Racismo na Igreja Batista brasileira

O RACISMO À BRASILEIRA DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA DE 1871 à 2019

(Nota de repúdio do Movimento negro evangélico do Brasil)

A primeira igreja Batista do Brasil, surgiu em 1871, na cidade de Santa Bárbara do Oeste. Ela foi fundada por pastores do Sul dos EUA, que eram escravagistas, não só trouxeram escravizados como tem relatos oficiais de cartas de pastores Batistas recomendando seus colegas a plantarem igrejas no Brasil. Por ser um país em que tinha um sistema escravagista, muito próximo com o Sul dos EUA.

Nunca houve carta da CBB pedindo perdão as irmãs e irmãos negros brasileiros, A CBB deve perdão pela sua omissão durante o processo da escravidão no país. A CBB nega o racismo institucional vigente na estrutura da organização atualmente. A mais poderosa instituição batista do país tem como seu principal evento para a juventude, o congresso Despertar, ele ocorre bienalmente. Pela primeira vez na história da denominação uma edição do evento trataria do tema “decolonizando o olhar: O racismo atinge a igreja?”. Com a presença de Marco Davi e Fabíola Oliveira. Até que um pastor branco que reside na Flórida começou a perseguir os convidados. Então a CBB, entrou em contato com a coordenação da juventude Batista brasileira, ordenando desconvidar o Marco e a Fabíola.

O evento contava com 35 mesas de debate e a ÚNICA em que os preletores foram desconvidados foi a que tratava sobre racismo. Na tentativa de amenizar a situação, transformaram a mesa de debate, em uma roda de diálogo. Agora, analisem seriamente a situação. Houve uma roda de diálogo sobre racismo, dentro de um ato/processo de racismo institucional. Após toda a exposição dos convidados, ainda assim, houve uma conversa sobre o tema.

O Movimento Negro Evangélico do Brasil entende o ato, como uma violação principalmente aos convidados que foram expostos e humilhados institucionalmente. Convidados estes, que são referência como ativistas dentro do movimento negro, de fé evangélica. Entendemos que as pessoas negras que participaram do processo de construção também foram violadas ao ter que obedecer uma atitude racista da instituição. Se querem nos colocar uns contra os outros, estaremos em posição de repreensão e exortação em amor. Porém, também com muita indignação, pois onde o ódio está sendo servido devemos nos levantar da mesa e ir comer com os que foram odiados.

O movimento negro evangélico entende que o racismo institucional se configura explicitamente como uma violação dos direitos humanos e um pecado estrutural, além de que, em nossa constituição Racismo se configura crime. A reconciliação só é possível através do arrependimento. Rogamos ao Eterno que o espírito de justiça caia sobre toda injustiça praticada. Entendemos que todos que têm sede e fome de justiça, se levantam profeticamente para denunciar e combater o Racismo nesse país.

Movimento Negro Evangélico do Brasil

O racismo atinge a Igreja quando a instituição religiosa opera o racismo

CANCELAMENTO DA JORNADA DE CONTEÚDO “DECOLONIZANDO O OLHAR: O RACISMO ATINGE A IGREJA?”

Hoje recebi uma ligação me comunicando sobre o cancelamento da mesa onde eu e o pastor Marco Davi Oliveira falaríamos sobre o pecado do racismo.
Não foi uma ligação diretamente da coordenação da Juventude Batista Brasileira, mas foi uma ligação autorizada pela instituição, em consonância com decisão tomada pela Convenção Batista Brasileira.

Depois de uma semana de difamações e maledicências envolvendo meu nome e minha caminhada na direção do debate interreligioso pela promoção do respeito com adeptos das religiões de cosmovisão africana e da dignidade de mulheres e homens pretos que são alvo do racismo religioso praticado pela instituição evangélica brasileira, foi deliberado o silenciamento de nossa fala.

Foi uma cruzada covarde: isso precisa ficar marcado!
Um ataque orquestrado por membros de um setor extremamente conservador que usou de de falas minhas isoladas e retiradas de seu contexto original para desqualificar a minha pessoa e minha jornada enquanto mulher preta cristã.
Temos tudo documentado. Textos em diversos grupos de Whatsapp, no brasil inteiro, com único e exclusivo objetivo do meu silenciamento.

Mas a jornada segue, minhas irmãs e irmãos!
Um debate que era pra durar uma hora e meia em um congresso, está durando mais de 100 horas.
Um debate que se dá, ainda tímido, nas igrejas locais, toma o brasil todo.
O Pecado do Racismo, que tem sido algoz, silencioso e violento algoz, de servos e servas de Deus dentro das denominações, hoje é desmascarado.

A pergunta foi respondida.
O racismo atinge a Igreja quando a instituição religiosa opera o racismo.

Mas… que tempo bom vivemos hoje!
Tempo em que Jesus torna nítido e público que o interesse de retomar o dom profético da Sua Igreja é Dele.
Então, toda e qualquer perseguição passa a fazer sentido para nós que acreditamos no Cristo da Cruz.

Aos que tem me sustentado em oração, gratidão profunda.
Seguimos em fé e em Amor sendo Igreja de Jesus, para além da violência e omissão da instituição.

Seguimos em Amor.
Não no que é vrívolo e dependente dos nossos arroubos sentimentais.
Mas no Amor que é decisão diária na direção do nosso próximo.
NO AMOR QUE LANÇA FORA TODO O MEDO

Por Fabíola Oliveira

Só Jesus Expulsa o Racismo da Igreja Evangélica brasileira

CARTA ABERTA AO BRASIL BATISTA

Em decorrência da minha participação no Despertar 2019 (evento promovido pela Juventude Batista Brasileira, onde teremos, eu e o querido pastor Marco Davi Oliveira, a rica oportunidade de falar com jovens de todo o país sobre a prática do racismo na ambiência eclesiástica), venho sofrendo ataques difamatórios via redes sociais de pessoas que eu nem sequer conheço e que, consequentemente, também não me conhecem, não conhecem minha caminhada, não vivenciam a jornada da vida ao meu lado, não comeram nem uma colher de sal comigo.

Por essa razão, eu, Fabíola Oliveira, filha de Dona Maria da Penha, nossa ancestral, serva de Jesus Cristo, o Favelado de Nazaré, venho por meio desta carta dizer que Só Jesus Expulsa o Racismo da Igreja Evangélica brasileira.

Mas, antes de expulsá-lo, Jesus o revela.
Ele faz com que o seu nome seja conhecido: racismo.

Ele faz a comunidade perceber que há uma perseguição específica aos corpos pretos que denunciam o pecado do racismo dentro das instituições.

Ele, o Cristo da Cruz, faz saltar aos olhos dos que ainda não vêem, que há um incômodo direcionado àquilo que vozes pretas podem dizer. E dirão!

Basta de silêncio.
Porque nossas vozes anunciam o Reino de Deus. E onde o Reino de Deus é anunciado, há profecia. E onde há profecia, há quebra do jugo do silenciamento. E onde o jugo do silenciamento é desmantelado, há libertação.

Quem fala aqui é uma serva de Deus, liberta da opressão do racismo. Em franco processo de cura dos anos de perversidade contra a minha existência e contra a existência dos meus ancestres.

Quem fala aqui é uma mulher livre, que conheceu verdadeiramente a Jesus na vida adulta, e ao ser convidada para trilhar o caminho que é o próprio Cristo, foi também convidada à liberdade.

Não me incomodo com as ofensas.
Já me chamaram de vagabunda, de prostituta. (Peço perdão pelos termos fortes, mas é para que os irmãos e irmãs vejam como o fanático religioso evangélico pode ser raivoso.) Já me disseram que eu era motivo de vergonha pra comunidade evangélica brasileira.
Motivo de vergonha porque falo do Cristo que Ama e não odeia; do Cristo que não é proselitista, mas é respeitador e incentivador da agência e da autonomia humana; do Cristo que não demoniza a experiência de fé dos nossos irmãos e irmãs do candomblé.

Ainda assim, não me incomodei.
Segui, compreendendo que o que dizem a meu respeito é de responsabilidade de quem diz. E o que sou não pode ser forjado pelo outro.

Mas me incomodo enormemente com calúnias e inverdades em relação à caminhada que tenho feito unicamente inspirada pelo autor da minha fé.

            Ser chamada de “cristã do ecumenismo entre o evangelho e a macumba” pelo pastor Eduardo Baldaci denuncia duas coisas, nitidamente:

1) o desconhecimento do conceito de ecumenismo, que é a ideia de unidade entre as expressões de fé cristã. Por isso, por si só, o ecumenismo entre evangelho e candomblé é impossível!!!! E pensá-lo possível já demonstra a fragilidade do conhecimento do autor da ofensa mentirosa e maldosa acerca do tema;

2) o racismo religioso.
Tema extremamente caro para mim!
Porque diz respeito à práticas que atravessam séculos: prática de animalização e coisificação do corpo de pessoas pretas. Prática de desqualificação do modo de se relacionar com o Sagrado de pessoas pretas. Prática de demonização de tudo aquilo que vem ou se refere à África. Prática de generalização despudorada em relação a todos os elementos da cultura africana e afrobrasileira, fazendo com que se chame pelo nome de um instrumento musical toda uma prática religiosa com seus dogmas, performances e elementos cúlticos específicos.

Eu, enquanto mulher preta cristã na resistência e na re-existência me utilizo das propostas do debate interreligioso para promover dignidade e direitos entre o meu povo. Povo que crê em Jesus Cristo. Povo que crê nos Orixás. Povo que, para além das conexões espirituais, têm uma conexão ancestral com África.

Uso da interreligiosidade para promover o respeito, para denunciar o racismo, para estabelecer pontes de diálogo que construirão entre nós elos de justiça e unidade.

Uso da interreligiosidade para a reconciliação.
Porque o meu povo que está nos terreiros e o meu povo que está nas igrejas evangélicas se vêem como inimigos!
Familiares do candomblé estão há anos sem falar com parentes que estão na igreja.
Amigos que se conheceram na umbanda rompem o vínculo afetivo e fraternal quando um deles vai pra Jesus.
Amores são destruídos porque o pastor afirma que o ogã é do diabo e que esse casamento não pode dar certo.

Em Cristo eu reconheço a Justiça e a Reconciliação.
Em Cristo eu reconheço o conceito revolucionário do respeito.
Vejam que eu não disse tolerância – eu disse respeito! Porque eu não quero tolerar meus irmãos e irmãs do candomblé: eu quero amá-los, em toda a potência do Amor.

Não aceito o desmerecimento, o desprestígio e a demonização.

São dois caminhos que se lançam diante de mim.

Um é estar em consonância com o cenário de omissão que se abateu sobre a instituição evangélica brasileira e ser omissa, e me calar diante da opressão.

O outro é crer no dom profético da Igreja de Jesus, denunciando o pecado do racismo pra glória de Deus.

Em nome de Jesus eu escolho escandalizar o brasil batista e anunciar o reino de paz, alegria e Justiça que me resgatou da morte e me deu vida, vida em abundância.

Sigo em oração permanente e diária pelas instituições, para que haja arrependimento e perdão.

Que o Amor de Deus, esse que lança fora todo o medo, preencha o coração de todos e todas que foram enrijecidos pelo sistema e pela omissão.

Por Fabíola Oliveira