Etnografia ativista e o Movimento Negro Evangélico

John Burdick discute as limitações e potencialidades da etnografia ativista, sugerindo que a etnografia pode revelar dimensões ocultas e fragmentadas da consciência que podem atrair novos públicos. Contudo, ele questiona a energia que deve ser investida pelos ativistas do MNE em conectar-se com músicos de black gospel.

O autor argumenta que, embora o MNE tenha enfrentado dificuldades para expandir sua base e enriquecer seu pensamento estratégico, os músicos de gospel negro representam uma reserva rica de líderes evangélicos engajados com a questão racial. Ele sugere que os líderes do MNE deveriam se comunicar mais com os diretores e líderes de corais gospel.

No entanto, eu argumentaria o caso de outra forma. O MNE começou na década de 1980 e agora está meio que preso, tendo adicionado apenas um pequeno punhado de organizações à sua lista desde 2005. O movimento é importante, mas tem enfrentado o mesmo gargalo que o movimento negro secular enfrenta há muito tempo, o de identificar e se conectar com uma base mais ampla de não ativistas. Embora a Internet tenha ajudado nesse sentido (o site principal do movimento, Afrokut, agora tem mais de cinco mil membros), o movimento não conseguiu transformar esses números em reuniões presenciais consistentes nas quais projetos estratégicos de longo prazo e tomada de decisões podem ser realizados.

Quando olhamos para a lista de organizações do MNE, elas são bastante pesadas; ou seja, há mais “alianças” regionais e nacionais do que organizações locais de base. (As organizações locais do MNE que descrevi anteriormente são mais a exceção do que a regra.) Nesse contexto, no nível local, um rico reservatório de líderes evangélicos que parecem estar pensando muito sobre raça, negritude, história e futuros estratégicos alternativos são músicos gospel negros. Essa, pelo menos, é a reivindicação do presente trabalho. Minha etnografia revelou, eu afirmo, não apenas um mundo que é sobre “orgulho”, mas um que gera e sustenta trabalho cognitivo complexo e reflexão. À medida que o MNE entra em sua terceira década, lutando para ampliar sua base e enriquecer seu pensamento estratégico, eu exorto seus líderes a tomarem medidas para visitar, ligar, enviar e-mails e se comunicar com os diretores e líderes dos corais gospel de sua cidade. Nessa articulação, eu afirmo ainda, reside um futuro potencial significativo do movimento.

Continua: Vanguarda do Movimento Negro Evangélico

Parte do texto: A Intersecção entre Raça, Religião e Música no Movimento Negro Evangélico no Brasil na perspectiva de John Burdick 

Como fonte o livro “The Color of Sound: Race, Religion, and Music in Brazil” (2013), escrito pelo antropólogo John Burdick, oferece uma análise profunda sobre as inter-relações entre raça, religião e música no Brasil. A obra, com foco no Movimento Negro Evangélico (MNE).

Do Afrokut

Diversidade Musical e Identidade Negra e o Movimento Negro Evangélico

Ao investigar mais profundamente, Burdick descobriu a rica diversidade da música negra evangélica em São Paulo. A cidade abrigava uma vasta gama de artistas cristãos que tocavam soul, funk, gospel, R&B, blues, rap e samba com temas religiosos. Ele observou que essas diferentes expressões musicais desempenhavam um papel crucial na formação das identidades negras entre os evangélicos.

Uma noite, tivemos um avanço.  Hernani estava me contando sobre um recente encontro que ele organizou de teólogos e ativistas cristãos negros em São Paulo e mencionou casualmente que, como parte do evento, ele tinha convidado vários grupos musicais para se apresentar. Apenas um apareceu, e era um dos suspeitos de sempre, o Coral da Resistência Negra, composto por fiéis de várias igrejas históricas. Hernani me disse que os grupos baseados em igrejas pentecostais e neopentecostais eram muito difíceis de quebrar. “Eles simplesmente não querem participar de nada assim”, disse ele. (John Burdick, 2013)

Minhas visitas a igrejas brasileiras por quase vinte anos me ensinaram que a música era totalmente central para a vida ritual e emocional dos evangélicos. Eu tinha ouvido por duas décadas histórias de conversão religiosa nas quais o momento-chave da mudança era motivado por um hino. Eu sabia que em qualquer culto de três horas na igreja, todas as três horas eram preenchidas com algum tipo de música. Eu tinha ouvido fiéis cantarolando musicais religiosas na rua, no ônibus, no trabalho, em suas cozinhas.  Eu tinha falado com ministros cheios de orgulho sobre seus músicos, bandas e corais (cf. Corbitt 1998; Harris 1992; Chitando 2002). Ao estudar música, eu sabia que estaria abrindo uma janela importante para a visão de mundo dos evangélicos. (John Burdick, 2013)

Que outros grupos ele havia convidado? Eu perguntei. Todos rappers”, Hernani respondeu. “Rappers gospel. Se algum grupo vai simpatizar com a nossa mensagem, serão eles. Eles são confrontacionais, eles têm essa conexão com a cultura negra. Mas eu continuo convidando, convidando, e eles não vêm. Eu não entendo.” “Rappers gospel? “Há muitos deles?” “Centenas, talvez milhares. Há muitos e muitos rappers gospel. É muito grande entre os jovens da periferia.” “Perfeito!” Hernani riu. “John, você não está ouvindo.  Não é perfeito. Eu os convidei, e eles não querem vir.” “Sim, sim”, eu disse, “eu entendo. Mas deve ser apenas a natureza do alcance. Temos que descobrir como convidá-los para que venham. Uma vez que eles estejam aqui, esse é um público natural.” Hernani não estava convencido. (John Burdick, 2013)

Mas, enquanto eu ponderava a comparação tripla, meu pensamento evoluiu. Por que limitar o projeto apenas a encontrar aliados? Igualmente útil seria entender as resistências ideológicas à negritude também. Eu não deveria tentar retratar da forma mais simpática possível diferentes significados de negritude, mesmo que alguns não fossem sobre orgulho? Não poderia haver uma convergência entre as agendas ativista e acadêmica ao enquadrar o projeto como uma busca para pintar um retrato o mais realista possível do papel que diferentes tipos de música desempenharam na formação de diferentes tipos de negritude? (cf. Jackson 2005). (John Burdick, 2013)

Continua: O Movimento Negro Evangélico e o movimento Black Gospel

Parte do texto: A Intersecção entre Raça, Religião e Música no Movimento Negro Evangélico no Brasil na perspectiva de John Burdick

Como fonte o livro “The Color of Sound: Race, Religion, and Music in Brazil” (2013), escrito pelo antropólogo John Burdick, oferece uma análise profunda sobre as inter-relações entre raça, religião e música no Brasil. A obra, com foco no Movimento Negro Evangélico (MNE).

Do Afrokut

A Importância da Música no Movimento Negro Evangélico

A música se mostrou uma peça central na estratégia de atração e mobilização do MNE. Hernani mencionou a dificuldade em atrair grupos musicais pentecostais e neopentecostais para eventos do Movimento Negro Evangélico, mas destacou a relevância dos rappers gospel, que possuem uma forte conexão com a cultura negra. Burdick viu na música uma oportunidade de abrir uma janela para entender a visão de mundo dos evangélicos e suas expressões de negritude.

Eu refleti sobre essas questões em maio de 2002, durante uma série de conversas com Hernani da Silva, um líder do movimento negro evangélico iniciante e membro de longa data da igreja pentecostal Brasil Para Cristo. Hernani havia iniciado um site cristão negro em 1999 e havia acumulado várias dezenas de aliados virtuais e reais, mas ele precisava de mais. Onde encontrá-los? (John Burdick, 2013)

Como transformar essa pequena rede em um movimento mais amplo? Eu estava comprometido a desenvolver um projeto que pudesse ajudá-lo a fazer isso. Eu havia conceituado por algum tempo meu papel como antropólogo como co-designer de  investigações que pudessem ajudar a revelar aliados e eleitores ocultos, grupos de pessoas que compartilhavam as atitudes dos ativistas políticos sem articulá-las claramente, seja entre si ou em público.  Eu me ofereci para vir naquela primavera e começar a conceber um projeto etnográfico com Hernani que eu empreenderia ao longo dos próximos anos para ajudá-lo a expandir seu movimento (Hale 2006; Burdick 1995; Speed ​​2006).” (John Burdick, 2013)

Conversamos até tarde várias noites seguidas, lutando com questões de estratégia: onde estavam as audiências de evangélicos que poderiam simpatizar com a mensagem do movimento? Onde estavam as pessoas que poderiam ter afinidade com a noção de que o amor a Jesus e o amor à identidade negra se reforçavam mutuamente? “Precisamos de algo mais focado também, algo direcionado”, ele  me disse. Mas quem deveriam ser os alvos? (Snow e Benford 1988; Snow et  al. 1986).” (John Burdick, 2013)

Continua: Diversidade Musical e Identidade Negra

Parte do texto: A Intersecção entre Raça, Religião e Música no Movimento Negro Evangélico no Brasil na perspectiva de John Burdick 

Como fonte o livro The Color of Sound: Race, Religion, and Music in Brazil” (2013), escrito pelo antropólogo John Burdick, oferece uma análise profunda sobre as inter-relações entre raça, religião e música no Brasil. A obra, com foco no Movimento Negro Evangélico (MNE).

Do Afrokut

Estratégias para Expandir o Movimento Negro Evangélico

Em 2002, Burdick e Hernani Francisco da Silva, na época líder do MNE, iniciaram um projeto colaborativo para expandir o movimento. Hernani, que havia criado um site cristão negro em 1999, buscava formas de transformar sua rede inicial em um movimento mais amplo. Juntos, eles discutem estratégias para alcançar evangélicos simpáticos à causa. Uma das ideias centrais foi a utilização da música como uma ferramenta estratégica, visto que ela é fundamental para a vida ritual e emocional dos evangélicos brasileiros. Burdick, com sua experiência em igrejas brasileiras, sabia da importância da música na vida ritual e emocional dos evangélicos.

Então, em 2002, decidi embarcar em um esforço para descobrir o que fazia o MNE funcionar ideologicamente, Naturalmente, alguns leitores vão querer saber por que eu, um norte-americano branco, estou interessado na política da negritude, muito menos na política negra no Brasil. Até onde posso saber meus preconceitos e motivações a esse respeito, aqui estão eles. Cresci como judeu no Centro-Oeste dos EUA na década de 1960, cercado por evidências das consequências do racismo. Em 1967, vi tanques rolando pela Woodward Avenue em Detroit depois que a cidade explodiu em tumultos raciais, e em 1971 vi ônibus sendo incendiados na minha cidade natal, Pontiac, porque seriam usados ​​para acabar com a segregação nas escolas públicas. Meu pai concorreu (e perdeu) para o conselho escolar naquele ano em uma plataforma de dessegregação escolar, e toda primavera por muitos anos, nossa família celebrava a Páscoa convidando membros de capítulos locais da NAACP e CORE para falar sobre as semelhanças entre as lutas de Moses e Martin Luther King Jr. Eu também li Cleaver e Baldwin e Wright e Malcolm X e Haley e Hansberry e Morrison. Tudo isso estabeleceu em meu cérebro o que alguns críticos podem chamar de uma maneira “americana” de olhar para a raça. Mas também incutiu em mim algo mais importante: uma compreensão de que a devastação causada pelo racismo está frequentemente escondida no fundo do coração humano, e que os privilégios que se acumulam para a branquitude são comumente envoltos em camadas de auto ilusão e negação. (John Burdick, 2013)

Essas são as coisas que tenho visto nos últimos vinte e cinco anos, não apenas nos Estados Unidos, mas também no Brasil. Já me disseram mais vezes do que posso contar que “raça é diferente no Brasil do que nos Estados Unidos” e que não devo impor o paradigma racial da minha própria cultura (incluindo a regra da hipodescendência) onde ele não pertence. Garanto ao leitor que concordo plenamente. De fato, passei a maior parte do último quarto de século me esforçando para entender as complexidades distintivas da cor brasileira e do sistema fenotípico. Escrevi sobre a subjetividade de morenas e mulatas, que não tem correlação clara nos Estados Unidos. O sistema brasileiro pode, portanto, ser muito diferente do dos Estados Unidos, mas também é profundamente semelhante. (John Burdick, 2013)

Continua: A Importância da Música no Movimento Negro Evangélico

Parte do texto: A Intersecção entre Raça, Religião e Música no Movimento Negro Evangélico no Brasil na perspectiva de John Burdick 

Como fonte o livro “The Color of Sound: Race, Religion, and Music in Brazil” (2013), escrito pelo antropólogo John Burdick, oferece uma análise profunda sobre as inter-relações entre raça, religião e música no Brasil. A obra, com foco no Movimento Negro Evangélico (MNE).

Do Afrokut

Movimento Negro Evangélico, letramento racial e educação antirracista

A tríade Movimento Negro Evangélico, Letramento Racial e Educação Antirracista são a base conceitual para o mapeamento e análise dos dados levantados sobre o MNE, o entendimento aqui é que essa tríade venha trabalhar sob uma base conceitual e epistemológica contemporânea intrinsecamente ligada ao campo dos estudos em educação, que, segundo Brandão (1985) em seu livro O que é Educação, nos dois primeiros capítulos, faz a reflexão de que todos vivemos em situações que envolvem aprendizagens, sendo: na rua, no lar, na tribo, enfim na vida social. (aqui a reflexão é de que, a igreja ou qualquer espaço religioso, constitui-se de relações interpessoais interativas, portanto, espaços de aprendizagens e educação).

A princípio estes são os referenciais teóricos preliminares que dão norte a este trabalho: Kleiman (2010), Soares, Rojo (1998), Caldeira (2023), Gomes (2022), Hall (2003), Bauman (1997) e Gohn (2012) que apresentam reflexões relevantes para a compreensão do objeto de estudo compõem o corpus teórico de discussão deste estudo.

Para Oliveira (2021), O Movimento Negro Evangélico pode ser compreendido, não como uma entidade completamente consolidada, mas em construção, formado pelo conjunto das ações produzidas por coletivos evangélicos negros com o objetivo de enfrentar o racismo tanto nas igrejas quanto na sociedade. Pode-se falar em Movimento Negro evangélico (MNE), por um lado, na medida em que se tem como referencial um conjunto de ações produzidas por grupos consolidados ou em construção, cujos agentes são pessoas que se autoclassificam como “evangélicas” e negras (pretas ou pardas, de acordo com a nomenclatura adotada pelo IBGE). Por outro, deve-se considerar que, em geral, os destinatários dessas atividades são também pessoas negras que participam de alguma igreja classificada como “evangélica”. O combate ao racismo no interior das igrejas, em particular, e na sociedade em geral, pode ser tomado como o elemento central a partir do qual se organizam as diversas iniciativas com temática racial empreendidas por esses grupos. (FERREIRA, 2021,170)

A reconstrução da história do Movimento Negro Evangélico é uma tarefa complexa, Oliveira (2021) a difícil tarefa de mapear a trajetória do MNE reside no fato de este ser um movimento em construção, mesmo tendo os seus agentes se movendo no segmento evangélico há décadas.

O que se entende como MNE, na verdade é um conjunto de ações de coletivos consolidados ou em construção (o que classifico como negros evangélicos em movimento). O MNE é composto por várias organizações que lutam em defesa de uma leitura e uma hermenêutica afro centrada da Bíblia, das ações afirmativas, da igualdade racial e do combate ao racismo e seus desdobramentos.

Segundo Silva (2011), o MNE é como uma rede que interconecta os atores, instituições e ações como, a título de exemplo, a Sociedade Cultural Missão Quilombo, fundada em 1991, que tem como foco principal das suas ações, modificar a visão que as igrejas têm da cultura negra, Silva (2011) dessa forma, provocar o enfrentamento ao racismo no seu interior.

Texto extraído do artigo acadêmico: EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E LETRAMENTO RACIAL: AS PROPOSTAS E AÇÕESDO MOVIMENTO NEGRO EVANGÉLICO
Magno Santana da Silva – UNEB – Universidade do Estado da Bahia. ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.

Principais Organizações do Movimento Negro Evangélico no Brasil

O Movimento Negro Evangélico no Brasil é composto por uma rede diversificada de organizações, grupos e coletivos que atuam em diferentes regiões do país. A atuação dessas organizações pode variar em termos de foco, abrangência e estratégias. É importante ressaltar que a dinâmica do movimento é fluida, com novas organizações surgindo e outras se consolidando ao longo do tempo.

O Movimento Negro Evangélico contemporâneo começa a se formar na década de 70 e 80, onde surgem pessoas e organizações com o propósito trabalhar a questão racial negra nas igrejas evangélicas. Em 1973 é criada a Comissão Nacional de Combate ao Racismo por iniciativa de um grupo de negros e negras metodistas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Em 1985 a Igreja Metodista oficializa a Comissão Nacional de Combate ao Racismo e cria a Pastoral de Combate ao Racismo. Em seguida é criada a Comissão Ecumênica Nacional de Combate ao RacismoCENACORA, com varias igrejas históricas. Neste mesmo ano, o pastor Rubens dos Santos, cria a Comunidade Martin Luther King, em 1986 o pastor Rubens implanta a Igreja de Deus em Cristo no Brasil, a maior igreja pentecostal negra norte-americana. Nessa década surgem várias outras organizações: a Associação Evangélica Palmares (1987), o GEVANABGrupo Evangélico Afro Brasileiro (1988), o Coral de Resistência de Negros Evangélicos (1988), a Sociedade Cultural Missões Quilombo (1988), Capoeiristas de Cristo, Negros Evangélicos de Londrina, entre outros.

A partir dos anos 2000, o movimento começa a criar forma através do surgimento de organizações em diversos estados brasileiros, voltadas para a temática de combate às discriminações raciais dentro das igrejas evangélicas, tais como:

Grupo de Reflexão Teológica, Teólogos Negros, AGAR (Sociedade Teológica de Mulheres Negras),  Ministério de Combate ao Racismo da Igreja Metodista, o Grupo de Combate ao Racismo da Igreja Batista (Centenário, Duque de Caxias, Rio de Janeiro). Fórum das Mulheres Cristãs Negras de São Paulo, Projeto Palmares da Igreja Batista – SP, Negros Evangélicos do Rio de Janeiro, Ministério Azusa, ANNEB – Alianças de Negros e Negras Evangélicos do Brasil, Fórum de Lideranças Negras Evangélicas,  Fórum Afrodescendentes Evangélicos, Pastorais de Negritudes, entre outras.

Algumas dessas organizações se destacaram por sua atuação histórica e pela influência em suas comunidades, muitas delas hoje extintas.

Atualmente, o MNE está presente em 10 estados brasileiros, engajando as comunidades evangélicas em uma reflexão crítica sobre inclusão e justiça. Embora não exista uma organização jurídica centralizadora do MNE, o Movimento Negro Evangélico tem uma  Coordenação Nacional: o MNE Brasil.

Algumas das principais organizações do Movimento Negro Evangélico:

  • Rede Mulheres Negras Evangélicas: O MNE conta com a participação de mulheres negras evangélicas, a rede foi criada no 1º Encontro de Mulheres Negras Cristãs (EMNC) realizado em Agosto de 2018 pelo Movimento Negro Evangélico em Recife protagonizado pelo Comitê de Gênero e Direitos Humanos do MNE.
  • Cuxi Coletivo Negro Evangélico: a Cuxi é um movimento que luta por justiça e igualdade racial, unindo fé e igualdade. O coletivo promove diálogo e transformação, e tem como ações sociais: Leitura bíblica afrocentrada, Estética negra, Juventude negra, Educação laica.
  • Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil: a ANNEB é uma organização dedicada a promover o fortalecimento do movimento negro evangélico para comungar experiências, reflexões e propostas concretas visando à mobilização da igreja na contribuição de uma sociedade mais justa e igualitária.
  • Fórum de Negritude da Aliança de Batistas do Brasil: é um movimento atuante sobre questões relacionadas à negritude. A Aliança de Batistas do Brasil se compromete com a construção de uma sociedade justa, plural e democrática.
  • Coletivos e grupos de estudo: Existem diversos coletivos e grupos de estudo espalhados pelo país, que se reúnem para discutir temas relacionados à teologia negra, à identidade negra e à luta por justiça racial. São elas: Coletivo Reverendo Martin Luther King Jr.Coletivo Independente de Pessoas Negras da Igreja MetodistaColetivo NúbiasGrupo de Estudos Antirracista África BíblicaGT “Teologia e Negritude” da FTLPastoral de Negritude Igreja Batista do PinheiroPastoral da Negritude Rosa Parks, entre outros.
  • Afrokut: Uma das plataformas online mais conhecidas sobre o tema, o Afrokut oferece informações, artigos e debates sobre o Movimento Negro Evangélico, além de promover eventos e ações de conscientização.

Características comuns dessas organizações:

  • Foco na teologia negra: A maioria dessas organizações se baseia nos princípios da teologia negra, buscando uma interpretação da Bíblia a partir da experiência da pessoa negra.
  • Luta contra o racismo: A luta contra o racismo institucional e cultural é uma das principais bandeiras dessas organizações.
  • Promoção da identidade negra: Essas organizações trabalham para promover a valorização da identidade negra e da cultura afro-brasileira.
  • Articulação com outros movimentos sociais: O Movimento Negro Evangélico mantém estreitas relações com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o Movimento Feminista.

Desafios e perspectivas:

  • Visibilidade: Apesar de sua importância, o Movimento Negro Evangélico ainda enfrenta desafios para conquistar maior visibilidade na sociedade brasileira.
  • Diversidade interna: O movimento é composto por pessoas com diferentes visões teológicas e políticas, o que pode gerar debates internos e divergências.
  • Articulação com as igrejas: Uma das grandes desafios é promover um diálogo mais profundo com as igrejas evangélicas, buscando transformar as práticas e as teologias predominantes.

As organizações do Movimento Negro Evangélico desempenham um papel fundamental na luta por justiça racial no Brasil. Ao unir fé e ativismo, elas contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Do Afrokut

 

A teologia negra: um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil

A Influência da Teologia Negra no Brasil

A teologia negra desempenhou um papel fundamental na formação e no desenvolvimento do Movimento Negro Evangélico no Brasil. Originária dos Estados Unidos, essa corrente teológica, que busca interpretar a Bíblia a partir da experiência da pessoa negra, encontrou um terreno fértil em nosso país, onde as questões raciais sempre foram cruciais.

Como a teologia negra influenciou o Brasil:

  • Conscientização e Empoderamento: A teologia negra proporcionou ferramentas teóricas e espirituais para que os negros brasileiros se conscientizassem da dimensão racial de suas opressões e se empoderassem para a luta por justiça social. Ela ofereceu uma nova leitura das Escrituras, destacando os aspectos que falam de libertação e de luta contra a opressão.
  • Críticas ao Racismo Institucional: A teologia negra contribuiu para uma crítica contundente ao racismo institucionalizado na sociedade brasileira, incluindo as igrejas. Ela denunciou as formas sutis e explícitas de discriminação racial, incentivando os evangélicos negros a se posicionarem contra essas práticas.
  • Valorização da Cultura Negra: Ao valorizar a experiência negra e sua cultura, a teologia negra contribuiu para o resgate da autoestima e da identidade dos negros brasileiros. Ela incentivou a valorização das tradições afro-brasileiras e a busca por uma expressão religiosa mais autêntica e contextualizada.
  • Articulação com a Luta Social: A teologia negra impulsionou a articulação do Movimento Negro Evangélico com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o movimento estudantil. Ela fortaleceu a luta por direitos civis e justiça social, inspirando muitos ativistas a se engajarem nessa causa.
  • Formação de Lideranças: A teologia negra contribuiu para a formação de lideranças negras dentro das igrejas e nos movimentos sociais. Esses líderes, inspirados pelos princípios da teologia negra, passaram a ocupar espaços de decisão e a influenciar as políticas das igrejas e da sociedade em geral.

Exemplos de aplicação da teologia negra no Brasil:

  • Criação de grupos de estudo: Muitos grupos de estudo foram criados para aprofundar o estudo da teologia negra e discutir suas implicações para a realidade brasileira.
  • Desenvolvimento de projetos sociais: Diversos projetos sociais foram desenvolvidos por negras e negros evangélicos, visando promover a inclusão social e o desenvolvimento de comunidades empobrecidas.
  • Produção de materiais didáticos: Livros, artigos e outros materiais didáticos foram produzidos para difundir os princípios da teologia negra e facilitar o acesso a essa corrente teológica.
  • Organização de eventos: Conferências, seminários e encontros foram organizados para debater as questões raciais e a teologia negra, reunindo teólogos, pastores, ativistas e outros interessados no tema.

Em suma, a teologia negra foi um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil, fornecendo um arcabouço teórico e espiritual para a luta contra o racismo e a promoção da justiça social. Ao valorizar a experiência negra e a cultura afro-brasileira, a teologia negra contribuiu para o empoderamento dos negros brasileiros e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Do Afrokut

A História do Movimento Negro Evangélico no Brasil

O Movimento Negro Evangélico no Brasil tem raízes profundas, entrelaçando fé, identidade e luta por justiça racial. Embora suas manifestações mais organizadas se concentrem nas últimas décadas, suas origens remontam ao período colonial.

Os Primórdios: Igrejas Negras e a Resistência

  • Século XIX: A primeira Igreja Protestante Brasileira, a Igreja do Divino Mestre, fundada por Agostinho José Pereira em 1841, o Lutero Negro, era predominantemente negra. Essa e outras iniciativas demonstravam a presença e a organização de negros evangélicos desde o início do protestantismo no país.
  • Resistência e Identidade: Essa igreja pioneira servia como espaço de resistência e afirmação da identidade negra, oferecendo um contraponto à hegemonia católica e às discriminações sofridas pela população negra.

A Década de 1970: Um Novo Impulso

  • Influência da Teologia Negra: A teologia negra, que emergiu nos Estados Unidos, inspirou muitos líderes religiosos negros no Brasil a refletir sobre a fé a partir da experiência da opressão racial.
  • Conscientização e Organização: A década de 1970 foi marcada por um crescente processo de conscientização racial e pela organização de movimentos sociais, e o pontapé inicial para o surgimento do Movimento Negro Evangélico contemporâneo.
  • Articulação com a Luta Social: Os evangélicos negros passaram a se articular com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o movimento estudantil, fortalecendo a luta por direitos civis e justiça social.

Décadas de 1980 e 2000: A Consolidação do Movimento

  • Crescimento e Diversidade: Nas décadas seguintes, o movimento se consolidou, com a criação de diversas organizações e grupos de estudo. A diversidade de expressões religiosas e teológicas também se ampliou.
  • Questões Centrais: A luta contra o racismo institucional, a defesa de políticas públicas afirmativas e a valorização da cultura negra foram e continuam sendo questões centrais para o movimento.
  • Principais Organizações do Movimento Negro Evangélico no Brasil: A partir dos anos 2000, o movimento começa a criar forma através do surgimento de organizações em diversos estados brasileiros, voltadas para a temática de combate às discriminações raciais dentro das igrejas evangélicas.

Século XXI: Desafios e Avanços

  • Novos Desafios: O século XXI trouxe novos desafios, como o crescimento do conservadorismo religioso e a intensificação do debate sobre questões de gênero e sexualidade.
  • Articulação e Visibilidade: Apesar dos desafios, o movimento negro evangélico continua atuante, articulando-se com outros movimentos sociais e buscando maior visibilidade na sociedade brasileira.
  • Uma Força pela Justiça Racial: A luta por justiça racial permanece como uma das principais bandeiras do movimento, que busca transformar as realidades de desigualdade e discriminação que ainda persistem no país.

Legado e Importância

O Movimento Negro Evangélico tem um papel fundamental na história da luta antirracista no Brasil. Ao unir fé e ativismo, ele contribui para:

  • Democratizar as igrejas: Promove a discussão sobre raça e racismo dentro das igrejas, contribuindo para a democratização desses espaços.
  • Fortalecer a luta por justiça social: Articula a fé com a luta por justiça social, inspirando outras pessoas a se engajarem nessa causa.
  • Diversificar o movimento negro: Amplia a luta antirracista, incluindo um público que antes era pouco representado.

Em síntese, a história do Movimento Negro Evangélico no Brasil é marcada por resistência, organização e luta por justiça racial. Desde suas origens até os dias atuais, esse movimento tem sido fundamental para a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

Do Afrokut

O Movimento Negro Evangélico: Uma Força pela Justiça Racial

O Movimento Negro Evangélico é uma importante expressão da luta antirracista no Brasil, que busca conciliar a fé cristã com a identidade negra. Esse movimento, que se desenvolve desde os anos 1970, reúne pessoas negras que se identificam com o protestantismo evangélico e que atuam para combater o racismo dentro e fora das igrejas.

Principais Objetivos:

  • Combater o racismo institucional e cultural: O movimento busca denunciar e combater as diversas formas de discriminação racial presentes na sociedade, inclusive dentro das próprias igrejas.
  • Promover a igualdade racial: Defende políticas públicas e ações afirmativas que garantam a igualdade de oportunidades para pessoas negras.
  • Valorizar a cultura negra: Promove a valorização da cultura negra dentro das igrejas e na sociedade em geral, buscando resgatar a história e as tradições afro-brasileiras.
  • Conscientizar sobre a teologia negra: Difunde a teologia negra, que busca interpretar a Bíblia a partir da experiência da pessoa negra, enfatizando a libertação e a justiça social.

Influências e Desafios:

  • Teologia Negra: um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil. A teologia negra, desenvolvida por teólogos negros nos Estados Unidos, exerceu grande influência sobre o movimento no Brasil, inspirando a luta pela libertação e a justiça social.
  • Luta pelos direitos civis: A luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, liderada por Martin Luther King Jr., também foi uma importante referência para o movimento negro evangélico brasileiro.
  • Desafios internos: O movimento enfrenta desafios internos, como o conservadorismo de algumas igrejas e a resistência à discussão sobre raça e racismo.
  • Desafios externos: O movimento também enfrenta desafios externos, como o racismo estrutural e a desvalorização da cultura negra.

Importância:

O Movimento Negro Evangélico é fundamental para a luta antirracista no Brasil, pois contribui para:

  • Diversificar o movimento negro: Amplia a luta antirracista, incluindo um público que antes era pouco representado.
  • Democratizar as igrejas: Promove a discussão sobre raça e racismo dentro das igrejas, contribuindo para a democratização desses espaços.
  • Fortalecer a luta por justiça social: Articula a fé com a luta por justiça social, inspirando outras pessoas a se engajarem nessa causa.

Portanto, o Movimento Negro Evangélico é uma força importante na luta por um Brasil mais justo e igualitário. Ao unir fé e ativismo, esse movimento contribui para a construção de uma sociedade livre de racismo e discriminação.

Do Afrokut

O protestantismo e a questão racial no Brasil

Embora o número de negros e pardos seja proporcionalmente maior nas igrejas pentecostais do que nas igrejas históricas42 (IBGE, 2010), é principalmente a partir do contexto destas últimas que se têm levantado pessoas buscando lançar luz sobre tais questões, incluindo-as na pauta de interesse de algumas igrejas evangélicas.

Exemplo de tal constatação foi a oficialização da Comissão Nacional de Combate ao Racismo – em 1985, na gestão de Antônio Olímpio Sant’Ana sobre a Secretaria de Ação Social da igreja Metodista. Designada a partir de então como Pastoral Nacional de Combate ao Racismo, esta comissão fora criada doze anos antes por membros da denominação oriundos dos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, tendo como objetivo identificar linguagem racista na hinologia e na própria literatura produzida pela igreja, além
de capacitar lideranças para atuarem nas diversas regiões eclesiásticas (OLIVEIRA, 2017). Outros exemplos são a criação da Associação Evangélica Palmares (1987), do Grupo Evangélico Afro-brasileiro e dos Capoeiristas de Cristo (1988).

Outra figura pioneira a manifestar tal preocupação foi Hernani Francisco da Silva, cuja “segunda conversão” consistiu em “despertar sua negritude”, ocasião em que se sentiu impelido a desenvolver um trabalho voltado para o combate ao racismo no interior do campo religioso evangélico. Em 1991, Hernani Silva, então pertencente a uma igreja pentecostal, fundou com o auxílio de outras pessoas a Sociedade Cultural Missões Quilombo, cujo objetivo principal era“modificar a visão que as igrejas evangélicas têm da cultura negra’ através de uma tentativa de resgate da presença negra nas raízes do cristianismo e da denúncia do que considera uma ‘teologia evangélica racista” (SILVA, 2011; apud OLIVEIRA, 2017: 132).

Nas décadas seguintes, eclode um sem-número de grupos, atuantes desde os níveis local a nacional, interessados em discutir a situação do indivíduo negro adepto do protestantismo. Assim como ocorreu no contexto católico, o movimento negro evangélico foi impulsionado no período da redemocratização. Contudo, como observa Oliveira (2017), diferentemente daquele, não houve no campo protestante a mesma concentração de ações e agentes nos movimentos de cunho étnico-racial, devido ao caráter plural deste segmento religioso.

Por isso, várias tentativas foram empreendidas ao longo dos anos a fim de possibilitar a troca de informações e realização de atividades em conjunto: o Fórum de Afrodescendentes Evangélicos; as comunidades Negros Cristãos, CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos, Negros Evangélicos, Negros Sim!! Somos Cristãos, Movimento Negro Evangélico, Teologia Negra, o Afrokut e outras, todas reunindo evangélicos de várias denominações e estabelecidas em redes virtuais de relacionamento.

Atualmente, enquanto uma vertente do movimento adota a defesa da brasilidade (isto é, da integração entre negros e brancos), outros rejeitam não só a miscigenação e as relações inter-raciais, por exemplo, mas também a existência de um movimento evangélico, alegando que o movimento negro seria um só. A despeito disso, a mobilização de uma pequena parcela dos negros evangélicos tem provocado debates sobre o que outrora era um tabu, isto é, a relação entre religião e negritude. Porém, se no nível da militância tais questões vêm sendo discutidas desde o século passado, o mesmo não se dá no nível acadêmico, onde são escassos os trabalhos que se debruçam sobre tal tema.

Por Alexandre Florencio dos Santos

Protestantismo e identidade negra sob enfoque narrativo: dilemas e relações possíveis / Alexandre Florencio dos Santos; orientadora: Liana de Andrade Biar. – 2022.

Tese (doutorado) Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Departamento de Letras, 2022.

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Protestantismo e Identidade Negra sob enfoque narrativo: dilemas e relações possíveis