MANIFESTO: o perdão, os 120 anos da abolição inacabada e as igrejas históricas

Treze de maio de 2008, completa 120 anos da abolição da escravidão no Brasil, entretanto, não efetivamos o processo de abolição da escravatura, o nosso País matem uma das mais acentuadas desigualdades social e econômica do mundo. A população negra está na margem da riqueza produzida pela sociedade brasileira. Situação reforçada pelas nossas igrejas na cumplicidade e omissão perante a escravidão negra e anos de racismo no Brasil.

Nestes 120 Anos de abolição inacabada, conclamamos as nossas igrejas históricas que tiveram participação direta na escravidão, um pedido de perdão pela cumplicidade e omissão diante da escravidão e racismo sofrido pelo povo negro. Assim iniciará um franco dialogo para um processo de remissão e um projeto nacional que pode ser desenhado com ações concretas na superação do racismo e políticas afirmativas nas igrejas brasileiras.

Com isso esperamos que esse pedido de perdão das Igrejas históricas, pela escravidão negra venha inspirado pelo mesmo espírito da libertação dos Hebreus da escravidão no Egito, onde alem de se tornarem um povo livre, foram indenizados com bens materiais (Exôdo 12: 35-36). É nesse espírito que as nossas igrejas devem seguir:

“E, quando o deixares ir livre, não o despedirás vazio. Liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira, e do teu lagar; daquilo com que o SENHOR teu Deus te tiver abençoado lhe darás. E lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o SENHOR teu Deus te resgatou; portanto hoje te ordeno isso”. Deuteronômio 15: 13 a15

Nesta oportunidade de remissão e culpa de pecado, o pedido de perdão ao povo negro, deve vir acompanhado de ações afirmativas e reparações conforme metas a seguir:

Na educação religiosa: garantir o acesso dos afrodescendentes nos Seminários e cursos teológicos; inserir a imagem do negro nas literaturas, de modo que atenda a diversidade cultural caracterizada na sociedade brasileira e nas igrejas evangélicas. No clero e pastorado: ampliar a participação dos afrodescendentes nos cargos de direção das igrejas, ampliar o número de bispo e bispas, pastores e pastoras; criar e fortalecer as pastorais e os ministérios de combate ao racismo, ampliar a presença de negros e negras nas lideranças das denominações e igrejas. Hoje há uma disparidade proporcional da participação de negros e negras nos cargos de liderança nas igrejas evangélicas.

Na teologia: fazer uma releitura Bíblica/Teológica, considerando a historia do Povo Negro desde os tempos bíblicos passando pela diáspora, escravidão até os dias atuais. Traçar uma hermenêutica bíblica negra a partir da realidade do povo negro e não como foi construída historicamente a partir de uma ideologia branca e masculina, que considera como único ponto de partida para a celebração os pressupostos ocidentais, não levando em conta as manifestações religiosas do povo negro, ignorando suas expressões corporais, sua mística e tradições. A hermenêutica negra deve ser entendida como uma causa política, e assumir esta causa é assumir um processo de libertação que implica transformações sociais radicais onde possamos participar com nossas particularidades culturais e nossas contribuições fundamentais para uma sociedade que não discrimine nem marginalize os afrodescendentes.

Na superação do racismo e da intolerância religiosa: é necessário um programa de ação das igrejas na promoção do diálogo inter-religioso, elemento vital para a promoção da paz e superação das divisões e dos mal-entendidos produzidos pela história. As Igrejas devem agir como uma vigorosa força para a conversão individual e coletiva dos corações, sem a qual o ódio, a intolerância e o racismo jamais conseguirão ser eliminados. Também deve ser criado um fundo para financiar projetos no combate ao racismo e intolerância religiosa.

Conclamamos a Igreja brasileira para romper com o silêncio e com o mito da democracia racial, afim de que ocorra uma profunda transformação em toda sociedade. Este ano marca 120 anos da abolição da escravidão no Brasil. Esperamos que a igreja mais uma vez não perca a sua essência profética, como aconteceu quando a sociedade brasileira discutia a abolição da escravatura, o seu trabalho missionário, apresentou contradições pois não teve como características a contestação social e a atuação nos problemas políticos nacionais, diante da escravidão o seu posicionamento sobre o tema defendiam a liberdade do espírito e não a do corpo, mesmo quando a sociedade brasileira estava mobilizada ao redor do fim da escravidão. Época que poucas vozes proféticas se manifestaram contra a escravidão, uma delas o Rev. Eduardo Carlos Pereira que, no ano de 1886, publicou no jornal Imprensa Evangélica um texto histórico intitulado: A Religião Christã em suas relações com a escravidão. Trata-se da primeira manifestação contundente de um líder protestante brasileiro sobre o tema:

…Confesso que grande é minha vergonha e grande a confusão da Egreja de Christo no Brazil, ao ver incrédulos, pelo simples amor a humanidade, abrirem mão de seus escravos; entretanto, que os que professam fé no Redemptor dos captivos não rompem as ligaduras da impiedade nem deixam ir livres os opprimidos! Leitor, si acaso vires algum incrédulo ler este artigo, eu te peço, para a honra da Egreja de Nosso Senhor no Brazil, que não deixe seus olhos percorrer este paragrapho…”

Igreja, é tempo de reconciliação e de comprometimento, nossos ancestrais aguardam ansiosamente por este dia.

Igreja, o pedido de perdão é um ato de humildade e de coragem, mas também oferece a perspectiva de eliminar a dor das gerações do passado e do presente e abrir o caminho para um novo futuro.

Igreja, hoje é tempo de comprometimento e de perdão.

Organizações que assinam o documento:

Sociedade Cultural Missões Quilombo

ANNEB – Alianças de Negros e Negras Evangélicos do Brasil

Fórum de Lideranças Negras Evangélicas

Fórum Afrodescendentes Evangélicos

Associação Estadual dos Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro/Paraty-Campinho da Independência – Acquilerj

União de Negros Pela Igualdade Racial/MGMovimento

Afro-Esmeraldense/MG

Brasil, 13 de maio de 2008

Manifesto do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas

Não havendo profecia, o povo se corrompe”. (Provérbios 29.18).

MANIFESTO DO FÓRUM DE LIDERANÇAS NEGRAS EVANGÉLICAS PARA CBE2

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, membros do corpo de Cristo, Senhor da Igreja. Nós aqui chegamos na condição de escravizados. Nosso país recebeu o maior número de escravos em relação aos demais países na América Latina e foi o último país a abolir a escravidão negra. Na história da humanidade não se tem registro de uma escravidão tão longa e cruel quanto à do negro no Brasil. Fomos desrespeitados ao longo da história, reprimidos e massacrados em nossos valores religiosos. No mesmo barco que veio o colonizador veio o evangelizador. Colonizar significava evangelizar. Esta evangelização, no princípio foi representada pelo catolicismo e, mais tarde, pelo protestantismo. A expressão religiosa do negro passou a ser associada à coisa do demônio. Nos evangelizavam, sem no entanto nos considerar como sujeitos do processo de evangelização. Quase tudo nos foi negado ao longo destes séculos de conquista e colonização. Jamais, porém, conseguiram apagar em nós a esperança.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, congregados de diversas igrejas protestantes. Sabemos que as igrejas históricas foram as primeiras denominações protestantes a chegarem no Brasil através dos imigrantes, e depois pelos missionários estrangeiros. Essas igrejas chegaram no período da escravidão. Dentro delas havia os que buscavam reproduzir o modelo escravocrata firmado em um discurso teológico, e não conseguiam ver a incompatibilidade entre escravidão e fé cristã. Estes eram os missionários que vieram do sul dos Estados Unidos, ainda com ressentimentos da derrota na guerra da Secessão contra o Norte pela libertação dos escravizados. A grande maioria desses primeiros protestantes quando não escravistas eram omissos. Eles também defendiam a sua posição teologicamente, afirmando que a Igreja não devia interferir no Estado. Além disso, havia a divisão arbitrária entre o espiritual e o material, entre o corpo e a alma, pensamento que até hoje permanece em muitas igrejas. Reconhecemos também a existência dos abolicionistas: eram em sua maioria missionários do norte dos Estados Unidos, europeus, e um pequeno grupo de convertidos brasileiros.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, e lamentamos que os missionários que aqui chegaram no período da escravidão vieram para fazer missões, ganhar a elite brasileira e constituir suas igrejas. Só se manifestaram a favor da abolição quando o Brasil inteiro já estava convencido do seu fim, uma tragédia para quem devia transformar a sociedade. Mesmo os que tinham uma postura defensora dos direitos humanos e da abolição do escravismo na Inglaterra e nos EUA, ao chegarem no Brasil acomodaram-se ao ambiente escravista e quase nada fizeram com repercussão pública, em favor dos escravos. A Igreja Evangélica jamais chegou a defender oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil. Se passaram mais de 100 anos e as Igrejas continuam com seu silêncio covarde e pecaminoso diante da realidade de opressão e racismo na qual se encontram os afrodescendentes.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, pois em meio ao sentimento de dor, tristeza e indignação, enchem-nos de esperança as experiências de Deus em Jesus Cristo, através das quais vivemos a nossa fé como negros e negras. Não queremos apenas lamentar, é tempo de profetizar e denunciar, mas também de proclamar que a Igreja Evangélica brasileira só poderá viver verdadeiramente a sua Missão Integral se contemplar a questão do afrodescendente. Temos a convicção de que estamos vivendo tempos da manifestação de Deus entre nós e entendemos que os cristãos foram postos no mundo para ser a consciência da sociedade. A Igreja tem de ser a voz que fará a diferença no mundo descendo até os excluídos, como resultado da tragédia da escravidão e marginalização. É preciso sim que os afrodescendentes recebam um tratamento diferenciado porque foi assim que Deus fez a Israel quando foi escravizado no Egito.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, e compreendemos que a verdadeira espiritualidade do povo de Deus se expressa em sua integralidade. A igreja que proclama as boas novas do reino deve ser a mesma que estende a mão ao necessitado. Vimos por esse meio apelar ao II Congresso Brasileiro de Evangelização – CBE2 que dê um basta na omissão da Igreja Evangélica brasileira e quebre o silêncio dos púlpitos com a temática negra e que não fique só nas palavras, nos sermões e nas declarações, mas também através de ações concretas: programas, campanhas, ações afirmativas e reparações. E juntos vamos “Proclamar o reino de Deus, vivendo o evangelho de Cristo”.

Fórum de Lideranças Negras Evangélicas Belo Horizonte, 27 de outubro de 2003

Manifesto “Escravidão: E a igreja com isso?”

Nós, pessoas antirracistas evangélicas, através deste documento fazemos um apelo público à igreja protestante e evangélica deste país. Há 136 anos, o povo negro no Brasil recebeu um documento oficial de abandono do Estado brasileiro, depois de 388 anos de sistema escravocrata, os poderosos decidiram abolir a escravidão sem nenhum tipo de reparação para o povo que gerou a riqueza de um dos países mais ricos da atualidade. Mais de 130 anos depois da abolição da escravidão, alguns silêncios permanecem. Apesar dos esforços de estudiosos dedicados a compreender esse período, ainda existe uma demanda historiográfica e informacional que contribui para a manutenção de narrativas únicas que omitem em muito as vozes dos silenciados e violentados que foram a base para a consolidação dessas instituições no Brasil. 

Entendemos que a escravidão colonial, foi um dos maiores crimes da história da humanidade e por isso precisamos dizer que é urgente: Reconhecer a escravidão como crime humanitário, incentivar a preservação e resgate da memória da história de comunidades e pessoas negras que foram apagadas, responsabilizar as instituições que lucraram e se beneficiaram do sistema escravocrata e defender a reparação dos povos escravizados como um direito fundamental para conseguirmos construir um país mais justo e igualitário que tem um compromisso radical com a justiça social.

Através deste manifesto afirmamos que a luta contra o legado da escravidão não é somente responsabilidade do povo negro ou indígena, mas sim de todo o país. É um dever ético reconhecer que o debate da escravidão precisa ser de cunho civilizatório, estamos literalmente discutindo que tipo de nação queremos ser, e se todo o sofrimento causado ao povo negro durante séculos continuará sem respostas, ou se iremos assumir um compromisso como povo de tocarmos em uma ferida ainda aberta que se chama: Escravidão.

Nós reconhecemos que o debate sobre memória e verdade para reparação já tem sido levantado desde a Conferência da ONU em Durban em 2001, onde se estabeleceu a importância de políticas e práticas para a ampliação do acesso à memória como passo crucial para alcançarmos políticas de reparação. Importante dizer que pastores, redes e coletivos negros evangélicos já lançaram manifestos que cobravam das igrejas uma posição sobre a escravidão: Em 2003 tivemos o Manifesto do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas, em 2008 tivemos o Manifesto “O perdão, os 120 anos da abolição inacabada e as igrejas históricas“, em 2020 tivemos o Manifesto de Negras e Negros Evangélicos e em 2022 tivemos o Manifesto Negro Protestante Brasileiro. Todos estes documentos foram elaborados por pessoas negras evangélicas, em sua maioria lideranças pastorais e teológicas, e de alguma maneira alertavam a igreja brasileira sobre um pecado em que ela historicamente contribuiu e muitas vezes ficou em silêncio.

Nós insistimos de maneira repetida no amor. Acreditamos firmemente que somente o caráter revolucionário do amor pode dar espaço para uma realidade de justiça plena para todas as pessoas. Neste contexto, fazemos um apelo público as igrejas históricas, primeiro por um pedido de perdão oficial ao povo negro brasileiro, e segundo, solicitamos que atuem no sentido de reescrever a história da igreja não só facilitando o acesso aos registros e documentos oficiais das instituições eclesiásticas que já estavam no Brasil naquele período mas trabalhando para que se estabeleça a verdade. 

Portanto reiteramos: Irmãs e irmãos, liberem e facilitem o acesso aos seus arquivos da época da escravidão, queremos entender melhor qual era a relação das igrejas protestantes históricas com a escravidão. Queremos saber: E a igreja com isso?

ASSINE O MANIFESTO “ESCRAVIDÃO: 

O Brasil miscigenado e o reconhecimento da parditude

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Pela primeira vez, a população parda aparece como grupo majoritário da população brasileira.

O gráfico abaixo, apresenta os dados do quesito raça/cor dos censos demográficos do IBGE, de 1991 a 2022.

Nota-se que a população autodeclarada branca era maioria em 1991 (51,6%) e no ano 2000 (53,7%), mas perdeu o status de maioria absoluta em 2010 (com 47,7%) e perdeu o status de maioria simples em 2022 (com 43,5%).

A população autodeclarada parda vinha logo abaixo no percentual dos indivíduos autodeclarados brancos, com 42,5% em 1991, 38,5% em 2000, 43,1% em 2010 e assumiu a maioria simples em 2022, com 45.3%. A população autodeclarada preta era de 5% em 1991, passou para 6,2% em 2000, 7,6% em 2010 e alcançou 10,2% em 2022. A população autodeclarada indígena passou de 0,2% em 1991 para 0,6% em 2022. E a população autodeclarada amarela ficou estável em torno de 0,4% no período.

 

A tabela abaixo apresenta os valores absolutos do quesito raça/cor dos censos de 1991 a 2022. Observa-se que a população branca diminui em termos absolutos entre o ano 2000 e 2022, enquanto a população parda apresentou o maior crescimento do período, passando de 62,3 milhões em 1991 para 92 milhões em 2022. A população preta passou de 7,3 milhões em 1991 para 20,7 milhões em 2022. A população indígena, embora percentualmente pequena, apresentou um grande crescimento absoluto de 294 mil em 1991 para 1,2 milhão em 2022. A população amarela ficou aproximadamente estável no período.

 

Segundo o IBGE, A pergunta sobre cor ou raça não retrata apenas a “cor” ou apenas a “raça” da população, pois, além de existirem vários critérios que podem ser usados pelo informante para a classificação (origem familiar, cor da pele, traços físicos, etnia, pertencimento comunitário, entre outros), as cinco categorias estabelecidas na investigação (branca, preta, amarela, parda e indígena) podem ser entendidas pelo informante de forma variável. Vale lembrar ainda que o IBGE utiliza o conceito de “raça” como uma categoria socialmente construída na interação social e não como um conceito biológico.

Assim, o pertencimento étnico-racial é investigado respeitando o critério de autoidentificação. Cada informante, responde ao censo a sua percepção sobre a sua cor ou raça e sua percepção sobre como os outros moradores se auto-identificam numa das cinco categorias.

 

Muitos pesquisadores e ativistas costumam agrupar as categorias “parda” e “preta”, como categoria “negra”. Evidentemente, existem diversas razões que justificam este tipo de agrupamento. Porém, não seria correto definir todos os negros como afrodescendentes, pois muitas pessoas que se autodeclaram pardas são fruto da miscigenação entre brancos e indígenas, ou, em menor proporção, entre brancos e amarelos, ou mesmo entre pardos e brancos. Desta forma, os pardos possuem múltiplas ascendências e uma rica e plural ancestralidade.

Isto fica claro quando analisamos os dados para as Unidades da Federação (UFs), conforme mostra a tabela abaixo. Nota-se que a percentagem de pardos é maior nas UFs do Norte e Nordeste, especialmente naqueles estados onde existe grande quantidade de população indígena. As pessoas que se autodeclaram pardas são mais de dois terços da população no Pará e no Amazonas.

As duas UFs com maior percentagem de população autodeclarada preta são a Bahia e o Rio de Janeiro. Na Bahia há 22,4% de indivíduos autodeclarados pretos (com 57,3% de população parda) e no Rio de Janeiro há 16,2% (com 41,6% de população parda). No total há 18 UFs com maioria de população parda, há 5 UFs sem qualquer maioria absoluta e 4 UFs com maioria da população autodeclarada branca.

Portanto, os pardos são maioria absoluta em 18 Unidades da Federação, são maioria simples em 5 UFs e somente são minoria em 4 UFs (SP, PR, SC e RS). Portanto, o Brasil é um país marcado pela miscigenação entre brancos, pretos, amarelos e indígenas e a presença parda se distribui de forma diferenciada no território brasileiro.

O artigo de Beatriz BuenoReconhecendo a parditude: Consciência mestiça na sociedade brasileira”, publicado na Revista Fórum (23/3/2024) alerta que: “Hoje em dia, as pessoas mestiças se veem , no centro de uma disputa ideológica, sendo obrigadas a se categorizar apenas entre branco e negro. Diante desse cenário, é crucial que as próprias pessoas pardas investiguem suas experiências. Assim nasce a Parditude”.

A autora relata que a Parditude abrange uma série de experiências e desafios:
• “Ambiguidade Racial: Pessoas mestiças, resultado principalmente das misturas afro/euro/indígena, vivem situações de não pertencimento sócio racial.
Exclusão e silenciamento: A sensação de “não lugar” causa apagamento de ancestralidade e constrangimentos sociais, levando a consequências psicológicas graves.
Identidade em questão: O constante questionamento sobre a própria raça e a pressão para se autodeclarar de uma forma específica.
Luta pela identidade: Mesmo ao escolher se autodeclarar como branco, negro, indígena ou pardo, há sempre questionamentos externos, pois sua aparência física não é objetiva e cada um afirma o que pensa de acordo com as próprias ideologias e percepções.
Exclusão nas Políticas Públicas: O direito de cota é negado em diversas bancas de heteroidentificação do país, pois não é considerada a aparência ambígua, ignorando a vulnerabilidade social histórica do grupo mestiço”.

Parditude é um termo que se refere à identidade e à cultura dos pardos ou mestiços brasileiros, valorizando a diversidade e a riqueza cultural que os pardos e mestiços representam, reconhecendo suas origens indígenas, africanas, europeias e asiáticas. A consciência mestiça não se opõe a outros grupos, apenas garante a afirmação de uma especificidade que é muito própria da história do Brasil.

O pardo não deveria ser definido como o outro, muito menos ser visto como branco pelos pretos ou preto pelos brancos. Os pardos não deveriam ser vistos como uma categoria residual, definidos como “brancos escuros” ou “pretos claros”. O fato é que a população parda – que é maioria da população brasileira – costuma se sentir discriminada na categorização “brancos” versus “não-brancos”, ou na percepção de “brancos retintos” versus “pretos retintos”.

Assim, parditude é uma afirmação da identidade e da cidadania da população mestiça, que reivindica seus direitos e sua participação na sociedade brasileira de forma multifacetada e não-binária.

Por conseguinte, a parditude é real e legítima não devendo ser subsumida ou “obscurecida” em uma das pontas da diversidade étnico-racial do país. Há quem afirme que a mestiçofobia é uma espécie de genocídio estatístico da população parda, particularmente daqueles alinhados à ancestralidade dos povos originários.

Em geral, o contingente de pessoas que se autodeclaram pardos são reconhecidos no denominador das políticas públicas, mas, no particular, costumam ser excluídos do numerador, uma vez que a recusa de vagas no sistema de cotas expõe preconceitos e até racismo contra as pessoas pardas pobres.

A especificidade da população parda já estava presente em um artigo que escrevi há cerca de 14 anos – “A definição de cor/’raça’ do IBGE” – no Portal Ecodebate, dizendo: “Chegamos, assim, na principal dificuldade existentes nos estudos de cor/raça, qual seja, definir a cor parda. Fica evidente pela definição do manual do recenseador do IBGE que pardo não é “marrom”, “trigueiro”, “escurinho” ou uma outra tonalidade de cor entre o branco e o preto. Pardo, na definição do manual é uma mistura de cor, ou seja, é uma pessoa gerada a partir de alguma miscigenação, seja ela “mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça” (Alves, 28/06/2010). Nesta mesma linha, falei ao jornalista Bruno Alfano sobre os problemas na definição de negro como a soma de pretos com pardos, em reportagem no jornal O Globo, em 23/07/2022.

Indubitavelmente, a parditude não deve ser encarada como mais uma manifestação identitária, mas sim como afirmação da especificidade de um grupo que é majoritário na população brasileira.

O reconhecimento da desigualdade não significa apoiar qualquer forma de singularismo, sectarismo ou tribalismo, mas sim garantir as legítimas expressões étnico-raciais do país, viabilizando a unidade na diversidade.

A despeito das inúmeras diferenças, existe sempre um terreno comum onde se pode interagir, colaborar e atuar no sentido da defesa da equidade social e “racial” da população brasileira.

Referências:

ALVES, JED. A definição de cor/’raça’ do IBGE, Ecodebate, 28/06/2010
https://www.ecodebate.com.br/2010/06/28/a-definicao-de-corraca-do-ibge-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Bruno Alfano. Ex-pesquisador do IBGE aponta problemas na definição de negro como a soma de pretos com pardos, O Globo, 23/07/2022
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/07/ex-pesquisador-do-ibge-aponta-problemas-na-definicao-de-negro-como-a-soma-de-pretos-com-pardos.ghtml

Beatriz Bueno. Reconhecendo a parditude: Consciência mestiça na sociedade brasileira, Revista Fórum, 23/3/2024
https://revistaforum.com.br/opiniao/2024/3/23/reconhecendo-parditude-conscincia-mestia-na-sociedade-brasileira-156166.html

IBGE. Censo Demográfico 2022, Identificação étnico-racial da população, por sexo e idade. Resultados do universo, IBGE, 2023
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/13ee0337cffc1de37bf0cd4da3988e1f.pdf

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Fonte: EcoDebate 

Imagem: Afrokut – Inspirado no video: Caetano Veloso – Pardo

10 bonecas notáveis que homenageiam mulheres fortes e influentes

A série “Mulheres Inspiradoras” da Barbie inclui 10 bonecas notáveis que homenageiam mulheres fortes e influentes. Cada uma delas representa uma história inspiradora e impactante. Essas bonecas são uma maneira poderosa de celebrar o legado dessas mulheres extraordinárias!

Aqui estão as 10 bonecas da série Mulheres Inspiradoras da Barbie:

1. Ida B. Wells:

A jornalista afro-americana que lutou contra a supremacia branca nos Estados Unidos. Ida B. Wells foi uma importante voz na luta contra a supremacia branca nos Estados Unidos. Ela documentou o uso de linchamentos como forma de intimidação contra pessoas negras. Sua trajetória é marcada por coragem e resistência.

2. Maya Angelou:

A renomada poetisa, escritora e ativista pelos direitos civis. Ela costumava dizer: ‘Escrevo a partir da perspectiva negra, mas viso o coração humano’.

3. Rosa Parks:

A mulher corajosa que se recusou a ceder seu assento no ônibus, desencadeando o movimento pelos direitos civis.

4. Ella Fitzgerald:

A icônica cantora de jazz e vencedora de 13 prêmios Grammy.

5. Frida Kahlo:

A famosa pintora mexicana conhecida por sua arte vibrante e sua luta contra a adversidade.

 “Frida Kahlo nunca tentou ser ou parecer com ninguém. Ela celebrou a sua singularidade. Como puderam transformá-la em uma barbie?”  Disse Salma Hayek, que viveu a artista no cinema.

Na série “Mulheres Inspiradoras” da Barbie também inclui mulheres brasileiras notáveis que foram homenageadas com suas próprias bonecas. Aqui estão algumas delas:

6. Maya Gabeira:

A renomada surfista brasileira, detentora de dois recordes mundiais por enfrentar ondas gigantes.

7. Dra. Jaqueline Goes:

 

A biomédica brasileira que liderou o sequenciamento do genoma de uma variante do Covid-19 no Brasil.

8. Doani Emanuela Bertan:

Professora e fundadora do projeto “Sala8”.

9. IZA:

Isabela Cristina Correia de Lima, mais conhecida pelo seu nome artístico IZA, é uma cantora, compositora, apresentadora e publicitária brasileira. Com uma voz potente e credibilidade artística, IZA é um dos maiores nomes da música pop e R&B nacional.

10. Maira Gomez

A influenciadora da etnia Tatuyo também foi homenageada como a primeira mulher indígena brasileira a ganhar sua própria Barbie. A boneca da Maira Gomez leva a pintura e roupas tradicionais da etnia Tatuyo, à qual ela pertence

É inspirador ver essas mulheres sendo reconhecidas por suas realizações e impacto!

Do Afrokut.

A Parditude e os Dilemas dos Pardos, Maior Grupo Étnico-Racial do Brasil

O artigo da BBCOs dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022” oferece uma análise abrangente da complexa situação dos pardos no Brasil, que representam 45,3% da população, tornando-se o maior grupo étnico-racial do país. O texto explora as diversas nuances da identidade parda, os desafios enfrentados por essa população e as diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade brasileira. O artigo destaca os desafios que os pardos enfrentam em áreas como o mercado de trabalho, educação, saúde e justiça. 

Apesar de serem a maioria da população, eles ainda estão sub-representados em cargos de liderança e poder, e frequentemente experimentam discriminação e desigualdade.

O artigo da BBC perde uma oportunidade de enriquecer o debate sobre a identidade parda ao não mencionar a Parditude, mesmo que de forma breve. A inclusão do termo, ainda que sem um aprofundamento maior, poderia despertar a curiosidade dos leitores e motivá-los a buscar informações mais profundas sobre o tema.

Ao abordar a Parditude, mesmo que superficialmente, o artigo poderia:

  • Ampliar o escopo da discussão: O foco do artigo se limita aos desafios práticos enfrentados pela população parda, como discriminação e desigualdade. A Parditude, por outro lado, introduz uma perspectiva histórica e cultural à discussão, reconhecendo a trajetória específica dos pardos na formação da sociedade brasileira.
  • Reconhecer a heterogeneidade da população parda: A Parditude valoriza a diversidade dentro da categoria parda, reconhecendo as diferentes origens ancestrais, experiências de vida e tons de pele que compõem esse grupo. Essa abordagem contribui para combater a ideia de que a identidade parda é homogênea e monolítica.
  • Conectar o debate à academia: A Parditude é um conceito teórico com base em estudos acadêmicos. Ao mencioná-la, o artigo poderia conectar o debate público à produção intelectual sobre raça e identidade no Brasil, dando visibilidade ao trabalho de pesquisadores renomados como Lilia Moritz Schwarcz, Eduardo de Oliveira e Silva e Kabengele Munanga.
  • Estimular o debate e a reflexão: A inclusão da Parditude no artigo poderia gerar um debate mais rico e aprofundado sobre a identidade parda, incentivando os leitores a refletirem sobre suas próprias experiências e posicionamentos em relação à “raça” no Brasil.

Lembramos que a omissão da Parditude no artigo não invalida seu valor como um importante ponto de partida para a reflexão sobre os desafios enfrentados pela população parda no Brasil.

Essa omissão pode ser explicada por alguns motivos:

  1. Foco no Censo 2022: O artigo se concentra em apresentar os dados do Censo 2022 e suas implicações para a população parda. O termo “Parditude”, embora importante para o debate acadêmico e político sobre “raça” no Brasil, não é uma categoria oficial utilizada pelo IBGE.
  2. Abrangência para o público leigo: O texto da BBC parece ter como objetivo alcançar um público amplo, incluindo pessoas que não estejam familiarizadas com os termos específicos do debate racial no Brasil. Nesse sentido, o uso de um termo como “Parditude” poderia dificultar a compreensão da mensagem principal do artigo.
  3. Complexidade do conceito: A Parditude é um conceito teórico complexo que envolve diversas nuances e diferentes correntes de pensamento. Abordar esse conceito em um artigo de jornal poderia desviar o foco do tema central e gerar confusões entre os leitores.
  4. Ênfase nos desafios práticos: O artigo da BBC prioriza a análise dos desafios práticos enfrentados pela população parda, como a discriminação no mercado de trabalho e a desigualdade no acesso à educação e à saúde. O foco na Parditude, por outro lado, poderia levar a uma discussão mais abstrata sobre identidade e subjetividade.
  5. Espaço limitado: É importante considerar que um artigo de jornal possui um espaço limitado para abordar um tema complexo como a identidade parda. A escolha de quais aspectos abordar é feita em função do público-alvo e dos objetivos específicos do texto.
  6. Pluralidade de perspectivas: O artigo apresenta diferentes perspectivas sobre a identidade parda, mas não se aprofunda em nenhuma delas. Essa abordagem pode ter sido escolhida para evitar a polarização do debate e apresentar um panorama mais abrangente da questão.

O artigo da BBC oferece uma visão abrangente dos dilemas e desafios enfrentados pelos pardos no Brasil. A análise da heterogeneidade da identidade parda e das diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade contribui para um debate mais rico e aprofundado sobre raça e desigualdade no país.

Pontos-chave adicionais do artigo:

  • A autodeclaração racial é um processo complexo e influenciado por diversos fatores, como contexto social, familiar e histórico.
  • O Censo 2022 revelou um aumento no número de pessoas que se declaram pardas, o que pode ser explicado por diversos fatores, como o crescimento do movimento negro e a maior visibilidade da temática racial na sociedade brasileira.
  • A ascensão de políticos que defendem a “democracia racial” e minimizam o problema do racismo no Brasil pode ter um impacto negativo na luta pela igualdade racial, inclusive para a população parda.
  • A coesão entre os diferentes grupos que compõem a população negra (pretos e pardos) é fundamental para o combate ao racismo estrutural no Brasil.

É fundamental que continuemos buscando informações e diferentes perspectivas sobre o tema, a fim de construirmos uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

A Parditude reconhece que a identidade parda é complexa e multifacetada, marcada pela herança africana, indígena e europeia. Ela se contrapõe à ideia de que a identidade racial no Brasil é binária, dividida entre preto e branco.

A Parditude ainda é um conceito em desenvolvimento, mas vem ganhando cada vez mais espaço no debate sobre raça e identidade no Brasil. Ela é uma ferramenta importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as pessoas, independentemente de sua cor de pele, sejam reconhecidas e valorizadas.

Embora o artigo da BBC não mencione o termo “Parditude“, ele oferece uma análise valiosa dos desafios enfrentados pela população parda no Brasil. A leitura do artigo pode ser um ponto de partida para pesquisas e reflexões mais aprofundadas sobre a identidade parda e seu papel na sociedade brasileira.

Segue link para uma Leitura completa do artigo da BBC

Os dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Afrokut 

Nota Pública de Esclarecimento: Página Doutora Brinquedos do Facebook

Nota de Esclarecimento

A página do Facebook  denominada “Doutora Brinquedos“, tinha sido HACKEADA, com postagens inadequadas e fora da temática, a página foi invadida. 

Comunicamos que já recuperamos a página e que ela voltou a normalidade.

Agradecemos a compreensão e pedimos  desculpas pelo ocorrido. 

Rede Afrokut. 

Dia Nacional da Consciência Indígena

O Dia Nacional da Consciência Indígena no Brasil é uma data comemorativa que visa promover a reflexão sobre a importância da cultura e da história dos povos indígenas. A data é celebrada no dia 20 de janeiro, em homenagem à morte do cacique Aimberê, líder da Confederação dos Tamoios, que lutou contra a colonização portuguesa no século XVI.

O Dia da Consciência Indígena é uma oportunidade para celebrar a diversidade cultural dos povos indígenas brasileiros. É também uma oportunidade para refletir sobre os desafios que esses povos enfrentam, como a violência, a discriminação e a perda de terras.

No Brasil, existem cerca de 900 mil indígenas, que representam mais de 0,4% da população total. Esses povos vivem em diferentes regiões do país, falando mais de 270 línguas diferentes.

Os povos indígenas têm uma rica cultura e história. Eles são os guardiões de uma grande diversidade cultural e natural. O Dia da Consciência Indígena é uma oportunidade para aprendermos mais sobre a Indigenitude   e para valorizarmos sua contribuição para a formação do Brasil.

Aqui estão algumas atividades que podem ser realizadas no Dia da Consciência Indígena:

  • Visitar uma aldeia indígena.
  • Assistir a um filme ou documentário sobre os povos indígenas.
  • Ler um livro ou artigo sobre a cultura indígena.
  • Participar de um evento cultural indígena.
  • Celebrar a Indigenitude.

O Dia da Consciência Indígena é uma data importante para todos os brasileiros e brasileiras. É uma oportunidade para aprendermos mais sobre nossa história e nossa cultura e para valorizarmos a diversidade que nos torna únicos.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

A indigenitude do Samba

O samba é uma expressão cultural que celebra a diversidade e a riqueza da cultura brasileira. Ele é uma manifestação de alegria, resistência e construção de identidades, e é uma parte importante da cultura brasileira. O samba tem suas raízes na cultura africana, indígena, e europeia. A Indigenitude do Samba é uma parte importante desse processo de mistura e hibridização cultural. 

A prática do samba por parte dos povos indígenas é uma forma de reafirmar sua identidade e sua cultura. A música e a dança são formas importantes de expressão cultural para os povos indígenas.

Os Pataxós desempenharam um papel importante na formação do samba, mas eles não foram os únicos responsáveis por sua criação. Os Pataxós, assim como outros povos indígenas, africanos e europeus, contribuíram para a criação do samba.

Os povos indígenas Pataxós contribuíram com elementos musicais, rítmicos e culturais que ajudaram a moldar o samba. Os Pataxós têm uma longa tradição musical e de dança. Eles praticam uma dança chamada “cacuriá“, que é acompanhada de cantos e instrumentos musicais. Essa dança é similar ao samba em alguns aspectos, como o uso de palmas, cantos e passos ritmados. Além disso, os Pataxós têm uma tradição oral rica em histórias, lendas e mitos. Essas histórias e lendas são frequentemente contadas ao som de cantos e instrumentos musicais. Essa tradição oral também contribuiu para a formação do samba, que é uma forma de expressão cultural que também é baseada em histórias, lendas e mitos.

Hoje, o samba Pataxó é uma forma de expressão cultural importante para a comunidade Pataxó. Ele ajuda a manter viva a cultura e a identidade do povo Pataxó. Um exemplo são os Marujos Pataxos, um grupo de indígenas Pataxó da Aldeia Mãe Barra Velha localizada no litoral sul da Bahia, sambadores e sambadoras. Eles representam a contribuição dos povos indígenas para a formação dessa importante forma de expressão cultural. Os Marujos Pataxos que são um exemplo da diversidade cultural do samba brasileiro. Eles praticam uma forma de samba que é uma mistura de elementos indígenas, africanos e europeus. Os Marujos Pataxos se vestem com roupas coloridas e usam instrumentos musicais como o pandeiro, o tambor, o violão, o triângulo e o maracá. Eles cantam músicas que contam histórias sobre sua cultura e sua história.

Além dos Marujos Pataxos, existem outros grupos e referências indígenas que também têm tradição no samba. Aqui estão alguns exemplos:

Os Guarani da Aldeia Ytu, em São Paulo, praticam um estilo de samba chamado “samba guarani“. Esse samba é uma mistura de elementos indígenas, africanos e europeus. Os instrumentos musicais usados incluem o maracá, o ganzá, o pandeiro, o tambor e o violão. As letras das músicas falam sobre a cultura e a história do povo Guarani.

Os Yanomami do Amazonas também praticam o samba. Eles adaptaram o samba para incorporar elementos de sua própria cultura, como a dança e os cantos tradicionais Yanomami.

O grupo “Urucum Samba” é composto por indígenas de diversas etnias, como os Pataxós, os Guaranis e os Yanomami. O grupo toca um samba que é uma mistura de elementos das diferentes culturas indígenas.

O cantor e compositor indígena Janduí da Mata Vermelha também é um importante divulgador do samba indígena. Ele já lançou CDs com suas músicas, que falam sobre a cultura e a história dos povos indígenas.

A Indigenitude do Samba foi tão importante que um grupo de sambistas negros que se originaram no Rio de Janeiro, no início do século XX, se denominaram “Sambistas Pataxos“. Eles eram um grupo de trabalhadores, principalmente de origem africana, que se reuniam para tocar samba nas ruas da cidade. Os Sambistas Pataxos foram um dos grupos mais importantes na formação do samba carioca. Eles foram pioneiros na mistura de elementos africanos e indígenas com elementos europeus, criando um novo estilo de samba que era mais vibrante e dançante. Os Pataxos também foram um dos primeiros grupos a levar o samba para fora das favelas e para os clubes e teatros da elite carioca. Eles ajudaram a popularizar o samba e a torná-lo um símbolo da cultura brasileira.
Alguns dos sambistas Pataxos mais famosos incluem:

Donga, Pixinguinha, João da Baiana, Ismael Silva, Cartola, e Nelson Cavaquinho.

Os Sambistas Pataxos deixaram um legado importante na história do samba. Eles foram um grupo inovador que ajudou a moldar o estilo e o significado do samba carioca.

Aqui estão alguns exemplos de músicas de samba compostas por sambistas Pataxos:

Pelo Telefone” (Donga)

Apanhei no Tapete” (Pixinguinha)

O Que é Que a Baiana Tem?” (João da Baiana)

O Meu Segredo” (Ismael Silva)

As Rosas Não Falam” (Cartola)

O Sol Nascerá” (Nelson Cavaquinho)

Essas músicas são consideradas clássicos do samba e são tocadas até hoje. Elas são um testemunho da importância dos sambistas Pataxos para a cultura brasileira.

O nome “Pataxó” é uma referência ao povo indígena Pataxó, que habita a região Nordeste do Brasil. Os sambistas Pataxos se autodenominavam assim como uma forma de homenagear seus ancestrais indígenas.

De acordo com a tradição oral Pataxó, o nome do povo vem do som que o mar faz ao bater nas pedras: “Patá…”, ao que o mar responde: ““. Esse som é considerado sagrado pelos Pataxós e representa a força da natureza.
Os sambistas Pataxos adotaram esse nome como uma forma de se identificarem com a sua herança indígena. Eles acreditavam que os Pataxós eram um povo forte e resiliente, e que essas qualidades eram importantes para a sobrevivência do samba.

O nome “Pataxó” também é uma forma de resistência cultural. Os sambistas Pataxos estavam lutando para preservar sua cultura e sua identidade em um contexto de racismo e discriminação. O nome “Pataxó” era uma forma de afirmar sua identidade e sua ancestralidade indígena.
O nome “Pataxó” é um símbolo importante na história do samba. Ele representa a mistura de elementos africanos, europeus e indígenas que deram origem ao samba carioca e Brasileiro.

Como vimos, os povos indígenas têm uma longa tradição de música e dança, que é semelhante ao samba em alguns aspectos.  A  tradição do samba nas comunidades indígenas pode ter se desenvolvido de forma independente, sem influência externa.
Com essas informações podemos afirmar que existe uma forte indigenitude do samba.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut 

Tudo Vibra

Nada está parado, tudo se move, tudo vibra.

Tudo é composto de átomos em constante vibração.

Sagrada Geometria, Cimática ciência.

De ondas sonoras geradas pela vibração.

Matéria e Energia, Mente e Espírito.

Resultam das ordens variáveis de Vibração.

Nada está parado, tudo se move, tudo vibra.

Tudo é composto de átomos em constante vibração;

De ondas sonoras geradas pela vibração;

Resultam das ordens variáveis de vibração.

Música Tudo Vibra, inspirada nos saberes ancestrais do Princípio de Vibração das 7 Leis Universais do Kemet 

Canção Meditação Cantada,
Música composta, tocada e cantada por:
Hernani Francisco da Silva Leia mais…