O que é Afropresentismo?

O Afropresentismo é o Afrofuturismo em movimento. É uma maneira de encarar o presente e as realidades alternativas através de uma lente cultural negra. O Afropresentismo é personificação do que está acontecendo no aqui e agora, nossa realidade atual. Embora o termo seja novo a palavra foi cunhada por Neema Githere, uma estudante de Estudos Africanos da Universidade de Yale, que lidera uma pesquisa sobre a cultura afrodiaspórica na era digital. Ela cunhou o termo depois de uma conversa que teve com a curadora ganense Nana Osei-Kwadwo em Accra em 2017, na qual ela disse: “África não é o futuro, é o Presente”.

“Nós estávamos lá juntos, como parte de uma viagem à Tastemakers África para o Chale Wote – a maior feira de arte de rua da África Ocidental – imersa na inconfundível energia afropresentista daquele encontro. A definição mais antiga que montei para o afro-presentismo foi um arquivamento de gênero, documentário e artes plásticas nas e através das novas mídias, na expressão de uma realidade vivida por afrofuturistas.

Nos anos desde então, minha conceituação do afro-presentismo evoluiu para algo mais amorfo – mais criptografado se poderia dizer. É um conceito que é ao mesmo tempo uma estética e um verbo. É texturizado, vibrante, sem desculpas, efêmero e simultaneamente atemporal.

No Afropresentismo, você está canalizando seus ancestrais através de todas as tecnologias à sua disposição – meditação, conversação, amor, Web – e transformando absolutamente tudo em um portal que o leva exatamente onde você precisa estar, neste momento, para o próximo. Até que finalmente, o espaço entre o sonho e a memória desmorona e se torna realidade – agora.” Neema Githere sobre Afropresentismo.

Ainda na visão da curadora Neema Githere, o Afrofuturismo é nave-mãe da qual nasceu o Afropresentismo e são diferentes.

“Penso no afrofuturismo como a visão da nave-mãe da qual nasceu o afropresentismo. É o gênero de ensino que tornou o futuro possível para nós hoje. E, ao mesmo tempo, sinto que o afropresentismo é distinto, pois não situa o futuro como um lugar de utopia escapista; ao contrário, pretende reivindicar espaço de forma corajosa e sem desculpas no Presente.

O afrofuturismo foi evocado para se referir longamente à infusão de avanços tecnológicos e experimentações na produção cultural negra. Apresento o Afropresentismo como um gênero distintivo, menos sobre o que poderia ter acontecido ou poderia acontecer; e, em vez disso, uma personificação do que aconteceu, do que está acontecendo.

O Afropresentismo diz – Agora somos o povo diaspórico africano que vive no futuro de nossos ancestrais. O que estamos fazendo com isso? Como estamos alquimizando nosso deslocamento? Como estamos ativando o passado, para colocar o presente em movimento, em direção ao futuro? Como um modo de SER no mundo, neste momento.” Neema Githere.

No Brasil, o movimento Afropresentismo teve como precursor o artista plástico recifense Samuel d’Saboia, que usa de uma estética contemporânea para redefinir a representação do negro na arte. Aqui no Brasil o afropresentismo surgiu como um contraste com o Afrofuturismo, que idealiza o negro no futuro, o Afropresentismo quer pensar o negro no Aqui e Agora.

“Nós Afro Transcendemos entramos no Afropresentismo, uma era sem limite cronológico. Gilberto Gil disse em sua música “Aqui e Agora” no álbum Refavela, em 1977, que: “O melhor lugar do mundo é aqui, / E agora / Agora onde está indefinido / Agora é quase quando”. E é isso. Se fazemos parte do presente e isso é um fato além da nossa vontade, não temos o poder de nos teletransportar para o futuro ou reviver o passado em nossos ancestrais, apenas o Afro Transcendemos a dor do passado colonial de nosso povo em energia criativa para construir o futuro que é, na realidade, o nosso presente.” Tirado do artigo Afro Transcendemos e Estamos Chegando ao Presentismo, do Culture Lime.

Para entender o Afropresentismo precisamos olhar na Ciência Espiritual Kemética. Ela nos ensina que o passado, presente e futuro são todos um. Assim, como o passado, presente e futuro estão dentro do tempo cíclico e são um. O Afropassadismo, que entendemos aqui como Sankofa, o Afropresentismo e o Afrofuturismo também são um. Mas, cada um tem seu papel em nossas vidas e são distintos.

Na visão ocidental de tempo, um evento é um componente do tempo – esse tempo existe como uma entidade em si e se move. O movimento do tempo é linear, vindo de trás de nós. Conforme o tempo passa, se você não usá-lo, ele se foi. A filosofia Kemética centrada na África opõe-se à ideia eurocêntrica de progressão linear direta no tempo, do começo ao fim.

Na visão Kemética do tempo, o movimento é cíclico e espiral, o tempo flui para trás: ele flui em sua direção a partir do futuro, e quanto mais rápida a atividade, mais rápido o tempo flui. O tempo é criado, em certo sentido. O tempo é um componente da vida e é recuperável. Se na visão Kemética o que chamamos de passado, presente e futuro são todos um, um evento no passado ou no futuro pode alterar o que chamamos de presente:  mudar algo que ocorreu no seu passado, que criou o seu futuro – que agora é o presente. O Afropresentismo não vê o tempo como linear. Assim, como no  Afrofuturismo, o tempo é cíclico, pode se mover em todas as direções e trata do passado, presente e futuro como uma experiência ditada pelas infinitas possibilidades da realidade a partir do Observador: o Eu Presente controlando o passado e o futuro. 

Na perspectiva do Afrokut, o Afropresentismo é o Ciclo Sankofa, que está inserido na dimensão do tempo, que olha para o Passado (Afropassadismo), ressignifica o presente (Afropresentismo) e cria o futuro desejado (Afrofuturismo). Entrelaçamos aqui o Princípio do Ciclo com o Conceito SankofaSan (voltar, retornar), Ko (ir), Fa (olhar, buscar, pegar). Nesta perspectiva, o tempo opera através do Ciclo e da Sankofa que reforça a importância de olharmos para o Presente sem nunca esquecermos nossas raízes. O Ciclo Sankofa  está inserido na dimensão do tempo e navega no passado ( Afropassadismo), no presente (Afropresentismo) e no futuro (Afrofuturismo).

Enfim, penso que o Afropresentismo veio para completar o Afrofuturismo e isso é bom e Kemético. Quem vive Maat e observa os Princípios Keméticos Universais: Leis Quântica do Kemet entenderá a importância de trazer o Afropresentismo para o Afrofuturismo. Principalmente se olharmos A Lei da Polaridade, a quarta das sete leis universais que diz:

Tudo é duplo; tudo tem dois extremos; semelhantes e diferentes têm o mesmo significado; os pólos opostos têm uma natureza idêntica, mas graus diferentes; os extremos se tocam; Todas as verdades são apenas meias verdades; Todos os paradoxos podem ser reconciliados.“

Isso significa que há dois lados para tudo. As coisas que aparecem como opostas são, na verdade, dois extremos da mesma coisa. Por exemplo, calor e frio podem parecer opostos à primeira vista, mas, na verdade, eles são simplesmente graus da mesma coisa variável. O mesmo vale para o passado e o futuro ou o Afropassadismo e o Afrofuturismo.

Este princípio da dualidade e muito real em nossas vidas, mas só funciona nos reinos físicos e mentais, e não no reino espiritual onde tudo é um. O que propomos aqui é: Levanta-se acima da lei da Polaridade, o presente (Afropresentismo) em cima e passado (Afropassadismo) e futuro (Afrofuturismo) em baixo, nesta perspectiva, você (Aqui e Agora) se eleva acima da lei da Polaridade. Isto é o que é dito nos antigos Ensinamentos Keméticos chamados de arte da Polarização.

Por Hernani Francisco da Silva, do Afrokut.

Neema Githere é curadora do Quênia (Maasai-Kikuyu) e educadora de guerrilhas / artista performático. Você pode acompanhar o trabalho de Neema no [email protected] e também em www.presentism2020.com

A consciência de “ser africano no mundo”

Racismo e modernidade a partir da ideia de realidade simulada: física quântica e psicologia negra Sakhu Sheti

Um ensaio sobre a compreensão do racismo a partir da ideia de realidade simulada – Por José Evaristo S. Netto

O escravizamento histórico e a exploração contemporânea do povo africano só poderiam ter sucesso se os significados africanos de ser humano fossem apagados e/ou redefinidos. Apenas quando o centro de sua consciência for afastado dos significados africanos do que é ser humano, ou esses significados forem removidos da sua consciência, o africano pode ser permanentemente escravizado — eis um preceito central da afrocentricidade. Esse processo de descentramento e desafricanização constitui a problemática psicológica chave na compreensão da experiência dos africanos em toda a diáspora.

Afrofuturismo— Fabio Kabral

Retornando a uma parte da perspectiva ioruba de “ser no mundo” que Wade W. Nobles nos traz, e que foi descrita acima:

Como pessoa, o individuo também possui a cabeça interior, ou ori inu. Oludumaré (o ser supremo) dá essa cabeça diretamente. Ela constitui o “espírito” particular da pessoa. Ori inu é o guardião do eu; carrega o nosso destino e influencia a personalidade. Além de emi (essência divina) e ori inu (essência pessoal), a pessoa tem okan. Essa palavra significa coração, mas, como aspecto constituinte da pessoa, representa o elemento imaterial (essência) que é a sede da inteligência, do pensamento e da ação. Assim, por vezes é chamado de “alma-coração” da pessoa. Acredita-se que a okan exista antes mesmo de a pessoa nascer. É a okan dos ancestrais que reencarna no recém-nascido.

A violência da escravização, a colonialidade e o racismo, resumem o maafa que foi a nossa tragédia enquanto povo, o descarrilhamento do nosso caminho de desenvolvimento a partir da nossa centralidade, do significado original de “ser e existir no mundo” sendo uma pessoa negra, africana, não ocidentalizada. Precarizou o nosso espírito particular, nosso Ori inu, enfraqueceu a nossa essência divina, nossa Emi e o contato com as memórias e arquétipos imateriais, os corpos sutis dos nossos ancestrais e antepassados, nosso Okan. Uma vez que não conseguimos mais localizar a nossa essência divina, perdendo também as nossas referências sobre o nosso próprio espírito particular, sobre aquilo que nos é particular, que nos torna únicos, somados ao enfraquecimento dos nossos laços com a nossa história e ancestralidade, fica mais fácil entender como somos dominados por uma realidade simulada que manipula os nossos sentidos e diz o que significa existir no mundo. Hoje, consumimos para existir, talvez porque perdemos estas estruturas e recursos de ser no mundo que eram os trilhos do percurso de desenvolvimento dos nossos povos.

Acredito que somente quando pudermos refletir profundamente sobre a realidade, reelaborando-a baseando na circunscrição da nossa experiência no mundo — e dos nossos ancestrais, conseguiremos produzir um desenvolvimento que fortaleça nossa humanidade, ao invés de nos precarizar.

Podemos construir a própria realidade a partir de uma mudança radical da consciência do que é “ser e existir no mundo”?

Para não perder o foco:

  1. é importante o resgate de que este texto trata de simulação da realidade e do racismo, e em como uma perspectiva ou leitura de realidade considerando as contribuições da física teórica podem auxiliar à um existir no mundo que supere a experiência da colonialidade e do racismo.
  2. retorno a África como forma de reaprendizagem das habilidades ancestrais para acessar arquétipos supre mentais que possibilitassem a nós, nos reconstruirmos sem os viesses da colonialidade e do racismo. Sankofa — se você esquecer, não é proibido voltar atrás e reconstituir.
  3. a história como uma mentira, uma simulação, realidade falseada que cria infraestrutura para a construção da modernidade, onde os povos africanos são inferiores. Este é um exemplo de realidade simulada, que se faz presente hoje de forma hologramática em nossos mecanismos de dialogicidade e construção (reforço) da realidade.

 

Este é um ensaio. Pretendo fazer uma discussão destes assuntos com mais profundidade, articulando-os com as Teorias de Autodeterminação que explicam a motivação humana, e com as Teorias Sócio Cognitivas que explicam conceitos como Agência Pessoal. O próximo texto será a continuação desta discussão, e pretendo trabalhar com alguns conceitos chave da Afrocentricidade. Estou aberto a discussões e ponderações criticas.

 

Por José Evaristo S. Netto – Educador, dedicado aos estudos sobre corporeidade, cultura, identidades, sociocognição, racismo e colonialidade. Mestre em Educação Física.

A Consciência é a base de todo o ser

Wade W. Nobles. Professor emérito do Departamento de Estudos da Africana da Universidade Estadual de São Francisco.

Racismo e modernidade a partir da ideia de realidade simulada: física quântica e psicologia negra Sakhu Sheti

Um ensaio sobre a compreensão do racismo a partir da ideia de realidade simulada – Por José Evaristo S. Netto

A Consciência é a base de todo o ser, afirma Amit Goswami!

No mundo que conhecemos hoje, realidade em que fazemos parte, é muito difícil imaginar uma rotina diária que favorecesse um “existir no mundo” onde possamos praticar o acesso aos nossos ancestrais, aos nossos antepassados, a partir da consciência não-local (da água da piscina). No paradigma ocidental da colonialidade e do racismo, estas formas de existir no mundo são tidas como inferiores, são exotizadas, rotuladas por serem práticas de matrizes africanas, e por isso tidas como não racionais, inferiores, primárias, tribais. O racismo e a colonialidade reelaboraram estas formas de existir no mundo criando o rótulo da cultura negra, da cultura africana, a cultura do Outro. E o Outro não é universal, nem sequer é civilizado e desenvolvido à altura da cultura europeia/ocidental. Aqui, acredito que a física quântica de Amit Goswami trás de volta a possibilidade de um existir no mundo diferente do que é imposto pelo racismo e pela modernidade ocidental.

Parece possível construir pontes entre o conhecimento sobre a consciência não-local da física quântica, com a construção da realidade a partir dos seus colapsos em eventos reais, e as formas de existir no mundo dos nossos antepassados do continente africano. O campo de estudos afrocentrados de psicologia negra Sakhu Sheti do dr. Wade W. Nobles contribui fundamentalmente para este percurso.

Em seu artigo Sakhu Sheti: Retomando e Reapropriando Um Foco Psicológico AfrocentradoWade W. Nobles afirma que o problema fundamental que todos nós sofremos, africanos em diáspora, em decorrência do racismo e da colonialidade que teve início da escravidão negra produzida pela Europa, é que nos foi alterado o senso de consciência de ser africano, e do que é ser africano. É preciso portanto voltar ao passado para compreender como os nossos antepassados lidam/lidaram com a sua humanidade, e o que resultou destes traumas, e das resistências e lutas contra a desumanização. Assim, é possível criar experiências que elaborem formas de existir afrocentradas, ou seja, fortalecedoras do nosso senso de consciência de ser africano.

Voltar ao passado para reaprender a lidar com a nossa humanidade, a partir dos conhecimentos e práticas dos nossos antepassados, dos nossos ancestrais. Como? Como fazer isso? Parece fantasioso, mas não é! Aqui esta um dos meus insights para a escrita deste singelo texto:

Acredito que a incorporação de práticas cotidianas suficientemente potentes para ressignificar a nossa percepção de existir no mundo, fortalecendo a nossa centralidade africana, seja o caminho para superarmos o controle da “colonialidade do saber” que domina as nossas mentes e produz esta realidade simulada pela lógica do consumo, na qual todos interagimos. Vivemos numa realidade simulada pelo racismo, pela colonialidade, pela lógica do consumo onde consumir significa existir no mundo. Na verdade, como no filme Matrix, estamos em coma induzido, consumindo, sustentando industrias, governos, sem darmos conta de quem somos, sem elaborarmos minimamente a nossa própria agência pessoal.

Vou me arriscar bastante com um exemplo:
Acredito que a fé em orixá seja um caminho, e uma experiência muito forte de ressignificação da nossa percepção de existir no mundo, capaz de nos fortalecer a ponto de superarmos o controle da colonialidade do saber que constrói esta a realidade simulada que domina as nossas mentes. A fé em orixá nos coloca num lugar onde desenvolvemos ferramentas e movimentamos recursos não para consumir almejando mostrar que existe para si mesmo e para outras pessoas, mas sim para acessar as memórias imateriais, os corpos sutis, que são, eles próprios, os nossos antepassados, energia que se configura naquilo que Amit Goswami chama de consciência não-local. Aqui cabe um adendo importante, isso não é uma explicação técnica de fenômenos espirituais do Candomblé, longe disso, mas apenas uma perspectiva que pode, e deve, motivar e estimular as pessoas a uma reflexão, ajudando na compreensão de um existir no mundo que fortaleça a sua humanidade. Compreendendo a perspectiva de existir no mundo da lógica ioruba como trouxe o psicólogo Wade W. Nobles, onde somos formados pela divindade Orisa-nla, pela força espiritual emi, a essência ou espírito individual Ori inu, e pelo alma-coração dos nossos ancestrais okan, e comparando-a com a compreensão de existir no mundo oferecida pela colonialidade através do paradigma do “consumo, logo existo”, não há como não percebermos que o racismo e a colonialidade provoca uma profunda precarização do sentido de existência. Talvez por isso, consciente ou inconscientemente muitas pessoas têm procurado as religiões de matrizes africanas e as “ciências tradicionais/ancestrais africanas”, para o auxílio das suas demandas pessoais nestas últimas décadas.

Aníbal Quijano é um sociólogo e pensador humanista peruano que se debruçou sobre a ideia central de que o racismo foi, e é, elemento fundamental da racionalidade moderna, eurocêntrica. Na obra Colonialidade do poder, eurocentrismo e America Latina (capitulo do livro A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas), ele trabalha com esta tese:

“A globalização em curso é, em primeiro lugar, a culminação de um processo que começou com a constituição da América e do capitalismo colonial/moderno e eurocentrado, como um novo padrão de poder mundial. Um dos eixos fundamentais desse padrão de poder é a classificação social da população mundial de acordo com a ideia de raça, uma construção mental que expressa a experiência básica da dominação colonial e que desde então permeia as dimensões mais importantes do poder mundial, incluindo a sua racionalidade específica, o eurocentrismo.”

Anibal Quijano é conhecido por ter desenvolvido o conceito de “colonialidade do poder”, trabalhando com a ideia de que a colonialidade é, antes de qualquer coisa uma construção mental, uma racionalidade que parte da classificação social da população a partir da ideia de raça. Desta forma, o racismo se torna o eixo paradigmático desta nova racionalidade que vai estruturar as sociedades modernas, desde o século XV e XVI. De lá para cá o racismo foi se complexificando, assumindo os contornos culturais das épocas subsequentes, até imbricar-se com a lógica do consumo, paradigma vigente nos dias atuais. Acredito que Wade W. Nobles avança neste entendimento, contribuindo com a explicação sobre o impacto desta construção mental racista (colonialidade) na precarização do senso de consciência do que é ser africano no mundo, fazendo com que percamos a nossa centralidade, referencial e perspectiva para prática da nossa própria agência pessoal.

Viver experiências significativas e positivas é fundamental para todo e qualquer processo de conscientização e reforço da humanidade. Considerando que vivemos uma realidade simulada onde o racismo e a colonialidade são os algoritmos deste sistema operacional, desta Matrix, a produção de espaços de convivência que possibilitem vivências a partir de referenciais que possibilitem em “um retorno à África” como traz o Dr. Wade Nobles, ou uma prospecção quântica que nos possibilite contato com a memória imaterial dos nossas ancestrais e antepassados como traz Amit Goswami, pode auxiliar na construção de “subjetividades hackeadoras” da lógica racista e automatizadora da colonialidade.

O racismo, desde a escravização dos povos africanos até agora, se complexificou a ponto de se imbricar nas estruturas computantes do “Ser Humano”. Desta maneira, o racismo estaria no bojo da produção cultural, ou, de outra forma, influenciando dentro da produção de conhecimento e, ao mesmo tempo, se alimentando dela. Cheikh Anta Diop, argumenta que nos mais de 500 anos deste mundo ocidental, o papel da África na história humana têm sido sumariamente negada e, mais ainda, todas as formas de viver e se relacionar com o mundo foram ajustadas socioculturalmente para contemplar, legitimar e naturalizar a escravidão, o racismo e a dominação racial. Marimba Ani, antropóloga, ao se debruçar sobre o evento da escravidão negra, cunhou o conceito maafa, definido como o grande desastre contra as sociedades africanas, morte, sofrimento e destruição desmedidos, além da compreensão humana. Wade W. Nobles acrescenta:

“… a característica básica do maafa é a negação da humanidade dos africanos, acompanhada do desprezo e do desrespeito, coletivos e contínuos, ao seu direito de existir. O maafa autoriza a perpetuação de um processo sistemático de destruição física e espiritual dos africanos, individual e coletivamente.”

Quando reconhecemos o maafa, a partir do percurso histórico, passamos a considerar o fato de que os nossos antepassados tiveram que diversificar e reelaborar muito profundamente o significado de “ser e existir no mundo”, a ponto de, num dado momento, ocorrer cisalhamentos na própria percepção de realidade a partir do desligamento de arquétipos basilares à organização natural de “ser quem você é”, tamanha foi a violência voltada a nossa desumanização. A violência imediata, física, sem precedentes, dos europeus contra os africanos na escravidão foi acompanhada da construção pelas instituições europeias, de um sistema sociocultural, filosófico e científico, que tinha (e ainda tem) como agenda forjar um “modo de ser no mundo” circunscrito à experiência do europeu, e da pessoa branca. Mais do que isso, objetivamente, esta agenda geopolítica e econômica construiu uma nova realidade às pessoas no planeta, a que chamamos modernidade, ou a era moderna, onde novas regras sociais, valores, éticas, jurisprudências, governos, diplomacias, foram impostas, sob o argumento do desenvolvimento civilizatório das nações do mundo pela Europa. O racismo foi, e é, o elemento estruturador desta nova realidade geopolítica, sociocultural, e econômica no mundo. A Matrix estava completa e produzindo esta realidade simulada.

Considerando esta nova ordem social, Nobles contribui enormemente no entendimento do impacto que o processo de dominação colonial causou à consciência de “ser africano no mundo” da população africana e seus descendentes, até os dias atuais. A partir do conceito de descarrilhamento, ele elabora o entendimento chave de que o povo africano, escravizado e submetido a todo tipo de desumanidade, desviou-se do seu caminho natural de desenvolvimento.

CONTINUA…:

 

Por José Evaristo S. Netto – Educador, dedicado aos estudos sobre corporeidade, cultura, identidades, sociocognição, racismo e colonialidade. Mestre em Educação Física.

Consumir significa existir no mundo!

Amit Goswami. Professor aposentado de Física Teórica da Universidade de Oregon, bem como estudioso da Parapsicologia e defensor de uma linha de pensamento pseudocientífico conhecida como misticismo quântico.

Racismo e modernidade a partir da ideia de realidade simulada: física quântica e psicologia negra Sakhu Sheti

Um ensaio sobre a compreensão do racismo a partir da ideia de realidade simulada – Por José Evaristo S. Netto

Nós consumimos realidades construídas por outros, ao invés de construímos as nossas próprias realidades!

De fato, a realidade é cada vez mais discutida por teóricos e pensadores de diferentes áreas do conhecimento, que buscam compreensões para suas diferentes facetas observadas, sejam estas psicológicas, socioafetivas, físicas, biológicas, espirituais, ou facetas da realidade observadas a partir da perspectiva de qualquer outro campo do saber. No campo da física teórica, importantes pesquisadores têm oferecido perspectivas epistemológicas e até cosmovisões não ocidentais super relevantes para a compreensão do mundo, do universo, e consequentemente da realidade, do tempo e do espaço.

O físico quântico indiano Amit Goswami, em seu livro O Universo Autoconsciente, trabalha com a ideia de que a unidade formadora de tudo, inclusive da realidade, não é a matéria como a física clássica (newtoniana) argumenta, mas antes a consciência. Goswami demonstra que o universo é matematicamente inconsistente sem a presença de uma “consciência reguladora do cosmos”, e que a Consciência é a base de todo o ser. Parece complicado, e de fato é (((hahaha))) mas vamos tentar destrinchar um pouco essa perspectiva. Para superar os paradoxos teóricos intransponíveis quando utilizado somente os pressupostos da física newtoniana, as teorias científicas de Goswami respeitam e incorporam os conhecimentos das culturais tradicionais africanas, orientais e ameríndias, não ocidentalizadas e/ou colonizadas. Ou seja, Goswami produz uma ciência decolonial, que traz a possibilidade de compreensão do mundo e da realidade a partir de outros referenciais culturais que não são apenas ocidentais, e que não são regulados pelo racismo e a colonialidade.

Como exemplo, quando perguntado o que é a morte (programa Roda Viva, 2007, link abaixo) ele responde (entrevista: 2min53seg até 4min28seg):

“Há morte quando a consciência pára de causar o colapso das possibilidades quânticas em eventos reais da experiência. Esta é a definição técnica da morte. Então, isto é interessante pois na física quântica todos os objetos são possibilidades. Na verdade, momento após momento, incluindo nosso corpo e nosso cérebro, momento após momento nós causamos o colapso dessas possibilidades em eventos reais que experimentamos, com o nosso corpo e o nosso cérebro. Quando perdemos esta capacidade de convertem as possibilidades em eventos reais, nós morremos. Mas perceba o que está acontecendo. As possibilidades permanecem. É claro que algumas dessas possibilidades são possibilidades materiais. Essas possibilidades vão se desintegrar, no sentido do desaparecimento gradativo da estrutura, do desaparecimento gradativo da memória. Os corpos se desintegram. Mas, além do material, temos também os componentes sutis, como a nossa mente, como o vital, como os nossos arquétipos supra mentais, que vão além da mente e do vital, que também definem o nosso ser. Estes corpos são sutis. Eles não têm estrutura nenhuma. Eles podem continuar para além da nossa morte. Este é o conceito de sobrevivência após a morte.”

O entendimento de vida e morte a partir da física quântica de Amit Goswami traz muitas semelhanças com a compreensão de “ser no mundo” a partir da lógica ioruba, segundo o entendimento de que as pessoas possuem um corpo e um espírito, como o psicólogo Wade W. Nobles descreve:

O corpo, ou ara, é formado pela divindade Orisa-nla. É por meio do ara que a pessoa interage com o meio ambiente; é essa a parte da pessoa que se pode tocar e sentir. O arapode sofrer danos e se desintegra após a morte. Entretanto, o componente “essencial” da pessoa é o espírito, a “força espiritual” ou a espiritualidade (emi). O emidá vida a pessoa. É seu elemento divino e a vincula diretamente a Deus. Depois que a pessoa morre, o emiretorna ao Elemi(o dono do espirito, Deus) e continua a viver. Como pessoa, o individuo também possui a cabeça interior, ou ori inu. Oludumaré (o ser supremo) dá essa cabeça diretamente. Ela constitui o “espírito” particular da pessoa. Ori inu é o guardião do eu; carrega o nosso destino e influencia a personalidade. Além de emi (essência divina) e ori inu (essência pessoal), a pessoa tem okan. Essa palavra significa coração, mas, como aspecto constituinte da pessoa, representa o elemento imaterial (essência) que é a sede da inteligência, do pensamento e da ação. Assim, por vezes é chamado de “alma-coração” da pessoa. Acredita-se que a okanexista antes mesmo de a pessoa nascer. É a okandos ancestrais que reencarna no recém-nascido. Para ser uma pessoa, os iorubas também acreditam que se deve ter um ori e um ejeOri governa, controla e orienta a vida da pessoa e de fato a ativa. Ori é o portador do destino e ajuda a pessoa a realizar aquilo que veio fazer na Terra. Ori é ao mesmo tempo e “essência da pessoa” e seu guardião e protetor. Está intimamente ligado a emiEje é o sangue, expressão física da energia eletroquimicomagnética que constitui a força (essência) que guarnece e anima a vida. Os iorubas também acreditam que o iye é um componente da pessoa. O Iye é o elemento imaterial às vezes referido como a mente. (Nobles, 2009. Sakhu Sheti: retomando e reapropriando um foco psicológico afrocentrado. No livro: Afrocentricidade: Uma Abordagem Epistemológica Inovadora)

Voltando a Goswami,ele se baseia em uma análise da realidade a partir do paradigma Monista Idealista, porém não descarta o Realismo Materialismo e a mecânica newtoniana do entendimento das leis universais na natureza. Ele nos convida objetivamente a ampliarmos a nossa visão para a além do que imediatamente ouvimos, tocamos, sentimos e enxergamos, apontando que em dimensões mais sutis da existência, porém não menos importantes, a realidade se faz em eventos reais de colapsos — impactos, produzidos por uma consciência não-local que escolhe o que vai acontecer dentre as possibilidades quânticas que se apresentam. Isso significa que os fenômenos observados nos experimentos da física quântica não são produzidos pelo ego manifesto das pessoas, e sim por uma consciência maior, que não esta em mim, nem em você, mas que atravessa a todos nós, portanto uma consciência não-local. Goswami trabalha com a ideia de uma consciência do cosmos, como se estivéssemos mergulhados nela, como uma piscina onde a água representasse esta consciência não-local. A aguá esta em todo lugar, a água é o próprio meio que nos circunda. Toscamente falando, esta é a consciência enquanto unidade formadora de todo ser, na mecânica de não-localidade quântica do físico Amit Goswami.

Esta consciência não-local é que define (escolhe) os eventos reais — a realidade quântica. Ela é a que organiza as possibilidades dos eventos acontecerem ou não, de qual forma, e por quais caminhos. Voltando a metáfora da piscina sendo a água a consciência não-local, compreendemos que não somos a água, mas estamos em contato com ela. Se houver uma descarga elétrica dentro da piscina, todos nós seremos eletrocutados, porque a água conduzirá a corrente elétrica para todas as pessoas. A consciência não-local, considerando a mecânica quântica de Goswami, têm um comportamento parecido. Ela não conduz eletricidade, mas arquétipos supra mentais, memórias imateriais, corpos sutis, produzidos por nós, pelos nossos antepassados, pelos nossos ancestrais, que são dados, informações, sentimentos que podem ser acessados, processados, e viabilizados por qualquer um de nós, desde que tenhamos as ferramentas necessárias para esta espécie de “prospecção quântica” da consciência não-local.

CONTINUA…:

 

Por José Evaristo S. Netto – Educador, dedicado aos estudos sobre corporeidade, cultura, identidades, sociocognição, racismo e colonialidade. Mestre em Educação Física.

Sacada do Self da nova militância negra

No programa Conversa com Bial, que abordou reflexões acerca da temática dos 130 anos da abolição da escravatura, o Rapper Emicida comenta uma declaração do então presidente José Sarney que abria oficialmente as comemorações do Centenário da Abolição. Em seguida, o professor Hélio Santos comenta a fala de Emicida e revela a sacada do Self da nova militância negra, dizendo:

“Eu sou de uma geração, Emicida, que não é a sua, que lutava muito para mudar a sociedade. O pessoal da sua geração não quer mudar a sociedade não, eles tão mudando eles mesmos… E com isso vão mudar a sociedade.”

A fala do professor nos remete a refletir sobre essa nova geração com outros olhos, e incentiva a sermos mais observadores sobre tais mudanças. Acredito que, a geração a qual o professor Helio Santos se refere, seja a dos nascidos da década de 80 até meados dos anos 90, a chamada “geração Y”. O  rapper Emicida nasceu em 1985.

O principal objetivo dessa geração, segundo estudos, é a satisfação pessoal, equilíbrio entre corpo, mente e espírito é o valor mais importante. Eles procuram por um lugar em que possam descobrir a si mesmos (Self), e a ideia de viver a vida de forma plena é mais importante do que o sucesso material. É a primeira geração genuinamente globalizada, cresceram com a tecnologia e usam-na desde a primeira infância. Eles são os sucessores da geração X, incorporaram a geração Z, e juntos estão construindo o caminho para a Geração F (a geração Facebook, composta pelos jovens que nasceram na era  das mídias sociais).

Essa geração apontada pelo professor Hélio, “tão mudando eles mesmos”? Pois, me parece, que tal mudança não é algo intencional, ela ocorre, segundo alguns estudiosos, devido o individualismo e narcisismo dessa geração. Dessa forma, essa mudança tem sido superficial, ou seja, não há uma transformação interior, o que desejam, sentem e pensam, esteja voltado tão somente para uma “selfie” e não para seus Self. Podem até interferir na sociedade, por sua vez, gera pouco impacto. É importante considerar que essas projeções universalistas idealizadas de comportamento geracional não são verdades absolutas. A nossa reflexão aqui é dentro de uma perspectiva da geração de negros e negras que tem suas diferenças dentro dessas gerações pesquisadas.

Nesse contexto, o professor refere-se a “Geração Y de negros e negras militantes“, que inclui também a primeira geração de estudantes formados após a implantação do sistema de cotas raciais (Conquista da luta das gerações X e anteriores), que vem mudando o perfil das profissões como direito, comunicação, arquitetura, engenharias, odontologia, medicina, que, até o ano 2000 eram praticamente profissões exclusivas da classe média branca, e da elite. E na carreira acadêmica fazendo também uma presença crescente de negros e negras na pesquisa e na intelectualidade.

O princípio fundamental da psicologia Kemética: “conhece a ti mesmo”, é essa a sacada que o professor Hélio Santos observou nessa nova geração. Esses negros e negras podem ( ou já estão) alicerçar-se no “Self Kemetico” calcado no tripé: amar, conhecer, e mudar, ou seja, amar a si mesmo é conhecer a si mesmo e mudar a si mesmo é ser o seu “Eu Negro“.

O Self: amar a si mesmo, conhecer a si mesmo, e mudar si mesmo é o salto quântico em direção a essa mudança apontada pelo professor. Amar a si mesmo é revolucionário, porque a menos que a pessoa ame a si mesma a pessoa nunca conhecerá a si mesma. Quando nos amamos, estamos sempre abertos às mudanças, especialmente internas, para cada vez mais atingirmos o Eu Negro (Self Kemético).

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico Negro – Do Afrokut

VÍDEO:

Emicida assiste discurso do Sarney sobre abolição da escravatura

Essa foi no Conversa com Bial. Você reagiria assim também?

Posted by Emicida on Friday, June 1, 2018

Intolerância religiosa e a física quântica

Uma maneira muito fácil de aprender sobre a física quântica é através das Religiões de Matriz Africana (oriunda das religiões tradicionais africanas e das religiões afro-americanas). Olhando o pensamento e praticas das religiões de matriz africana as teorias quânticas de repente tornaram-se interessantes e as religiões de matriz africana ainda mais. Para compreendermos essa ligação vamos começar pelas três leis da termodinâmica (leis físicas da transferência de energia) sobre a morte, essas leis descreve com precisão a visão dos nossos antepassados sobre o mundo. As ideias africanas sobre a morte são incrivelmente similares às leis das teorias quânticas.

A primeira lei da termodinâmica afirma que a energia não pode ser criada ou destruída. É apenas transformada.

As religiões de matrizes africanas acreditam que a vida não acaba com a morte. Na verdade, a morte é um novo começo que permiti que as pessoas transcendam diferentes reinos. Não existe uma linha sólida entre a vida e a morte. E o mundo dos vivos e o mundo dos mortos nem sempre são mutuamente exclusivos. Nossos antepassados entendiam a energia, muito antes do Ocidente.

A segunda lei envolve um conceito mais complicado chamado entropia.

Entropia mede informações que tendem a diminuir ou aumentar durante um longo período de tempo. Isso significa que algumas das civilizações mais antigas do mundo possuem as informações mais indisponíveis. A informação no mundo de hoje é conhecida como energia. Nossos antepassados o chamavam de “Axé”(de asé, termo iorubá que significa “energia”, “poder”, “força”). Eles o chamaram de Asé, e eles descrevem a morte como a diminuição do poder, Força Vital ou Asé. Eles acreditavam em diferentes níveis de vida e morte. Se alguém estava sofrendo infortúnio, isso significava que sua força vital ou Asé, estava diminuindo.

A terceira lei afirma que, quando a energia diminui para zero, a entropia ou o caos se tornam mais constantes.

Isso ocorre porque os átomos só podem armazenar uma quantidade limitada de informações. Isso significa que a falta de dados é possivelmente armazenada em anti mundos ou realidades paralelas. Nossos antepassados entenderam que a morte não altera ou acaba a força vital de um indivíduo, mas faz com que ele mude sua condição. Como um corpo que se desintegra em uma sepultura, a informação, Força Vital ou Asé começa a se transformar em uma força coletiva chamada “antepassados”.

Muitos conceitos na antiga ciência africana correspondem às ideias da física moderna. Através da ciência da física quântica vamos mudar paradigmas e quebrar preconceitos, ações fundamentais para a superação da intolerância religiosa.

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico  – Do Afrokut

Adaptado do artigo The African Science of Deathde  de Yamaya Cruz – http://newafricanspirituality.com

O que é Futurismo Quântico Negro?

Futurismo Quântico Negro-FQN (Black Quantum Futurism-BQF) é um coletivo literário e artístico composto por Camae Ayewa e Rasheedah Phillips. É também um nome para o conjunto de estruturas teóricas e metodologias afro futuristas proposto pelo coletivo.

O coletivo publicou um livro intitulado “Black Quantum FuturismTeoria e Prática (Volume 1)“, que propõe “uma nova abordagem para viver e experimentar a realidade através da manipulação do espaço-tempo para ver possíveis futuros e / ou colapsar o espaço-tempo em um futuro desejado para produzir a realidade desse futuro”.

O livro argumenta que as interpretações mecânicas quânticas do tempo, do espaço-tempo, da causalidade e das interações estão mais de acordo com os entendimentos afrocêntricos desses mesmos fenômenos do que com os ocidentais e que as metodologias,  que fundem essas idéias serão capazes de contrariar os eurocêntricos, os colonialistas, e as estruturas e concepções da realidade. A música de Moor Mother (projeto musical solo de Ayewa) aplica metodologias do Futurismo Quântico Negro à composição musical e manipulação eletrônica de sons.

Na pratica o Futurismo Quântico Negro dá a você o controle sobre o seu futuro, permitindo que você altere a direção do seu destino. Quando um futuro possível é previsto ou escolhido por um praticante do FQN  esse futuro remodelará instantaneamente sua relação com o passado. Esta visão e prática deriva suas facetas, princípios e qualidades da física quântica, das tradições futuristas e das tradições culturais negra / africana de consciência, e tempo-espaço.

No ponto em que essas três tradições colidem, existe um plano criativo que permite que as pessoas africanas e afro-descendentes realmente vejam “dentro de si”, criem ou escolham o futuro iminente. A partir de uma multiplicidade de futuros possíveis, uma prática do FQN permite que um visionário veja o futuro com clareza, controle seu futuro, altere a direção do seu destino, e colapse-o em sua realidade existente. É a herança de um praticante do Futurismo Quântico Negro manipular o tempo, ver o futuro e trazer esse futuro.

Em junho de 2016, As fundadoras do Futurismo Quântico Negro abriram o Community Futures Lab, um “centro comunitário afrofuturista” no norte da Filadélfia, onde lideram oficinas e ensinamentos, onde proporcionam espaço para a prática artística e combatem a gentrificação*  na área.

*Gentrificação (do inglês gentrification) – fenômeno que afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local.

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico – Do Afrokut