Principais Organizações do Movimento Negro Evangélico no Brasil

O Movimento Negro Evangélico no Brasil é composto por uma rede diversificada de organizações, grupos e coletivos que atuam em diferentes regiões do país. A atuação dessas organizações pode variar em termos de foco, abrangência e estratégias. É importante ressaltar que a dinâmica do movimento é fluida, com novas organizações surgindo e outras se consolidando ao longo do tempo.

O Movimento Negro Evangélico contemporâneo começa a se formar na década de 70 e 80, onde surgem pessoas e organizações com o propósito trabalhar a questão racial negra nas igrejas evangélicas. Em 1973 é criada a Comissão Nacional de Combate ao Racismo por iniciativa de um grupo de negros e negras metodistas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Em 1985 a Igreja Metodista oficializa a Comissão Nacional de Combate ao Racismo e cria a Pastoral de Combate ao Racismo. Em seguida é criada a Comissão Ecumênica Nacional de Combate ao RacismoCENACORA, com varias igrejas históricas. Neste mesmo ano, o pastor Rubens dos Santos, cria a Comunidade Martin Luther King, em 1986 o pastor Rubens implanta a Igreja de Deus em Cristo no Brasil, a maior igreja pentecostal negra norte-americana. Nessa década surgem várias outras organizações: a Associação Evangélica Palmares (1987), o GEVANABGrupo Evangélico Afro Brasileiro (1988), o Coral de Resistência de Negros Evangélicos (1988), a Sociedade Cultural Missões Quilombo (1988), Capoeiristas de Cristo, Negros Evangélicos de Londrina, entre outros.

A partir dos anos 2000, o movimento começa a criar forma através do surgimento de organizações em diversos estados brasileiros, voltadas para a temática de combate às discriminações raciais dentro das igrejas evangélicas, tais como:

Grupo de Reflexão Teológica, Teólogos Negros, AGAR (Sociedade Teológica de Mulheres Negras),  Ministério de Combate ao Racismo da Igreja Metodista, o Grupo de Combate ao Racismo da Igreja Batista (Centenário, Duque de Caxias, Rio de Janeiro). Fórum das Mulheres Cristãs Negras de São Paulo, Projeto Palmares da Igreja Batista – SP, Negros Evangélicos do Rio de Janeiro, Ministério Azusa, ANNEB – Alianças de Negros e Negras Evangélicos do Brasil, Fórum de Lideranças Negras Evangélicas,  Fórum Afrodescendentes Evangélicos, Pastorais de Negritudes, entre outras.

Algumas dessas organizações se destacaram por sua atuação histórica e pela influência em suas comunidades, muitas delas hoje extintas.

Atualmente, o MNE está presente em 10 estados brasileiros, engajando as comunidades evangélicas em uma reflexão crítica sobre inclusão e justiça. Embora não exista uma organização jurídica centralizadora do MNE, o Movimento Negro Evangélico tem uma  Coordenação Nacional: o MNE Brasil.

Algumas das principais organizações do Movimento Negro Evangélico:

  • Rede Mulheres Negras Evangélicas: O MNE conta com a participação de mulheres negras evangélicas, a rede foi criada no 1º Encontro de Mulheres Negras Cristãs (EMNC) realizado em Agosto de 2018 pelo Movimento Negro Evangélico em Recife protagonizado pelo Comitê de Gênero e Direitos Humanos do MNE.
  • Cuxi Coletivo Negro Evangélico: a Cuxi é um movimento que luta por justiça e igualdade racial, unindo fé e igualdade. O coletivo promove diálogo e transformação, e tem como ações sociais: Leitura bíblica afrocentrada, Estética negra, Juventude negra, Educação laica.
  • Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil: a ANNEB é uma organização dedicada a promover o fortalecimento do movimento negro evangélico para comungar experiências, reflexões e propostas concretas visando à mobilização da igreja na contribuição de uma sociedade mais justa e igualitária.
  • Fórum de Negritude da Aliança de Batistas do Brasil: é um movimento atuante sobre questões relacionadas à negritude. A Aliança de Batistas do Brasil se compromete com a construção de uma sociedade justa, plural e democrática.
  • Coletivos e grupos de estudo: Existem diversos coletivos e grupos de estudo espalhados pelo país, que se reúnem para discutir temas relacionados à teologia negra, à identidade negra e à luta por justiça racial. São elas: Coletivo Reverendo Martin Luther King Jr.Coletivo Independente de Pessoas Negras da Igreja MetodistaColetivo NúbiasGrupo de Estudos Antirracista África BíblicaGT “Teologia e Negritude” da FTLPastoral de Negritude Igreja Batista do PinheiroPastoral da Negritude Rosa Parks, entre outros.
  • Afrokut: Uma das plataformas online mais conhecidas sobre o tema, o Afrokut oferece informações, artigos e debates sobre o Movimento Negro Evangélico, além de promover eventos e ações de conscientização.

Características comuns dessas organizações:

  • Foco na teologia negra: A maioria dessas organizações se baseia nos princípios da teologia negra, buscando uma interpretação da Bíblia a partir da experiência da pessoa negra.
  • Luta contra o racismo: A luta contra o racismo institucional e cultural é uma das principais bandeiras dessas organizações.
  • Promoção da identidade negra: Essas organizações trabalham para promover a valorização da identidade negra e da cultura afro-brasileira.
  • Articulação com outros movimentos sociais: O Movimento Negro Evangélico mantém estreitas relações com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o Movimento Feminista.

Desafios e perspectivas:

  • Visibilidade: Apesar de sua importância, o Movimento Negro Evangélico ainda enfrenta desafios para conquistar maior visibilidade na sociedade brasileira.
  • Diversidade interna: O movimento é composto por pessoas com diferentes visões teológicas e políticas, o que pode gerar debates internos e divergências.
  • Articulação com as igrejas: Uma das grandes desafios é promover um diálogo mais profundo com as igrejas evangélicas, buscando transformar as práticas e as teologias predominantes.

As organizações do Movimento Negro Evangélico desempenham um papel fundamental na luta por justiça racial no Brasil. Ao unir fé e ativismo, elas contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Do Afrokut

 

A teologia negra: um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil

A Influência da Teologia Negra no Brasil

A teologia negra desempenhou um papel fundamental na formação e no desenvolvimento do Movimento Negro Evangélico no Brasil. Originária dos Estados Unidos, essa corrente teológica, que busca interpretar a Bíblia a partir da experiência da pessoa negra, encontrou um terreno fértil em nosso país, onde as questões raciais sempre foram cruciais.

Como a teologia negra influenciou o Brasil:

  • Conscientização e Empoderamento: A teologia negra proporcionou ferramentas teóricas e espirituais para que os negros brasileiros se conscientizassem da dimensão racial de suas opressões e se empoderassem para a luta por justiça social. Ela ofereceu uma nova leitura das Escrituras, destacando os aspectos que falam de libertação e de luta contra a opressão.
  • Críticas ao Racismo Institucional: A teologia negra contribuiu para uma crítica contundente ao racismo institucionalizado na sociedade brasileira, incluindo as igrejas. Ela denunciou as formas sutis e explícitas de discriminação racial, incentivando os evangélicos negros a se posicionarem contra essas práticas.
  • Valorização da Cultura Negra: Ao valorizar a experiência negra e sua cultura, a teologia negra contribuiu para o resgate da autoestima e da identidade dos negros brasileiros. Ela incentivou a valorização das tradições afro-brasileiras e a busca por uma expressão religiosa mais autêntica e contextualizada.
  • Articulação com a Luta Social: A teologia negra impulsionou a articulação do Movimento Negro Evangélico com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o movimento estudantil. Ela fortaleceu a luta por direitos civis e justiça social, inspirando muitos ativistas a se engajarem nessa causa.
  • Formação de Lideranças: A teologia negra contribuiu para a formação de lideranças negras dentro das igrejas e nos movimentos sociais. Esses líderes, inspirados pelos princípios da teologia negra, passaram a ocupar espaços de decisão e a influenciar as políticas das igrejas e da sociedade em geral.

Exemplos de aplicação da teologia negra no Brasil:

  • Criação de grupos de estudo: Muitos grupos de estudo foram criados para aprofundar o estudo da teologia negra e discutir suas implicações para a realidade brasileira.
  • Desenvolvimento de projetos sociais: Diversos projetos sociais foram desenvolvidos por negras e negros evangélicos, visando promover a inclusão social e o desenvolvimento de comunidades empobrecidas.
  • Produção de materiais didáticos: Livros, artigos e outros materiais didáticos foram produzidos para difundir os princípios da teologia negra e facilitar o acesso a essa corrente teológica.
  • Organização de eventos: Conferências, seminários e encontros foram organizados para debater as questões raciais e a teologia negra, reunindo teólogos, pastores, ativistas e outros interessados no tema.

Em suma, a teologia negra foi um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil, fornecendo um arcabouço teórico e espiritual para a luta contra o racismo e a promoção da justiça social. Ao valorizar a experiência negra e a cultura afro-brasileira, a teologia negra contribuiu para o empoderamento dos negros brasileiros e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Do Afrokut

A História do Movimento Negro Evangélico no Brasil

O Movimento Negro Evangélico no Brasil tem raízes profundas, entrelaçando fé, identidade e luta por justiça racial. Embora suas manifestações mais organizadas se concentrem nas últimas décadas, suas origens remontam ao período colonial.

Os Primórdios: Igrejas Negras e a Resistência

  • Século XIX: A primeira Igreja Protestante Brasileira, a Igreja do Divino Mestre, fundada por Agostinho José Pereira em 1841, o Lutero Negro, era predominantemente negra. Essa e outras iniciativas demonstravam a presença e a organização de negros evangélicos desde o início do protestantismo no país.
  • Resistência e Identidade: Essa igreja pioneira servia como espaço de resistência e afirmação da identidade negra, oferecendo um contraponto à hegemonia católica e às discriminações sofridas pela população negra.

A Década de 1970: Um Novo Impulso

  • Influência da Teologia Negra: A teologia negra, que emergiu nos Estados Unidos, inspirou muitos líderes religiosos negros no Brasil a refletir sobre a fé a partir da experiência da opressão racial.
  • Conscientização e Organização: A década de 1970 foi marcada por um crescente processo de conscientização racial e pela organização de movimentos sociais, e o pontapé inicial para o surgimento do Movimento Negro Evangélico contemporâneo.
  • Articulação com a Luta Social: Os evangélicos negros passaram a se articular com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o movimento estudantil, fortalecendo a luta por direitos civis e justiça social.

Décadas de 1980 e 2000: A Consolidação do Movimento

  • Crescimento e Diversidade: Nas décadas seguintes, o movimento se consolidou, com a criação de diversas organizações e grupos de estudo. A diversidade de expressões religiosas e teológicas também se ampliou.
  • Questões Centrais: A luta contra o racismo institucional, a defesa de políticas públicas afirmativas e a valorização da cultura negra foram e continuam sendo questões centrais para o movimento.
  • Principais Organizações do Movimento Negro Evangélico no Brasil: A partir dos anos 2000, o movimento começa a criar forma através do surgimento de organizações em diversos estados brasileiros, voltadas para a temática de combate às discriminações raciais dentro das igrejas evangélicas.

Século XXI: Desafios e Avanços

  • Novos Desafios: O século XXI trouxe novos desafios, como o crescimento do conservadorismo religioso e a intensificação do debate sobre questões de gênero e sexualidade.
  • Articulação e Visibilidade: Apesar dos desafios, o movimento negro evangélico continua atuante, articulando-se com outros movimentos sociais e buscando maior visibilidade na sociedade brasileira.
  • Uma Força pela Justiça Racial: A luta por justiça racial permanece como uma das principais bandeiras do movimento, que busca transformar as realidades de desigualdade e discriminação que ainda persistem no país.

Legado e Importância

O Movimento Negro Evangélico tem um papel fundamental na história da luta antirracista no Brasil. Ao unir fé e ativismo, ele contribui para:

  • Democratizar as igrejas: Promove a discussão sobre raça e racismo dentro das igrejas, contribuindo para a democratização desses espaços.
  • Fortalecer a luta por justiça social: Articula a fé com a luta por justiça social, inspirando outras pessoas a se engajarem nessa causa.
  • Diversificar o movimento negro: Amplia a luta antirracista, incluindo um público que antes era pouco representado.

Em síntese, a história do Movimento Negro Evangélico no Brasil é marcada por resistência, organização e luta por justiça racial. Desde suas origens até os dias atuais, esse movimento tem sido fundamental para a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

Do Afrokut