Qual a cor da sua fé?

Diálogo entre os pastores Ariovaldo RamosMônica Francisco Marco Davi Oliveira sobre evangélicos, negritude e racismo

O auditório do Sindicato dos Bancários no centro do Rio de Janeiro foi o ponto de encontro para mais de cem pessoas na noite da última sexta (15), apesar da chuva que insistia em cair na cidade. A maior parte do público: evangélicos negros das mais diversas igrejas e denominações, e de diversas regiões do Rio. O evento promovido pela Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito com apoio do Movimento Negro Evangélico, dentro dos 21 Dias de Combate ao Racismo foi uma referência para ampliar as diversas iniciativas que acontecem entre os evangélicos para debater a presença dos negros dentro das igrejas protestantes e o combate ao racismo – até mesmo dentro das próprias instituições religiosas.

O encontro reuniu os pastores Ariovaldo Ramos, um dos coordenadores da Frente de Evangélicos, a pastora Mônica Francisco, deputada estadual pelo PSOL no Rio de Janeiro e o pastor Marco Davi de Oliveira, um dos fundadores do Movimento Negro Evangélico e pastor da Nossa Igreja Brasileira – uma igreja batista que existe há um ano no Rio tendo como proposta construir uma liturgia a partir dos elementos culturais do Brasil.

Além do ministério pastoral, os três tem em comum o viver na pele a realidade racial. Três negros, com trajetórias que possuem similaridades e divergências. Ariovaldo se converte quase adolescente. Mônica quase adulta. Marco Davi nasceu em família evangélica, com pais que se converteram na juventude.

Para nenhum dos três a vida foi fácil. Como – ainda – não é fácil para nenhum negro brasileiro. Mônica Francisco, que está no primeiro mandato na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, começou seu ativismo político quando as chuvas destruíram parte da Morro do Borel, e ela se envolveu na luta por moradia. A conversão veio depois, na Igreja Universal do Reino de Deus. Chegou a estudar na Escola de Obreiros, de onde saiu para a igreja batista. De batista, foi para uma igreja pentecostal, onde é pastora há três anos. Nesse caminho, a militância a levou para a Faculdade de Ciências Sociais.

Filho de pai operário e mãe costureira, Ariovaldo Ramos viveu a infância e a adolescência na periferia, em São Paulo e em Guarulhos. É de sua história pessoal, como ter morado em cortiço, que carrega o compromisso com os pobres. A conversão foi na Igreja Metodista Livre. Pastor de formação e estudioso de filosofia, está envolvido com o ministério religioso desde 1974.

Quando as chuvas causaram um estrago sem tamanho no estado do Rio em 1966, deixando 250 mortos e mais de 50 mil desabrigados, os pais de Marco Davi – que perderam a casa na tragédia – foram residir num espaço da Primeira Igreja Batista em Teresópolis. Quando conseguiram ter um lugar para morar, as dificuldades eram extremas, incluindo fome. Aos 15 anos decidiu que seria pastor. Aos 20 anos foi para o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. É no exercício do ministério pastoral que surge o incomodo com a questão racial e os posicionamentos das igrejas sobre a identidade negra e o racismo.

Identidade negra – Durante o encontro da Frente, Ariovaldo destacou a importância de demarcar a identidade negra e cristã, enfatizando que o racismo no Brasil é produto de uma falha na compreensão do sentido da vida cristã: “As igrejas protestantes produziram e mantiveram o racismo no país”.

Mônica fez uma caminhada pela história recente das igrejas evangélicas pentecostais e suas omissões diante do racismo. A deputada apontou os problemas da igreja, a opressão sobre as mulheres e a juventude: “Cresce o número de desigrejados por causa da postura da igreja. É preciso pedir perdão”.

Marco Davi propôs o equilíbrio entre os pontos negativos e positivos da igreja, e o quanto a igreja foi fundamental para a promoção da população negra: “Há sentimento de pertencimento, a sociedade brasileira vê o corpo negro com suspeição, e a igreja – que é um espaço sagrado – acolhe esses corpos, onde nos se tornam sujeitos”.

As abordagens diferentes na forma, idênticas na denúncia do racismo, deram o tom do debate, suscitando a participação do público. As perguntas revelaram o quanto esse assunto precisa ser abordado nos estudos bíblicos, em congressos, seminários, simpósios e nos púlpitos das igrejas. Os evangélicos brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) mapeados no Censo 2010, são em maioria negros e pobres, que vivem com renda per capita inferior a um salário mínimo por mês.

Por Nilza Valeria Zacarias Nascimento, jornalista. Coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

Assista o vídeo com o diálogo Qual a cor da sua fé?

James Cone: o pai da Teologia Negra

“O racismo é a negação do evangelho”. James Cone

Rev. James H. Cone, conhecido como o “pai da teologia da libertação negra“, morreu no sábado (28 de abril de 2018). James Hal Cone nasceu em 5 de agosto de 1938, em Fordyce, Arkansas. Formou-se no Seminário Teológico Garrett, em Evanston, Illinois, como bacharel em divindade; fez mestrado e um Ph.D. na Northwestern University, em Evanston.

A lente hermenêutica da Teologia Negra de James Cone começa com a experiência dos afro-americanos e as questões teológicas que ele traz de sua própria vida. Ele incorpora o poderoso papel da Igreja Negra em sua vida, bem como o racismo experimentado pelos afro-americanos. Para Cone, os teólogos que ele estudou na pós-graduação não forneceram respostas significativas para suas perguntas. Essa disparidade tornou-se mais aparente quando ele estava ensinando teologia no Philander Smith College, em Little Rock, Arkansas. Cone escreve:

“O que Karl Barth poderia significar para os estudantes negros que vieram dos campos de algodão de Arkansas, Louisiana e Mississippi?

Cone achava que os cristãos negros na América do Norte não deveriam seguir a “igreja branca“, alegando que era uma parte interessada do sistema que oprimia os negros. Assim, sua teologia foi fortemente influenciada por Malcolm X e pelo movimento Black Power. Também Martin Luther King Jr. foi uma influência importante; Cone descreve King como um teólogo da libertação antes da expressão existir.

“O cristianismo era visto como a religião do homem branco”, disse Cone.

“Eu queria dizer: Não! O Evangelho Cristão não é a religião do homem branco. É uma religião de libertação, uma religião que diz que Deus criou todas as pessoas para serem livres. Mas percebi que, para os negros serem livres, eles devem primeiro amar sua negritude”.

Cone foi autor de livros como “Black Theology and Black Power” (Teologia Negra e Poder Negro) e de “God of the oppressed” (Deus dos oprimidos). Este ano, o Dr. Cone ganhou o Prêmio Grawemeyer em Religião por seu livro mais recente, “he Cross and the Lynching Tree” ( A Cruz e a Árvore do linchamento), que traça paralelos entre a crucificação de Jesus e o linchamento dos negros nos Estados Unidos.

Por Hernani Francisco da Silva – Afrokut

507 anos do Protestantismo e a escravidão negra nos Estados Unidos

Em 31 de outubro de 2017, a reforma protestante completou 500 anos, foi uma data oportuna para a reflexão histórica do protestantismo e a escravidão negra no mundo. Neste artigo vamos pincelar alguns fatos da relação do protestantismo com a escravidão negra nas igrejas protestantes nos Estados Unidos. Primeiramente é importante frisar que as igrejas  não saíram ilesas pela controvérsia da escravidão. Quase todas as Igrejas protestantes nos Estados Unidos sofreram consequências como a divisão e o cisma. As grandes denominações chegaram até a se racharem, resultando em Igrejas “do Norte” e “do Sul”.

Vejamos alguns fatos dessa  divisão nas igrejas  norte-americanas pelo pecado da escravidão.

Os Metodistas e a escravidão:

O movimento metodista na América era conhecido como a Igreja Metodista Episcopal. John Wesley, precursor do movimento Metodista, condenava a escravidão como uma “vilania execrável”. Ele não admitia, sob hipótese alguma, que um ser humano fosse dono de outro; daí escreveu contra a escravidão e encorajava Wilberforce na sua luta no parlamento inglês contra o mal. Mas nas colônias americanas, quem trabalhava nas fazendas de arroz eram os negros e, apesar da Declaração da Independência (1776) afirmando como uma “verdade auto-evidente” que todos foram dotados pelo Criador do Direito da Liberdade, no novo país (EUA) a escravidão não foi abolida na época!

Os membros da denominação poderiam ter escravos, o clero não podia. Em 1832 James Andrew Osgood da Geórgia foi consagrado bispo, ele não tinha escravos, porém, Andrew casou com uma mulher que possuía um escravo, tornando-se um proprietário de escravo. Em 1844, Andrew viajou a Nova Iorque para a Conferência Geral Anual da Igreja Episcopal Metodista. Alguns bispos do norte levantaram a questão de Andrew ser um proprietário de escravos. Essa questão foi o estopim para a divisão da Igreja Metodista. A questão foi decidida pelo voto: 136 votaram a favor da separação, quinze votaram contra. Os sulistas criaram a Igreja Metodista Episcopal do Sul e no Norte, os metodistas continuaram com o nome Igreja Metodista Episcopal.

As poucas vozes de protesto ao sistema não foram suficientes para levantar a consciência da Igreja de modo geral; e, com o tremendo aumento da produção do algodão, para a qual pensava-se indispensável o labor negro, criou-se um argumento tanto filosófico como bíblico que apresentava a escravidão não como um mal, senão como bem positivo! Foi só de 1830 em diante que o movimento de abolição começou a crescer; e nesta luta muitos metodistas participaram plenamente.

Os Batistas e a escravidão:

Os Batistas foram à segunda das grandes denominações protestantes divididas sobre a questão da escravidão. Nas igrejas batistas do Norte, vários pastores e um grande número de leigos Batistas tornaram-se convencidos da necessidade de arrependimento imediato do pecado da escravidão.

Em 1836, os Batistas do Norte declararam a escravidão como pecado e questionaram se deveriam manter relações com os donos de escravos. Os Batistas do Sul, por outro lado, defenderam a instituição da escravidão e atacaram os abolicionistas do Norte. Os oficiais das missões batistas queriam evitar qualquer controvérsia, evitando que os trabalhos missionários das igrejas batistas não fossem prejudicados.

Os batistas da Geórgia recomendaram que James E. Reeve, um proprietário de escravos, tornar-se um missionário. Os batistas do Norte rejeitaram a ideia de um missionário escravista e se recusou a nomeá-lo. Batistas do Sul se reuniram, na Geórgia, em 1845 e formaram a Convenção Batista do Sul. Foi mais um sinal das tensões graves transversal que se desenvolveu no país antes da eclosão da guerra civil.

Rev. Basil Manly, Sr., então presidente da Universidade do Alabama (1838-1855), elaborou uma resolução defendendo a escravidão. Manly dono de uma plantação e 40 escravos, defendia a “humanidade dos escravos”, acreditava que a instituição era parte do esquema adequado de estruturas sociais do homem, e que a religião batista poderia ajudar no tratamento humano aos escravos.

Os Presbiterianos e a escravidão:

Diferente dos metodistas e batistas, os presbiterianos a separação não foi centrada em um indivíduo, mas pela ideia  da própria escravidão. Já em 1787, o Sínodo de Nova York e Filadélfia havia sugerido que os escravos fosse libertados. A questão da escravidão se alargou ainda mais a divisão entre os presbiterianos liberais (nova escola) e conservadores (velha escola). A nova escola (igrejas presbiterianas do Norte) aprovou várias resoluções condenando a escravidão. Nas igrejas presbiterianas do Sul, velha escola, se defendia a escravidão nas escrituras e considerava infiéis os abolicionistas.

O pastor presbiteriano da velha escola Robert Lewis Dabney reconhecia a escravidão permitida biblicamente e o comércio de escravos licito. Ele documentou que os nortistas, que atacava a escravidão, eram os que tinham iniciado o comércio de escravos e enriqueceram com isso. Ele também pediu a reforma da escravidão do Sul para eliminar os abusos que eram incompatíveis com a instituição da escravidão como biblicamente definido.

Os Anglicanos e a escravidão:

A relação da Igreja Anglicana no tráfico de escravos se deu através da Sociedade para a Propagação do Evangelho, em especial nas ilhas Barbados. A Igreja Anglicana, através de sua filial missionária, foi dona de uma plantação em Barbados. Os escravos do local eram marcados como gados no peito com a palavra “Sociedade”, referente à Sociedade para a Propagação do Evangelho no Estrangeiro. Os donos da plantação recebiam uma indenização por libertar os escravos, o bispo de Exeter recebeu centenas de libras por este motivo. Apesar dos esforços dos reformadores anglicanos como William Wilberforce, a Igreja era parte do problema, bem como parte da solução.

William Wilberforce, nasceu em 24 de Agosto de 1759 e morreu em 29 de Julho de 1833, foi um político britânico, filantrópico e líder do movimento abolicionista do tráfico negreiro. Nativo de Kingston upon Hull, Yorkshire, começou sua carreira política em 1780 como candidato independente, sendo deputado do condado de Yorkshire entre 1784 e 1812. Em 1785 converteu-se ao evangelicalismo, mudando completamente o seu estilo de vida e se preocupando ao longo de toda sua vida com a reforma evangélica. Em 1787, William Wilberforce conheceu Thomas Clarkson (abolicionista britânico) e um grupo abolicionista ao tráfico negreiro que incluía Granville Sharp, Hannah More e Charles Middleton, importantes nomes da época e que juntos persuadiram Wilberforce a entrar também na causa. Assim, Wilberforce  logo se destacou tornando-se líder do grupo britânico abolicionista. E liderando uma campanha no parlamento inglês contra o tráfico negreiro até a então assinatura do Ato contra o Comércio de Escravos de 1807William Wilberforce foi influente para a libertação dos negros.

Os Luteranos e a escravidão:

A Igreja Luterana foi amargamente dividida por assuntos teológicos e políticos, os mesmos problemas que dividiu a nação em uma guerra civil. A questão da escravidão foi debatida muito antes dos Estados Unidos se dividido pela Guerra Civil. “Na verdade, muito antes da criação da Confederação e o estabelecimento de uma igreja luterana do Sul, as instituições da escravidão e um crescente sentimento de distinção entre Norte e Sul tinham preparado o terreno para essa evolução.” Foi surpreendente, contudo, que a Igreja Luterana entrou no debate sobre a escravidão relativamente tardia, quando comparado a outras denominações. Os metodistas, presbiterianos, batistas ja vinha discutindo a questão da escravidão desde o final de 1700. Dentro da Igreja Luterana, um dos primeiros adversário da escravidão foi o Sínodo Franckean do Estado de Nova York.

Pregadores Luteranos do Norte denunciou o longo silêncio de suas próprias igrejas e outros sobre a questão da escravidão, e confessou que, ao tentar preservar uma falsa paz que tinham, provavelmente, contribuíram para a calamidade da guerra. (Paul A. Baglyos, Luterana Historical Society do-Newsletter Mid Atlantic, Inverno 1999)

Os luteranos do sul retiraram os seus homólogos do Norte, e em 1863 formaram uma nova organização, conhecida como o Sínodo Geral do sul. Embora muitas outras questões podem ter contribuído para a guerra, a disputa principal na Guerra Civil Americana foi a escravidão e, especialmente, a sua expansão para novos territórios ocidentais. Embora alguns luteranos no Norte eram abolicionistas radicais (o Sínodo Franckean sendo uma exceção).  A maior parte dos luteranos do sul eventualmente, apoiavam  o sistema de escravidão e a questão da escravidão havia complicado as suas relações com os seus homólogos do Norte.

Os Congregacionais e a escravidão:

O nome “congregacional” geralmente descreve o seu estilo  organizacional, que promove a autonomia da igreja local e de propriedade, enquanto que promovem companheirismo e responsabilidade entre as Igrejas a nível Nacional.

A Igreja Congregacional foi a primeira igreja da América a se levantar contra o racismo e a escravidão. Também fundou a American Missionary Society(1849) para ajudar na liberdade dos escravos.

Em 1785, a Igreja Congregacional ordenou Lemuel Haynes, o primeiro Afro-americano a ministrar na América.

Entre as denominações protestantes, os congregacionais foram os mais abertamente contra a escravidão.

Nas igrejas congregacionais não aconteceu a divisão entre igrejas do norte e igrejas do sul, acreditamos que divido o seu sistema onde cada congregação local é autônoma e independente.

Em resumo, o protestantismo nos Estados Unidos sofreu grandes consequências, como a divisão e o cisma, com o pecado da escravidão. Nas denominações metodista, batista e presbiterianos, outras questões contribuíram para o racha, mas a escravidão foi a de maior gravidade, em cada caso.  No caso dos anglicanos, luteranos e congregacionais a questão escravista tem suas particularidades, como: sua relação com a escravidão te acontecido fora dos Estados Unidos em outras colônias e até mesmo na Inglaterra que é o caso dos anglicanos; os luteranos apesar de também terem se dividido entre a questão da escravidão, entrou no debate sobre a escravidão já bem mais tarde; Entre as denominações protestantes os congregacionais foram os mais abertamente contra a escravidão, os primeiros da América a se levantar contra o racismo e a escravidão.

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

A Paixão de Cristo e do Negro Simão

Os últimos cinco dias que Jesus Cristo passou vivo foram emocionantes. Aconteceu a sua “Paixão”, celebrada todos os anos pelos cristãos, um episódio trágico até hoje representado no mundo inteiro pelas comunidades cristãs. Neste texto vou levantar algumas questões que, como negro cristão, acredito ser interessante refletirmos na Paixão de Cristo. Uma questão a qual considero muito relevante foi a participação de Simão Cireneu. Lendo os textos bíblicos dos três evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) que narram o episódio, quero fazer algumas reflexões que considero importante para nós negras e negros cristãos. Simão vinha do campo, o soldado romano o vê e logo o obriga a carregar a cruz; ele resiste mas é forçado. Depois que ele aceita levar a cruz, torna-se um aliado de Cristo. No percurso Simão começa a sofrer também ao ver o sofrimento de Jesus, um Simão já envolvido com Cristo.

Analisando os textos bíblicos, procuramos entender o significado de Deus ter escolhido um negro para ajudar o seu Filho nas horas mais difíceis da sua vida. O texto bíblico afirma que Simão Cireneu foi “forçado” a carregar a cruz. Será que entre as multidões que seguiam a Jesus e até mesmo entre os seus discípulos não havia nenhum voluntário pronto a ajudá-lo? Jesus não tinha condições nenhuma de subir o Monte Calvário, com seus 900 metros, e precisava de alguém para ajudá-lo. O próprio Simão Pedro, que Jesus chamou para segui-lo, foi também o primeiro a fugir da cruz, dizendo que nunca tinha visto Jesus e acompanhando todo o acontecimento de longe.

Simão Pedro foi o primeiro seguidor voluntário de Jesus, e Simão o Cireneu foi o ultimo seguidor, involuntário, antes da sua morte. Obrigado a seguir a Cristo levando a sua cruz em nome de um ato diabólico: a morte de um inocente.

Acredito que Deus tem algo a dizer com tudo isso. Voltando à nossa realidade de negros e negras, e pensando em nossos antepassados da diáspora, também percebemos que eles foram involuntários, obrigados a seguir um Cristo em nome de um colonialismo e uma escravidão diabólica. Simão Cireneu na sua experiência e encontro involuntário com Cristo veio a se tornar, juntamente com sua família, alguém de grande importância na Igreja Primitiva, conforme mencionado na Bíblia em vários textos.

Em Atos 13:1 ele reaparece como, Simeão Níger (Simão o negro); ele é um dos pastores da igreja e o homem que impõe as mãos sobre Paulo para enviá-lo ao campo missionário. O homem que um dia carregou a cruz à força agora é um dos pastores da igreja; ele assumiu a cruz. Quando os escravos negros foram trazidos forçados para a América, também foram obrigados a seguir a Cristo. Eles também resistiram, mas logo perceberam que seguir a Jesus Cristo não era aquilo que os seus opressores faziam. Eles assumiram também a cruz, e descobriram um Cristo Salvador e Libertador e já não mais o seguiam por obrigação, mas como participante da sua morte e ressurreição.

O Cristo que outrora era usado para escravizá-los agora era o Cristo da sua libertação da escravidão e racismo. Nos Estados Unidos e outros países da América isso aconteceu no período da escravidão, na colonização da África, e estamos passando ainda por esse processo no Brasil. Mas o que aconteceu com o ultimo discípulo de Cristo, Simão o Negro, também aconteceu com muitos dos nossos antepassados na África, na Diáspora na América e acontece ainda hoje conosco no Brasil.

Paixão de Cristo me fez refletir essas coisas, talvez por não conseguir ver o cristianismo como antes da conversão à minha negritude. Também cansado de ver a história sendo contada sem a nossa participação e procurando olhar com olhos negros e vivendo o processo que chamo de permanente conversão de um negro envolto em um cristianismo branco para um negro envolvido no Cristianismo de Jesus Cristo, de Salvação, Libertação e Negritude.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Pintura de Simão de Cirene por Theophilus de Knoxville Tennessee

É Natal Jesus nasceu em África

Os Evangelhos dizem de maneira explícita que Jesus nasceu em “Belém de Judá, no tempo do rei Herodes” (Mt 2,1 cfr. 2, 5.6.8.16), (Lc 2, 4.15), (Jo 7, 40-43).

Nos tempos antigos, incluindo o tempo de Jesus, Belém de Judá era considerado parte de  África. Até a construção do Canal de Suez, Israel fazia parte da África.

Esta visão haveria de perdurar até 1859, quando o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps pôs-se a construir o Canal de Suez. A partir daí, foi a África separada não somente geográfica, mas sobretudo histórica, cultural e antropologicamente do que hoje chamamos Oriente Médio. Aquela milenar extensão da África passa a figurar nos mapas como se fora Ásia.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

10 pessoas negras nas histórias bíblicas

 

Para percebermos a presença negra na Bíblia devemos considerar o seu contexto, não vamos ver escrito na bíblia: pessoas pretas, negras ou africanas. Mas vamos ler os termos etíopes, egípcios, hebreus, ou outros termos tribais. Etiópia é mencionada mais de 40 vezes na Bíblia; Egito é mencionado aproximadamente 700 vezes, e África é mencionada mais do que qualquer outro continente da terra na Bíblia. Também devemos considerar que o “Oriente Médio”, incluindo a Terra Santa foi conectado ao mapa da África até 1859, quando o Canal de Suez foi concluído. Tudo isso nos mostra que a Bíblia é um livro afro-asiático e tem muitos negros e negras como protagonistas. Nesta direção, vejamos 10 pessoas negras nas histórias bíblicas e como ilustração as imagens da última série do fotógrafo James C. Lewis.

 1 – A Rainha de Sabá

 

A primeira vez que a Bíblia menciona uma Rainha refere-se a uma mulher negra. (Gn 10: 7).  A tradição etíope afirma que o nome da rainha era Makeda, mas as Escrituras se refere a ela como a Rainha de Sabá, ou a Rainha do Sul, e sua fama era tal que 2.000 anos depois,  Jesus Cristo conhecia seus feitos. Jesus se referiu a ela dizendo que tinha vindo dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. – Mt 12.42.

2 – A Rainha Candace

Corajosas guerreiras, as candaces  são as rainhas mães da realeza africana na antiguidade. Em Atos 8, no Novo Testamento da Bíblia, a Rainha Candace é citada quando Filipe, o Evangelista, encontra um chefe dos tesouros de “Candace, rainha dos etíopes“, cujo nome não foi mencionado no texto. Importante esclarecer que na Antiguidade, o termo Etiópia era utilizado para denominar a região onde se situavam os povos negros do continente africano. O nome Candace foi dado a todas as rainhas da Etiópia durante o seu tempo, bem como o título de Faraó foi dado a todos os reis africanos do antigo Egito.

3 – Zípora a mulher negra

Zípora, uma africana, esposa de Moisés, e filha de Jetro (Êxodo 2: 21). Segundo a Bíblia, Deus  permitiu que os israelitas casassem com mulheres cusitas/etíopes ( negras) Êxodo (34: 11 e 16). Há diversas passagens Bíblicas que demonstram que Deus mantinha uma relação única com os etíopes, assim como mantinha com os Israelitas: “Não me sois, vós, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes?” (Amós 9:7), “Príncipes virão do Egito; a Etiópia cedo estenderá para Deus as suas mãos” (Salmo 68:31). Moisés, que escreveu os primeiros cinco livros da Bíblia, se casou com  Zipora, etíope, e foi criticado por Miriã e Arão (Números 12: 1).

4 – Tamar a negra da linhagem de Cristo

Tamar aparece pela primeira vez na Bíblia depois que Judá vai para Canaã. Então Tamar, a mulher Cananeia (Negra) fica grávida de Judá, e dá à luz aos gêmeos Zerá e Perez, formando a Tribo de Judá, antepassados do rei Davi e de José e Maria, os pais terreno de Jesus. Gênesis 38.

5 – Maria a mãe  de Jesus

Os antepassados de Maria na genealogia de Jesus Cristo  são Tamar, Raabe, Rute, Bateseba (Mateus 1:1-16). As primeiras senhoras mencionadas eram de descendência de Cam. Assim, Maria pode ser  descendentes  dos povos semitas e de Cam. Deus enviou  Maria e José para o Egito com o propósito de esconder o menino Jesus do rei Herodes (Mateus 2:13). Eles não poderiam se esconder no norte da África se fosse uma família branca.

6 – Jesus nasceu em Africa

Além da sua linhagem negra, Jesus nasceu em África. Os Evangelhos dizem de maneira explícita que Jesus nasceu em “Belém de Judá, no tempo do rei Herodes” (Mt 2,1 cfr. 2, 5.6.8.16), (Lc 2, 4.15), (Jo 7, 40-43). Nos tempos antigos, incluindo o tempo de Jesus, Belém de Judá era considerado parte de  África. Até a construção do Canal de Suez, Israel fazia parte da África. Esta visão haveria de perdurar até 1859, quando o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps pôs-se a construir o Canal de Suez. A partir daí, foi a África separada não somente geográfica, mas sobretudo histórica, cultural e antropologicamente do que hoje chamamos Oriente Médio. Aquela milenar extensão da África passa a figurar nos mapas como se fora Ásia.

7 – Simão o Negro 

Os evangelhos são unânimes em afirmar que um certo Simão de Cirene ajudou Jesus a carregar a cruz, a caminho do Calvário (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23. 26).  Cirene fica no norte da África. Em Atos 13:1 ele reaparece como, Simeão NígerSimão o negro, ele é um dos pastores da igreja, é o homem que impõe as mãos sobre Paulo para enviá-lo ao campo missionário. A Bíblia fala dos seus filhos e esposa como pessoas importantes na Igreja.

8 – Sofonias o profeta negro

O  capítulo 1 do livro de Sofonias   o identifica pela sua família: “Palavra do SENHOR, que veio a Sofonias, filho de Cusi, filho de Gedalias, filho de Amarias, filho de Ezequias, nos dias de Josias, filho de Amom, rei de Judá.”Sofonias foi filho de um homem chamado Cusi; esse nome – Cush, em hebraico – significa Etiópia, e Etiópia significa “a terra do povo de rostos queimados”, ou seja: pessoas negras; baseando-se nisso, Sofonias foi um homem negro.

9 – Moisés tinha as características físicas dos egípcios

A Bíblia em várias ocasiões descreve os antigos hebreus como parecendo os egípcios. Em  Gênesis capítulo 50 versículos 7-11, a escritura descreve  os hebreus como parecido com os egípcios. Um exemplo bíblico aconteceu no enterro de Jacó (Israel) que morreu na terra do Egito, os hebreus e egípcios foram à terra de Canaã para enterrá-lo. Os cananeus disseram: “Grande luto para os egípcios.”  Lembrando que no cortejo estava  os hebreus e egípcios que vão enterrar um hebreu, e os cananeus identificaram os dois como egípcios. Se os hebreus fosse um povo de pele branca os cananeus teriam reconhecido os dois, dizendo: “Este é um  grande luto dos egípcios e hebreus.”

Moisés era um hebreu – israelita da tribo de Levi (Êxodo 2: 1-3). Ele passou 40 anos no Egito (Atos 7:23), era o neto do Faraó (Êxodo 2: 6, 10).  Moisés tinha  as mesmas características físicas dos egípcios, ele foi criado na casa de Faraó, como o neto de Faraó, quando o faraó ordenou que todas as crianças, do sexo masculino, hebraicas fossem mortas ao nascer. Se os israelitas eram um povo de pele branca, como poderia Moisés hebraico sobreviver secretamente na casa de Faraó, entre egípcios de pele negra durante 40 anos, e não ser notado. As  filhas do sacerdote de Midiã também descreveram Moisés ao pai como um “egípcio”.

10 – Adão o primeiro homem

No hebraico, Adão é definido com o solo  marrom-avermelhado, pele escura como uma sombra.  O Jardim do Éden foi descrito em Gênesis como tendo sido perto de um sistema de quatro rio na região das terras de Cush, Havilá, Assur, que hoje seria perto das fronteiras do Leste do Sudão, Etiópia e Eritréia. O berço da humanidade foi confirmado quando os mais antigos restos humanos foram encontrados na Etiópia em 1974. Ciência e  Bíblia confirmam:  o berço da humanidade foi na África Oriental.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagens da última série pelo fotógrafo internacional: James C. Lewis – ÍCONES DA BÍBLIA  – https://br.pinterest.com/rawnoire/icons-of-the-bible/

O Lutero Negro

A primeira Igreja Protestante Brasileira foi Negra

A primeira tentativa de estabelecer uma igreja protestante no Brasil foi em 1555, que pretendia dar refúgio aos protestantes calvinistas franceses, perseguidos pela inquisição européia. A segunda tentativa foi em 1630, quando os Holandeses tomaram Recife, Olinda e parte do Nordeste, registrando uma presença do protestantismo. Após a expulsão dos holandeses, em 1654, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por mais de 150 anos. Com a chegada da família real e um “jeitinho português” abriu-se uma brecha no monopólio católico, permitindo a presença de outra religião que não fosse a católica: os protestantes estrangeiros não podiam pregar nem abrir uma igreja com formato de templo, mais podia se reunir e cultuar, também podia comercializar a bíblia e até distribui-la. Foi através dessa brecha que um negro, alfaiate, letrado, chamado Agostinho Jose Pereira, conheceu a bíblia e descobriu outra forma de cristianismo. Agostinho teve contato com protestantes estrangeiros que passaram pelo Recife. Por revelação divina, em sonho, torna-se protestante.

Em 1841, Agostinho Jose Pereira surge pregando pelas ruas de Recife. Nasce a primeira igreja protestante brasileira, a Igreja do Divino Mestre, com seus mais de 300 seguidores, negros e negras, todos livres e libertos. Agostinho os ensina a ler e escrever, em uma época que os proprietários de terras eram analfabetos. No Brasil de 1841, fora das colônias estrangeiras, não havia protestantismo algum. O Negro Agostinho foi o primeiro pregador brasileiro e fundou a Igreja do Divino Mestre, primeira igreja protestante do Brasil. Só depois em 1858 o reverendo Roberto Kalley fundou a Igreja Fluminense, episodio considerado pela historia oficial data de fundação da primeira igreja protestante do Brasil, depois vieram outras Igrejas como a presbiteriana (1859), a batista (1871), a anglicana (1889).

Igreja do Divino Mestre, era mística e teologicamente negra. A Igreja fundada por Agostinho fala de libertação bíblica, esperança de uma vida livre da escravidão, o povo negro como a primeira criação humana de Deus, e um Cristo não branco. As idéias de Agostinho eram avançadas e perigosa para a época onde a igreja católica era a religião oficial do Estado, e não admitia nenhuma outra crença a não ser a igreja de Roma. Agostinho ao ler a Bíblia e pregar uma outra forma de cristianismo, que era proibido, criticava o catolicismo com suas estátuas e santos intermediários, ele tornou-se alvo de perseguição da Igreja Católica, mais não foi só a igreja que se sentiu ameaçada com as pregações de Agostinho, as autoridades e a Imprensa de Recife se alvoroçaram com as idéias do Pastor Negro que falava da libertação dos escravos, citava a revolução do Haiti e insurreição escrava nos modos dos negros muçulmanos na Bahia, acontecimentos que deixava os escravistas brasileiros em arrepios. Ele era mais que subversivo, era negro em plena escravidão negra, era protestante em um Estado católico, e pregava a libertação dos negros em uma sociedade que sufocava qualquer movimento que ousasse tal feito. O negro Agostinho era um perigo para o Brasil da época.

A historia de Agostinho deixa muita perguntas sem resposta, pouco sabemos da sua vida, de onde veio, pra onde foi. O que sabemos é que ele era um negro letrado, e que fundou a primeira igreja protestante brasileira, essa igreja era negra. Sabemos também que na sua trajetória política conheceu Sabino o líder da revolta baiana conhecida como a sabinada, também participou da confederação do Equador. Um fato marcante na vida de Agostinho foi a sua prisão em 1846, graças a esse acontecimento foi registrado um pouco da sua vida documentado na imprensa de Recife e em inquérito policial, que hoje são fontes de pesquisas resgatando o legado desse grande homem. A imprensa discutia até onde ele era um rebelde, um fanático religioso, foi acusado de vigarista e enganador da boa fé de negros e pobres. Agostinho tinha 47 anos de idade quando foi preso. O chefe de policia da província suspeitava que a “seita” liderada por Agostinho tinha o objetivo de preparar uma insurreição de escravos. A policia cercou a casa onde a Igreja do Divino Mestre se reunia, prenderam Agostinho e seus fiéis. Com a prisão de Agostinho a sua igreja se expandiu pela cidade, e a perseguição policial se estende aos seus membros. No bairro de Boa Vista, a policia entra na casa de um de seus lideres, o interroga e confisca a sua bíblia. A policia invade a casa de Agostinho e apreende textos intitulados como o ABC, textos esses que criaram um grande alvoroço por conter citações da revolução dos escravos do Haiti. A perseguições prosseguiram aos membros da Igreja do Divino Mestre que registrara 16 pessoas detidas. O seu advogado de defesa foi Borges da Fonseca, um liberal de Pernambuco.

Não sabemos o que aconteceu com o pastor negro Agostinho Jose Pereira depois da sua prisão. Um jornal da época noticiara que Agostinho fora solto pelo hábeas corpos do advogado Borges da Fonseca e que quando passava nas ruas acompanhado pelos seus discípulos a multidão gritava e assoviava. Ao passar por Pernambuco em 1852 o naturalista inglês Charles B. Mansfield referiu-se ao Divino Mestre como um “Lutero Negro”, que não sabia onde ele estava, mas tinha ouvido que tinha sido condenado a 3 anos de prisão ou fora deportado, não sabia o certo. O Lutero Negro, assim como se referiu o inglês Mansfield, deixou um legado para a igreja e sociedade brasileira. Para o Movimento Negro Evangélico deixou uma bela herança histórica: “a primeira Igreja Protestante do Brasil foi negra”.

CONTINUA:

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Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Citações e Referências:

Léonard, Émile-G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP e ASTE, 1981.

Marcus JM de Carvalho – Rumores e rebeliões: estratégias de resistência escrava no Recife, 1817-1848 – 49 – Tempo – Revista do Departamento de Historia da UFF – Nº 6 Vol. 3 – Dez. 1998.

Marcus JM de Carvalho “FÁCIL É SEREM SUJEITOS, DE QUEM JÁ FORAM
SENHORES”: O ABC DO DIVINO MESTRE Afro-Ásia, número 031 Universidade Federal da Bahia, Brasil pp. 327-334, 2004.

 

Cinco evidências que Jesus não era branco

Jesus era Negro?

A questão da cor de Jesus sempre foi um tema polêmico, evocando fortes paixões tanto a favor como contra a negritude e branquitude de Cristo. Tem uma brincadeira que os negros norte-americanos costumam dizer sobre três maneiras que prova que Jesus era Negro:

  • Ele chamou todos de  irmãos,
  • Gostava do Evangelho, e
  • Ele não poderia ter um julgamento justo.

Brincadeira  à parte, o fato é que existe fortes evidencias bíblicas que Jesus não era branco. Vejamos 5 delas:

 1 .   Jesus nasceu em Africa.

Os Evangelhos dizem de maneira explícita que Jesus nasceu em “Belém de Judá, no tempo do rei Herodes” (Mt 2,1 cfr. 2, 5.6.8.16), (Lc 2, 4.15), (Jo 7, 40-43). Nos tempos antigos, incluindo o tempo de Jesus, Belém de Judá era considerado parte de  África. Até a construção do Canal de Suez, Israel fazia parte da África. Esta visão haveria de perdurar até 1859, quando o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps pôs-se a construir o Canal de Suez. A partir daí, foi a África separada não somente geográfica, mas sobretudo histórica, cultural e antropologicamente do que hoje chamamos Oriente Médio. Aquela milenar extensão da África passa a figurar nos mapas como se fora Ásia.

 2 .  Jesus tinha presença negra na linhagem familiar

A genealogia de Jesus foi misturada com a linha de Cam desde os tempos passados em cativeiro no Egito e na Babilônia. Nos antepassados de Jesus através de Cam, lado feminino desta mistura, há cinco mulheres mencionadas na genealogia de Jesus Cristo ( Tamar, Raabe, Rute, Bateseba e Maria) (Mateus 1:1-16). As primeiras senhoras mencionadas eram de descendência de Cam. Assim, Jesus pode ser aclamado etnicamente pelos povos semitas e descendentes de Cam.

 3 .  Jesus era da tribo de Judá, uma das tribos Africanas de Israel.

Ancestrais masculinos de Jesus vêm da linha de Sem (miscigenados). No entanto, a genealogia de Jesus foi misturada com a linha de Cam desde os tempos passados em cativeiro no Egito e na Babilônia. O antepassado de Jesus através de Cam é narrado em Gênesis 38: então Tamar, a mulher Cananéia (Negra) fica grávida de Judá, e dá à luz aos gêmeos Zerá e Perez, formando a Tribo de Judá, antepassados do rei Davi e de José e Maria, os pais terreno de Jesus.

 4 .  Jesus se escondeu entre os Negros.

Não foi por acaso que Deus enviou a Maria e José para o Egito com o propósito de esconder o menino Jesus do rei Herodes (Mateus 2:13). Ele não poderia ter sido escondidos no norte da África se fosse um menino branco. Não por proteção militar já que nessa época o Egito era uma província romana sob o controle romano, mas porque o Egito ainda era um país habitado por pessoas negras. Assim, José, Maria e Jesus teriam sido apenas mais uma família negra entre os negros, que tinham fugido para o Egito com a finalidade de esconder Jesus de Herodes, que estava tentando matar o menino. Se Jesus fosse branco, loiro de olhos azuis, teria sido difícil para ele e sua família se esconder entre os egípcios negros sem ser notado. O povo hebreus era muito parecido com povo egípcios, caso contrario  teria sido difícil reconhecer uma família hebraica entre os egípcios Negros. Foi no Egito que o povo de  Israel  teve seu auge da negritude, Setenta israelitas entraram no Egito e lá ficaram  durante 430 anos, trinta anos os israelitas foram hóspedes, e 400 anos  cativos no Egito, eles e seus descendentes se casaram com não-israelitas, chegando a mais de 600.000 homens, mulheres e crianças. Saíram do Egito uma multidão misturada. Etnicamente, os seus antepassados eram uma combinação de afro-asiáticos.

 5 .  Jesus era semelhante pedra de jaspe e de sardônio.

Em apocalipse a Bíblia continua mostrando a negritude de Jesus. Ele é chamado o Cordeiro de Deus segundo as Escritura Sagrada, com seu cabelo lanoso, sendo comparado a lã de cordeiro, e os pés com a cor de bronze queimado (Apocalipse 1:15), com uma aparência semelhante pedra de jaspe e de sardônio (Apocalipse 4:3), que são geralmente pedras amarronzadas. As cores de jaspe e sardônio não são únicas e absolutas, são diversas cores.

Sei que para a experiência de fé de muitos cristãos a cor de Jesus não é relevante, também sei que muitos “cristãos” dizem que se Jesus não fosse branco eles não seriam cristãos. O importante da revelação dessas evidencias é que elas não são percebidas pelos leitores da Bíblia. A fim de que a nossa visão do Jesus histórico se torne mais negra, é mister que comecemos por derrubar alguns mitos tidos como dogmas. Acredito que existam outras evidencias que poderia citar neste texto, mais ficamos por enquanto com essas cincos. O texto continua aberto para receber outras evidencias e questionamentos dessas. Sinta-se à vontade para colaborar e enriquecer esse artigo.

Por Hernani Francisco da Silva – do Afrokut