) chamaram o exercício de “Tjef Sema Paut Neteru” que significa  “Movimentos para promover a união Divina com a mente, corpo e alma”. Para eles, o yoga era muito mais do que o exercício físico – era um caminho para a Ascensão.

A filosofia por trás da palavra sugere que o objetivo do praticante é unir sua mente, corpo e alma através de exercícios mentais e físicos que promovem o livre fluxo da energia espiritual.  A palavra yoga se origina na Índia, sabemos que os precursores do Yoga Kemética na Índia foram os Dravidianos. A evidência fóssil e os testes genéticos mostraram que o povo Dravidiano Negro é o mesmo povo negro do Leste Africano. As evidências arqueológicas e antropológicas sugerem que cerca de 70.000 anos atrás, os africanos do leste navegaram através do Mar Vermelho, viajaram ao longo da costa da Arábia e da Pérsia e se estabeleceram na Índia.

Os Dravidianos Negros lançaram as bases da cultura indiana e construíram um império próspero que durou até a invasão da cultura ariana. Esses invasores expulsaram os dravidianos para o sul, assimilaram a cultura e rotularam suas práticas “Ayurveda” – um sistema de medicina hindu baseado na ideia de equilíbrio nos sistemas corporais por meio de dieta, tratamento com ervas e respiração yogue.

Assim, da mesma forma que o Kemet Negro tornou-se o Egito Árabe, a cultura do índio negro Dravidianos tornou-se o sistema de castas da Índia.

Graças a uma nova geração de estudiosos como Yirsir Ra Hotep e Dr. Muata Ashby, o legado do Yoga Kemética está sendo restaurado. Saiba mais em “O que é Yoga Kemética?”.


Com informações do Afrokut e do artigo: “Os 5 ensinamentos ocultos do Kemetic Yoga que todo iniciado deve saber“, por Asad Malik, no site Aliança Pan-Africana.

Imagem:  Yirser Ra Hotep é um instrutor mestre de Yoga e o criador do Método YogaSkills. Ele é o instrutor mais sênior de Kemetic Yoga nos Estados Unidos, com mais de 42 anos de experiência praticando e ensinando. Yirser esteve envolvido com a pesquisa original e a documentação do Kemetic Yoga junto com o instrutor mestre Asar Ha-pi nos anos 70. Ele treinou e certificou mais de 1000 instrutores de Kemetic Yoga em todo o mundo através de sua escola, a YogaSkills School of Kemetic Yoga, e realiza passeios históricos / culturais / espirituais do Egito, Etiópia, Gana, África do Sul e outras partes da diáspora africana.