James Cone: o pai da Teologia Negra

“O racismo é a negação do evangelho”. James Cone

Rev. James H. Cone, conhecido como o “pai da teologia da libertação negra“, morreu no sábado (28 de abril de 2018). James Hal Cone nasceu em 5 de agosto de 1938, em Fordyce, Arkansas. Formou-se no Seminário Teológico Garrett, em Evanston, Illinois, como bacharel em divindade; fez mestrado e um Ph.D. na Northwestern University, em Evanston.

A lente hermenêutica da Teologia Negra de James Cone começa com a experiência dos afro-americanos e as questões teológicas que ele traz de sua própria vida. Ele incorpora o poderoso papel da Igreja Negra em sua vida, bem como o racismo experimentado pelos afro-americanos. Para Cone, os teólogos que ele estudou na pós-graduação não forneceram respostas significativas para suas perguntas. Essa disparidade tornou-se mais aparente quando ele estava ensinando teologia no Philander Smith College, em Little Rock, Arkansas. Cone escreve:

“O que Karl Barth poderia significar para os estudantes negros que vieram dos campos de algodão de Arkansas, Louisiana e Mississippi?

Cone achava que os cristãos negros na América do Norte não deveriam seguir a “igreja branca“, alegando que era uma parte interessada do sistema que oprimia os negros. Assim, sua teologia foi fortemente influenciada por Malcolm X e pelo movimento Black Power. Também Martin Luther King Jr. foi uma influência importante; Cone descreve King como um teólogo da libertação antes da expressão existir.

“O cristianismo era visto como a religião do homem branco”, disse Cone.

“Eu queria dizer: Não! O Evangelho Cristão não é a religião do homem branco. É uma religião de libertação, uma religião que diz que Deus criou todas as pessoas para serem livres. Mas percebi que, para os negros serem livres, eles devem primeiro amar sua negritude”.

Cone foi autor de livros como “Black Theology and Black Power” (Teologia Negra e Poder Negro) e de “God of the oppressed” (Deus dos oprimidos). Este ano, o Dr. Cone ganhou o Prêmio Grawemeyer em Religião por seu livro mais recente, “he Cross and the Lynching Tree” ( A Cruz e a Árvore do linchamento), que traça paralelos entre a crucificação de Jesus e o linchamento dos negros nos Estados Unidos.

Por Hernani Francisco da Silva – Afrokut

7 fatos que mostram o outro legado de Billy Graham

Dias após à morte de Billy Graham, não faltam elogios e exaltação das partes mais brilhantes e positivas do legado do pregador. Evangélicos aos montes, nas redes sociais, publicando e compartilhando palavras excessivamente generosas sobre Graham e seu trabalho no mundo. Muitos chegam a dizer que Graham evitou o fundamentalismo e pregou uma mensagem evangélica acolhedora. Manifestações bastante difícil para aqueles que foram alvo do preconceito de Graham. Devemos ter um olhar mais completo sobre fatos que mostram o outro  legado de Billy Graham:

1 – Billy Graham apoiou uma leitura fundamentalista da Bíblia no campo da justiça social.

“Durante seis décadas, Graham ensinou aos americanos que o governo não poderia ser um instrumento de Deus para promover justiça, nem em questões raciais e nem em outras questões importantes. Embora ele acreditasse na igualdade racial, sua teologia o cegou ao que agora sabemos é o melhor meio para alcançar essa igualdade”. The Guardian

2 – Billy Graham defendeu a Guerra Fria como uma batalha espiritual, pregando que a maior e mais eficaz arma contra o comunismo era ser um cristão nascido de novo.

Graham passou a ser “o principal motor do renascimento religioso da guerra fria da América”. Pregando a milhares, Graham apresentou o Evangelho como o único meio de salvação não só do inferno eterno, mas também das “forças do mal do comunismo”:

“A batalha é entre o comunismo e o cristianismo! … Quando o comunismo conquista uma nação, torna todo homem escravo! Quando o cristianismo conquista … faz todo homem um rei!” (Belton, 2010)

3 – Billy Graham defendeu a integridade de Nixon profundamente no escândalo Watergate.

“Quando a Casa Branca mostrou gravações que finalmente provaram o envolvimento do presidente na invasão, a primeira reação de Graham foi expressar o choque com o uso de palavrões pelo presidente.” Slate

4 – Billy Graham tinha pontos de vista homofóbicos. Apesar de não ter sido tão homofóbico quanto seu filho, Franklin Graham.

Em 1974, uma jovem escreveu para Graham dizendo que ela estava atraída por outra mulher. Ele escreveu:

“Seu carinho por outro de seu próprio sexo é mal direcionado e será julgado pelos padrões sagrados de Deus”. Graham também disse à mulher que ela poderia ser “curada” de sua atração pelo mesmo sexo através da crença em Cristo. HuffPost

5 – Billy Graham escolheu apresentar o racismo como um pecado do coração humano individual em vez de um mal cívico a ser corrigido pela autoridade política coletiva.

De acordo com Graham, o racismo, e toda injustiça social não é uma questão social / estrutural; é apenas um sintoma do pecado:

“Portanto, tudo o que precisamos fazer para salvar o país é converter os indivíduos ao cristianismo. Para Graham, simples assim: “Tudo o que você precisa é de Jesus”. Belton 2010

6 – Billy Graham convidou Martin Luther King Jr. para fazer uma oração pública em sua cruzada de Nova York em 1957.

Quando King foi preso em Birmingham, Alabama, em 1963, Graham disse ao New York Times que King deveria “puxar os freios um pouco”. Slate

7 – Billy Graham realizou reuniões segregadas no sul no início dos anos 1950.

Para justificar as reuniões segregadas Graham argumentou que se tratava de costume local. Slate

Historicamente Billy Graham, sobre a questão da justiça racial, jogou em ambos os lados promovendo a prática em teoria, mas nunca assumindo uma posição direta e consistente. Graham teve uma abordagem instintivamente moderada que continua a definir o espírito do evangelicalismo branco dominante.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Referencias:

https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/feb/21/billy-graham-wrong-side-history

Belton, David. 2010. “A Alma de uma Nação”. Deus na América.  ( http://www.pbs.org/godinamerica/transcripts/hour-five.html ).

https://slate.com/news-and-politics/2018/02/billy-grahams-impact-on-the-culture-not-to-mention-evangelicalism-is-nearly-incalculable.html

Sojourner Truth – Pregadora, abolicionista e feminista

Sojourner Truth

Pregadora, abolicionista e feminista (1797-1883)

“O que nós damos aos pobres, nós emprestamos a Deus”

Autor: Robert Ellsberg

Tradução: Flávio José Rocha da Silva[2]

        Sojourner Truth nasceu como escravizada em Hurley, Nova York, por volta do ano 1797 (seu proprietário não registrou a data exata do seu nascimento). Seus pais a chamaram de Isabella, um nome que ela abandonou aos quarenta e seis anos quando sentiu o chamado para ser uma profetiza e pregadora.

        O seu primeiro idioma foi o holandês, o mesmo falado pelo seu proprietário. Este fato marcaria o seu inglês com um forte sotaque, da mesma forma como as suas costas foram marcadas pelas surras que recebeu no cativeiro quando ainda era uma criança. Quando jovem, ela foi comprada e vendida várias vezes. Alguns dos seus proprietários eram relativamente bondosos, enquanto outros eram severos e cruéis. Ela foi a nona criança dos seus pais, mas nunca chegou a conhecer os seus irmãos ou as suas irmãs porque todos foram vendidos para donos diferentes.

        Apesar dos sofrimentos de Isabella, a sua mãe a educou com a crença em “um Deus que escuta e vê todas as coisas que você pensa e faz.” Ela também lhe dizia, “Quando você apanhar, for tratada com crueldade ou estiver em apuros, você deve pedir ajuda a Deus. Ele sempre escutará você e lhe ajudará.” Assim, por toda a sua vida Isabella manteve um diálogo contínuo com Deus. Anos mais tarde ela começava as suas pregações coma a frase, “Crianças, eu falo com Deus e Deus fala comigo.” Ela contava os seus sofrimentos para Deus e Deus lhe disse que ela seria livre.

        Ainda jovem, Isabella foi dada em casamento para um escravo mais velho com quem ela teve cinco filhos. Numa manhã de 1926, ela fugiu da fazenda do seu dono e escapou da escravidão. Levou com ela apenas a filha bebê e deixou as outras quatro crianças para trás.

        Isabella trabalhou como empregada doméstica em Nova York por vários anos. Em 1843 ela se convenceu de que Deus a estava chamando para uma grande missão. Então ela saiu de Nova York caminhando com poucas possessões dentro de uma fronha de travesseiro e sem destino certo, mas determinada a ser uma pregadora. Com sua nova condição de liberdade, ela sentiu que era chegada a hora de mudar o seu nome de escravizada. Depois de apelar por inspiração a Deus, ela escolheu o nome de Sojourner Truth, o que refletiu o seu chamado para viajar “para cima e para baixo por aquela terra, mostrando às pessoas os seus pecados e sendo um sinal para elas.”

        Com o novo nome, ela começou um ministério da palavra itinerante, pregando as escrituras que ela tinha aprendido praticamente de coração e pronunciando o julgamento de Deus contra os males da escravidão. A sua autobiografia, A narrativa de Sojourner Truth, a qual ela ditou e publicou em 1847, tornou-se uma poderosa arma para a causa abolicionista.  Porém, tão eloquente e efetiva como uma pregadora como ela era no movimento anti escravidão, Truth dividiu as suas energias com o crescente movimento pelos direitos das mulheres. Muitos abolicionistas eram desconfiados com o movimento feminista e ficaram preocupados que a luta contra a escravidão fosse comprometida se estivesse ligada a uma causa não muito popular como o feminismo. Sojouner insistia que não eram assuntos separados. “Se os homens de cor tem os seus direitos e as mulheres de cor não, os homens de cor serão os proprietários das mulheres e isso será tão ruim quanto a situação anterior,” ela dizia.

        Em um tempo em que aquele país estava cada vez mais dividido sobre o assunto da escravidão, as pregações de Truth eram repelidas com violência. Porém, ela nunca deixou que o medo ou os conflitos a silenciassem. Muitas vezes ela conseguiu  acalmar um público hostil com o seu senso de humor. Quando alguém da multidão certa vez a importunou gritando, “Sua velha, eu não me incomodo com a sua pregação mais do que eu me incomodaria com a mordida de uma pulga.” Então ela respondeu, “Com a vontade de Deus, eu continuarei incomodando você.”

        Sojouner nunca duvidou que a escravidão um dia chegaria a fim. Quando o famoso abolicionista Frederick Douglas um dia findou a sua fala com uma frase desencorajadora, Truth interveio de forma direta e segura dizendo, “Frederick, Deus está morto?” Quando o conflito sobre a escravidão levou os Estados Unidos para uma sangrenta guerra civil, ela colocou as suas energias para apoiar os esforços da guerra, especialmente em visitas às tropas formadas por negros que estavam no Union Army. Em 1864 ela viajou até a capital Washington para encontrar com Abraham Lincoln e encorajá-lo na luta contra a escravidão. Tocada pelo sofrimento de muitos ex-escravos que se amontoavam em campos de refugiados sujos em Washington, ela decidiu ficar na capital e trabalhar para melhorar aquelas condições. Sojouner estava lá quando a guerra acabou em 12 dezembro de 1865 e o Congresso ratificou a Décima Terceira Emenda Constitucional abolindo a escravidão nos Estados Unidos.

        Truth continuou a sua luta por liberdade e igualdade até o dia que morreu em 26 de novembro de 1883, com a idade de 86 anos. Ela era aclamada como uma das mais influentes mulheres do seu tempo, mesmo sendo uma mulher negra analfabeta, uma ativista política sem uma sede ou escritório e uma pregadora sem as credenciais para a sua visão holística sobre o Deus da justiça.

        Em uma das suas mais famosas pregações em uma reunião sobre os direitos das mulheres e respondendo aos homens que tinham falado de forma condescendente sobre as fraquezas das mulheres e a consequente subordinação destas aos homens, ela disse,

Eu tenho arado, plantado e colhido e nenhum homem podia ganhar de mim. E não sou eu uma mulher?  Eu dei à luz a cinco filhos e vi quase todos eles serem vendidos como escravos e quando eu chorei com a dor de uma mãe ninguém me escutou a não ser Jesus. E não sou eu uma mulher? Então aquele pequeno homem de preto ali diz que as mulheres não podem ter tantos direitos quanto os homens porque Cristo não era uma mulher. De onde veio o seu Cristo? De onde veio o seu Cristo? Veio de Deus e de uma mulher! Os homens não tinham nada a ver com ele.

Poucos dias antes de morrer, Truth disse para uma amiga, “Eu não vou morrer, querida. Eu vou para casa como uma estrela cadente.” A sua estrela ainda brilha.

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[1]ELLSBERG, Robert. Sojourner Truth. In All saints: daily reflections on saints, prophets, and witnesses for our time. Cross Road: New York. 2000. pp. 514-516.

[2] Flávio José Rocha da Silva é Missionário Leigo de Maryknoll  e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP.

Afrokut

508 anos do Protestantismo e escravidão no Brasil

Os principais agentes da imigração norte-americana para o Brasil foram pastores protestantes do Sul dos EUA. O aceno de encontrar terras em abundância com mão-de-obra escrava certamente foi decisivo para que famílias inteiras, acostumadas a um estilo de vida escravista, se deslocassem do sul dos EUA para o sudeste brasileiro. A exemplo do Rev. B. Dunn, que via no Brasil uma nova Canaã, a terra prometida onde os confederados derrotados na Guerra de Secessão poderiam reconstruir suas vidas, seus lares e suas propriedades incluindo a mão-de-obra escrava. Pelo menos cerca de 2000 a 3000 sulistas se deslocaram para São Paulo.

O fundamentalismo das denominações protestantes dos EUA se transformou em terreno fértil para justificativas da escravidão, que buscavam embasamento doutrinário para apaziguar a consciência dos escravocratas do sul. Citando a história de Noé, identificavam a maldição de Cam, por ter surpreendido o patriarca nu e embriagado, como a maldição dos negros.

De uma maneira geral os protestantes no Brasil só tomaram uma posição contra a escravidão quando à abolição já era unanimidade na sociedade brasileira. Mesmo os poucos protestantes que se posicionaram favoráveis à abolição o faziam como uma questão moral e religiosa. Eram incapazes de atitudes mais concretas, que de fato propiciassem soluções ao problema do escravismo, que até os nossos dias tem gerado grandes conseqüências, onde grande parte da população negra vive a margem da sociedade. Os negros se viram largados no interior de uma sociedade fundada em bases racistas. Libertos foram preteridos do mercado formal de trabalho em nome de um projeto elitista de branqueamento do país. Tiveram que disputar com o imigrante europeu até mesmo as mais modestas oportunidades de trabalho livre, como a de engraxate, jornaleiro ou vendedor de frutas e verduras, transportadores de peixe e carregadores de sacas de café, etc. As mulheres garantiram a sobrevivência da família trabalhando, tanto ontem como hoje, como domésticas, faxineiras, babás, doceiras, cozinheiras, lavadeiras e outras atividades similares. E a igreja ainda no seu silêncio.

Mas para compreendermos melhor a relação do protestantismo brasileiro com a escravidão negra devemos fazer algumas considerações históricas sobre quem são essas igrejas e qual era a suas posições perante a escravidão.

Luteranos:

As primeiras comunidades luteranas de imigrantes alemães se estabelecem no Brasil a partir de 1824. Das correntes luteranas, a maior e mais antiga no país é a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil. Posteriormente surgem outras correntes luteranas, como a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, vinda dos Estados Unidos (EUA) no início do século XX.

Dos luteranos sabemos que os primeiros escravos negros da Colônia Alemã Protestante de Três Forquilhas entraram por volta de 1846, por iniciativa do pastor Carlos Leopoldo Voges. Outros colonos protestantes copiaram seu exemplo (Mittmann, Hoffmann, König, Grassmann, Kellermann, Jacoby, Schmitt e outros).

Metodistas:

Primeiro grupo de missionários protestantes a chegar ao Brasil, os metodistas tentam fixar-se no Rio de Janeiro em 1835. A missão fracassa, mas é retomada por Junnius Newman em 1867, que começa a pregar no oeste do estado de São Paulo. A primeira igreja metodista brasileira é fundada em 1876, por John James Ranson, no Rio. Entre outros ramos, destacam-se a Igreja Metodista Livre, introduzida com a imigração japonesa, e a Igreja Metodista Wesleyana, de influência pentecostal, estabelecida no Brasil em 1967.

Os metodistas, defensores dos direitos humanos e da abolição do escravismo na Inglaterra e nos EUA, no Brasil acomodaram-se ao ambiente escravista e quase nada fizeram com repercussão pública, em favor dos escravos. Conforme um estudo sobre o metodismo brasileiro durante o período que antecedeu, ou mesmo depois da “libertação dos escravos,” a Igreja Metodista jamais chegou a defender oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil.

Presbiterianos:

A Igreja Presbiteriana do Brasil é fundada em 1863, no Rio de Janeiro, pelo missionário norte-americano Ashbel Simonton. Em 1903 surge a Igreja Presbiteriana Independente. Há ainda outros grupos presbiterianos, como a Igreja Presbiteriana Conservadora (1940) e a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (1966).

Os primeiros Presbiterianos, também sulistas, conservaram-se por muito tempo fiéis à lembrança de sua causa nacional, um destes missionários presbiteriano sulista se havia conservado tão firme em suas convicções que, quando em 1886 o presbiteriano Eduardo Carlos Pereira publicou uma brochura em favor da abolição da escravatura, ele escreveu um verdadeiro tratado anti-abolicionista.

O pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira em 1886 publicou um folheto de 46 páginas denominado “A Religião Cristã em sua Relação com a Escravidão”. Nas páginas finais do folheto ele pede aos crentes para libertarem os seus escravos. Hoje, mais de um século da publicação do folheto profético do pastor Pereira, as igrejas continuam no seu silêncio.

Batistas:

Os batistas chegam ao país após a Guerra Civil Americana e se estabelecem no interior de São Paulo. Um dos grupos instala-se em Santa Bárbara d’Oeste e funda, em 1871, a Igreja Batista de Santa Bárbara, de língua inglesa. Os primeiros missionários desembarcam no Brasil em 1881 e criam no ano seguinte, em Salvador, a primeira igreja batista brasileira. Em 1907 lançam a Convenção Batista Brasileira. Em meados do século, surgem os batistas nacionais, os batistas bíblicos e os batistas regulares.

Os primeiros colonos batistas eram favoráveis e foram proprietários de escravos. Em Santa Bárbara D’Oeste, primeiro núcleo batista, o trabalho escravo existiu como mão-de-obra usada na agricultura e em tarefas domésticas. Os colonos batistas eram senhores de escravos, a exemplo da Senhora Ellis, dona de um sítio e que providenciara hospedagem nos primeiros meses ao casal de missionários W. Bagby, fundador da Primeira Igreja Batista do Brasil.

Anglicanos:

A Igreja Anglicana, de origem inglesa, chega ao Rio de Janeiro em 1818. A vinda de missionários norte-americanos de denominação episcopal (nome da igreja nos Estados Unidos) impulsiona a fundação, em 1890, em Porto Alegre (RS), da Igreja Anglicana Episcopal do Brasil, que une as igrejas de origem inglesa e norte-americana. Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande tornam-se os centros do anglicanismo no país. Em São Paulo ganha espaço entre os imigrantes japoneses. Com pequena representação no Brasil, conta hoje com cerca de 10 mil fiéis e sete dioceses.

A Igreja Anglicana no Brasil foi conivente com o comércio de escravos em que a Inglaterra esteve envolvida desde o século XVI. Houve uma espécie de anuência ou acomodação diante do fato, isto é, por parte de comerciantes anglicanos, sua participação como membros, ao comercializar e possuir escravos. No seu relato sobre o Brasil, o Rev. Robert Walsh, capelão anglicano que acompanhou a missão inglesa do Lord Strangford, entre 1828 e 1829, descreve e opina a respeito da escravidão no Brasil, nada deixou mais chocado o clérigo do que constatar que seus concidadãos ingleses participavam e usufruíam do “nefando comércio”, lucrando com a escravização de mulheres e de seus próprios filhos, como presenciou na estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro, relata: “ele passa a vender não só a mãe de seus filhos como os filhos propriamente ditos, e com tanta indiferença como se tratasse de uma porca com a sua ninhada”.

Os anglicanos da Christ Church, situada no Rio de Janeiro, não só eram donos de escravos, como fizeram batizar nos ritos da Igreja Anglicana os pequenos escravos nascidos em seu poder. Seguindo uma prática dos senhores de escravos brasileiros que batizavam suas peças aos montes, dando-lhes nomes cristãos, os anglicanos também buscaram cristianizar seus escravos. No livro de registros de batismo da Christ Church em 24 de janeiro de 1820, está assentado o batismo de “Thereza, filha de Louisa -escrava negra, nativa de Manjoula, África- propriedade de James Thonton”, um comerciante inglês. Em 11 de maio de 1820 foram batizados 11 escravos do fazendeiro Robert Parkere. Há registros de batismos de escravos domésticos de John Alexander em 1830 e do Coronel Skerit em 1833.

Em 1835, durante a revolta dos escravos malês, ocorrida em Salvador, dos 160 acusados, 45 eram escravos de ingleses anglicanos residentes no bairro da Vitória. Em testamentos e inventários de anglicanos que morreram na Bahia na segunda metade do século XIX, constatou-se também a presença de proprietários de escravos, tais como os senhores Eduardo Jones que tinha 6 escravos domésticos; o Sr. George Mumford que possuía 11 escravos que trabalhavam na sua roça no Acupe e Sr. George Blandy, que possuía 4 escravos.

Congregacionais:

A origem dos congregacionais no Brasil está no trabalho missionário realizado pelo casal Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, que chegaram à cidade do Rio de Janeiro. O Dr. Robert Kalley, escocês veio para o Brasil como missionário, criando no dia 10 de maio de 1855 a primeira Igreja Evangélica de estilo congregacionalista e de fala portuguesa no Brasil: A Igreja Fluminense. Existe hoje no Brasil dois grupos de igrejas congregacionais: a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil e a Aliança das Igrejas Congregacionais do Brasil.

O congregacional Robert Kalley expulsou um membro da sua igreja por não ter libertado os seus escravos.

Desde sua chegada ao Brasil, em 10 de maio de 1855, Kalley não fazia distinção racial na proclamação do evangelho. O início da missão kalleyana demonstra fato pouco divulgado sobre sua estratégia da missão: uma semana após Sarah iniciar o projeto de escola dominical junto a crianças de Petrópolis, em 26 de agosto de 1855, Kalley começou a lecionar em classe bíblica de negros. A proposta de missão do casal era no mínimo atípica – evangelizar crianças e negros – atingir os que eram negligenciados pela igreja oficial e pela igreja de imigração.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

500 anos da Reforma Protestante e outros 500 do primeiro carregamento de negros africanos na América.

Em 1517, Carlos V, Rei da Espanha, a pedido de Las Casas um padre dominicano,  autorizou a exportação de quinze mil escravos para São Domingos. Assim em 1517, o padre e o Rei iniciaram, no mundo, o comércio americano de negros e a escravidão. Também em 1517 o Padre Martinho Lutero publica as suas 95 teses, que deram início à Reforma Protestante. Infelizmente as 95 teses de Lutero só  foram Contra o Comércio das indulgências e não contra o comércio de seres humanos, que era também um grande mal impregnado na Igreja Católica.

escravidão negra começou com o tráfico africano no século XV, na mesma época do inicio da Reforma Protestante, por iniciativa dos portugueses, com a exploração da costa da África e a colonização das Américas. Os demais impérios coloniais rapidamente aderiram à prática da compra e venda de seres humanos, no célebre “comércio triangular” entre a África, a América, e a Europa.

No entanto, o tipo de escravidão que se deu nas Américas, logo após seu descobrimento por Cristóvão Colombo, em 1492, era praticamente inédita, baseada no subjugamento de uma raça, em razão da cor da pele.

O “despovoamento” das Américas e, conseqüentemente, a escassez de escravos, fez surgir o primeiro carregamento de negros africanos para suprir a falta de escravos nativos, que viria a ser conhecido como o comércio transatlântico de escravos, foi iniciado a pedido do bispo Las Casas e autorizado por Carlos Vem 1517. Las Casas teria depois rejeitado todas as formas de escravidão e tornou-se um grande protetor dos direitos indígenas. Nenhuma condenação papal ou protestante, sobre o tráfico de escravos transatlântico foi feito na época.

Os missionários católicos, como os jesuítas, que também possuíam escravos, trabalharam para aliviar o sofrimento dos escravos americanos nativos do Novo Mundo. Debate sobre a moralidade da escravidão continuou por todo este período.

Apesar de uma forte condenação da escravidão pelo Papa Gregório XVI, em sua bula emitida em 1839, condenando e proibindo a escravidão de negros. Alguns bispos norte-americanos continuaram a apoiar os interesses escravistas até a abolição da escravatura.

A questão do cristianismo e escravidão tem vivido um intenso conflito. No protestantismo enquanto os abolicionistas cristãos eram uma força principal na abolição da escravatura. Escravistas cristãos usavam passagens da Bíblia para justificá-la e manter o sistema escravocrata. A Bíblia era utilizada por ambos os defensores pró-escravidão e abolicionistas para apoiar as respectivas posições.

A cristandade na Idade Média viu a escravidão tradicional desaparecer na Europa e sendo substituídos pelo feudalismo. Mas este consenso foi quebrado nos estados escravistas dos Estados Unidos, onde as justificativas mudaram de religião (os escravos são pagãos) a raça (os africanos são os descendentes de Cam ), em 1667, a assembléia da Virgínia aprovou uma lei que declarava que o batismo não concedia a liberdade aos escravos.

Depois que os Estados Unidos haviam vencido sua batalha pela independência, os europeus continuaram a chegar de vários países, cada grupo trazendo sua própria inclinação teológica e patrimônio cultural. Enquanto os europeus estavam imigrando para o novo país, os africanos estavam sendo sequestrados de suas aldeias, transportados em condições terríveis para as Américas, vendidos como mercadorias e usados como escravos no plantio e propriedades.

Durante o mesmo período, os povos nativos da América do Norte encontraram-se forçados a deixar suas terras tribais. A maioria das nações indígenas foi dizimada. Milhões de pessoas morreram de doenças e guerras. Os sobreviventes foram confinados em “reservas” sobre as piores terras.

Os cristãos protestantes usaram a Bíblia para defender e justificar estas realidades. A escravidão foi racionalizada, porque os africanos não eram cristãos, portanto, rotulados como “pagãos” e considerado sub-humano. A Terra Prometida do livro de Josué com o seu modelo de conquista militar foi usado para justificar as guerras contra os povos indígenas, os “cananeus” do Novo Mundo. Os Protestantes que vieram para o Novo Mundo se viam como eleitos de Deus, chamados a estabelecer o Novo Israel. Uma interpretação bíblica que estimulou uma atitude de superioridade moral e econômica dos cristãos brancos sobre todas as outras culturas.

Para justificar a escravidão negra os clérigos do Sul dos Estados Unidos baseavam seus argumentos nas Escrituras. Eles apontaram que a escravidão era instituída por Deus e fundamentada na Bíblia:

“E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos”. (Gn 9:25).

“E quanto aos escravos ou às escravas que chegares a possuir, das nações que estiverem ao redor de vós, delas é que os comprareis.
Também os comprareis dentre os filhos dos estrangeiros que peregrinarem entre vós, tanto dentre esses como dentre as suas famílias que estiverem convosco, que tiverem eles gerado na vossa terra; e vos serão por possessão.E deixá-los-eis por herança aos vossos filhos depois de vós, para os herdarem como possessão; desses tomareis os vossos escravos para sempre; mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não dominareis com rigor, uns sobre os outros. (Levítico 25:44-46).

Assim, eles argumentaram que a Bíblia confirmava a compra, venda e posse de escravos, desde que eles não fossem cristãos e de uma raça diferente. Em vão o argumento dos cristãos do Norte: afirmando que a passagem bíblica só se aplicava ao povo judeu em sua condição particular. Os sulistas responderam “que Jesus não condenou a escravidão, nem nunca falou uma palavra contra ela. Paulo chegou a enviar um escravo para o seu mestre. Se a escravidão era um mal ou pecado, não teria Jesus ou Paulo que condená-la?”

Outros cristãos alegaram que a base de toda a vida cristã era amar a Deus com todo seu coração, mente e alma, e amar o próximo como a ti mesmo. Como alguém poderia amar o próximo como a si mesmo e mantê-lo como escravo?

Isso não impediu os sulistas argumentarem que o amor total ao próximo como a si mesmo não foi possível nesta vida. Por causa do pecado havia escravidão, que era apenas uma das formas necessárias de desigualdades. Que a escravidão não era uma injustiça, mas benéfica para os negros, a fim de “civilizá-los” e “cristianizá-los”.

Além disso, os cristãos eram instruídos a batizar os negros, a fim de torná-los cristãos. Era dever dos senhores que seus escravos se tornassem e permanecesse cristão. “O negro foi criado para servir nas fileiras da escravidão. Esse tipo de vida foi aprovado pela Bíblia”, argumentavam os eclesiásticos do sul.

Então os pastores e educadores do sul acreditavam na inferioridade do negro: “Ele não tem a capacidade ou o talento possível do homem branco. Ele não era capaz de pensar por meio de qualquer problema complexo, ou de serem treinados para executar tarefas difíceis. Não foi por acaso que o Negro estava nessa condição – ele era assim por natureza, pela criação. Ele era uma criatura inferior feito para servir seus superiores”. Qualquer tentativa de desacreditar esses pensamento estava fora da revelação bíblica e da ciência.

Pena que Martinho Lutero não incluiu nas suas 95 teses o pecado da escravidão. Talvez, se tivesse colocado, os protestantes no mundo não teria a mancha da escravidão negra nos seus 500 anos de história.

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

507 anos do Protestantismo e a escravidão negra nos Estados Unidos

Em 31 de outubro de 2017, a reforma protestante completou 500 anos, foi uma data oportuna para a reflexão histórica do protestantismo e a escravidão negra no mundo. Neste artigo vamos pincelar alguns fatos da relação do protestantismo com a escravidão negra nas igrejas protestantes nos Estados Unidos. Primeiramente é importante frisar que as igrejas  não saíram ilesas pela controvérsia da escravidão. Quase todas as Igrejas protestantes nos Estados Unidos sofreram consequências como a divisão e o cisma. As grandes denominações chegaram até a se racharem, resultando em Igrejas “do Norte” e “do Sul”.

Vejamos alguns fatos dessa  divisão nas igrejas  norte-americanas pelo pecado da escravidão.

Os Metodistas e a escravidão:

O movimento metodista na América era conhecido como a Igreja Metodista Episcopal. John Wesley, precursor do movimento Metodista, condenava a escravidão como uma “vilania execrável”. Ele não admitia, sob hipótese alguma, que um ser humano fosse dono de outro; daí escreveu contra a escravidão e encorajava Wilberforce na sua luta no parlamento inglês contra o mal. Mas nas colônias americanas, quem trabalhava nas fazendas de arroz eram os negros e, apesar da Declaração da Independência (1776) afirmando como uma “verdade auto-evidente” que todos foram dotados pelo Criador do Direito da Liberdade, no novo país (EUA) a escravidão não foi abolida na época!

Os membros da denominação poderiam ter escravos, o clero não podia. Em 1832 James Andrew Osgood da Geórgia foi consagrado bispo, ele não tinha escravos, porém, Andrew casou com uma mulher que possuía um escravo, tornando-se um proprietário de escravo. Em 1844, Andrew viajou a Nova Iorque para a Conferência Geral Anual da Igreja Episcopal Metodista. Alguns bispos do norte levantaram a questão de Andrew ser um proprietário de escravos. Essa questão foi o estopim para a divisão da Igreja Metodista. A questão foi decidida pelo voto: 136 votaram a favor da separação, quinze votaram contra. Os sulistas criaram a Igreja Metodista Episcopal do Sul e no Norte, os metodistas continuaram com o nome Igreja Metodista Episcopal.

As poucas vozes de protesto ao sistema não foram suficientes para levantar a consciência da Igreja de modo geral; e, com o tremendo aumento da produção do algodão, para a qual pensava-se indispensável o labor negro, criou-se um argumento tanto filosófico como bíblico que apresentava a escravidão não como um mal, senão como bem positivo! Foi só de 1830 em diante que o movimento de abolição começou a crescer; e nesta luta muitos metodistas participaram plenamente.

Os Batistas e a escravidão:

Os Batistas foram à segunda das grandes denominações protestantes divididas sobre a questão da escravidão. Nas igrejas batistas do Norte, vários pastores e um grande número de leigos Batistas tornaram-se convencidos da necessidade de arrependimento imediato do pecado da escravidão.

Em 1836, os Batistas do Norte declararam a escravidão como pecado e questionaram se deveriam manter relações com os donos de escravos. Os Batistas do Sul, por outro lado, defenderam a instituição da escravidão e atacaram os abolicionistas do Norte. Os oficiais das missões batistas queriam evitar qualquer controvérsia, evitando que os trabalhos missionários das igrejas batistas não fossem prejudicados.

Os batistas da Geórgia recomendaram que James E. Reeve, um proprietário de escravos, tornar-se um missionário. Os batistas do Norte rejeitaram a ideia de um missionário escravista e se recusou a nomeá-lo. Batistas do Sul se reuniram, na Geórgia, em 1845 e formaram a Convenção Batista do Sul. Foi mais um sinal das tensões graves transversal que se desenvolveu no país antes da eclosão da guerra civil.

Rev. Basil Manly, Sr., então presidente da Universidade do Alabama (1838-1855), elaborou uma resolução defendendo a escravidão. Manly dono de uma plantação e 40 escravos, defendia a “humanidade dos escravos”, acreditava que a instituição era parte do esquema adequado de estruturas sociais do homem, e que a religião batista poderia ajudar no tratamento humano aos escravos.

Os Presbiterianos e a escravidão:

Diferente dos metodistas e batistas, os presbiterianos a separação não foi centrada em um indivíduo, mas pela ideia  da própria escravidão. Já em 1787, o Sínodo de Nova York e Filadélfia havia sugerido que os escravos fosse libertados. A questão da escravidão se alargou ainda mais a divisão entre os presbiterianos liberais (nova escola) e conservadores (velha escola). A nova escola (igrejas presbiterianas do Norte) aprovou várias resoluções condenando a escravidão. Nas igrejas presbiterianas do Sul, velha escola, se defendia a escravidão nas escrituras e considerava infiéis os abolicionistas.

O pastor presbiteriano da velha escola Robert Lewis Dabney reconhecia a escravidão permitida biblicamente e o comércio de escravos licito. Ele documentou que os nortistas, que atacava a escravidão, eram os que tinham iniciado o comércio de escravos e enriqueceram com isso. Ele também pediu a reforma da escravidão do Sul para eliminar os abusos que eram incompatíveis com a instituição da escravidão como biblicamente definido.

Os Anglicanos e a escravidão:

A relação da Igreja Anglicana no tráfico de escravos se deu através da Sociedade para a Propagação do Evangelho, em especial nas ilhas Barbados. A Igreja Anglicana, através de sua filial missionária, foi dona de uma plantação em Barbados. Os escravos do local eram marcados como gados no peito com a palavra “Sociedade”, referente à Sociedade para a Propagação do Evangelho no Estrangeiro. Os donos da plantação recebiam uma indenização por libertar os escravos, o bispo de Exeter recebeu centenas de libras por este motivo. Apesar dos esforços dos reformadores anglicanos como William Wilberforce, a Igreja era parte do problema, bem como parte da solução.

William Wilberforce, nasceu em 24 de Agosto de 1759 e morreu em 29 de Julho de 1833, foi um político britânico, filantrópico e líder do movimento abolicionista do tráfico negreiro. Nativo de Kingston upon Hull, Yorkshire, começou sua carreira política em 1780 como candidato independente, sendo deputado do condado de Yorkshire entre 1784 e 1812. Em 1785 converteu-se ao evangelicalismo, mudando completamente o seu estilo de vida e se preocupando ao longo de toda sua vida com a reforma evangélica. Em 1787, William Wilberforce conheceu Thomas Clarkson (abolicionista britânico) e um grupo abolicionista ao tráfico negreiro que incluía Granville Sharp, Hannah More e Charles Middleton, importantes nomes da época e que juntos persuadiram Wilberforce a entrar também na causa. Assim, Wilberforce  logo se destacou tornando-se líder do grupo britânico abolicionista. E liderando uma campanha no parlamento inglês contra o tráfico negreiro até a então assinatura do Ato contra o Comércio de Escravos de 1807William Wilberforce foi influente para a libertação dos negros.

Os Luteranos e a escravidão:

A Igreja Luterana foi amargamente dividida por assuntos teológicos e políticos, os mesmos problemas que dividiu a nação em uma guerra civil. A questão da escravidão foi debatida muito antes dos Estados Unidos se dividido pela Guerra Civil. “Na verdade, muito antes da criação da Confederação e o estabelecimento de uma igreja luterana do Sul, as instituições da escravidão e um crescente sentimento de distinção entre Norte e Sul tinham preparado o terreno para essa evolução.” Foi surpreendente, contudo, que a Igreja Luterana entrou no debate sobre a escravidão relativamente tardia, quando comparado a outras denominações. Os metodistas, presbiterianos, batistas ja vinha discutindo a questão da escravidão desde o final de 1700. Dentro da Igreja Luterana, um dos primeiros adversário da escravidão foi o Sínodo Franckean do Estado de Nova York.

Pregadores Luteranos do Norte denunciou o longo silêncio de suas próprias igrejas e outros sobre a questão da escravidão, e confessou que, ao tentar preservar uma falsa paz que tinham, provavelmente, contribuíram para a calamidade da guerra. (Paul A. Baglyos, Luterana Historical Society do-Newsletter Mid Atlantic, Inverno 1999)

Os luteranos do sul retiraram os seus homólogos do Norte, e em 1863 formaram uma nova organização, conhecida como o Sínodo Geral do sul. Embora muitas outras questões podem ter contribuído para a guerra, a disputa principal na Guerra Civil Americana foi a escravidão e, especialmente, a sua expansão para novos territórios ocidentais. Embora alguns luteranos no Norte eram abolicionistas radicais (o Sínodo Franckean sendo uma exceção).  A maior parte dos luteranos do sul eventualmente, apoiavam  o sistema de escravidão e a questão da escravidão havia complicado as suas relações com os seus homólogos do Norte.

Os Congregacionais e a escravidão:

O nome “congregacional” geralmente descreve o seu estilo  organizacional, que promove a autonomia da igreja local e de propriedade, enquanto que promovem companheirismo e responsabilidade entre as Igrejas a nível Nacional.

A Igreja Congregacional foi a primeira igreja da América a se levantar contra o racismo e a escravidão. Também fundou a American Missionary Society(1849) para ajudar na liberdade dos escravos.

Em 1785, a Igreja Congregacional ordenou Lemuel Haynes, o primeiro Afro-americano a ministrar na América.

Entre as denominações protestantes, os congregacionais foram os mais abertamente contra a escravidão.

Nas igrejas congregacionais não aconteceu a divisão entre igrejas do norte e igrejas do sul, acreditamos que divido o seu sistema onde cada congregação local é autônoma e independente.

Em resumo, o protestantismo nos Estados Unidos sofreu grandes consequências, como a divisão e o cisma, com o pecado da escravidão. Nas denominações metodista, batista e presbiterianos, outras questões contribuíram para o racha, mas a escravidão foi a de maior gravidade, em cada caso.  No caso dos anglicanos, luteranos e congregacionais a questão escravista tem suas particularidades, como: sua relação com a escravidão te acontecido fora dos Estados Unidos em outras colônias e até mesmo na Inglaterra que é o caso dos anglicanos; os luteranos apesar de também terem se dividido entre a questão da escravidão, entrou no debate sobre a escravidão já bem mais tarde; Entre as denominações protestantes os congregacionais foram os mais abertamente contra a escravidão, os primeiros da América a se levantar contra o racismo e a escravidão.

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

A Paixão de Cristo e do Negro Simão

Os últimos cinco dias que Jesus Cristo passou vivo foram emocionantes. Aconteceu a sua “Paixão”, celebrada todos os anos pelos cristãos, um episódio trágico até hoje representado no mundo inteiro pelas comunidades cristãs. Neste texto vou levantar algumas questões que, como negro cristão, acredito ser interessante refletirmos na Paixão de Cristo. Uma questão a qual considero muito relevante foi a participação de Simão Cireneu. Lendo os textos bíblicos dos três evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) que narram o episódio, quero fazer algumas reflexões que considero importante para nós negras e negros cristãos. Simão vinha do campo, o soldado romano o vê e logo o obriga a carregar a cruz; ele resiste mas é forçado. Depois que ele aceita levar a cruz, torna-se um aliado de Cristo. No percurso Simão começa a sofrer também ao ver o sofrimento de Jesus, um Simão já envolvido com Cristo.

Analisando os textos bíblicos, procuramos entender o significado de Deus ter escolhido um negro para ajudar o seu Filho nas horas mais difíceis da sua vida. O texto bíblico afirma que Simão Cireneu foi “forçado” a carregar a cruz. Será que entre as multidões que seguiam a Jesus e até mesmo entre os seus discípulos não havia nenhum voluntário pronto a ajudá-lo? Jesus não tinha condições nenhuma de subir o Monte Calvário, com seus 900 metros, e precisava de alguém para ajudá-lo. O próprio Simão Pedro, que Jesus chamou para segui-lo, foi também o primeiro a fugir da cruz, dizendo que nunca tinha visto Jesus e acompanhando todo o acontecimento de longe.

Simão Pedro foi o primeiro seguidor voluntário de Jesus, e Simão o Cireneu foi o ultimo seguidor, involuntário, antes da sua morte. Obrigado a seguir a Cristo levando a sua cruz em nome de um ato diabólico: a morte de um inocente.

Acredito que Deus tem algo a dizer com tudo isso. Voltando à nossa realidade de negros e negras, e pensando em nossos antepassados da diáspora, também percebemos que eles foram involuntários, obrigados a seguir um Cristo em nome de um colonialismo e uma escravidão diabólica. Simão Cireneu na sua experiência e encontro involuntário com Cristo veio a se tornar, juntamente com sua família, alguém de grande importância na Igreja Primitiva, conforme mencionado na Bíblia em vários textos.

Em Atos 13:1 ele reaparece como, Simeão Níger (Simão o negro); ele é um dos pastores da igreja e o homem que impõe as mãos sobre Paulo para enviá-lo ao campo missionário. O homem que um dia carregou a cruz à força agora é um dos pastores da igreja; ele assumiu a cruz. Quando os escravos negros foram trazidos forçados para a América, também foram obrigados a seguir a Cristo. Eles também resistiram, mas logo perceberam que seguir a Jesus Cristo não era aquilo que os seus opressores faziam. Eles assumiram também a cruz, e descobriram um Cristo Salvador e Libertador e já não mais o seguiam por obrigação, mas como participante da sua morte e ressurreição.

O Cristo que outrora era usado para escravizá-los agora era o Cristo da sua libertação da escravidão e racismo. Nos Estados Unidos e outros países da América isso aconteceu no período da escravidão, na colonização da África, e estamos passando ainda por esse processo no Brasil. Mas o que aconteceu com o ultimo discípulo de Cristo, Simão o Negro, também aconteceu com muitos dos nossos antepassados na África, na Diáspora na América e acontece ainda hoje conosco no Brasil.

Paixão de Cristo me fez refletir essas coisas, talvez por não conseguir ver o cristianismo como antes da conversão à minha negritude. Também cansado de ver a história sendo contada sem a nossa participação e procurando olhar com olhos negros e vivendo o processo que chamo de permanente conversão de um negro envolto em um cristianismo branco para um negro envolvido no Cristianismo de Jesus Cristo, de Salvação, Libertação e Negritude.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Pintura de Simão de Cirene por Theophilus de Knoxville Tennessee

A África é aqui!

Igreja, a negra e o negro que está dentro do seu templo, no seu bairro, na sua cidade, no seu estado e no seu país é a sua África. E defender os seus direitos, segundo o Evangelho, essa é a sua grande missão!

“O Brasil é o segundo país mais negro do mundo. Só perde para a Nigéria, nação mais populosa da África”.

Uma igreja que diz ter o chamado missionário para pregar o reino de Deus em África, mas que não se preocupa com as questões étnico-raciais do seu próprio país, onde as negras e os negros são mais da metade da população e nem tão pouco se envolve no combate as injustiças raciais que os oprime, a saber, o racismo, o preconceito, a discriminação, as desigualdades e genocídio da juventude negra, essa igreja certamente está equivocada quanto ao seu chamado e do lado errado da justiça.

Não faz nenhum sentido, uma igreja dizer que ama a África, mas não se preocupa com milhares de jovens negros que estão morrendo ao lado do seu templo. Não faz nenhum sentido uma igreja que diz que ama a África, mas discrimina as mulheres negras dentro do seu templo.

Não faz nenhum sentido, uma igreja que diz amar a África, mas que não ama os africanos e os chamam de um povo amaldiçoado. Não faz nenhum sentido, alguém dizer que ama a África, mas não ama o seu povo, antes o trata com intolerância, não respeita a sua religião, demoniza a sua cultura, as suas vestes e os seus cabelos.

Não faz nenhum sentido, uma igreja que diz amar a África, mas que não estende a mão aos imigrantes haitianos e africanos que sofrem o racismo e a xenofobia, em nosso país.

Eu desconfio de uma igreja que quer fazer missão em África, quando ela não se importa com a dor sofrida pelos filhos da África, a saber, as negras e os negros, com os quais ela convive no seu dia a dia.

A quem esta igreja representa? Qual seu objetivo em ir para a África, quando não assiste as filhas e os filhos dela que estão aqui? Porque o reino de Deus é JUSTIÇA, PAZ e ALEGRIA no Espírito Santo. A justiça sempre foi parte integrante do evangelho do nosso Mestre e não apenas uma metáfora ou um conceito moderno. Essa igreja precisa urgente rever a sua teologia, assim como, as suas motivações e suas práticas.

Por Luiz de Jesus

A Igreja Evangélica e as questões raciais

Infelizmente muitos líderes evangélicos não entendem as questões étnico-raciais e assuntos como as CotasDiversidade Étnico-racialRacismo InstitucionalGenocídio da Juventude NegraAções AfirmativasPolíticas Públicas e nem tão pouco se preocupam em buscar conhecimento sobre esses temas.

Muitos justificam sua omissão espiritualizando a situação dizendo que a negra e o negro não precisam de Cotas, pois basta “aceitar Jesus” e tudo está resolvido. Alguns resumem o assunto dizendo que Deus não faz acepção de pessoas e por isso esse assunto não deve ser tratado no púlpito.

Infelizmente a porta do banco quando trava, ela não vê a minha fé, e sim, a cor da minha pele. Infelizmente por mais fervorosa que seja a fé de nós negras e negros protestantes, ela não tem poder suficiente para mudar os indicadores do Mapa da Violência cada vez mais desfavoráveis a nós. Infelizmente por mais fervorosa que seja a oração da mulher negra, não fará com que ela se livre da violência doméstica e faça com que o salário dela seja igual ao da mulher branca exercendo a mesma função.

O interessante é que o público alvo do racismo e das injustiças raciais e sociais está dentro dessas igrejas ou no seu entorno, a periferia. Nas periferias é onde se encontra o maior número de negros e pobres. Já percebeu quantas igrejas tem na periferia? E quantas delas você já viu fazendo alguma campanha contra o racismo ou contra o genocídio da juventude negra, pobre e periférica?

Muitas igrejas fazem inúmeras campanhas, desde prosperidade até pra arrumar casamento, mas não se empenham em combater racismo que existe, às vezes até dentro dela.

A igreja como agente de mudança na sociedade, tem o dever de orar sim, mas é preciso também se comprometer. É responsabilidade do governo cuidar das questões sociais, mas isso de forma alguma exime a responsabilidade da igreja.

Quando olho o silêncio da igreja em relação às questões étnico-raciais, mas precisamente o Genocídio da Juventude Negra, isso muito me entristece, pois me remete ao silêncio no período da escravidão. Como que a igreja, onde segundo o IBGE, tem dentro do seu quadro de membresia a maioria de negras e negros , pode se silenciar quando todo ano, 23.100 jovens negros de 15 a 29 anos são assassinados? São 63 por dia. Um a cada 23 minutos. Esse silêncio é um pecado. E as escrituras diz isso: “Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado”. Tiago 4:17

Espero realmente que a igreja não reproduza os erros do passado e que não seja conivente com esta sociedade que insiste no mito da democracia racial, aceitando a invisibilidade da negra e do negro, tapando o sol com a peneira.

Que nós como pastores negros ou brancos, principalmente os pastores negros, façamos do nosso chamado uma missão, onde nela abracemos a luta do povo negro, sua cultura e a suas problemáticas a partir das nossas igrejas, quebrando o silêncio dos nossos púlpitos.

“Quem maltrata os pobres ofende a Deus, criador dos pobres; quem ajuda os pobres e necessitados está honrando a Deus”. Provérbios 14.31

Por Luiz de Jesus

10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil

Em contraponto ao artigo 10 fatos que você não sabia sobre a escravidão nas igrejas evangélicas no Brasil, elaboramos esse novo artigo abordando fatos sobre a participação de protestantes na luta pela abolição da escravatura.

Sabemos que vários protestantes no mundo lutaram contra a escravidão. Pessoas como John WesleyJohn NewtonAnthony Benezet e Wilberforce lutaram contra a escravidão. No brasil tivemos também protestantes abolicionistas que estiveram presentes em quase todas as denominações históricas. Eram em sua maioria missionários do Norte dos Estados Unidos, europeus e alguns convertidos brasileiros.

Neste sentido segue 10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil.

1 – A lei que aboliu a escravatura no Brasil foi de um protestante presbiteriano

A Lei Áurea foi apresentada formalmente ao Senado Imperial pelo presbiteriano Rodrigo Augusto da Silva em 11 de maio de 1888. Foi debatida nas sessões dos dias 11, 12 e 13 daquele mês. O projeto foi aprovado pela Câmara e pelo Senado e no dia 13 de maio de 1888, foi convertido em Lei, tomando o nº. 3353, com a assinatura da Princesa Isabel. O Conselheiro Augusto da Silva , Ministro da Agricultura, que compareceu perante a Câmara, onde leu:

Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da Nação: Venho em nome de sua Alteza e Princesa Imperial Regente, em nome de sua Majestade o Imperador, apresentar-vos a seguinte proposta: Art. 1º – É declarada extinta a escravidão no Brasil, Art. 2º – Ficam revogadas as disposições em contrario. Palácio do Rio de Janeiro, em 8 de maio de 1888. Fonte: Site http://www.gobgo.org.br/cultural/2009/justica.html consultado dia 16/09/2009

2 – Senador protestante trabalhando pela abolição da escravatura e pela República

Outra importante participação foi do Presbiteriano Senador Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895), advogado, sociólogo, e escritor. Saldanha exerceu cargo supremo da Maçonaria brasileira, trabalhando pela causa da instrução pública, pela abolição da escravatura e pela República. Foi quem assinou, em primeiro lugar, o célebre manifesto republicano de 1870. Com a Proclamação da República, foi um dos autores do anteprojeto da Constituição de 1891. Teve destacada atuação na Questão Religiosa na década de 1870 quando publicou vários artigos em jornais. Fonte: http: //www.senado.gov.br/sf/SENADORES/senadores_biografia.asp?codparl=1865&li=22&lcab=1891-1893&lf=22 Consultado dia 16/09/2009

3 – O jornal Imprensa Evangélica criado pelo abolicionista Simonton

No ano de 1864 foi fundado o jornal Imprensa Evangélica pelo missionário norte-americano Ashbel Green Simonton (1833-1867), também fundador da Igreja Presbiteriana no Brasil. Durante a segunda metade do século XIX, décadas finais da escravidão no Brasil, este jornal, o meio de comunicação dos presbiterianos de então, foi um dos que expôs sua opinião quanto à escravidão.

O Imprensa Evangélica durou 28 anos. Recebeu uma grande aceitação, não somente entre os protestantes brasileiros, como em toda a sociedade brasileira; fora amplamente lido. No início da década de 70, do séc. XIX, havia uma relação racial harmoniosa no Brasil, bastante diferente da existente nos Estados Unidos da América.

Os abolicionistas protestantes se valeram muitas vezes disso para propagar sua preocupação em que houvesse uma reforma social no Brasil. Imprensa Evangélica se pronuncia neste período da seguinte maneira:

o Brasil poderia dar ao mundo este exemplo único de um país que faz uma reforma social desta ordem, sem se arruinar, e sem perturbar a paz em que há longos anos tem vivido”. Fonte: – PEREIRA, Eduardo Carlos. A emancipação. Imprensa Evangélica. 7 de junho de 1884, p. 81.

Conforme observa Barbosa, no livro Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora, o jornal Imprensa Evangélica procurou destacar que não havia ódio de raças no Brasil, diferentemente de como acontecia em outras nações, como nos próprios Estados Unidos da América. Segundo ele, “isto não significava a inexistência de conflitos de classes, entre senhores e escravos”. No dia 24 de maio de 1884 o jornal publicou a matéria “o abolicionismo” no qual lemos:

a demora em fazer justiça aos oprimidos traz perigo para os opressores e que o regime escravista é defendido por esse grande exército alistado sob a sua bandeira, não está disposto a capitular” . Fonte: BARBOSA, op. Cit. p. 97. Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora

4 – Protestantes, criam que a escravidão no Brasil estava condenada

Kidder e Fletcher,  missionários metodista norte-americano no Brasil, autores de O Brasil e os brasileiros, escreveram seu livro em pleno período escravagista, e, como protestantes, criam que a escravidão no Brasil estava condenada, que era apenas uma questão de pouco tempo. Fonte: O abolicionismo. Imprensa Evangélica. 24 de maio de 1884, p. 73.

A partir dessa década de 70, do século XIX, toda propaganda abolicionista começou a crescer no Brasil e Fletcher realmente esperava que ela ocorresse num período curto de tempo. Por isso dedicou-se a distribuição de literaturas anti-escravagistas. Davi Gueiros Vieira escreve que, “entre os muitos livros anti-escravagistas que Fletcher distribuiu, havia um que produziu grande impacto no Brasil. Foi a obra de George Livermore sobre o negro e a Revolução Americana”. Fonte: KIDDER, Daniel P. e FLETCHER, J.C. O Brasil e os brasileiros. Rio de Janeiro: Companhia Editorial Nacional, 1941. p. 147.

5 – Evangélicos batistas alforria escravizado

Havia um grupo batista no Brasil contrário à prática escravagista. O casal William Buck Bagby e Ana Luther Bagby, conforme o livro “O gigante que dorme”, comprava escravos e os alforriava, foram perseguidos por isso, e tiveram sua casa apedrejada por mais de uma vez. Em seu livro “Os Bagby no Brasil“, Harrison comenta sobre a alegria (e atitude) dos membros da Primeira Igreja Batista do Brasil, em Salvador, quando da alforria dada a um escravizado pela própria comunidade da Primeira Igreja Batista do Brasil. Este escravo, ao ser proibido de frequentar a igreja por seu senhor, também membro da igreja, recebe uma surpresa assim como relatada por Harrison:

Outro fato que causou muito comentário foi o relativo a um africano, que assistia aos cultos com regularidade e interesse. Quando ele deixou de vir por alguns domingos, alguém comentou em sessão, sobre sua ausência. Outro explicou que seu dono declarava que o mataria se ele pisasse na igreja novamente. Um membro sugeriu: Vamos comprá-lo! Após longa deliberação, pois a igreja não tinha um só membro abastado, votaram unanimemente comprá-lo e dar-lhe sua liberdade. O homem, duas vezes redimido, ficou radiante e alegremente uniu-se à pequena igreja.” Fonte: Harrison, Helen Bagby. Os Bagby do Brasil.

6 – Para o pastor Taylor o evangelho tinha dois grandes inimigos: a Monarquia e a Escravidão

Deste período destacamos também a voz do Pastor  Z. Taylor em cuja autobiografia refere-se à alegria de sua igreja ter libertado um escravo que havia se tornado cristão. Em sua autobiografia, Taylor não perde a oportunidade de acusar a igreja Católica Apostólica Romana ao afirmar que “os padres nunca fizeram nada para aliviar as dores dos escravos ou para redimi-los”. Quanto à abolição da escravidão no Império do Brasil (13 de maio de 1888), Pr. Taylor registra sua alegria expressando-se da seguinte forma:

Os dois grandes inimigos do progresso do evangelho desapareceram no Brasil, a escravidão e o Império. Assim todos os inimigos do evangelho devem cair. Neste momento só há lugar para um Rei, e este é Jesus… O senhor destruiu dois gigantes poderosos: a Monarquia e a Escravidão, replanejando-as com a República e a Liberdade em que suas sementes teriam melhores condições de prosperar. Fonte autobiografia Z. Taylor.

7 – O pastor Robert Kalley expulsou um crente da igreja porque não quis libertar seu escravizado

Na Igreja Fluminense havia uma consciência social mais profunda. Nos registros de sua história além de sua preocupação com “espiritual” também uma preocupação com questões como a escravidão. Desta igreja temos um relato muito interessante que foi um sermão pregado pelo Pastor Dr. Robert Kalley em 3 de novembro de 1865, conforme Duncan A. Reily assinala em sua História Documental do Protestantismo no Brasil.

A “exortação” de Kalley sobre a escravidão, dirigida ao Sr. Bernardino de Oliveira Rameiro, é datada de 3 de novembro do mesmo ano. Kalley acentua que o escravo trabalha “contra a vontade e sem salários e sob as ameaças de castigo e sofrimentos diversos”, a fim de produzir, não para si, mas para o seu patrão opressor, “bons serviços e excelentes lucros”. Ele conclui assim o documento:

… O escravo só trabalha porque teme as ameaças de pancadas e castigos desumanos da parte de um roubador da liberdade alheia! O senhor que procede desse Jesus que nos resgatou da maldição (Gl 3.13) e da lei do pecado da morte (Rm 8.2) e nos deu a liberdade, fazendo-nos FILHOS DE DEUS (Rm 8.15 e 16). Fonte: REILY, História documental, p. 155, nota 174.

O início da missão do casal Kalley demonstra fato pouco divulgado sobre sua estratégia da missão: uma semana após Sarah ( sua esposa) iniciar o projeto de escola dominical junto a crianças de Petrópolis, em 26 de agosto de 1855, Kalley começou a lecionar em classe bíblica de negros.

A proposta de missão do casal era no mínimo atípica – evangelizar crianças e negros – atingir os que eram negligenciados pela igreja oficial e pela igreja de imigração. Fonte: registrado por Reily em História Documental do Protestantismo no Brasil.

8 – Escravizados são alforriados apos batismo na Igreja Presbiteriana de São Paulo

O romancista Júlio Ribeiro, apresentou ao batismo na Igreja Presbiteriana de São Paulo, um pequeno escravizado a quem logo libertou, bem como à sua mãe. A fonte de Léonard é Lessa, que declara o seguinte:

Um dado curioso. No dia da profissão de fé de sua mãe, Júlio Ribeiro apresentou ao batismo um escravo seu menor, de nome Joaquim, pelo qual se responsabilizou como cristão. Faltava menos de um ano para a lei do ventre livre. Foi o primeiro menino escravo batizado, no registro das atas de São Paulo. Mais tarde o seu jovem senhor deu-lhe carta de alforria e à sua mãe, que também aceitara o evangelho. Fonte: LÉONARD, O protestantismo brasileiro, p. 101, nota 81. E LESSA, A nais da 1ª Igreja, p. 81.

Júlio César Ribeiro Vaughan foi um escritor e gramático brasileiro. Polêmico, abolicionista, anticlerical e representante do naturalismo, movimento fundado pelo francês Émile Zola. A Carne, publicado em 1888, é seu romance mais conhecido, possivelmente a sua obra-prima. Foi o criador da bandeira do estado de São Paulo, concebida em 1888 para ser a bandeira da república. Júlio Ribeiro propôs em 16 de julho de 1888, logo após a Abolição da Escravatura, a atual bandeira de São Paulo para ser a bandeira do Brasil, sendo parte da sua campanha pela República. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Ribeiro

9 – A presbiteriana Amélia Dantas de Souza Melo Galvão, uma incansável guerreira pela abolição da escravatura

Amélia Dantas de Souza Melo Galvão ou D. Sinhá Galvão, como era mais conhecida, teve papel de destaque no movimento abolicionista no Brasil. Segundo depoimentos do Major Romão Filgueira:

D. Sinhá era uma mulher dotada de raros predicados morais e culturais, belo espírito de comunicação e de idéias elevadas”. Tomou parte em todas as comissões importantes da Libertadora. Apaixonada pelo movimento, “convida suas amigas, entre elas as das famílias Soares do Couto, Dr. Paulo Leitão e outras, para saírem às casas dos senhores possuidores de escravos, concitando-os a alforriarem seus cativos, chegando ao ponto de quando não podiam receber adesões para o movimento, em virtude da escravidão ser garantida por lei, de se ajoelharem, beijando os pés dos potentados, indiferente aos sofrimentos dos prisioneiros das senzalas, rogando a liberdade imediata dos escravos que possuíam”.

Era filha do também abolicionista e poeta José Damião de Souza Melo, português radicado em Mossoró. Professava a religião presbiteriana, apesar de seu pai ter sido padre em Portugal. Nunca se soube o motivo da mudança de religião. Sabe-se apenas que um dia ele tirou a batina, queimou-a e veio para o Brasil, surgindo como comerciante em Mossoró. Na memorável sessão de 30 de setembro de 1883, D. Amélia Galvão teve a incumbência de dar carta de alforria às mulheres escravas e, a cada uma, beijava, dizendo:

D. Fulana, a senhora, de agora em diante é tão livre como eu”.

Dona Sinhá Galvão pagou um preço alto por sua luta em prol da libertação dos escravizados. Esgotada pelo cansaço adoeceu, contraindo uma tuberculose e dela não conseguiu se curar. Morreu a 14 de novembro de 1890, estando sepultada em túmulo próprio no Cemitério Público de Mossoró.

A luta de D. Sinhá Galvão ajudou Mossoró, cidade do Rio Grande do Norte, ser a primeira cidade do Brasil a acabar com a escravidão muito antes da lei áurea. Fonte http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=782 do Pesquisador Geraldo Maia.

10 – O pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira denunciava o silencio no pulpitos das igrejas sobre a escravidão

Reverendo Eduardo Carlos Pereira, uma peça fundamental na luta abolicionista, fundador da Igreja Presbiteriana Independente em 31 de julho de 1903, sua jornada registrada contra a escravidão, em 1886 publicou um folheto de 46 páginas denominado “A Religião Cristã em sua Relação com a Escravidão”. Em um trecho do artigo Pereira denuncia a covardia e o silencio no púlpito das igrejas:

Oh! Maldita instituição, que desperta no homem o instinto de fera… “É mister que a imprensa clame e não cesse que levante a trombeta a sua voz e denuncie ao povo a monstruosidade desse pecado nacional. É mister que diga aos senhores de escravos com franqueza o quanto há de ofensivo as leis de Deus e da humanidade…” Por que, então, a reserva e o silêncio medroso ante um crime tão grave? … O silencio do púlpito não é prudência, é infidelidade.  Fonte: RIBEIRO, 1981, p.100

Nas páginas finais do folheto ele pede aos crentes para libertarem os seus escravos:

Confesso que grande é minha vergonha e grande a confusão da igreja de Cristo no Brasil, ao ver incrédulo, pelo simples amor à humanidade, abrirem mão de seus escravos; entretanto, os que professam fé no Redentor dos cativos não rompem as ligaduras da impiedade, nem deixam ir livres os oprimidos! Leitor, se acaso vires algum incrédulo ler este artigo, eu te peço para honra da Igreja de Nosso Senhor no Brasil, que não deixe seus olhos percorrer este parágrafo”. Fonte: LÉONARD, O protestantismo brasileiro.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Referências e Informações:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodrigo_Augusto_da_Silva

Visões Protestantes Sobre a Escravidão – Elizete da Silva – Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2003 / pp. 1-26

A Igreja Presbiteriana do Brasil e a escravidão: BREVE ANÁLISE DOCUMENTAL – Hélio de Oliveira Silva – FIDES REFORMATA XV, Nº 2 (2010): 43-66

LÉONARD, Émile G. – Protestantismo Brasileiro – Editora Juerp

O Protestantismo e escravidão no Brasil – Hernani Francisco da Silva

Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora –  Barbosa, José Carlos. UNIMEP. 

http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=782 do Pesquisador Geraldo Maia