Manifesto 2020 – Rede de Mulheres Negras Evangélicas do Brasil

Nós, mulheres negras cristãs, jovens e adultas oriundas de distintas tradições do protestantismo brasileiro (metodistas, assembleianas, batistas, anglicanas, pentecostais), de diferentes regiões brasileiras, levantamos nossas vozes em favor da vida de todas as mulheres negras e da população negra do Brasil.

É sob o amor, a esperança e o doce sussurro de Ruah (1) que nos movemos e somos unidade.

Somos nós, mulheres negras que mais sofremos com as reverberações de uma política pública racista e misógina. A pandemia do novo coronavírus escancarou nosso sofrimento histórico, psíquico e social e revelou a profundidade do cinismo dos que trabalham a serviço da morte e se mantém afastados do Evangelho. Como disse o Bom Mestre, “pelos frutos reconhecereis a árvore” (Mateus 7.16).

Nesse momento de medos e perdas, testemunhamos nossas irmãs, irmãos, nossas crianças e nossos velhos terem suas vidas negligenciadas pela vaidade de governantes incompetentes e perversos. Sofremos com a falta de renda e alimento. Sofremos com a violência institucional armada e assassina que adentra nossas comunidades e invade nossas casas ceifando vidas inocentes. Sofremos com ausência de saneamento, de água potável e materiais de proteção no combate às doenças endêmicas. Sofremos com a violência doméstica. Violências físicas e psíquicas que nos atingem de modo interseccional, cujas opressões raciais, de gênero, de classe, dentre outras formas de discriminações, nos atingem a nível individual e coletivo, consolidando ainda mais os processos de subalternização que são direcionados aos nossos corpos.

Desta maneira, nos agregamos em oração e denúncia e unimos nossas vozes ao movimento de luta em prol das nossas vidas e das dos nossos. Reivindicamos:

  • A ordenação aos mesmos cargos que os homens;
  • A inclusão de mulheres da Bíblia como tema das ministrações, realçando o antigo e novo testamentos;
  • A escalação de mulheres para ministrarem em cultos públicos, seminários, congressos, assembleias, reuniões etc., possibilitando também a inclusão daquelas que não têm cargos na igreja ou parentescos específicos com os líderes, dando vez e lugar para as diversas vozes presentes na congregação.
  • O enfrentamento ao machismo, misoginia e sexismo, discriminação, preconceito e racismo serem temáticas a serem incluídas nas ministrações dos cultos.
  • A intensificação e popularização da educação política.
  • Adoção pelas igrejas evangélicas de educação antirracista e antimisógina nos cultos e também nas escolas bíblicas dominicais;
  • Adoção da cultura de paz, do respeito à diversidade religiosa e do combate às práticas de intolerância.

Repudiamos as ações políticas e policiais que põem em risco de morte e/ou mortificam nossa população e aqueles que coadunam com tais práticas anticristãs.

Posicionamo-nos em defesa da vida de todas as mulheres, com atenção particular para as mulheres negras e indígenas, grupos profundamente vulnerabilizados. Colocamo-nos a disposição das igrejas protestantes para um diálogo baseado na verdade e na reconciliação mediante a realidade do racismo estrutural que nos afeta.

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(1) No relato da Criação, “a Ruah de Deus (em hebraico, Ruah é feminino) pairava sobre as águas”: trata-se de uma bela imagem da matriz ou útero originário fecundo de tudo quanto existe; tudo é amorosamente acolhido, fecundado, gestado, carregado neste grande ventre cósmico que podemos chamar divino: “Deus”. Alento, sopro, vento, respiração, força, fogo… Com nome feminino que fala de maternidade e de ternura, de vitalidade e carícia. Seu calor gera harmonia no caos, realça a beleza e originalidade de cada criatura, dando a cada uma seu lugar, o espaço que necessita para potencializar seu ser. Nessa relação adequada, cada erva, cada montanha, cada ser que vive, tem seu lugar e seu sentido.- Fonte: https://catequesehoje.org.br/raizes/espiritualidade/723-ruah-santo-o-sopro-que-nos-une

Via Novos Diálogos.


Manifesto de negras e negros evangélicos

II Encontro de Mulheres Negras Cristãs

A Rede de Mulheres Negras Evangélicas realiza o II Encontro de Mulheres Negras Cristãs.

Queremos articular ações e fomentar a mobilização das mulheres negras evangélicas em todo Brasil para o engajamento antirracista, antissexista e a promoção da justiça social para as mulheres negras.

Desde 2016 o Brasil tem sofrido com significativos retrocessos de direitos sociais que afetam agudamente a vida das mulheres negras em todo país, base de nossa pirâmide social e econômica. A ampliação de práticas sociais baseadas no discurso de ódio, da intolerância e hostilidade às diferenças fragiliza ainda mais nossas relações democráticas. Como mulheres negras evangélicas comprometidas com a luta antirracista e antissexista em contexto religioso, nos preocupamos com os efeitos do protagonismo negativo e omisso, de expressiva parcela do segmento evangélico diante das restrições e perdas de direitos sociais que afetam de modo estrutural a população negra, e de modo mais perverso as mulheres negras. Por isso, através de nosso compromisso de fé com a justiça social, propomos o encontro para o fortalecimento da nossa recém-criada Rede de Mulheres Negras Evangélicas para sua consolidação e fortalecimento com fins de articular ações territoriais relevantes de defesa e fortalecimento da democracia.

Data: 9 a 11 de Agosto de 2019

Objetivos do II Encontro:

Promover a leitura popular e feminista e da bíblia desde uma perspectiva antirracista e antissexista;

Fortalecer a incidência pública através da organização coletiva das mulheres negras evangélicas, privilegiando a importância do trabalho em rede;

Inscrições: https://www.sympla.com.br/encontro-nacional-de-negras-cristas__543503

Local:
Salvador – BA (prédio a confirmar)