Movimento Negro Evangélico, letramento racial e educação antirracista

A tríade Movimento Negro Evangélico, Letramento Racial e Educação Antirracista são a base conceitual para o mapeamento e análise dos dados levantados sobre o MNE, o entendimento aqui é que essa tríade venha trabalhar sob uma base conceitual e epistemológica contemporânea intrinsecamente ligada ao campo dos estudos em educação, que, segundo Brandão (1985) em seu livro O que é Educação, nos dois primeiros capítulos, faz a reflexão de que todos vivemos em situações que envolvem aprendizagens, sendo: na rua, no lar, na tribo, enfim na vida social. (aqui a reflexão é de que, a igreja ou qualquer espaço religioso, constitui-se de relações interpessoais interativas, portanto, espaços de aprendizagens e educação).

A princípio estes são os referenciais teóricos preliminares que dão norte a este trabalho: Kleiman (2010), Soares, Rojo (1998), Caldeira (2023), Gomes (2022), Hall (2003), Bauman (1997) e Gohn (2012) que apresentam reflexões relevantes para a compreensão do objeto de estudo compõem o corpus teórico de discussão deste estudo.

Para Oliveira (2021), O Movimento Negro Evangélico pode ser compreendido, não como uma entidade completamente consolidada, mas em construção, formado pelo conjunto das ações produzidas por coletivos evangélicos negros com o objetivo de enfrentar o racismo tanto nas igrejas quanto na sociedade. Pode-se falar em Movimento Negro evangélico (MNE), por um lado, na medida em que se tem como referencial um conjunto de ações produzidas por grupos consolidados ou em construção, cujos agentes são pessoas que se autoclassificam como “evangélicas” e negras (pretas ou pardas, de acordo com a nomenclatura adotada pelo IBGE). Por outro, deve-se considerar que, em geral, os destinatários dessas atividades são também pessoas negras que participam de alguma igreja classificada como “evangélica”. O combate ao racismo no interior das igrejas, em particular, e na sociedade em geral, pode ser tomado como o elemento central a partir do qual se organizam as diversas iniciativas com temática racial empreendidas por esses grupos. (FERREIRA, 2021,170)

A reconstrução da história do Movimento Negro Evangélico é uma tarefa complexa, Oliveira (2021) a difícil tarefa de mapear a trajetória do MNE reside no fato de este ser um movimento em construção, mesmo tendo os seus agentes se movendo no segmento evangélico há décadas.

O que se entende como MNE, na verdade é um conjunto de ações de coletivos consolidados ou em construção (o que classifico como negros evangélicos em movimento). O MNE é composto por várias organizações que lutam em defesa de uma leitura e uma hermenêutica afro centrada da Bíblia, das ações afirmativas, da igualdade racial e do combate ao racismo e seus desdobramentos.

Segundo Silva (2011), o MNE é como uma rede que interconecta os atores, instituições e ações como, a título de exemplo, a Sociedade Cultural Missão Quilombo, fundada em 1991, que tem como foco principal das suas ações, modificar a visão que as igrejas têm da cultura negra, Silva (2011) dessa forma, provocar o enfrentamento ao racismo no seu interior.

Texto extraído do artigo acadêmico: EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E LETRAMENTO RACIAL: AS PROPOSTAS E AÇÕESDO MOVIMENTO NEGRO EVANGÉLICO
Magno Santana da Silva – UNEB – Universidade do Estado da Bahia. ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.

AfroHumanitude na Promoção do Letramento Racial

Reconhecendo a África como o berço da humanidade e o conceito de Ubuntu (Humanitude), que liga todos os seres humanos, a AfroHumanitude enfatiza que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais. A AfroHumanitude tem o potencial de enriquecer e transformar o debate racial no Brasil e no mundo.  A  AfroHumanitude propõe um entendimento mais inclusivo e holístico das diferenças humanas. A ideia de que a África é o berço da humanidade e que o conceito de Ubuntu conecta todos os seres humanos é poderosa e inspiradora.

Assista ao vídeo completo aqui:

No vídeo, exploramos a inovadora proposta da AfroHumanitude, que vai além das tradicionais dicotomias raciais. Vamos entender como esse conceito unificado e inclusivo reconhece que todos pertencemos à mesma espécie, Homo sapiens, e celebra a diversidade humana em suas múltiplas expressões:   NegritudeIndigenitude,  BranquitudeParditude.

O Que é Letramento Racial?

O letramento racial é um processo de conscientização e educação que visa capacitar as pessoas a entenderem e combaterem o racismo. É uma forma de responder às tensões raciais de forma individual e de reeducar as pessoas em uma perspectiva antirracista.

Do Afrokut

 

AfroHumanitude: Uma Ferramenta Poderosa na Promoção do Letramento Racial

A AfroHumanitude é uma proposta inovadora que busca ir além das dicotomias raciais tradicionais, promovendo uma visão unificada e inclusiva da humanidade. Ao reconhecer que todas as pessoas pertencem a uma única espécie, o Homo sapiens, e que nossas diferenças são superficiais, a AfroHumanitude se posiciona como uma ferramenta poderosa na promoção do letramento racial. Este conceito não apenas reconhece a diversidade humana, mas também celebra suas múltiplas expressões, como a Negritude, Indigenitude, Branquitude e Parditude.

O letramento racial é um conjunto de práticas e ensinamentos que visam conscientizar as pessoas sobre a estrutura e o funcionamento do racismo na sociedade. O objetivo é tornar os indivíduos capazes de reconhecer, criticar e combater atitudes racistas em seu cotidiano. Esse processo envolve a desconstrução de formas de pensar e agir que foram naturalizadas socialmente, promovendo uma perspectiva antirracista. Em outras palavras, é sobre aprender a identificar e desafiar os privilégios e desigualdades raciais que existem em nossa sociedade.

A AfroHumanitude, com sua visão inclusiva e holística da humanidade, tem um grande potencial para trabalhar o letramento racial de forma efetiva e significativa. Aqui estão algumas maneiras de como isso poderia ser implementado:

  • Promover espaços de diálogo onde diferentes humanitudes possam compartilhar suas experiências e visões é fundamental para o letramento racial. Esses espaços de conversação permitem a aprendizagem mútua e a empatia, essencial para a construção de relações sociais mais saudáveis e justas. A reflexão sobre as próprias atitudes e crenças em relação às diferentes “raças” (entre aspas, para denotar o seu caráter de construção social) é um passo crucial para a mudança pessoal e social.
  • A integração da AfroHumanitude nos currículos escolares e programas de formação continuada para educadores é essencial para promover o letramento racial. Ao abordar a história e as contribuições de todas as humanitudes de forma equitativa, as instituições de ensino podem criar um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e respeitoso. Isso ajuda a desconstruir estereótipos e preconceitos, proporcionando uma compreensão mais profunda e ampla da diversidade humana.
  • Celebrar as diversas culturas e identidades nas comunidades escolares e nos espaços públicos é uma maneira eficaz de promover a AfroHumanitude. Reconhecer e valorizar as contribuições únicas de cada grupo ajuda a construir uma sociedade mais inclusiva, onde todos se sentem vistos, ouvidos e valorizados. Eventos culturais, feiras temáticas e semanas de conscientização são exemplos práticos de como isso pode ser implementado.
  • Desenvolver políticas e práticas pedagógicas que combatam o racismo e promovam a igualdade racial é fundamental. A formação de alianças entre diferentes comunidades para enfrentar conjuntamente o racismo e outras formas de discriminação promove uma solidariedade baseada no respeito e na equidade. A AfroHumanitude incentiva essas alianças, reforçando a ideia de que a luta contra o racismo é uma responsabilidade coletiva.
  • Utilizar materiais didáticos que representem a diversidade humana em todas as suas formas é crucial para o letramento racial. Evitar estereótipos e promover narrativas positivas e inclusivas ajuda a construir uma visão mais equilibrada e justa da sociedade. Essa abordagem não só enriquece o processo educativo, mas também prepara os alunos para serem cidadãos mais conscientes e empáticos.

A AfroHumanitude, com sua perspectiva interseccional, oferece uma abordagem poderosa para a promoção do letramento racial. Ao reconhecer a unidade da espécie humana e celebrar suas múltiplas expressões, a AfroHumanitude promove a desconstrução de hierarquias sociais e a valorização da diversidade. Implementar essa visão nas práticas educacionais e sociais pode gerar um impacto profundo e duradouro, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e unida. Inspirados pelo conceito de Ubuntu, podemos avançar juntos na luta contra o racismo e na promoção da dignidade humana para todas as pessoas.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut