A Intersecção entre Raça, Religião e Música no Movimento Negro Evangélico no Brasil na perspectiva de John Burdick 

O livro “The Color of Sound: Race, Religion, and Music in Brazil” (2013), escrito pelo antropólogo John Burdick, oferece uma análise profunda sobre as inter-relações entre raça, religião e música no Brasil. A obra, com foco no Movimento Negro Evangélico (MNE), explora como a teologia evangélica pode inspirar a luta contra a injustiça racial e a construção de uma identidade negra orgulhosa.

John Burdick iniciou sua pesquisa no Brasil em 1996, interessado nas inter-relações delicadas entre crença religiosa e identidade racial. Durante seu estudo, ele descobriu um pequeno, porém promissor, movimento de protestantes evangélicos em São Paulo que, inspirados por sua teologia, começaram a se identificar como o Movimento Negro Evangélico (MNE).

Em 1996, passei um ano no Brasil pesquisando as delicadas inter-relações entre crença religiosa e identidade racial entre pessoas que se identificavam como cristãs. Enquanto estava envolvido nesse projeto, me deparei com um pequeno e promissor movimento de protestantes evangélicos sediados em São Paulo que foram inspirados por sua teologia para lutar contra a injustiça racial e construir uma orgulhosa identidade negra. O que achei intrigante sobre esse movimento — seus participantes estavam na época apenas começando a se identificar como o movimento negro evangélico, ou MNE — foi que ele estava inserido em um contexto religioso que a maioria das organizações do movimento negro havia descartado como profundamente hostil à sua causa. (John Burdick, 2013)

O MNE estava inserido em um contexto religioso que, tradicionalmente, rejeitava as religiões afro-brasileiras como o candomblé e a umbanda, consideradas hostis à causa negra. Apesar disso, Burdick percebeu que o MNE desenvolveu visões antirracistas e pró-negras, desafiando o ceticismo de muitos colegas que acreditavam se tratar de uma estratégia dos líderes evangélicos para angariar fiéis.

O principal ponto de discórdia, do ponto de vista do movimento negro, era a atitude dos evangélicos em relação às religiões afro-brasileiras do candomblé e da umbanda. Eu estava profundamente ciente de que os evangélicos pregavam contra essas religiões e que algumas denominações, como a Igreja Universal do Reino de Deus, estavam implicadas em ataques iconoclastas diretos a templos afro-brasileiros. Embora eu achasse tais ataques repugnantes, o exemplo do MNE me convenceu de que a rejeição dos evangélicos, por motivos teológicos, da religião mediúnica afro-brasileira não era em si uma barreira intransponível ao desenvolvimento de fortes visões antirracistas e pró-negros. No entanto, durante anos, sempre que eu falava em público sobre o MNE, eu me encontrava diante de um forte ceticismo. (John Burdick, 2013)

Alguns colegas insinuaram que eu tinha sido enganado, levado por líderes evangélicos que pouco se importavam com a luta contra o racismo e jogavam a carta da raça apenas para angariar almas e ofertas para suas igrejas. Embora minha própria experiência sugerisse que o MNE era bem mais complexo do que isso — a profundidade e a durabilidade dos compromissos antirracistas de pessoas como Hernani da Silva ou Rolf da Souza mostravam que o MNE não podia ser explicado como simplesmente mais um estratagema missionário — ninguém estava tentando documentar essa complexidade. (John Burdick, 2013)

Continua: Estratégias para Expandir o Movimento Negro Evangélico

Como fonte o livro The Color of Sound: Race, Religion, and Music in Brazil” (2013), escrito pelo antropólogo John Burdick, oferece uma análise profunda sobre as inter-relações entre raça, religião e música no Brasil. A obra, com foco no Movimento Negro Evangélico (MNE).

Do Afrokut

O caso da Nossa Igreja Brasileira

A denominação supramencionada está localizada, atualmente, na rua da Carioca, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O casal, Marco Davi de Oliveira e Nilza Valéria Zacarias são principais articuladores dessa igreja. O pastor Marco Davi é natural de Teresópolis/RJ, formou-se em teologia, história e ciências da religião, foi um dos fundadores do Movimento Negro Evangélico (MNE) em 2003. Publicou o livro A religião mais negra do Brasil: por que os negros fazem opção pelo pentecostalismo? É o idealizador do projeto Discipulado, Justiça e Reconciliação e atualmente apresenta o programa de rádio, Papo de CrenteNilza Valéria é formada em jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Recentemente (08 de março de 2023) recebeu, pelo Senado Federal, o Diploma Bertha Lutz por sua militância a favor do Estado democrático de direito e dos direitos humanos. É fundadora e coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito (FEED), e cofundadora do MNE. Atualmente coordena o projeto de comunicação, Papo de Crente (programa radiofônico homônimo e Revista de Estudo Bíblico).

O primeiro culto da Nossa Igreja Brasileira ocorreu no dia 3 de março de 2018 em um espaço cedido pela Igreja Batista Memorial da Tijuca, localizada no bairro da Lapa, próximo ao centro da cidade. No entanto, Rosenilton Oliveira (2021) afirma que o pastor Marco Davi de Oliveira fundou o Ministério Nossa Igreja Brasileira no ano de 2014. Antes da sede atual, a igreja já realizou cultos dominicais na Casa Porto, um estabelecimento gastronômico boêmio localizado no bairro da Saúde, local conhecido como Pequena África. Nas fotos divulgadas nas redes sociais é possível ver os fiéis próximo aos engradados de cerveja, mesa de totó, arcade (ou fliperama) etc. A igreja também teve alguns encontros no Kuzinha Nem, a cozinha vegana solidária da Casa Nem (espaço de
acolhimento LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social, fundada pela militante Indeanarae Siqueira) e também nas dependências do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN).

A igreja tem como principal proposta a valorização da cultura brasileira (brasilidade) em suas múltiplas manifestações culturais. Algo que se expressa inclusive no nome e no logotipo da denominação, que faz referência as cores da bandeira do Brasil (principalmente verde e amarelo), aos pontos turísticos do Rio de Janeiro (Cristo redentor e Pão de Açúcar) e o pandeiro, um dos instrumentos de percussão mais populares do universo do samba.

A proposta de valorização da brasilidade pode ser percebida também em seu cancioneiro constituído por inúmeros ritmos musicais pertencentes as culturas populares afro-brasileira e indígena, como o sertanejo, o xote, o forró, o samba, o maxixe, a bossa nova, o frevo, o jongo entre outros.

Algumas das canções encontrada no cancioneiro trata diretamente da questão racial, como é caso de “Sorriso negro”, em que diz:

Um sorriso negro
Um abraço negro
Traz felicidade
Negro sem emprego
Fica sem sossego
Negro é a raiz de liberdade
Negro é uma cor de respeito
Negro é inspiração
Negro é silêncio é luto
Negro é a solução
Negro que já foi escravo
Negro é a voz da verdade
Negro é destino é amor
Negro também é saudade

Percebe-se que a canção “Sorriso Negro” exalta positivamente a negritude, repetindo inúmeras vezes a palavra, “negro”. Em conversa com o pastor Marco Davi de Oliveira, este afirmou que muitas das canções foram compostas por ele mesmo, e isso decorreria da dificuldade de encontrar canções evangélicas que trata da questão racial e social. A maioria das canções evangélicas, de acordo com Marco Davi, seriam voltadas quase que exclusivamente para a dimensão espiritual e individual em detrimento das questões sociais e coletivas.

Um dos esforços da denominação para valorizar a “brasilidade” são as rodas de samba (com músicas seculares) organizadas no espaço da igreja. Em um dos encontros que participei, o pastor Marco Davi no púlpito afirmou que a roda de samba enquanto expressão cultural existe “para a glória de Deus” e que “ali está a graça de Deus”.

Os elementos da cultura afro-brasileira estão presentes na liturgia da igreja, em visita a uma das reuniões, comemorou-se uma festa junina, com decoração característica das festas de rua, com bandeirinhas, balão, vestimentas, paleta cores, comidas típicas (caldo de feijão, paçoca, milho cozido, bolo etc.), ritmo musical, dança e uma reflexão sobre a importância dessa tradição enquanto expressão da cultura popular brasileira, que na percepção de suas lideranças, é uma expressão, sobretudo, afro-indígena. Em certa ocasião desse encontro, o
pastor Marco Davi afirmou que a denominação tem uma “proposta decolonial”, reforçando o argumento de que o cristianismo é diverso e por isso a cultura popular deve ser valorizada, no sentido político da inversão, ou “subversão”.

Entre os argumentos defendidos pelos agentes do protestantismo negro de esquerda é a ideia de que o próprio cristianismo em si é uma religião de matriz africana ou afro-asiática. Parte-se do princípio de que o cristianismo possui uma forte herança cultural africana e que inúmeros personagens bíblicos são de origem africana. Aqui temos algo assemelhado com as propostas de “reafricanização dos espíritos” do movimento estético, filosófico e literário afrofranco-caribenho, Negritude e os pensadores africanos, Amílcar Cabral e Mario Pinto de Andrade, que também deram uma importante contribuição a esse conceito.

Ainda no início de sua formação a NIB organizava encontros semanais com grupos menores denominado de Pequenos Quilombos. Em uma publicação de 2019 na rede social Facebook definia esses grupos de “veículos de formação bíblica, teológica, cultural e política”. O grupo das Mulheres chamava-se Madalenas, o dos homens, Zé João. Esse é um exemplo de como a NIB realiza um conjunto de esforços voltados para questão étnico-racial. Preocupação essa que envolve identidade visual, seleção dos ritmos musicais, manuseio de um conjunto de terminologias específicas, detalhes nos aspectos litúrgicos, seleção e interpretação de passagens bíblicas entre outras.

Os símbolos mobilizados, resgatados, construídos e ressignificados dentro dessa dinâmica, objetivam fortalecer a ideia de uma igreja pautada na experiência negra. E neste sentido a denominação pertenceria ao movimento negro e ao movimento negro evangélico. A NIB se propõe a fazer de forma sistemática um resgate e uma valorização afirmativa e positiva das múltiplas expressões culturais negro africana e indígena. Apresentado, dessa forma, uma narrativa teológica e política contra hegemônica, na sociedade e no campo evangélico.

Rosenilton Oliveira (2021) afirma que no movimento negro evangélico a dinâmica de (re)africanização por meio de um deslocamento do “eurocentrismo” (“deseuropeizá-lo”) e uma recusa do candomblé e outras religiões de matriz africana e enquanto expressão única da africanidade (“descandombletizá-lo”). A NIB também realiza esse duplo movimento a seu modo enquanto defende o cristianismo como uma expressão religiosa afro-asiática, mas sem fazer oposição as outras religiões de matriz africana.

Wallace Cabral Ribeiro

Texto retirado do trabalho de pesquisa de  Wallace Cabral Ribeiro. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (PPGS-UFF). Realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

Protestantismo negro de esquerda – Trabalho completo – Wallace Cabral Ribeiro – 48º Encontro Anual da ANPOCS – 2024

A População Negra Evangélica

Em comparação com o caso dos Estados Unidos, em que existem igrejas pentecostais “exclusivamente negras”, nas quais se constituiu um importante espaço para a tomada da consciência racial, reivindicação e luta pelos direitos civis, aqui no Brasil por muito tempo as instituições cristãs foram agentes perpetuadores e legitimadores do racismo na sociedade brasileira. Essa realidade se dá por vários fatores. Segundo Vagner Gonçalves da Silva (2017), as especificidades do racismo brasileiro, o tipo de missão evangelizadora das igrejas protestantes “que enfatizam a universalidade do acesso aos dons do Espírito Santo e da prática de sua fé”, e a demonização das práticas religiosas não cristãs seriam fatores fulcrais para se entender a realidade negra e evangélica brasileira. Outro ponto de discordância nessa narrativa se refere ao lugar atribuído às heranças culturais negras e africanas na cultura brasileira, sobretudo as relativas às religiões afro-brasileiras, em que a intolerância religiosa é um entrave para o diálogo entre esses dois setores na construção de uma agenda do movimento negro evangélico.

Uma diferença importante entre os negros protestantes estadunidense e os brasileiros é que desde as suas origens o pentecostalismo dos Estado Unidos sempre esteve atrelado à espiritualidade dos povos negros escravizados que ali residiam, que com isso desenvolveram “um estilo diferenciado de culto baseado em cantos efusivos e experiências de avivamento com alegria e dança”. A expressão dessa musicalidade derivou em ritmos e estilos musicais tais como rock, blues, soul, spiritual, jazz, rap, funk entre outros, todas oriundas da ancestralidade e religiosidades africanas (SILVA, 2017).

Na realidade brasileira contemporânea de crescente intolerância religiosa e aumento do conservadorismo, formou-se nas últimas décadas uma agitação entre os fiéis evangélicos negros e com consequência houve um princípio de mobilização, o que posteriormente foi chamado de Movimento Negro Evangélico (MNE). Em sua tese de doutorado intitulada “A cor da fé: ‘identidade negra’ e religião”, Rosenildo Silva de Oliveira (2017), na sessão destinada aos evangélicos negros, argumenta que o recente processo de formação de um movimento negro antirracista dentro das igrejas evangélicas brasileiras deve ser encarado como em constante processo de construção e não como um projeto consolidado, diferentemente do caso católico que já possui grupos institucionalizados (OLIVEIRA, 2017).

Devido à sua grande pluralidade de denominações, a própria mobilização negra dentro do protestantismo é dificultada, inviabilizando o estabelecimento de organismos centralizados do MNE, visto que a sua principal característica é a descentralização de suas ações. Diferentemente do catolicismo, que conta com três grandes grupos que pautam as questões raciais dentro da mesma instituição religiosa, são eles a Pastoral Afro-Brasileira, o Instituto Mariama (organização que reúne diáconos, padres e bispos negros) e o Grupo de Religiosos e Religiosas Negros e Indígenas (GRENI), possuindo políticas coordenadas e estreita relações de cooperação, já que parte significativa dos seus integrantes pertencem às três organizações, desenvolvendo ações em conjunto. No caso evangélico, as iniciativas observáveis são de caráter independente, em sua grande maioria por meio de plataformas digitais e redes sociais (OLIVEIRA, 2017).

As primeiras iniciativas foram fóruns em redes sociais como o MSN em 2002, como o Fórum de Afrodescendentes Evangélicos, que foram se expandindo em outras plataformas como o Orkut, Twitter e Facebook reunindo evangélicos de várias denominações. Na onda deste movimento, Hernani Silva cria em 2008 o Afrokut, rede social exclusiva para a interação, criação e propagação de conteúdo produzido por negros evangélicos. Ainda nessa empreitada, o trabalho de Hernani Silva nos mostra uma tentativa de “resgate da presença negra nas raízes do cristianismo”, ao mesmo tempo que critica o que ele chama de “teologia evangélica racista”. Essas ideias foram compiladas na publicação do livro “O Movimento Negro Evangélico” (2011). Nessa obra, o autor tenta retratar a história do negro evangélico brasileiro a partir da reformulação da narrativa hegemônica que invisibiliza esses indivíduos. Isso é feito através da reinterpretação da história da presença evangélica no Brasil, por exemplo, a descoberta do pregador negro Agostinho José Pereira, apelidado de “Lutero Negro”, considerado o primeiro pregador brasileiro e fundador da Igreja do Divino Mestre em 1841 na cidade de Recife (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2011).

Outra iniciativa nesse movimento tem como objetivo demonstrar a influência africana no cristianismo por meio de um resgate das heranças africanas para essa religião, colocando em evidências os personagens bíblicos negros e elementos que legitimam a luta pelos seus direitos, como a luta do povo de Deus em nome da libertação de toda forma de opressão. Esses preceitos têm ligação com a chamada “Teologia Negra”, uma variante da Teologia da Libertação, surgida nos anos de 1960 nas igrejas negras e protestantes dos Estados Unidos em um contexto de luta pelos direitos civis. A libertação da escravidão do povo hebreu no Egito é uma das passagens mais citadas dessa experiência de libertação ocorrida em terras africanas (SILVA, 2017).

Hernani Silva (2011) ainda desenvolve a ideia de que a formação do Movimento Negro Evangélico Contemporâneo teve um momento de guinada nas décadas de 1970 e 80, pois, neste recorte temporal houve diversas iniciativas institucionais e tomadas de consciência para com sua negritude. A relativa consolidação do MNE na atualidade, pós ascensão das redes sociais, transformou esse movimento em umas “das mais novas forças de combate ao racismo e de consciência negra no Brasil”, sendo a missão do MNEpromover a reflexão e o debate bíblico/teológico e em uma perspectiva negra e combater toda forma de racismo” (OLIVEIRA, 2017, p. 138 e SILVA, 2011, p. 16).

Apesar disso, o MNE também tem suas cisões internas e divergências de pautas, sobretudo no que tange à visão que cada um tem de como se dialoga com a herança africana do Brasil. Existem duas correntes que defendem abordagens distintas quanto a essa pauta. Por um lado temos os que defendem uma visão pan-africanista/afrocentrista da questão e outros com uma visão mais voltada à negritude cristã brasileira. Ambas as perspectivas têm em comum a visão de que existe uma origem africana no cristianismo, porém, se pode distinguir o pan-africanismo/afrocentrismo por defenderem uma herança exclusivamente africana, abdicando da formação miscigenada brasileira. E foi justamente essa postura defendida pelo Conselho Nacional de Negras e Negros Cristão (CNNC), durante o 1º Encontro Nacional de Negras e Negros Evangélicos, que aconteceu em Salvador em abril de 2007 (OLIVEIRA, 2017).

Por fim, Oliveira (2017) salienta que independente das visões ideológicas, dois fatores se tornaram consenso, são eles: “a tentativa de se criar uma igreja evangélica negra e o investimento na formulação intelectual de uma teologia da negritude, inclusive com a perspectiva de publicação de uma bíblia da negritude” (p.142). O autor também chama a atenção para o fato da maioria das iniciativas em torno dessa causa está nas igrejas protestantes históricas, e não nas pentecostais ou neopentecostais, das quais detêm o maior número de fiéis negros. Isso seria devido à abordagem adotada historicamente pelas igrejas pentecostais e neopentecostais, já que contra a exclusão social sofrida pelos negros historicamente “foram os pentecostais quem ofereceram acolhimento e espaços em que eles seriam valorizados, independentes de suas origens, e ofereceram a possibilidade de prosperarem materialmente” (p.144), muito embora que para isso fosse necessária uma conversão plena e rejeição de qualquer herança cultural afro-brasileira (OLIVEIRA, 2017).

De acordo com o livro “A religião mais negra do Brasil” (2015), do pastor Marco Davi de Oliveira, embasado por dados do Censo demográfico, a maioria dos brasileiros pretos e pardos (que nos parâmetros do IBGE juntos formam o grupo dos negros) que professam uma religião, ou seja, são praticantes assíduos da religião, encontra-se no segmento evangélico, mais concentrado nos protestantes pentecostal. Seu argumento é sustentado a partir da análise de que “embora cerca de 61 milhões de negros se declarem católicos contra aproximadamente 15 milhões de evangélicos pentecostais a maioria dos negros que professam o catolicismo não frequenta ativamente a igreja, ao contrário do que acontece com os negros pertencentes às igrejas evangélicas, que participam de forma efetiva de suas comunidades locais” (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2017)

A despeito da afirmativa “a maioria dos negros brasileiros são evangélicos”, e considerando as tabelas 1 e 2, podemos abstrair algumas inferencias dessa análise. Primeiramente é correto afirmar que “as igrejas evangélicas de origem pentecostal detém o maior percentual de membros negros em relação ao número total de fiéis no seu segmento” (14.545.768, ou seja, 57,33%), na frente se compararmos com as igrejas evangélicas tradicionais (3.393.957 ou 46,75%)”. Dentro da Assembleia de Deus é ainda maior o percentual (cerca de 12.314.410 do total de 42.275.440 adeptos ou 29% dos evangélicos), desses 61% (7.547.959) se autodeclaram negros. Se ainda compararmos com o candomblé, teremos outra interpretação, veremos que 68% dos candomblecistas se auto declaram negros (cerca de 114.629 adeptos), portanto, em termos proporcionais o candomblé é “a religião mais negra do Brasil”, enquanto em termos absolutos o catolicismo (com 61 milhões de adeptos) também pode ser considerada “a religião mais negra do Brasil” com mais adeptos (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2017).

Autor: Bruno Alcântara Conde da Silva (UFRGS) – Texto Artigo: A ascensão evangélica na política brasileira: a presença dos negros no movimento evangélico

Artigo apresentado no 45º Encontro Anual da Anpocs no SPG09. Democracia, Laicidade e Neoconservadorismos, bem como o artigo publicado nos anais, é uma versão final da pesquisa apresentada como requisito para a aprovação na disciplina “Competição Partidária e Base Eleitoral dos Partidos”, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCP-UFRGS)

Para ler o artigo completo: A ascensão evangélica na política brasileira: a presença dos negros no movimento evangélico.docx

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