O que é Parditude?

Parditude é o primeiro projeto antirracista do Brasil com foco em pautas multirraciais, surgido da necessidade urgente de dar voz e visibilidade às pessoas mestiças. Trata-se de uma pesquisa que busca observar de forma empírica a experiência dos pardos brasileiros, reconhecendo suas origens indígenas, africanas, europeias e, por vezes, asiáticas. Estudos como o de Lia Vainer, Joice Lopes e Verônica Daflon evidenciam a escassez de investigações aprofundadas sobre as experiências cotidianas de indivíduos pardos no Brasil, especialmente no que se refere aos processos de racialização, fenótipo, dia a dia, etc.

Segundo a definição de Beatriz Bueno, pesquisadora e ativista do movimento racial brasileiro, Parditude é “a busca por categorizar e compreender a racialidade de pessoas fenotipicamente mestiças nos estudos das relações étnico-raciais brasileiras, Em um país marcado pela miscigenação e pela complexidade das relações étnico-raciais, entender o significado e a importância da parditude é essencial.”

Ao longo da história, diferentes grupos étnicos têm investigado suas vivências dentro da sociedade. O conceito de negritude, por exemplo, busca dar visibilidade às experiências das pessoas negras, branquitude estudar os privilégios das pessoas brancas. Já a Parditude destaca as realidades enfrentadas por aqueles que se encontram no “meio-termo” racial e vivem em famílias multirraciais. Parditude também é o nome de um canal no YouTube, onde Beatriz Bueno compartilha seus conhecimentos e experiências sobre o tema. Além disso, o projeto está presente no TikTok e no Instagram.

Parditude é uma forma de resistência ao racismo e ao apagamento histórico que os pardos sofrem no Brasil, em que foram instrumentalizados de forma eugenista para o embranquecimento da população e agora são muitas vezes invisibilizados ou forçados a se enquadrar em categorias raciais binárias. Os pardos no Brasil são pessoas mestiças de origens étnicas diversas — principalmente brancas, negras e indígenas —, cujo fenótipo reflete essa mistura. Quando se tenta implementar sistemas binários, essas pessoas são ora classificadas como brancas, ora como negras, ora como nada, sendo empurradas para um limbo identitário.

De acordo com o IBGE, pardo é a pessoa que se identifica com a mistura entre duas ou mais origens entre brancos, pretos, pardos e indígenas. O Estatuto da Igualdade Racial de 2010 estabelece que a soma de pardos e pretos constitui o grupo dos negros. No entanto, Parditude não endossa essa visão. A pesquisadora Beatriz Bueno defende que é importante a união desses grupos para a formulação de políticas públicas, mas não sob o guarda-chuva “negros”, pois os pardos são pessoas mestiças, e não apenas negras. Essa interpretação monorracial acaba gerando distorções e dificultando o acesso dos pardos, por exemplo, às cotas raciais.

Os pardos formam o maior grupo racial do Brasil, representando 46,8% da população, segundo a PNAD de 2019. Estão presentes em todas as regiões do país, com maior predominância no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, e nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Os pardos têm uma história e cultura próprias, que refletem a riqueza da diversidade brasileira.

A origem da palavra “pardo” vem do latim pardus, que significa leopardo (Panthera pardus), também chamado de pantera, pertencente à família dos felinos. Essa palavra teria passado ao grego como párdos, e depois ao português como “pardo”, designando uma cor marrom-clara, por analogia à pelagem do animal. No Brasil, o termo começou a ser usado no século XVI para se referir inicialmente aos indígenas encontrados aqui e, posteriormente, às pessoas mestiças — tanto de indígenas e brancos quanto de brancos e negros —, devido à tonalidade de pele.

Parditude propõe:

  • Reconhecer a experiência mestiça sem fragmentá-la;
  • Resgatar as memórias indígenas e africanas;
  • Promover uma visão antirracista que respeite a diversidade e o contexto brasileiro.

A proposta de Parditude dialoga com teóricas como Gloria Anzaldúa, que introduz o conceito de “Consciência Mestiça” para compreender as fronteiras híbridas e complexas da identidade mestiça. Ao valorizar a multiplicidade e as contradições, a perspectiva de Anzaldúa oferece ferramentas valiosas para analisar os desafios e possibilidades da identidade parda no Brasil, superando as limitações das teorias raciais binárias.

Outra referência que Beatriz dialoga é o africano Abiola Akandé Yayi, ele diz que:

“Não existe meio humano. Você é quem é. E, se você não estiver satisfeito com seus antepassados brancos, procure fazer melhor que eles para mostrar que não é uma fatalidade ser descendente deles. Mas não negue parte de você. Em África, não higienizamos o sangue, não excluímos nenhum antepassado.”

Além disso, Parditude é uma comunidade de acolhimento para pessoas mestiças que frequentemente se veem excluídas tanto por brancos quanto pelos espaços afirmativos negros. Muitas dessas pessoas não se sentem plenamente parte de nenhum dos grupos. Nosso objetivo é criar um espaço seguro e terapêutico, onde possam se sentir validadas e amadas, pois, como afirmam estudiosos e terapeutas, quando indivíduos com dores semelhantes se encontram e se reconhecem, isso pode se tornar um processo de cura. E é exatamente isso que falta: um lugar seguro para aqueles que, mesmo enfrentando o racismo, se sentem isolados ou abandonados simplesmente porque sua aparência mestiça não se encaixa nos modelos raciais convencionais.

Para saber mais acesse: parditude.com 

Por Beatriz Bueno (Parditude) e Hernani Francisco da Silva (Afrokut).


Beatriz Bueno Idealizadora do conceito @parditude® | Pertencimento, conhecimento para pessoas pardas e outras análises políticas.