13 de maio, uma data que nos jogou ao léu

Por mais de três séculos, o negro escravizado impulsionou a economia e serviu de base à pirâmide social brasileira; durante esse período, reações individuais e coletivas – os levantes – representaram a outra face das relações entre senhores e escravos no Brasil. Humilhação ou revolta – a dominação teve limites preciosos durante praticamente todo o período colonial.

Só no final do século XVIII, quando as idéias dos liberais europeus passaram a ser difundidas entre nós, é que se começou efetivamente a considerar a possibilidade da extinção do cativeiro.Tornaram-se comuns as grandes manifestações de rua. Repetiam-se as passeatas e comícios onde a palavra de ordem era a frase de José do Patrocínio: “A propriedade do escravo é um roubo” Finalmente, em 1888, os antiescravistas conquistaram a maioria no Parlamento.

Refletindo a nova correlação de forças, a 7 de maio de 1888 o Congresso aprovava, por imensa maioria, um projeto de lei com o seguinte texto: “Artigo 1 ° . É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Artigo 2° . Revogam-se as disposições em contrário”.

Assinado a 13 de maio pela regente do trono, Princesa Isabel, o projeto transformou-se na Lei Áurea. Entretanto, ao contrário do que se esperava, a abolição não significou a emancipação efetiva da população escravizada.

Sem medidas institucionais que promovessem sua integração à sociedade, os negros foram entregues à própria sorte. Desprotegidos e discriminados, acabaram engrossando os contingentes marginalizados que se aglomeravam na periferia das grandes cidades.

Por  Luiz de Jesus

O Livro Sem Palavras como instrumento de manutenção do racismo

A educação nas igrejas inicia-se desde a idade de aproximadamente três anos e segue por toda vida. As classes de escolas bíblicas, assim denominados esses momentos de estudo, estão geralmente divididas da seguinte maneira: sala das crianças, sala dos adolescentes, sala dos jovens, e sala dos adultos.

O material didático que mais tem contribuído para reforçar o racismo nas escolas bíblicas e evangelização das crianças é o material produzido pela Aliança Pró-Evangelização das Crianças – APEC. Entre os materiais disponíveis, encontramos a base da evangelização de crianças, que permeia todo o curso e é depois desenvolvido nas igrejas, nas salas de Escola Bíblica e nos trabalhos evangelísticos: o “Livro Sem Palavras”.

Este livro tem páginas coloridas que é usado como recurso visual, para evangelizar as crianças; ele possui cinco páginas, cada página contém uma cor, que traz uma interpretação fundamentalista da Bíblia, na seguinte ordem: dourada, preta, vermelha, branca e verde. Cada criança que aprenderá esta “verdade” pela sua associação com a cor. Vejamos:

PÁGINA PRETA – A página preta representa o pecado em nossos corações, o pecado que nunca poderá entrar no Céu.

PÁGINA BRANCA – A página branca representa o coração limpo, que Jesus já purificou. Sabe quão branco ele faz o coração que O recebe?

Fica “claro” a associação da cor preta ao pecado, a algo que foi contaminado e que não possui acesso ao Céu e ao próprio Deus.

É por associação que as crianças aprendem desde cedo que tudo referente ao preto, negro, é diabólico, contém natureza pecaminosa. Continua evidente que o processo educativo no qual, principalmente, crianças estão envolvidas, é segregacionista e discriminador, induzindo ao preconceito desde o simples uso da cor preta como cor que simboliza o pecado e a sujeira.

A igreja peca por reforçar o racismo nas crianças com sua didática na educação infantil e evangelística. Esse reforço do racismo infantil em nossas igrejas vem através de símbolos que reforça esse racismo e a associação da cor preta e negra como cor do mal e de tudo que é ruim. E a cor branca como cor da pureza e do bem, e de tudo que é bom. O resultado dessa didática é o branqueamento de muitos negros e negras nas igrejas.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Três maneiras erradas de ser igreja diante do racismo infantil

O mito da democracia racial, no Brasil, foi oficialmente deslegitimado, porém permanece ainda muito vivo nas igrejas evangélicas brasileiras. Muitas igrejas acreditam na existência do preconceito racial na sociedade; entretanto, nega que ele esteja presente dentro da igreja. Pensamento que é fortalecido pela crença:

 “na igreja todos são iguais perante Deus”.

A crença nesse mito leva as igrejas a favorecer a produção e manutenção do pensamento racista no seu interior. Onde deveria ser uma comunidade de fé, amor e esperança está sendo o oposto, pois pessoas sofrem racismo, e as crianças são as principais vitimas dessa mazela. Vejamos três maneiras erradas de ser igreja diante do racismo infantil:

1 – Igrejas erram por não tratar a questão racial com as crianças

O racismo vai para baixo do tapete – A igreja tem como papel na sociedade promover cura para os indivíduos e, consequentemente, trazer benefícios para a sociedade, ou seja, salgar. No que se refere ao processo de socialização infantil ela estabelece relações com crianças de diferentes núcleos familiares. Esse contato diversificado poderia fazer da igreja um espaço de cura e vivência das tensões raciais. No entanto, tem acontecido exatamente o contrário: a negação das questões que envolvem o negro na igreja.

Essa negação vai se tornando perceptível quando nas publicações e cartazes nas igrejas, apresenta imagens caricatas de negros ou ausência dos negros em datas comemorativas, como Dia das Crianças, o Dia das Mães, em geral ilustradas por crianças brancas ou família branca, o que leva a criança negra a não se reconhecer na mesma. Existe ainda uma ausência de conteúdos que problematizem a questão do negro nos estudos bíblicos, privando as crianças negras de conhecerem a sua história na bíblia, que vai além da escravidão. Na igreja a dor da criança negra não é reconhecida, havendo uma aparente falta de acolhimento por ministérios e pastorais, que silenciam ou se omitem em face de uma situação de discriminação. Tal postura denuncia a banalização do preconceito e a conivência das igrejas com ele.

2 – Igrejas erram por reforçar o racismo na sua didática.

A cor preta como pecado – A igreja peca por reforçar o racismo nas crianças com sua didática na educação infantil e evangelística. Esse reforço do racismo infantil em nossas igrejas vem através de símbolos que reforça esse racismo e a associação da cor preta e negra como cor do mal e de tudo que é ruim. E a cor branca como cor da pureza e do bem, e de tudo que é bom. Exemplo como o Livro Sem Palavras  e matérias didáticos onde essas cores representam o mal e o bem.

Outra forma é nos estudos bíblicos reforçando que um coração cheio de pecado é um coração negro ou preto.

Quando purificado por Jesus se torna um coração branco e mais alvo que a neve. Nas atividades com as crianças essas igrejas também reforçam esse racismo quando usam canções como “o meu coração era preto”, “as nuvens negras”, entre outras.

Também reforça esse racismo quando usam historia como a do menino e o guarda-chuva, e trabalhos onde as crianças usam recortes para confeccionar corações pretos e corações brancos simbolizando um coração com pecados e um coração sem pecado. Nesse sentido, a igreja poderá ser um meio de manutenção do racismo e discriminação pelo uso de métodos simbólicos e indiretos na representação da cor preta como algo ruim. A desconstrução dessas didáticas pode ser de difícil acesso devido o mito que na igreja todos são iguais perante Deus, tornando-se mais fácil a interiorização dos ensinamentos que perpetuam nas escolas dominicais e bíblicas.

3 – Igrejas erram ao tratar o racismo de forma inadequada.

 Trata o racismo de forma errada – Também a igreja peca em tratar o racismo de forma errada. Existe por incrível que pareça uma tentativa de abordagem do racismo na escola dominical e no evangelismo de crianças. Existe um material da APEC chamado Bola de Neve – o menino preto. É o único material que tenho conhecimento que trata o racismo na escola bíblica infantil de forma explicita. Esse material é uma historinha com ilustrações que fala de um menino pretinho que sofreu discriminação por seus coleguinhas de classe por ser preto. Até ai muito interessante a historinha que abre espaço para uma discussão do racismo na escola dominical e bíblica. Mas a historia começa a perder o rumo: o menino é orientado pela sua mãe como lidar com aquela situação. A mãe do menino diz que para Deus não importa a cor das pessoas o que importa para Deus e a cor do coração:  “Há crianças de pele branca com coração negro, e há pessoas como eu, por exemplo, com pele escura, mas, meu coração está branco”.

A mensagem transmitida é que, para o negro ser um cristão, ele tem de ter um coração branco, ou seja, para ser um cristão verdadeiro ele precisa negar o sua cor, sua etnicidade. O resultado dessa didática é o branqueamento de muitos negros e negras nas igrejas. Se convertendo em negro de alma branca, havendo um silenciamento do preconceito por parte da criança e do cristão ao longo da vida.

E você tem algo que venha acrescentar, criando caminhos, para a superação do racismo nas escolas dominicais e bíblicas ajudando as nossas igrejas vencer o pecado do racismo? Colabore com o seu pensamento.

Por Hernani Francisco da Silva –  Do Afrokut

Cinco evidências que Jesus não era branco

Jesus era Negro?

A questão da cor de Jesus sempre foi um tema polêmico, evocando fortes paixões tanto a favor como contra a negritude e branquitude de Cristo. Tem uma brincadeira que os negros norte-americanos costumam dizer sobre três maneiras que prova que Jesus era Negro:

  • Ele chamou todos de  irmãos,
  • Gostava do Evangelho, e
  • Ele não poderia ter um julgamento justo.

Brincadeira  à parte, o fato é que existe fortes evidencias bíblicas que Jesus não era branco. Vejamos 5 delas:

 1 .   Jesus nasceu em Africa.

Os Evangelhos dizem de maneira explícita que Jesus nasceu em “Belém de Judá, no tempo do rei Herodes” (Mt 2,1 cfr. 2, 5.6.8.16), (Lc 2, 4.15), (Jo 7, 40-43). Nos tempos antigos, incluindo o tempo de Jesus, Belém de Judá era considerado parte de  África. Até a construção do Canal de Suez, Israel fazia parte da África. Esta visão haveria de perdurar até 1859, quando o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps pôs-se a construir o Canal de Suez. A partir daí, foi a África separada não somente geográfica, mas sobretudo histórica, cultural e antropologicamente do que hoje chamamos Oriente Médio. Aquela milenar extensão da África passa a figurar nos mapas como se fora Ásia.

 2 .  Jesus tinha presença negra na linhagem familiar

A genealogia de Jesus foi misturada com a linha de Cam desde os tempos passados em cativeiro no Egito e na Babilônia. Nos antepassados de Jesus através de Cam, lado feminino desta mistura, há cinco mulheres mencionadas na genealogia de Jesus Cristo ( Tamar, Raabe, Rute, Bateseba e Maria) (Mateus 1:1-16). As primeiras senhoras mencionadas eram de descendência de Cam. Assim, Jesus pode ser aclamado etnicamente pelos povos semitas e descendentes de Cam.

 3 .  Jesus era da tribo de Judá, uma das tribos Africanas de Israel.

Ancestrais masculinos de Jesus vêm da linha de Sem (miscigenados). No entanto, a genealogia de Jesus foi misturada com a linha de Cam desde os tempos passados em cativeiro no Egito e na Babilônia. O antepassado de Jesus através de Cam é narrado em Gênesis 38: então Tamar, a mulher Cananéia (Negra) fica grávida de Judá, e dá à luz aos gêmeos Zerá e Perez, formando a Tribo de Judá, antepassados do rei Davi e de José e Maria, os pais terreno de Jesus.

 4 .  Jesus se escondeu entre os Negros.

Não foi por acaso que Deus enviou a Maria e José para o Egito com o propósito de esconder o menino Jesus do rei Herodes (Mateus 2:13). Ele não poderia ter sido escondidos no norte da África se fosse um menino branco. Não por proteção militar já que nessa época o Egito era uma província romana sob o controle romano, mas porque o Egito ainda era um país habitado por pessoas negras. Assim, José, Maria e Jesus teriam sido apenas mais uma família negra entre os negros, que tinham fugido para o Egito com a finalidade de esconder Jesus de Herodes, que estava tentando matar o menino. Se Jesus fosse branco, loiro de olhos azuis, teria sido difícil para ele e sua família se esconder entre os egípcios negros sem ser notado. O povo hebreus era muito parecido com povo egípcios, caso contrario  teria sido difícil reconhecer uma família hebraica entre os egípcios Negros. Foi no Egito que o povo de  Israel  teve seu auge da negritude, Setenta israelitas entraram no Egito e lá ficaram  durante 430 anos, trinta anos os israelitas foram hóspedes, e 400 anos  cativos no Egito, eles e seus descendentes se casaram com não-israelitas, chegando a mais de 600.000 homens, mulheres e crianças. Saíram do Egito uma multidão misturada. Etnicamente, os seus antepassados eram uma combinação de afro-asiáticos.

 5 .  Jesus era semelhante pedra de jaspe e de sardônio.

Em apocalipse a Bíblia continua mostrando a negritude de Jesus. Ele é chamado o Cordeiro de Deus segundo as Escritura Sagrada, com seu cabelo lanoso, sendo comparado a lã de cordeiro, e os pés com a cor de bronze queimado (Apocalipse 1:15), com uma aparência semelhante pedra de jaspe e de sardônio (Apocalipse 4:3), que são geralmente pedras amarronzadas. As cores de jaspe e sardônio não são únicas e absolutas, são diversas cores.

Sei que para a experiência de fé de muitos cristãos a cor de Jesus não é relevante, também sei que muitos “cristãos” dizem que se Jesus não fosse branco eles não seriam cristãos. O importante da revelação dessas evidencias é que elas não são percebidas pelos leitores da Bíblia. A fim de que a nossa visão do Jesus histórico se torne mais negra, é mister que comecemos por derrubar alguns mitos tidos como dogmas. Acredito que existam outras evidencias que poderia citar neste texto, mais ficamos por enquanto com essas cincos. O texto continua aberto para receber outras evidencias e questionamentos dessas. Sinta-se à vontade para colaborar e enriquecer esse artigo.

Por Hernani Francisco da Silva – do Afrokut