10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil

Em contraponto ao artigo 10 fatos que você não sabia sobre a escravidão nas igrejas evangélicas no Brasil, elaboramos esse novo artigo abordando fatos sobre a participação de protestantes na luta pela abolição da escravatura.

Sabemos que vários protestantes no mundo lutaram contra a escravidão. Pessoas como John WesleyJohn NewtonAnthony Benezet e Wilberforce lutaram contra a escravidão. No brasil tivemos também protestantes abolicionistas que estiveram presentes em quase todas as denominações históricas. Eram em sua maioria missionários do Norte dos Estados Unidos, europeus e alguns convertidos brasileiros.

Neste sentido segue 10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil.

1 – A lei que aboliu a escravatura no Brasil foi de um protestante presbiteriano

A Lei Áurea foi apresentada formalmente ao Senado Imperial pelo presbiteriano Rodrigo Augusto da Silva em 11 de maio de 1888. Foi debatida nas sessões dos dias 11, 12 e 13 daquele mês. O projeto foi aprovado pela Câmara e pelo Senado e no dia 13 de maio de 1888, foi convertido em Lei, tomando o nº. 3353, com a assinatura da Princesa Isabel. O Conselheiro Augusto da Silva , Ministro da Agricultura, que compareceu perante a Câmara, onde leu:

Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da Nação: Venho em nome de sua Alteza e Princesa Imperial Regente, em nome de sua Majestade o Imperador, apresentar-vos a seguinte proposta: Art. 1º – É declarada extinta a escravidão no Brasil, Art. 2º – Ficam revogadas as disposições em contrario. Palácio do Rio de Janeiro, em 8 de maio de 1888. Fonte: Site http://www.gobgo.org.br/cultural/2009/justica.html consultado dia 16/09/2009

2 – Senador protestante trabalhando pela abolição da escravatura e pela República

Outra importante participação foi do Presbiteriano Senador Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895), advogado, sociólogo, e escritor. Saldanha exerceu cargo supremo da Maçonaria brasileira, trabalhando pela causa da instrução pública, pela abolição da escravatura e pela República. Foi quem assinou, em primeiro lugar, o célebre manifesto republicano de 1870. Com a Proclamação da República, foi um dos autores do anteprojeto da Constituição de 1891. Teve destacada atuação na Questão Religiosa na década de 1870 quando publicou vários artigos em jornais. Fonte: http: //www.senado.gov.br/sf/SENADORES/senadores_biografia.asp?codparl=1865&li=22&lcab=1891-1893&lf=22 Consultado dia 16/09/2009

3 – O jornal Imprensa Evangélica criado pelo abolicionista Simonton

No ano de 1864 foi fundado o jornal Imprensa Evangélica pelo missionário norte-americano Ashbel Green Simonton (1833-1867), também fundador da Igreja Presbiteriana no Brasil. Durante a segunda metade do século XIX, décadas finais da escravidão no Brasil, este jornal, o meio de comunicação dos presbiterianos de então, foi um dos que expôs sua opinião quanto à escravidão.

O Imprensa Evangélica durou 28 anos. Recebeu uma grande aceitação, não somente entre os protestantes brasileiros, como em toda a sociedade brasileira; fora amplamente lido. No início da década de 70, do séc. XIX, havia uma relação racial harmoniosa no Brasil, bastante diferente da existente nos Estados Unidos da América.

Os abolicionistas protestantes se valeram muitas vezes disso para propagar sua preocupação em que houvesse uma reforma social no Brasil. Imprensa Evangélica se pronuncia neste período da seguinte maneira:

o Brasil poderia dar ao mundo este exemplo único de um país que faz uma reforma social desta ordem, sem se arruinar, e sem perturbar a paz em que há longos anos tem vivido”. Fonte: – PEREIRA, Eduardo Carlos. A emancipação. Imprensa Evangélica. 7 de junho de 1884, p. 81.

Conforme observa Barbosa, no livro Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora, o jornal Imprensa Evangélica procurou destacar que não havia ódio de raças no Brasil, diferentemente de como acontecia em outras nações, como nos próprios Estados Unidos da América. Segundo ele, “isto não significava a inexistência de conflitos de classes, entre senhores e escravos”. No dia 24 de maio de 1884 o jornal publicou a matéria “o abolicionismo” no qual lemos:

a demora em fazer justiça aos oprimidos traz perigo para os opressores e que o regime escravista é defendido por esse grande exército alistado sob a sua bandeira, não está disposto a capitular” . Fonte: BARBOSA, op. Cit. p. 97. Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora

4 – Protestantes, criam que a escravidão no Brasil estava condenada

Kidder e Fletcher,  missionários metodista norte-americano no Brasil, autores de O Brasil e os brasileiros, escreveram seu livro em pleno período escravagista, e, como protestantes, criam que a escravidão no Brasil estava condenada, que era apenas uma questão de pouco tempo. Fonte: O abolicionismo. Imprensa Evangélica. 24 de maio de 1884, p. 73.

A partir dessa década de 70, do século XIX, toda propaganda abolicionista começou a crescer no Brasil e Fletcher realmente esperava que ela ocorresse num período curto de tempo. Por isso dedicou-se a distribuição de literaturas anti-escravagistas. Davi Gueiros Vieira escreve que, “entre os muitos livros anti-escravagistas que Fletcher distribuiu, havia um que produziu grande impacto no Brasil. Foi a obra de George Livermore sobre o negro e a Revolução Americana”. Fonte: KIDDER, Daniel P. e FLETCHER, J.C. O Brasil e os brasileiros. Rio de Janeiro: Companhia Editorial Nacional, 1941. p. 147.

5 – Evangélicos batistas alforria escravizado

Havia um grupo batista no Brasil contrário à prática escravagista. O casal William Buck Bagby e Ana Luther Bagby, conforme o livro “O gigante que dorme”, comprava escravos e os alforriava, foram perseguidos por isso, e tiveram sua casa apedrejada por mais de uma vez. Em seu livro “Os Bagby no Brasil“, Harrison comenta sobre a alegria (e atitude) dos membros da Primeira Igreja Batista do Brasil, em Salvador, quando da alforria dada a um escravizado pela própria comunidade da Primeira Igreja Batista do Brasil. Este escravo, ao ser proibido de frequentar a igreja por seu senhor, também membro da igreja, recebe uma surpresa assim como relatada por Harrison:

Outro fato que causou muito comentário foi o relativo a um africano, que assistia aos cultos com regularidade e interesse. Quando ele deixou de vir por alguns domingos, alguém comentou em sessão, sobre sua ausência. Outro explicou que seu dono declarava que o mataria se ele pisasse na igreja novamente. Um membro sugeriu: Vamos comprá-lo! Após longa deliberação, pois a igreja não tinha um só membro abastado, votaram unanimemente comprá-lo e dar-lhe sua liberdade. O homem, duas vezes redimido, ficou radiante e alegremente uniu-se à pequena igreja.” Fonte: Harrison, Helen Bagby. Os Bagby do Brasil.

6 – Para o pastor Taylor o evangelho tinha dois grandes inimigos: a Monarquia e a Escravidão

Deste período destacamos também a voz do Pastor  Z. Taylor em cuja autobiografia refere-se à alegria de sua igreja ter libertado um escravo que havia se tornado cristão. Em sua autobiografia, Taylor não perde a oportunidade de acusar a igreja Católica Apostólica Romana ao afirmar que “os padres nunca fizeram nada para aliviar as dores dos escravos ou para redimi-los”. Quanto à abolição da escravidão no Império do Brasil (13 de maio de 1888), Pr. Taylor registra sua alegria expressando-se da seguinte forma:

Os dois grandes inimigos do progresso do evangelho desapareceram no Brasil, a escravidão e o Império. Assim todos os inimigos do evangelho devem cair. Neste momento só há lugar para um Rei, e este é Jesus… O senhor destruiu dois gigantes poderosos: a Monarquia e a Escravidão, replanejando-as com a República e a Liberdade em que suas sementes teriam melhores condições de prosperar. Fonte autobiografia Z. Taylor.

7 – O pastor Robert Kalley expulsou um crente da igreja porque não quis libertar seu escravizado

Na Igreja Fluminense havia uma consciência social mais profunda. Nos registros de sua história além de sua preocupação com “espiritual” também uma preocupação com questões como a escravidão. Desta igreja temos um relato muito interessante que foi um sermão pregado pelo Pastor Dr. Robert Kalley em 3 de novembro de 1865, conforme Duncan A. Reily assinala em sua História Documental do Protestantismo no Brasil.

A “exortação” de Kalley sobre a escravidão, dirigida ao Sr. Bernardino de Oliveira Rameiro, é datada de 3 de novembro do mesmo ano. Kalley acentua que o escravo trabalha “contra a vontade e sem salários e sob as ameaças de castigo e sofrimentos diversos”, a fim de produzir, não para si, mas para o seu patrão opressor, “bons serviços e excelentes lucros”. Ele conclui assim o documento:

… O escravo só trabalha porque teme as ameaças de pancadas e castigos desumanos da parte de um roubador da liberdade alheia! O senhor que procede desse Jesus que nos resgatou da maldição (Gl 3.13) e da lei do pecado da morte (Rm 8.2) e nos deu a liberdade, fazendo-nos FILHOS DE DEUS (Rm 8.15 e 16). Fonte: REILY, História documental, p. 155, nota 174.

O início da missão do casal Kalley demonstra fato pouco divulgado sobre sua estratégia da missão: uma semana após Sarah ( sua esposa) iniciar o projeto de escola dominical junto a crianças de Petrópolis, em 26 de agosto de 1855, Kalley começou a lecionar em classe bíblica de negros.

A proposta de missão do casal era no mínimo atípica – evangelizar crianças e negros – atingir os que eram negligenciados pela igreja oficial e pela igreja de imigração. Fonte: registrado por Reily em História Documental do Protestantismo no Brasil.

8 – Escravizados são alforriados apos batismo na Igreja Presbiteriana de São Paulo

O romancista Júlio Ribeiro, apresentou ao batismo na Igreja Presbiteriana de São Paulo, um pequeno escravizado a quem logo libertou, bem como à sua mãe. A fonte de Léonard é Lessa, que declara o seguinte:

Um dado curioso. No dia da profissão de fé de sua mãe, Júlio Ribeiro apresentou ao batismo um escravo seu menor, de nome Joaquim, pelo qual se responsabilizou como cristão. Faltava menos de um ano para a lei do ventre livre. Foi o primeiro menino escravo batizado, no registro das atas de São Paulo. Mais tarde o seu jovem senhor deu-lhe carta de alforria e à sua mãe, que também aceitara o evangelho. Fonte: LÉONARD, O protestantismo brasileiro, p. 101, nota 81. E LESSA, A nais da 1ª Igreja, p. 81.

Júlio César Ribeiro Vaughan foi um escritor e gramático brasileiro. Polêmico, abolicionista, anticlerical e representante do naturalismo, movimento fundado pelo francês Émile Zola. A Carne, publicado em 1888, é seu romance mais conhecido, possivelmente a sua obra-prima. Foi o criador da bandeira do estado de São Paulo, concebida em 1888 para ser a bandeira da república. Júlio Ribeiro propôs em 16 de julho de 1888, logo após a Abolição da Escravatura, a atual bandeira de São Paulo para ser a bandeira do Brasil, sendo parte da sua campanha pela República. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Ribeiro

9 – A presbiteriana Amélia Dantas de Souza Melo Galvão, uma incansável guerreira pela abolição da escravatura

Amélia Dantas de Souza Melo Galvão ou D. Sinhá Galvão, como era mais conhecida, teve papel de destaque no movimento abolicionista no Brasil. Segundo depoimentos do Major Romão Filgueira:

D. Sinhá era uma mulher dotada de raros predicados morais e culturais, belo espírito de comunicação e de idéias elevadas”. Tomou parte em todas as comissões importantes da Libertadora. Apaixonada pelo movimento, “convida suas amigas, entre elas as das famílias Soares do Couto, Dr. Paulo Leitão e outras, para saírem às casas dos senhores possuidores de escravos, concitando-os a alforriarem seus cativos, chegando ao ponto de quando não podiam receber adesões para o movimento, em virtude da escravidão ser garantida por lei, de se ajoelharem, beijando os pés dos potentados, indiferente aos sofrimentos dos prisioneiros das senzalas, rogando a liberdade imediata dos escravos que possuíam”.

Era filha do também abolicionista e poeta José Damião de Souza Melo, português radicado em Mossoró. Professava a religião presbiteriana, apesar de seu pai ter sido padre em Portugal. Nunca se soube o motivo da mudança de religião. Sabe-se apenas que um dia ele tirou a batina, queimou-a e veio para o Brasil, surgindo como comerciante em Mossoró. Na memorável sessão de 30 de setembro de 1883, D. Amélia Galvão teve a incumbência de dar carta de alforria às mulheres escravas e, a cada uma, beijava, dizendo:

D. Fulana, a senhora, de agora em diante é tão livre como eu”.

Dona Sinhá Galvão pagou um preço alto por sua luta em prol da libertação dos escravizados. Esgotada pelo cansaço adoeceu, contraindo uma tuberculose e dela não conseguiu se curar. Morreu a 14 de novembro de 1890, estando sepultada em túmulo próprio no Cemitério Público de Mossoró.

A luta de D. Sinhá Galvão ajudou Mossoró, cidade do Rio Grande do Norte, ser a primeira cidade do Brasil a acabar com a escravidão muito antes da lei áurea. Fonte http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=782 do Pesquisador Geraldo Maia.

10 – O pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira denunciava o silencio no pulpitos das igrejas sobre a escravidão

Reverendo Eduardo Carlos Pereira, uma peça fundamental na luta abolicionista, fundador da Igreja Presbiteriana Independente em 31 de julho de 1903, sua jornada registrada contra a escravidão, em 1886 publicou um folheto de 46 páginas denominado “A Religião Cristã em sua Relação com a Escravidão”. Em um trecho do artigo Pereira denuncia a covardia e o silencio no púlpito das igrejas:

Oh! Maldita instituição, que desperta no homem o instinto de fera… “É mister que a imprensa clame e não cesse que levante a trombeta a sua voz e denuncie ao povo a monstruosidade desse pecado nacional. É mister que diga aos senhores de escravos com franqueza o quanto há de ofensivo as leis de Deus e da humanidade…” Por que, então, a reserva e o silêncio medroso ante um crime tão grave? … O silencio do púlpito não é prudência, é infidelidade.  Fonte: RIBEIRO, 1981, p.100

Nas páginas finais do folheto ele pede aos crentes para libertarem os seus escravos:

Confesso que grande é minha vergonha e grande a confusão da igreja de Cristo no Brasil, ao ver incrédulo, pelo simples amor à humanidade, abrirem mão de seus escravos; entretanto, os que professam fé no Redentor dos cativos não rompem as ligaduras da impiedade, nem deixam ir livres os oprimidos! Leitor, se acaso vires algum incrédulo ler este artigo, eu te peço para honra da Igreja de Nosso Senhor no Brasil, que não deixe seus olhos percorrer este parágrafo”. Fonte: LÉONARD, O protestantismo brasileiro.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Referências e Informações:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodrigo_Augusto_da_Silva

Visões Protestantes Sobre a Escravidão – Elizete da Silva – Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2003 / pp. 1-26

A Igreja Presbiteriana do Brasil e a escravidão: BREVE ANÁLISE DOCUMENTAL – Hélio de Oliveira Silva – FIDES REFORMATA XV, Nº 2 (2010): 43-66

LÉONARD, Émile G. – Protestantismo Brasileiro – Editora Juerp

O Protestantismo e escravidão no Brasil – Hernani Francisco da Silva

Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora –  Barbosa, José Carlos. UNIMEP. 

http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=782 do Pesquisador Geraldo Maia


10 fatos que você não sabia sobre a escravidão nas igrejas evangélicas no Brasil

Os primeiros protestantes chegaram ao Brasil ainda no período da escravidão. Era um grupo composto principalmente por defensores da escravidão, omissos, e poucos abolicionistas. Os protestantes também foram proprietários de escravizados. 

Veja também: 10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil.

Segue 10 fatos que você não sabia sobre a escravidão nas igrejas evangélicas no Brasil:

1 – Anglicanos buscaram cristianizar os filhos dos escravizados.

Na cidade do Rio de Janeiro encontrava-se um grupo de anglicanos da Christ Church. Os membros dessa igreja, em sua maioria bastante abastados financeiramente, eram donos de escravos. Estes anglicanos buscaram cristianizar os filhos dos escravos de seus membros, forçosamente batizando-os e dando-lhes nomes cristãos. Consta no livro de atas da Christ Church os seguintes relatos:

Thereza, filha de Louisa – escrava negra, nativa de Manjoula, África – propriedade de James Thonton, um comerciante inglês”. Lê-se também: “Em 11 de maio de 1820 foram batizados 11 escravos do fazendeiro Robert Parker”. Fonte: Livro nº 1 de Registro de Batismo da Christ Church, p. 19/20. Doc. Christ Church. Rio de Janeiro.

Em outra igreja Anglicana, a que se reunia em Morro Velho, também se constata escravos pertencentes a membros. Há registros de batismos de escravos domésticos de John Alexander em 1830 e do Coronel Skerit em 1833. As cidades de Morro Velho e Passagem no estado de Minas Gerais eram locais de exploração a minas por uma empresa inglesa. Em torno dessas minas crescia uma colônia britânica numerosa, sempre visitada pelos bispos da igreja anglicana.

2 – Os primeiros evangélicos batistas no Brasil possuíam escravos.

Os primeiros colonos batistas no Brasil possuíam escravos. Muitos vieram para o Brasil por causa das facilidades e similaridades escravagistas aqui encontradas. Crabtree fora um missionário batista enviado pela Junta Missionária de Richmond (Convenção do Sul). Em 1859 ele escreve à Junta avaliando aquilo que seria, para ele, muito tranquilizador para o envio de missionários americanos para o Brasil:

o Brasil era como os Estados Unidos, tem escravos e os missionários enviados pela Convenção Batista do Sul não podiam sentir-se constrangidos a combater a escravatura e assim envolver-se na política do país”. Fonte CRABTREE, A.R. História dos Batistas do Brasil até 1906. Rio de Janeiro. Casa Publicadora Batista.1962, p.5

Muitos batistas em Santa Bárbara D’Oeste, em São Paulo, possuíam escravos para os trabalhos domésticos e, também, na lavoura. Rute Mathews, contando a história de Ana Bagby (missionária batista pioneira no Brasil), relata a história da Senhora Ellis, batista, senhora de escravos, e que hospedou os fundadores da Primeira Igreja Batista do Brasil, os missionários W. Bagby, em sua casa nos primeiros meses do casal no Brasil:

Depois de dormir uma noite na Capital Paulista, os missionários tomaram o trem para Sta. Bárbara, onde chegaram sob forte aguaceiro. Na estação os aguardavam os enviados da Sra. Ellis, com dois cavalos e um escravo, para carregar a bagagem. A estrada até o sítio estava bem lamacenta, mas ao chegar, foram carinhosamente recebidos”. Fonte CRABTREE, A.R. História dos Batistas do Brasil até 1906. Rio de Janeiro. Casa Publicadora Batista.1962, p.5

3 – Evangélicos Ingleses eram proprietários de mais de 2 mil escravizados.

O Rev. Boys era um capelão inglês da ilha britânica de Santa Helena, no meio do Atlântico Sul. Em 1819, ele foi obrigado a permanecer por um bom tempo no Rio de Janeiro, por causa de uma enfermidade de sua esposa. Sua carta informa que a cidade do Rio de Janeiro tinha naquela época 300 mil habitantes, 80 mil dos quais eram escravos. Ele continua:

Aqui temos residindo um embaixador inglês, o sr. Thornton, e aproximadamente 1.500 negociantes ingleses mais os franceses, muitos dos quais sei que favorecem uma sociedade bíblica auxiliar. A maioria deles possui escravos, os quais, naturalmente, eles têm a obrigação de instruir, e não poderiam ser incomodados [por cumprirem essa obrigação]. Daí haver bastante oportunidade para o estabelecimento de uma escola para adultos em casa para o benefício deles próprios… E quanta utilidade isso teria aqui! Pois não devem existir menos de 2 mil escravos, propriedade de negociantes ingleses (eu os estimaria em 3 mil ou 4 mil), inteiramente às ordens de nossos compatriotas”. Fonte: REILY, História documental, p. 49.

4 – Os Metodistas tinha duas classes de escola dominical de escravizados.

Spaulding foi o primeiro missionário metodista no Brasil; partindo de Nova York, chegou com sua família ao Rio de Janeiro em 29 de abril de 1836. Antes de completar um mês de estada no país, organizou a primeira escola dominical. Sua escola dominical tinha uma assistência de mais de quarenta crianças e jovens. Quanto aos escravos, ele diz:

Temos duas classes de pretos, uma fala inglês, a outra português. Atualmente, parecem muito interessados e ansiosos por aprender…”. Fonte: REILY, História documental, p. 92

5 – Os crentes evangélicos compravam escravos nos leilões.

No dia 10 de outubro de 1859, dois meses após desembarcar no Rio de Janeiro, Simonton escreveu em seu diário:

Fui com o senhor H. a um leilão em que ele comprou dois negros. Outra vez estou no meio do horror da escravidão”. Fonte: SIMONTON, Ashbel G. O Diário de Simonton, 1852-1866. 2. ed. ampliada. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 11.

Alguns dias antes (28/09), ele tivera uma discussão na qual contrariou certo Sr. “S.”, que o desapontara muito, pois esta pessoa era “absurdamente a favor” da escravidão. Simonton era nortista, logo, favorável à abolição, pois considerava a escravidão pecado e opressão. Apesar de sua opinião contrária à escravidão, Simonton se mostrou cauteloso quanto à exposição pública de suas ideias antiescravistas no Brasil. Três anotações em seu Diário, datada de 3 de janeiro de 1860 e 31 de dezembro de 1866, dão conta de que Simonton se utilizou do trabalho de escravos no Brasil, embora nunca os tenha possuído. Em 1860, quatro negros fizeram o transporte de sua mudança para a casa do Sr. Patterson. Em 1866, um negro chamado Quitano, alugado por Blackford, o ajudou na arrumação de sua nova casa. Depois, quando novamente se mudou de endereço, para a Rua dos Inválidos, uma escrava chamada Cecília trabalhou para ele por um tempo. Um dado interessante é que uma das últimas pessoas a orarem por ele junto ao seu leito de morte foi um negro, membro da igreja de São Paulo. Fonte FERREIRA, Júlio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil. 2 vols. 2. ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, vol. 1, p. 84.  

6 – Missionários levavam escravizados em suas viagens de pregação do evangelho.

Júlio Andrade Ferreira, ao narrar a chegada de John Boyle a Cajuru, interior de São Paulo, diz que ele se fazia acompanhar de um negro, que, cansado, queixou-se da longa viajem. Todavia, não faz qualquer alusão ao fato de esse negro ser um escravo, seu ou da missão, limitando-se a chamá-lo de “acompanhante”. Esse fato ocorreu entre 1882 e 1884, portanto, antes da abolição. Fonte: FERREIRA, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, vol. 1, p. 251. A citação original vem de outro livro de sua autoria, Galeria evangélica, p. 95-97.

7 – Evangélicos luteranos alemães possuíam escravizados.

Émile Léonard comenta em seu livro que nos estados do sul do Brasil, os alemães, em sua grande maioria protestantes, possuíam muito poucos escravos. Em São Leopoldo seu número era bastante reduzido e Hermann Blumenau não aceitava escravos na sua colônia. Porém, a razão para isso era mais econômica do que motivada por princípios cristãos, uma vez que os colonos eram muito pobres para possuir escravos.

Por outro lado, Léonard afirma que nas regiões onde “os alemães foram submetidos a uma economia escravagista, eles se conformavam”. Um exemplo disso foi a colônia Leopoldina, no sul da Bahia. Ali se contavam em 1853 apenas 25 trabalhadores livres para 1.245 escravos, que garantiam sua sobrevivência sob um clima terrível. Fonte LÉONARD, O protestantismo brasileiro, p. 101, nota 81.

8 – Na Revolta dos Malês dos 160 acusados, 45 eram escravizados de evangélicos.

Os súditos britânicos, membros da Saint Church, não só desobedeciam às ordens de S.M. Britânica ao participarem do rentável comércio negreiro que se fez na Bahia do século XIX, mas também eram proprietários de escravos que utilizavam como mão-de-obra doméstica ou em alguns empreendimentos de caráter manufatureiro que mantinham em Salvador. Em 1835, durante a revolta dos escravos malês, ocorrida em Salvador, dos 160 acusados, 45 eram escravos de ingleses residentes no bairro da Vitória. No sumário do juiz que condenou os líderes da insurreição escrava, fica evidente que as próprias lideranças do movimento eram propriedade de ingleses e se reuniam nos fundos de suas casas:

capturei como cabeças e Chefes de Clubes que se a ajuntavão na casa do Inglez Abraham e de que anteriormente tinha dado parte ao excelentíssimo Presidente da Província os seguintes nagôs-Diogo-Daniel-Jaimes e João escravos de Abraham, cabeças do clube, sahirão e recolherão se pela manhã-Carlos e Thomaz-Cabeças do Clube, sahirão e recolherão se pela manhã ainda com as calças com sangue examinei não tinha ferida alguma no corpo, escravos de Frederico Robelliard, Cornelio escravo Preto rei Inglez apanhou recolhendo se para caza confessou ter hido com os outros era também do Clube, aceitara o evangelho”. Fonte: In. Anais do Arquivo Público do Estado da Bahia.Salvador.1992. Vol.50, p.59.

9 – Os evangélicos ingleses possuíam escravizados como bens ou investimentos.

Compulsando testamentos e inventários de anglicanos que morreram na Bahia na segunda metade do século XIX, também constatou-se a presença de proprietários de escravos, tais como os senhores Eduardo Jones que tinha 6 escravos domésticos; o Sr. George Mumford 17 que possuía 11 escravos que trabalhavam na sua roça no Acupe e Sr. George Blandy, que possuía 4 escravos. Os seus herdeiros, cidadãos britânicos, se recusaram a ficar com os escravos, pois “pela legislação inglesa não pode o suplicante (James P. Mee) possuir escravos, e pedia que reforme a sentença aquinhoando aqueles escravos ao herdeiro João Miranda Pinheiro da Cunha cazado com D. Joaquina Blandy Pinheiro da Cunha.

É interessante destacar que o herdeiro inglês não teve nenhum pejo de tratar os escravos como mais um bem na herança a ser dividida. Ao invés de alforriar os escravos dando-lhes liberdade, solicitou uma barganha financeira com um herdeiro brasileiro, que poderia ser proprietário de escravos. O seu pedido foi atendido pelo Juiz.  Fonte: Testamento n 07/3056/04. Arq. Público do Estado da Bahia;Testamento n 07/3048/02. Arq. Público do Estado da Bahia; Partilha Amigável n 01/114/171/17. Arq. Público do Estado da Bahia.

10 – Os evangélicos lucrava com a escravização de seus próprios filhos.

Com um misto de surpresa e indignação, o Rev. Walsh a descrever episódios que demonstravam a desumanidade da escravidão vivido pelos escravos no Brasil, nada deixou mais chocado o clérigo do que constatar que seus concidadãos ingleses participavam e usufruíam do “nefando comércio,” lucrando com a escravização de mulheres e de seus próprios filhos, como presenciou na estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Incrédulo diante do que viu e ouviu, o capelão não podia admitir que aquele homem inglês fosse o mesmo que partiu de sua terra natal, mas tratava-se de uma outra pessoa que, estando:

em um país estrangeiro e entra em contato com a escravidão a sua natureza parece modificar-se, e ele passa a vender não só a mãe de seus filhos como os filhos propriamente ditos, e com tanta indiferença como se tratasse de uma porca com a sua ninhada.” Fonte: WALSH, p. 164.

Imagem: do filme 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO que mostra o crente fervoroso, senhor de escravos,  afirmando que todo o sofrimento que os escravizados estavam passando era justificado pela Bíblia. O filme mostra ainda  o assédios  e estupros das escravizadas  pelo escravista e o ciúme doentio de sua esposa. A imagem mostra também a mulher negra escravizada da ilustração de kendy Joseph.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Referências e Informações:

Visões Protestantes Sobre a Escravidão – Elizete da Silva – Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2003 / pp. 1-26

A Igreja Presbiteriana do Brasil e a escravidão: BREVE ANÁLISE DOCUMENTAL – Hélio de Oliveira Silva – FIDES REFORMATA XV, Nº 2 (2010): 43-66

LÉONARD, Émile G. – Protestantismo Brasileiro – Editora Juerp

O Protestantismo e escravidão no Brasil – Hernani Francisco da Silva

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O Lutero Negro

A primeira Igreja Protestante Brasileira foi Negra

A primeira tentativa de estabelecer uma igreja protestante no Brasil foi em 1555, que pretendia dar refúgio aos protestantes calvinistas franceses, perseguidos pela inquisição européia. A segunda tentativa foi em 1630, quando os Holandeses tomaram Recife, Olinda e parte do Nordeste, registrando uma presença do protestantismo. Após a expulsão dos holandeses, em 1654, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por mais de 150 anos. Com a chegada da família real e um “jeitinho português” abriu-se uma brecha no monopólio católico, permitindo a presença de outra religião que não fosse a católica: os protestantes estrangeiros não podiam pregar nem abrir uma igreja com formato de templo, mais podia se reunir e cultuar, também podia comercializar a bíblia e até distribui-la. Foi através dessa brecha que um negro, alfaiate, letrado, chamado Agostinho Jose Pereira, conheceu a bíblia e descobriu outra forma de cristianismo. Agostinho teve contato com protestantes estrangeiros que passaram pelo Recife. Por revelação divina, em sonho, torna-se protestante.

Em 1841, Agostinho Jose Pereira surge pregando pelas ruas de Recife. Nasce a primeira igreja protestante brasileira, a Igreja do Divino Mestre, com seus mais de 300 seguidores, negros e negras, todos livres e libertos. Agostinho os ensina a ler e escrever, em uma época que os proprietários de terras eram analfabetos. No Brasil de 1841, fora das colônias estrangeiras, não havia protestantismo algum. O Negro Agostinho foi o primeiro pregador brasileiro e fundou a Igreja do Divino Mestre, primeira igreja protestante do Brasil. Só depois em 1858 o reverendo Roberto Kalley fundou a Igreja Fluminense, episodio considerado pela historia oficial data de fundação da primeira igreja protestante do Brasil, depois vieram outras Igrejas como a presbiteriana (1859), a batista (1871), a anglicana (1889).

Igreja do Divino Mestre, era mística e teologicamente negra. A Igreja fundada por Agostinho fala de libertação bíblica, esperança de uma vida livre da escravidão, o povo negro como a primeira criação humana de Deus, e um Cristo não branco. As idéias de Agostinho eram avançadas e perigosa para a época onde a igreja católica era a religião oficial do Estado, e não admitia nenhuma outra crença a não ser a igreja de Roma. Agostinho ao ler a Bíblia e pregar uma outra forma de cristianismo, que era proibido, criticava o catolicismo com suas estátuas e santos intermediários, ele tornou-se alvo de perseguição da Igreja Católica, mais não foi só a igreja que se sentiu ameaçada com as pregações de Agostinho, as autoridades e a Imprensa de Recife se alvoroçaram com as idéias do Pastor Negro que falava da libertação dos escravos, citava a revolução do Haiti e insurreição escrava nos modos dos negros muçulmanos na Bahia, acontecimentos que deixava os escravistas brasileiros em arrepios. Ele era mais que subversivo, era negro em plena escravidão negra, era protestante em um Estado católico, e pregava a libertação dos negros em uma sociedade que sufocava qualquer movimento que ousasse tal feito. O negro Agostinho era um perigo para o Brasil da época.

A historia de Agostinho deixa muita perguntas sem resposta, pouco sabemos da sua vida, de onde veio, pra onde foi. O que sabemos é que ele era um negro letrado, e que fundou a primeira igreja protestante brasileira, essa igreja era negra. Sabemos também que na sua trajetória política conheceu Sabino o líder da revolta baiana conhecida como a sabinada, também participou da confederação do Equador. Um fato marcante na vida de Agostinho foi a sua prisão em 1846, graças a esse acontecimento foi registrado um pouco da sua vida documentado na imprensa de Recife e em inquérito policial, que hoje são fontes de pesquisas resgatando o legado desse grande homem. A imprensa discutia até onde ele era um rebelde, um fanático religioso, foi acusado de vigarista e enganador da boa fé de negros e pobres. Agostinho tinha 47 anos de idade quando foi preso. O chefe de policia da província suspeitava que a “seita” liderada por Agostinho tinha o objetivo de preparar uma insurreição de escravos. A policia cercou a casa onde a Igreja do Divino Mestre se reunia, prenderam Agostinho e seus fiéis. Com a prisão de Agostinho a sua igreja se expandiu pela cidade, e a perseguição policial se estende aos seus membros. No bairro de Boa Vista, a policia entra na casa de um de seus lideres, o interroga e confisca a sua bíblia. A policia invade a casa de Agostinho e apreende textos intitulados como o ABC, textos esses que criaram um grande alvoroço por conter citações da revolução dos escravos do Haiti. A perseguições prosseguiram aos membros da Igreja do Divino Mestre que registrara 16 pessoas detidas. O seu advogado de defesa foi Borges da Fonseca, um liberal de Pernambuco.

Não sabemos o que aconteceu com o pastor negro Agostinho Jose Pereira depois da sua prisão. Um jornal da época noticiara que Agostinho fora solto pelo hábeas corpos do advogado Borges da Fonseca e que quando passava nas ruas acompanhado pelos seus discípulos a multidão gritava e assoviava. Ao passar por Pernambuco em 1852 o naturalista inglês Charles B. Mansfield referiu-se ao Divino Mestre como um “Lutero Negro”, que não sabia onde ele estava, mas tinha ouvido que tinha sido condenado a 3 anos de prisão ou fora deportado, não sabia o certo. O Lutero Negro, assim como se referiu o inglês Mansfield, deixou um legado para a igreja e sociedade brasileira. Para o Movimento Negro Evangélico deixou uma bela herança histórica: “a primeira Igreja Protestante do Brasil foi negra”.

CONTINUA:

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Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Citações e Referências:

Léonard, Émile-G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP e ASTE, 1981.

Marcus JM de Carvalho – Rumores e rebeliões: estratégias de resistência escrava no Recife, 1817-1848 – 49 – Tempo – Revista do Departamento de Historia da UFF – Nº 6 Vol. 3 – Dez. 1998.

Marcus JM de Carvalho “FÁCIL É SEREM SUJEITOS, DE QUEM JÁ FORAM
SENHORES”: O ABC DO DIVINO MESTRE Afro-Ásia, número 031 Universidade Federal da Bahia, Brasil pp. 327-334, 2004.

 

As igrejas evangélicas e os 136 anos da abolição da Escravatura

O Brasil completa, em 13 de maio de 2024, 136 anos da abolição da escravatura. Entretanto, as igrejas evangélicas brasileiras continuam com seu silêncio covarde e pecaminoso diante da realidade de opressão e racismo na qual se encontram os afrodescendentes. Os primeiros protestantes chegaram ao Brasil ainda no período da escravidão. Era um grupo composto principalmente por defensores da escravidão, omissos, e poucos abolicionistas. No geral, os protestantes não tiveram um papel relevante na abolição da escravatura. Também nunca defenderam oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil.

Conhecer esse passado da Igreja protestante no Brasil pode nos ajudar a entender a relação das igrejas evangélicas brasileira com o povo negro: sua cumplicidade na escravidão, sua omissão no passado e no presente diante do racismo, e seu silêncio no púlpito sobre a temática negra.

As igrejas evangélicas mais uma vez perde a sua essência profética, como aconteceu quando a sociedade brasileira discutia a abolição da escravatura, o seu trabalho missionário, apresentou contradições pois não teve como características a contestação social e a atuação nos problemas políticos nacionais, diante da escravidão. Hoje o seu posicionamento sobre a temática negra praticamente não existe. Vejamos cinco casos da questão racial no Brasil, de repercussão nacional, as igrejas evangélicas foram e são omissas:

No centenário da abolição da escravatura

Em 1988, ano em que se comemorava o centenário da abolição da escravidão no Brasil, as igrejas evangélicas perderam uma grande oportunidade rumo à remissão dos cem anos de omissão com relação ao povo negro. Os movimentos negros naquela ocasião buscavam uma oportunidade à reflexão, não era um momento festivo. A Igreja Católica lançava a Campanha da Fraternidade: “Ouvi o clamor deste povo”, com a temática negra. Enquanto as igrejas evangélicas repetiram o que fez cem anos antes na “abolição da escravatura”, mais uma vez omissa, ficando de fora, perdendo o seu testemunho cristão e o bonde da história.

Nas questões dos quilombolas

O quilombo constitui questão relevante desde os primeiros focos de resistência dos africanos ao escravismo colonial, e retorna à cena política durante a redemocratização do país. Trata-se, portanto, de uma questão importante na luta dos afrodescendentes. Nos últimos 20 anos, os descendentes de africanos organizados em associações quilombolas, em todo o território nacional, reivindicam o direito à permanência e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas e cultivadas para moradia e sustento, bem como o livre exercício de suas práticas, crenças e valores considerados em sua especificidade.

Com exceção da Igreja Anglicana, que na carta “Igreja Anglicana em defesa dos Quilombolas”, de abril de 2009, assinada pelo seu bispo primaz e dirigida ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Ação de Inconstitucionalidade apresentada pelo DEM (ex-PFL), as demais igrejas continuaram totalmente omissas em relação à questão dos quilombolas.

Na questão da intolerância religiosa

Outro tema preocupante é a intolerância religiosa, sobretudo em relação a seguidores de religiões de matriz africana. Um dos casos de maior repercussão foi o que vitimou a yalorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda. Sua morte gerou indignação de lideranças de diversas religiões, processo na Justiça e, como forma de reconhecimento, a instituição do dia 21 de janeiro como Dia Municipal de Luta contra a Intolerância Religiosa – que depois ganhou também um reconhecimento nacional.

Sabemos que a intolerância religiosa pode resultar em perseguição religiosa e ambas têm sido comuns na história. A maioria dos grupos religiosos já passou por tal situação numa época ou noutra. Os próprios evangélicos eram chamados de bodes, nova seita. Bíblias eram confiscadas e queimadas na praça das cidades. Muitos tiveram suas casas incendiadas criminosamente, seus bens extraviados, suas vidas vilipendiadas. Essas mesmas igrejas hoje, omissas e até mesmo intolerantes, não podem esquecer que as igrejas evangélicas já foram perseguidas pelo ímpeto da intolerância.

Na crença da maldição do povo negro e africano

Dizem que a maldição de Cam está sendo simplesmente cumprida na medida em que os negros vivem para servir a outras raças, particularmente aos brancos. George Samuel Antoine, cônsul do Haiti no Brasil, numa entrevista veiculada pelo SBT, apontou como possível causa do terremoto certa maldição que pesa sobre o povo africano. Ao fazer tão infeliz comentário, o cônsul não sabia que ainda estava sendo filmado. Na mesma direção o tele-evangelista estadunidense Pat Robertson explicou as “desgraças” haitianas como sendo consequência de “pactos” ocorridos há 200 anos entre os haitianos e o demônio. Também o pastor e deputado federal, Marco Feliciano, disse no Twitter que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado”. O parlamentar, que é pastor, continua afirmando: “Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome…”

Entretanto, a questão que fica é: de onde vem essa ideia de maldição dos negros? Essas ideias vieram dos missionários, sulistas racistas, que tinham a escravidão como instituída por Deus para justificá-la, baseando-se em argumentos teológicos de que o povo negro era da descendência de Cam, filho de Noé, amaldiçoado para serem escravos dos escravos. O mais triste de tudo isso é que nenhuma denominação protestante ou liderança evangélica se manifestou ,oficialmente, diante dessas declarações. Mais uma vez as igrejas foram omissas, reforçando uma doutrina diabólica aceita por muitos crentes dentro dos seus templos.

Na questão das cotas

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre cotas marca um momento histórico. A mais alta corte de Justiça do país admitiu não só que existem brasileiros tratados como cidadãos de segunda classe, mas que eles têm direito a um tratamento especial para vencer a desigualdade. As ações afirmativas ou sistema de cotas é certamente o assunto mais polêmico quando se trata do ingresso de negros no ensino superior no Brasil. O STF julgou a constitucionalidade das cotas aplicadas na Universidade de Brasília desde 2004: 20% das vagas para “negros e pardos”. O partido Democrata (DEM) tinha acusado a medida de ser anticonstitucional.

Outra vez as igrejas evangélicas ficaram de fora de mais uma grande questão do povo negro, omissas e silenciosas. Agindo como na parábola do bom samaritano narrada por Jesus nos evangelhos: passando de largo diante das questões dos negros e das negras.

As organizações ecumênicas Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e Koinonia têm realizado diversas ações referentes às questões dos quilombolas e à intolerância religiosa, mas elas não falam pelas igrejas evangélicas. São vozes proféticas, solidárias e solitárias que são criticadas por essas igrejas por suas ações na questão racial.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Foto: Image by © Bettmann/CORBIS

13 de maio, uma data que nos jogou ao léu

Por mais de três séculos, o negro escravizado impulsionou a economia e serviu de base à pirâmide social brasileira; durante esse período, reações individuais e coletivas – os levantes – representaram a outra face das relações entre senhores e escravos no Brasil. Humilhação ou revolta – a dominação teve limites preciosos durante praticamente todo o período colonial.

Só no final do século XVIII, quando as idéias dos liberais europeus passaram a ser difundidas entre nós, é que se começou efetivamente a considerar a possibilidade da extinção do cativeiro.Tornaram-se comuns as grandes manifestações de rua. Repetiam-se as passeatas e comícios onde a palavra de ordem era a frase de José do Patrocínio: “A propriedade do escravo é um roubo” Finalmente, em 1888, os antiescravistas conquistaram a maioria no Parlamento.

Refletindo a nova correlação de forças, a 7 de maio de 1888 o Congresso aprovava, por imensa maioria, um projeto de lei com o seguinte texto: “Artigo 1 ° . É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Artigo 2° . Revogam-se as disposições em contrário”.

Assinado a 13 de maio pela regente do trono, Princesa Isabel, o projeto transformou-se na Lei Áurea. Entretanto, ao contrário do que se esperava, a abolição não significou a emancipação efetiva da população escravizada.

Sem medidas institucionais que promovessem sua integração à sociedade, os negros foram entregues à própria sorte. Desprotegidos e discriminados, acabaram engrossando os contingentes marginalizados que se aglomeravam na periferia das grandes cidades.

Por  Luiz de Jesus

O Livro Sem Palavras como instrumento de manutenção do racismo

A educação nas igrejas inicia-se desde a idade de aproximadamente três anos e segue por toda vida. As classes de escolas bíblicas, assim denominados esses momentos de estudo, estão geralmente divididas da seguinte maneira: sala das crianças, sala dos adolescentes, sala dos jovens, e sala dos adultos.

O material didático que mais tem contribuído para reforçar o racismo nas escolas bíblicas e evangelização das crianças é o material produzido pela Aliança Pró-Evangelização das Crianças – APEC. Entre os materiais disponíveis, encontramos a base da evangelização de crianças, que permeia todo o curso e é depois desenvolvido nas igrejas, nas salas de Escola Bíblica e nos trabalhos evangelísticos: o “Livro Sem Palavras”.

Este livro tem páginas coloridas que é usado como recurso visual, para evangelizar as crianças; ele possui cinco páginas, cada página contém uma cor, que traz uma interpretação fundamentalista da Bíblia, na seguinte ordem: dourada, preta, vermelha, branca e verde. Cada criança que aprenderá esta “verdade” pela sua associação com a cor. Vejamos:

PÁGINA PRETA – A página preta representa o pecado em nossos corações, o pecado que nunca poderá entrar no Céu.

PÁGINA BRANCA – A página branca representa o coração limpo, que Jesus já purificou. Sabe quão branco ele faz o coração que O recebe?

Fica “claro” a associação da cor preta ao pecado, a algo que foi contaminado e que não possui acesso ao Céu e ao próprio Deus.

É por associação que as crianças aprendem desde cedo que tudo referente ao preto, negro, é diabólico, contém natureza pecaminosa. Continua evidente que o processo educativo no qual, principalmente, crianças estão envolvidas, é segregacionista e discriminador, induzindo ao preconceito desde o simples uso da cor preta como cor que simboliza o pecado e a sujeira.

A igreja peca por reforçar o racismo nas crianças com sua didática na educação infantil e evangelística. Esse reforço do racismo infantil em nossas igrejas vem através de símbolos que reforça esse racismo e a associação da cor preta e negra como cor do mal e de tudo que é ruim. E a cor branca como cor da pureza e do bem, e de tudo que é bom. O resultado dessa didática é o branqueamento de muitos negros e negras nas igrejas.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Três maneiras erradas de ser igreja diante do racismo infantil

O mito da democracia racial, no Brasil, foi oficialmente deslegitimado, porém permanece ainda muito vivo nas igrejas evangélicas brasileiras. Muitas igrejas acreditam na existência do preconceito racial na sociedade; entretanto, nega que ele esteja presente dentro da igreja. Pensamento que é fortalecido pela crença:

 “na igreja todos são iguais perante Deus”.

A crença nesse mito leva as igrejas a favorecer a produção e manutenção do pensamento racista no seu interior. Onde deveria ser uma comunidade de fé, amor e esperança está sendo o oposto, pois pessoas sofrem racismo, e as crianças são as principais vitimas dessa mazela. Vejamos três maneiras erradas de ser igreja diante do racismo infantil:

1 – Igrejas erram por não tratar a questão racial com as crianças

O racismo vai para baixo do tapete – A igreja tem como papel na sociedade promover cura para os indivíduos e, consequentemente, trazer benefícios para a sociedade, ou seja, salgar. No que se refere ao processo de socialização infantil ela estabelece relações com crianças de diferentes núcleos familiares. Esse contato diversificado poderia fazer da igreja um espaço de cura e vivência das tensões raciais. No entanto, tem acontecido exatamente o contrário: a negação das questões que envolvem o negro na igreja.

Essa negação vai se tornando perceptível quando nas publicações e cartazes nas igrejas, apresenta imagens caricatas de negros ou ausência dos negros em datas comemorativas, como Dia das Crianças, o Dia das Mães, em geral ilustradas por crianças brancas ou família branca, o que leva a criança negra a não se reconhecer na mesma. Existe ainda uma ausência de conteúdos que problematizem a questão do negro nos estudos bíblicos, privando as crianças negras de conhecerem a sua história na bíblia, que vai além da escravidão. Na igreja a dor da criança negra não é reconhecida, havendo uma aparente falta de acolhimento por ministérios e pastorais, que silenciam ou se omitem em face de uma situação de discriminação. Tal postura denuncia a banalização do preconceito e a conivência das igrejas com ele.

2 – Igrejas erram por reforçar o racismo na sua didática.

A cor preta como pecado – A igreja peca por reforçar o racismo nas crianças com sua didática na educação infantil e evangelística. Esse reforço do racismo infantil em nossas igrejas vem através de símbolos que reforça esse racismo e a associação da cor preta e negra como cor do mal e de tudo que é ruim. E a cor branca como cor da pureza e do bem, e de tudo que é bom. Exemplo como o Livro Sem Palavras  e matérias didáticos onde essas cores representam o mal e o bem.

Outra forma é nos estudos bíblicos reforçando que um coração cheio de pecado é um coração negro ou preto.

Quando purificado por Jesus se torna um coração branco e mais alvo que a neve. Nas atividades com as crianças essas igrejas também reforçam esse racismo quando usam canções como “o meu coração era preto”, “as nuvens negras”, entre outras.

Também reforça esse racismo quando usam historia como a do menino e o guarda-chuva, e trabalhos onde as crianças usam recortes para confeccionar corações pretos e corações brancos simbolizando um coração com pecados e um coração sem pecado. Nesse sentido, a igreja poderá ser um meio de manutenção do racismo e discriminação pelo uso de métodos simbólicos e indiretos na representação da cor preta como algo ruim. A desconstrução dessas didáticas pode ser de difícil acesso devido o mito que na igreja todos são iguais perante Deus, tornando-se mais fácil a interiorização dos ensinamentos que perpetuam nas escolas dominicais e bíblicas.

3 – Igrejas erram ao tratar o racismo de forma inadequada.

 Trata o racismo de forma errada – Também a igreja peca em tratar o racismo de forma errada. Existe por incrível que pareça uma tentativa de abordagem do racismo na escola dominical e no evangelismo de crianças. Existe um material da APEC chamado Bola de Neve – o menino preto. É o único material que tenho conhecimento que trata o racismo na escola bíblica infantil de forma explicita. Esse material é uma historinha com ilustrações que fala de um menino pretinho que sofreu discriminação por seus coleguinhas de classe por ser preto. Até ai muito interessante a historinha que abre espaço para uma discussão do racismo na escola dominical e bíblica. Mas a historia começa a perder o rumo: o menino é orientado pela sua mãe como lidar com aquela situação. A mãe do menino diz que para Deus não importa a cor das pessoas o que importa para Deus e a cor do coração:  “Há crianças de pele branca com coração negro, e há pessoas como eu, por exemplo, com pele escura, mas, meu coração está branco”.

A mensagem transmitida é que, para o negro ser um cristão, ele tem de ter um coração branco, ou seja, para ser um cristão verdadeiro ele precisa negar o sua cor, sua etnicidade. O resultado dessa didática é o branqueamento de muitos negros e negras nas igrejas. Se convertendo em negro de alma branca, havendo um silenciamento do preconceito por parte da criança e do cristão ao longo da vida.

E você tem algo que venha acrescentar, criando caminhos, para a superação do racismo nas escolas dominicais e bíblicas ajudando as nossas igrejas vencer o pecado do racismo? Colabore com o seu pensamento.

Por Hernani Francisco da Silva –  Do Afrokut

Cinco evidências que Jesus não era branco

Jesus era Negro?

A questão da cor de Jesus sempre foi um tema polêmico, evocando fortes paixões tanto a favor como contra a negritude e branquitude de Cristo. Tem uma brincadeira que os negros norte-americanos costumam dizer sobre três maneiras que prova que Jesus era Negro:

  • Ele chamou todos de  irmãos,
  • Gostava do Evangelho, e
  • Ele não poderia ter um julgamento justo.

Brincadeira  à parte, o fato é que existe fortes evidencias bíblicas que Jesus não era branco. Vejamos 5 delas:

 1 .   Jesus nasceu em Africa.

Os Evangelhos dizem de maneira explícita que Jesus nasceu em “Belém de Judá, no tempo do rei Herodes” (Mt 2,1 cfr. 2, 5.6.8.16), (Lc 2, 4.15), (Jo 7, 40-43). Nos tempos antigos, incluindo o tempo de Jesus, Belém de Judá era considerado parte de  África. Até a construção do Canal de Suez, Israel fazia parte da África. Esta visão haveria de perdurar até 1859, quando o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps pôs-se a construir o Canal de Suez. A partir daí, foi a África separada não somente geográfica, mas sobretudo histórica, cultural e antropologicamente do que hoje chamamos Oriente Médio. Aquela milenar extensão da África passa a figurar nos mapas como se fora Ásia.

 2 .  Jesus tinha presença negra na linhagem familiar

A genealogia de Jesus foi misturada com a linha de Cam desde os tempos passados em cativeiro no Egito e na Babilônia. Nos antepassados de Jesus através de Cam, lado feminino desta mistura, há cinco mulheres mencionadas na genealogia de Jesus Cristo ( Tamar, Raabe, Rute, Bateseba e Maria) (Mateus 1:1-16). As primeiras senhoras mencionadas eram de descendência de Cam. Assim, Jesus pode ser aclamado etnicamente pelos povos semitas e descendentes de Cam.

 3 .  Jesus era da tribo de Judá, uma das tribos Africanas de Israel.

Ancestrais masculinos de Jesus vêm da linha de Sem (miscigenados). No entanto, a genealogia de Jesus foi misturada com a linha de Cam desde os tempos passados em cativeiro no Egito e na Babilônia. O antepassado de Jesus através de Cam é narrado em Gênesis 38: então Tamar, a mulher Cananéia (Negra) fica grávida de Judá, e dá à luz aos gêmeos Zerá e Perez, formando a Tribo de Judá, antepassados do rei Davi e de José e Maria, os pais terreno de Jesus.

 4 .  Jesus se escondeu entre os Negros.

Não foi por acaso que Deus enviou a Maria e José para o Egito com o propósito de esconder o menino Jesus do rei Herodes (Mateus 2:13). Ele não poderia ter sido escondidos no norte da África se fosse um menino branco. Não por proteção militar já que nessa época o Egito era uma província romana sob o controle romano, mas porque o Egito ainda era um país habitado por pessoas negras. Assim, José, Maria e Jesus teriam sido apenas mais uma família negra entre os negros, que tinham fugido para o Egito com a finalidade de esconder Jesus de Herodes, que estava tentando matar o menino. Se Jesus fosse branco, loiro de olhos azuis, teria sido difícil para ele e sua família se esconder entre os egípcios negros sem ser notado. O povo hebreus era muito parecido com povo egípcios, caso contrario  teria sido difícil reconhecer uma família hebraica entre os egípcios Negros. Foi no Egito que o povo de  Israel  teve seu auge da negritude, Setenta israelitas entraram no Egito e lá ficaram  durante 430 anos, trinta anos os israelitas foram hóspedes, e 400 anos  cativos no Egito, eles e seus descendentes se casaram com não-israelitas, chegando a mais de 600.000 homens, mulheres e crianças. Saíram do Egito uma multidão misturada. Etnicamente, os seus antepassados eram uma combinação de afro-asiáticos.

 5 .  Jesus era semelhante pedra de jaspe e de sardônio.

Em apocalipse a Bíblia continua mostrando a negritude de Jesus. Ele é chamado o Cordeiro de Deus segundo as Escritura Sagrada, com seu cabelo lanoso, sendo comparado a lã de cordeiro, e os pés com a cor de bronze queimado (Apocalipse 1:15), com uma aparência semelhante pedra de jaspe e de sardônio (Apocalipse 4:3), que são geralmente pedras amarronzadas. As cores de jaspe e sardônio não são únicas e absolutas, são diversas cores.

Sei que para a experiência de fé de muitos cristãos a cor de Jesus não é relevante, também sei que muitos “cristãos” dizem que se Jesus não fosse branco eles não seriam cristãos. O importante da revelação dessas evidencias é que elas não são percebidas pelos leitores da Bíblia. A fim de que a nossa visão do Jesus histórico se torne mais negra, é mister que comecemos por derrubar alguns mitos tidos como dogmas. Acredito que existam outras evidencias que poderia citar neste texto, mais ficamos por enquanto com essas cincos. O texto continua aberto para receber outras evidencias e questionamentos dessas. Sinta-se à vontade para colaborar e enriquecer esse artigo.

Por Hernani Francisco da Silva – do Afrokut