O que é Africologia?

Africologia ou estudos africanos, estudos negros, é o estudo multidisciplinar das histórias, políticas e culturas dos povos africanos e diáspora negra. Seu foco combina a África e a diáspora africana em um conceito de uma “experiência africana” com uma perspectiva pan-africana. Em essência, os estudos africanos e os estudos negros são termos intercambiáveis ​​que enfatizam os estudos negros em um sentido global e comparativo, enquanto os estudos afro-americanos enfatizam a experiência afro-americana. 

Definição de Africologia:

Uma disciplina acadêmica interdisciplinar que estuda a história e a cultura dos povos africanos em todo o mundo.

O impacto da Africologia na Afrocentricidade:

“O impacto mais importante da Afrocentricidade tem sido no campo da Africologia. Como o estudo afrocêntrico de fenômenos africanos, a Africologia assume o papel de uma disciplina para estudos referidos como AfroAmericanos, Africana, ou Estudos Negros. O que a disciplina capta é o fato de que os oprimidos devem resistir a todas as formas de escravização, e os fundadores do Movimento dos Estudos Negros nos anos 1960 foram claros de que o “Establishment” não estava prestes a abandonar sua posição de domínio sem luta, neste caso, uma luta intelectual. Aceitar a definição de africanos como marginais e marginalizados nos processos históricos do mundo, incluindo o mundo africano, é abandonar toda a esperança de reverter a degradação dos oprimidos.” Molefi Kete Asante.

Origem da Africologia:

Os departamentos de estudos africanos (Africana) em muitas das principais universidades surgiram dos programas e departamentos de estudos negros formados no final dos anos 1960 no contexto do Movimento dos Direitos Civis dos Estados Unidos, conforme os programas de estudos negros foram reformados e renomeados como “estudos africanos“, com o objetivo de abranger o continente africano e toda a diáspora africana usando terminologia enraizada na geografia e na história ao invés de raça. O primeiro departamento de estudos “Africana” foi formado após a aquisição de Willard Straight Hall na Cornell University, uma universidade da Ivy League localizada em Ithaca, Nova York .

Objetivo da Africologia:

Africologia examinam pessoas de ascendência africana onde quer que possam ser encontradas – por exemplo, na América Central e do Sul, na Ásia e nas Ilhas do Pacífico. Seus principais meios de organização são raciais e culturais. Muitos dos temas dos estudos de Africana são derivados do posição histórica dos povos africanos em relação às sociedades ocidentais e na dinâmica da escravidão, opressão, colonização, imperialismo, emancipação, autodeterminação, libertação e desenvolvimento socioeconômico e político. 

O objetivo deste campo de estudo interdisciplinar é ajudar os alunos a ampliar seu conhecimento da experiência humana em todo o mundo, apresentando um aspecto dessa experiência – a Experiência Negra – que tem sido tradicionalmente negligenciada ou distorcida por instituições educacionais. Além disso, a Africologia se esforça para apresentar uma perspectiva afro-centrada, incluindo fenômenos relacionados à cultura. 

Do Afrokut

Consumir significa existir no mundo!

Amit Goswami. Professor aposentado de Física Teórica da Universidade de Oregon, bem como estudioso da Parapsicologia e defensor de uma linha de pensamento pseudocientífico conhecida como misticismo quântico.

Racismo e modernidade a partir da ideia de realidade simulada: física quântica e psicologia negra Sakhu Sheti

Um ensaio sobre a compreensão do racismo a partir da ideia de realidade simulada – Por José Evaristo S. Netto

Nós consumimos realidades construídas por outros, ao invés de construímos as nossas próprias realidades!

De fato, a realidade é cada vez mais discutida por teóricos e pensadores de diferentes áreas do conhecimento, que buscam compreensões para suas diferentes facetas observadas, sejam estas psicológicas, socioafetivas, físicas, biológicas, espirituais, ou facetas da realidade observadas a partir da perspectiva de qualquer outro campo do saber. No campo da física teórica, importantes pesquisadores têm oferecido perspectivas epistemológicas e até cosmovisões não ocidentais super relevantes para a compreensão do mundo, do universo, e consequentemente da realidade, do tempo e do espaço.

O físico quântico indiano Amit Goswami, em seu livro O Universo Autoconsciente, trabalha com a ideia de que a unidade formadora de tudo, inclusive da realidade, não é a matéria como a física clássica (newtoniana) argumenta, mas antes a consciência. Goswami demonstra que o universo é matematicamente inconsistente sem a presença de uma “consciência reguladora do cosmos”, e que a Consciência é a base de todo o ser. Parece complicado, e de fato é (((hahaha))) mas vamos tentar destrinchar um pouco essa perspectiva. Para superar os paradoxos teóricos intransponíveis quando utilizado somente os pressupostos da física newtoniana, as teorias científicas de Goswami respeitam e incorporam os conhecimentos das culturais tradicionais africanas, orientais e ameríndias, não ocidentalizadas e/ou colonizadas. Ou seja, Goswami produz uma ciência decolonial, que traz a possibilidade de compreensão do mundo e da realidade a partir de outros referenciais culturais que não são apenas ocidentais, e que não são regulados pelo racismo e a colonialidade.

Como exemplo, quando perguntado o que é a morte (programa Roda Viva, 2007, link abaixo) ele responde (entrevista: 2min53seg até 4min28seg):

“Há morte quando a consciência pára de causar o colapso das possibilidades quânticas em eventos reais da experiência. Esta é a definição técnica da morte. Então, isto é interessante pois na física quântica todos os objetos são possibilidades. Na verdade, momento após momento, incluindo nosso corpo e nosso cérebro, momento após momento nós causamos o colapso dessas possibilidades em eventos reais que experimentamos, com o nosso corpo e o nosso cérebro. Quando perdemos esta capacidade de convertem as possibilidades em eventos reais, nós morremos. Mas perceba o que está acontecendo. As possibilidades permanecem. É claro que algumas dessas possibilidades são possibilidades materiais. Essas possibilidades vão se desintegrar, no sentido do desaparecimento gradativo da estrutura, do desaparecimento gradativo da memória. Os corpos se desintegram. Mas, além do material, temos também os componentes sutis, como a nossa mente, como o vital, como os nossos arquétipos supra mentais, que vão além da mente e do vital, que também definem o nosso ser. Estes corpos são sutis. Eles não têm estrutura nenhuma. Eles podem continuar para além da nossa morte. Este é o conceito de sobrevivência após a morte.”

O entendimento de vida e morte a partir da física quântica de Amit Goswami traz muitas semelhanças com a compreensão de “ser no mundo” a partir da lógica ioruba, segundo o entendimento de que as pessoas possuem um corpo e um espírito, como o psicólogo Wade W. Nobles descreve:

O corpo, ou ara, é formado pela divindade Orisa-nla. É por meio do ara que a pessoa interage com o meio ambiente; é essa a parte da pessoa que se pode tocar e sentir. O arapode sofrer danos e se desintegra após a morte. Entretanto, o componente “essencial” da pessoa é o espírito, a “força espiritual” ou a espiritualidade (emi). O emidá vida a pessoa. É seu elemento divino e a vincula diretamente a Deus. Depois que a pessoa morre, o emiretorna ao Elemi(o dono do espirito, Deus) e continua a viver. Como pessoa, o individuo também possui a cabeça interior, ou ori inu. Oludumaré (o ser supremo) dá essa cabeça diretamente. Ela constitui o “espírito” particular da pessoa. Ori inu é o guardião do eu; carrega o nosso destino e influencia a personalidade. Além de emi (essência divina) e ori inu (essência pessoal), a pessoa tem okan. Essa palavra significa coração, mas, como aspecto constituinte da pessoa, representa o elemento imaterial (essência) que é a sede da inteligência, do pensamento e da ação. Assim, por vezes é chamado de “alma-coração” da pessoa. Acredita-se que a okanexista antes mesmo de a pessoa nascer. É a okandos ancestrais que reencarna no recém-nascido. Para ser uma pessoa, os iorubas também acreditam que se deve ter um ori e um ejeOri governa, controla e orienta a vida da pessoa e de fato a ativa. Ori é o portador do destino e ajuda a pessoa a realizar aquilo que veio fazer na Terra. Ori é ao mesmo tempo e “essência da pessoa” e seu guardião e protetor. Está intimamente ligado a emiEje é o sangue, expressão física da energia eletroquimicomagnética que constitui a força (essência) que guarnece e anima a vida. Os iorubas também acreditam que o iye é um componente da pessoa. O Iye é o elemento imaterial às vezes referido como a mente. (Nobles, 2009. Sakhu Sheti: retomando e reapropriando um foco psicológico afrocentrado. No livro: Afrocentricidade: Uma Abordagem Epistemológica Inovadora)

Voltando a Goswami,ele se baseia em uma análise da realidade a partir do paradigma Monista Idealista, porém não descarta o Realismo Materialismo e a mecânica newtoniana do entendimento das leis universais na natureza. Ele nos convida objetivamente a ampliarmos a nossa visão para a além do que imediatamente ouvimos, tocamos, sentimos e enxergamos, apontando que em dimensões mais sutis da existência, porém não menos importantes, a realidade se faz em eventos reais de colapsos — impactos, produzidos por uma consciência não-local que escolhe o que vai acontecer dentre as possibilidades quânticas que se apresentam. Isso significa que os fenômenos observados nos experimentos da física quântica não são produzidos pelo ego manifesto das pessoas, e sim por uma consciência maior, que não esta em mim, nem em você, mas que atravessa a todos nós, portanto uma consciência não-local. Goswami trabalha com a ideia de uma consciência do cosmos, como se estivéssemos mergulhados nela, como uma piscina onde a água representasse esta consciência não-local. A aguá esta em todo lugar, a água é o próprio meio que nos circunda. Toscamente falando, esta é a consciência enquanto unidade formadora de todo ser, na mecânica de não-localidade quântica do físico Amit Goswami.

Esta consciência não-local é que define (escolhe) os eventos reais — a realidade quântica. Ela é a que organiza as possibilidades dos eventos acontecerem ou não, de qual forma, e por quais caminhos. Voltando a metáfora da piscina sendo a água a consciência não-local, compreendemos que não somos a água, mas estamos em contato com ela. Se houver uma descarga elétrica dentro da piscina, todos nós seremos eletrocutados, porque a água conduzirá a corrente elétrica para todas as pessoas. A consciência não-local, considerando a mecânica quântica de Goswami, têm um comportamento parecido. Ela não conduz eletricidade, mas arquétipos supra mentais, memórias imateriais, corpos sutis, produzidos por nós, pelos nossos antepassados, pelos nossos ancestrais, que são dados, informações, sentimentos que podem ser acessados, processados, e viabilizados por qualquer um de nós, desde que tenhamos as ferramentas necessárias para esta espécie de “prospecção quântica” da consciência não-local.

CONTINUA…:

 

Por José Evaristo S. Netto – Educador, dedicado aos estudos sobre corporeidade, cultura, identidades, sociocognição, racismo e colonialidade. Mestre em Educação Física.