O ativista da teologia negra Jackson Augusto fala sobre a representação dos evangélicos na imprensa

Como parte dos projetos especiais dos 100 anos da Folha de São Paulo, o articulador social e ativista da teologia negra, Jackson Augusto, fala sobre a representação dos evangélicos na imprensaJackson é criador do perfil @afrocrente, além de integrar a coordenação nacional do Movimento Negro Evangélico.

Nasci numa favela do Recife e a minha iniciação como cidadão foi na igreja. A primeira vez que vi alguém que passou no vestibular foi na igreja. O único lugar em que tive acesso a uma iniciação musical foi na igreja, então comecei a existir na igreja — apesar de ser um lugar atravessado pela questão racial, por preconceitos e tudo o mais.


Minha mãe é sindicalista, e cresci indo para o culto e para as assembleias gerais no sindicato. Não era algo contraditório para mim, ir para a greve e ir para o culto — reivindicar meus direitos e reivindicar minha fé. Minha fé me move para a justiça, a equidade, para desafiar ciclos de violência.


A teologia negra é uma ferramenta política, que nasce para denunciar algo. Preciso falar para outros jovens negros que existem metodologias e pensamentos a partir da fé cristã que nos ajudam a respeitar os direitos humanos, contribuir com a luta antirracista e se posicionar contra o conservadorismo.

Assista ao vídeo, com recursos de acessibilidade, logo abaixo:

Acesse a entrevista completa pelo link: https://www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2021/02/imprensa-ignora-abismos-de-diferencas-entre-evangelicos-diz-ativista.shtml

Afrokut

Manifesto de negras e negros evangélicos

Precisamos de uma igreja antirracista, que construa e promova a justiça

“Ai dos que promulgam leis iníquas, os que elaboram escritos de opressão, para suprimir os direitos dos fracos, e privar de justiça os pobres do meu povo.” Isaías 10:1-2.

Nós, negras e negros evangélicos brasileiros, nos manifestamos para clamar a urgência de a igreja se posicionar a denunciar o racismo como pecado, e pecado estrutural.

Quantas irmãs de nossas igrejas já perderam os filhos assassinados? Quantos jovens de nossas igrejas já foram mortos? Quantas irmãs oram por seus filhos presos? Queremos vida, mas as oportunidades são negadas, as portas de empregos cada vez mais são fechadas, o acesso à educação e ao sonho da universidade ainda não é para todos. Na maioria das vezes, nos falta o básico, nos faltam casa, alimento e água.

Quantos irmãos e irmãs estão morrendo nas filas dos hospitais e tantos outros nem conseguiram ter atendimento quando foram buscar a cura? É hora de reconhecer que muitas destas tragédias não são respondidas e explicadas pela “desigualdade” pura e simplesmente. Elas revelam o racismo da sociedade e o legado do descaso com vidas negras desde a era colonial do Brasil.

João Pedro e George Floyd eram negros e evangélicos. Aqui e nos Estados Unidos, estes irmãos foram vítimas de um sistema racista legislado por um Estado impregnado pelo racismo estrutural que sufoca, fuzila, desumaniza e silencia negros e negras. O caso de Miguel Otávio, menino negro de cinco anos —de família evangélica— que caiu do nono andar de um prédio em Recife, também denuncia as condições de trabalho do povo negro nesse sistema que violenta diretamente as famílias negras brasileiras. Em especial as mulheres negras, que desde a escravidão são submetidas a posições de servidão, negação de direitos e da própria humanidade.

Diante de estruturas de morte como estas, é necessária uma igreja que se levante e denuncie. Precisamos de uma igreja antirracista, que persegue, constrói e promove a justiça para todas e todos, e que olha em especial para os órfãos e viúvas de nossa época.

Infelizmente, parte dos líderes evangélicos de grandes igrejas —que possuem todo tipo de mídia nas mãos— estão comprometidos com o interesse dos poderosos e só pensam em armas e em tramar nossas mortes. Eles colocam o dinheiro e o poder acima da vida. Uma outra parte das lideranças decidiu ficar em silêncio, e isso também é escolher o lado do opressor.

Precisamos de uma igreja antirracista, que persegue, que constrói e que promove a justiça. Sabemos que todos os que odeiam e se levantam contra as obras de justiça que trazem vida ao povo negro amam a morte, amam o sistema racista e tudo que nele existe. No entanto, acreditamos no que o nosso irmão Martin Luther King Jr. afirma:

“A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”.

Na crença e no clamor, convocamos irmãs e irmãos em oração para agir. O racismo é um projeto do inimigo, um projeto de morte, assim como a política de Herodes, que exterminava crianças, que colonizava territórios e que usava da religião para controlar os povos. Por isso, cabe a nós lutar pela libertação do nosso povo enquanto não houver igualdade, levantar nossa voz profética e denunciar o racismo. Pois sem justiça e sem vida plena e abundante para a favela, não é possível falar de paz.

Jackson Augusto é um jovem batista que integra a Coordenação Nacional do Movimento Negro Evangélico do Brasil. É membro do Colegiado Nacional do Miqueias Brasil, articulador social no Usina de Valores, produtor de conteúdo no projeto Afrocrente e ativista da teologia negra no Brasil.

Luciana Petersen é uma jovem batista estudante de jornalismo, feminista negra, editora e podcaster no Projeto Redomas.

Wesley Teixeira é um jovem negro membro da Igreja Evangélica Projeto Além do Nosso Olhar, militante da Frente de Evangélicos Pelo Estado Democrático de Direitos e do Coletivo Esperançar. Filiado ao MNU (Movimento Negro Unificado), que compõe a Coalizão Negra por Direitos.

Ronilso Pacheco é teólogo pela PUC-Rio, negro e nascido em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. É ativista, escritor e mestrando em teologia no Union Theological Seminary (Columbia University), em Nova York.

PerifaConnection

PerifaConnection é uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Nina da Hora, Salvino Oliveira e Jefferson Barbosa.

Fonte: Folha de São Paulo


Manifesto 2020 – Rede de Mulheres Negras Evangélicas do Brasil

A consciência negra e a profecia

“O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz[…]Tu arrebentaste as suas correntes de escravos, quebraste o bastão com que eram castigados; acabaste com o opressor que os dominava, assim como no passado acabaste com os midianitas.”(Is 9:2; 9:4)
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Isaías 9 é conhecido como o texto da profecia do caminho para a libertação, que aponta para o salvador de um povo, para o nascimento da esperança que vai libertar o povo de Deus. E é uma das profecias mais esperadas e importantes relatadas na Bíblia. Ele começa falando que existe um povo que caminhava nas trevas,um povo que vivia na terra da sombra da morte, essa profecia se direcionava a esse povo, a um povo que o medo e a morte dominava seu território, dominava sua história. Porém, esse povo viu uma grande uma Luz,essa luz era tão concreta que a visão da luz começa com o arrebentamento das correntes de escravos, a profecia dizia que esse povo viu sua libertação, ou a destruição do julgo que os oprimia. Era a grande primeira mensagem de Isaías sobre a luz que pairava sobre o povo que era escravizado e oprimido. A profecia continua dizendo que a destruição ela não é somente sobre a escravização mas também sobre a vara de castigo do opressor. Veja, a profecia de Isaías aponta para as quedas de todas as construções humanas que matavam o povo que vivia na terra da sombra da morte. Deus tira o açoite das mãos do opressor, Deus lança luz sobre o povo que estava em condição de escravização, Deus destrói todo o sistema que sustenta a opressão desse povo.

Isaías conclui dizendo que tudo isso vai se tornar realidade “porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado”, a profecia ela se cumpre porque é a manifestação da encarnação de Deus, onde Jesus nasce a vara do castigo do opressor é destruída,quando Jesus nasce o povo que vive no vale da sombra da morte, é escutado, o sangue dos que morrem nos morros, nas favelas chega até os olhos do Eterno. A consciência negra ela é instrumento do cumprimento da profecia, ela é um apontamento para a integralidade da missão do evangelho. A consciência negra, é a prova de que parte da humanidade não deixou a profecia cair. Que sejamos profetas e que destruamos todas as ferramentas de opressão que o homem construiu.

Por Jackson Augusto –  Coordenador do Movimento Negro Evangélico do Estado de Pernambuco. Estuda Ciência da computação em Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe Oficial).

Foto: @saulonicolai

Projeto: @favelagrafia

Texto: @afrocrente