AfroHumanitude na Promoção do Letramento Racial

Reconhecendo a África como o berço da humanidade e o conceito de Ubuntu (Humanitude), que liga todos os seres humanos, a AfroHumanitude enfatiza que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais. A AfroHumanitude tem o potencial de enriquecer e transformar o debate racial no Brasil e no mundo.  A  AfroHumanitude propõe um entendimento mais inclusivo e holístico das diferenças humanas. A ideia de que a África é o berço da humanidade e que o conceito de Ubuntu conecta todos os seres humanos é poderosa e inspiradora.

Assista ao vídeo completo aqui:

No vídeo, exploramos a inovadora proposta da AfroHumanitude, que vai além das tradicionais dicotomias raciais. Vamos entender como esse conceito unificado e inclusivo reconhece que todos pertencemos à mesma espécie, Homo sapiens, e celebra a diversidade humana em suas múltiplas expressões:   NegritudeIndigenitude,  BranquitudeParditude.

O Que é Letramento Racial?

O letramento racial é um processo de conscientização e educação que visa capacitar as pessoas a entenderem e combaterem o racismo. É uma forma de responder às tensões raciais de forma individual e de reeducar as pessoas em uma perspectiva antirracista.

Do Afrokut

 

O Brasil miscigenado e o reconhecimento da parditude

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Pela primeira vez, a população parda aparece como grupo majoritário da população brasileira.

O gráfico abaixo, apresenta os dados do quesito raça/cor dos censos demográficos do IBGE, de 1991 a 2022.

Nota-se que a população autodeclarada branca era maioria em 1991 (51,6%) e no ano 2000 (53,7%), mas perdeu o status de maioria absoluta em 2010 (com 47,7%) e perdeu o status de maioria simples em 2022 (com 43,5%).

A população autodeclarada parda vinha logo abaixo no percentual dos indivíduos autodeclarados brancos, com 42,5% em 1991, 38,5% em 2000, 43,1% em 2010 e assumiu a maioria simples em 2022, com 45.3%. A população autodeclarada preta era de 5% em 1991, passou para 6,2% em 2000, 7,6% em 2010 e alcançou 10,2% em 2022. A população autodeclarada indígena passou de 0,2% em 1991 para 0,6% em 2022. E a população autodeclarada amarela ficou estável em torno de 0,4% no período.

 

A tabela abaixo apresenta os valores absolutos do quesito raça/cor dos censos de 1991 a 2022. Observa-se que a população branca diminui em termos absolutos entre o ano 2000 e 2022, enquanto a população parda apresentou o maior crescimento do período, passando de 62,3 milhões em 1991 para 92 milhões em 2022. A população preta passou de 7,3 milhões em 1991 para 20,7 milhões em 2022. A população indígena, embora percentualmente pequena, apresentou um grande crescimento absoluto de 294 mil em 1991 para 1,2 milhão em 2022. A população amarela ficou aproximadamente estável no período.

 

Segundo o IBGE, A pergunta sobre cor ou raça não retrata apenas a “cor” ou apenas a “raça” da população, pois, além de existirem vários critérios que podem ser usados pelo informante para a classificação (origem familiar, cor da pele, traços físicos, etnia, pertencimento comunitário, entre outros), as cinco categorias estabelecidas na investigação (branca, preta, amarela, parda e indígena) podem ser entendidas pelo informante de forma variável. Vale lembrar ainda que o IBGE utiliza o conceito de “raça” como uma categoria socialmente construída na interação social e não como um conceito biológico.

Assim, o pertencimento étnico-racial é investigado respeitando o critério de autoidentificação. Cada informante, responde ao censo a sua percepção sobre a sua cor ou raça e sua percepção sobre como os outros moradores se auto-identificam numa das cinco categorias.

 

Muitos pesquisadores e ativistas costumam agrupar as categorias “parda” e “preta”, como categoria “negra”. Evidentemente, existem diversas razões que justificam este tipo de agrupamento. Porém, não seria correto definir todos os negros como afrodescendentes, pois muitas pessoas que se autodeclaram pardas são fruto da miscigenação entre brancos e indígenas, ou, em menor proporção, entre brancos e amarelos, ou mesmo entre pardos e brancos. Desta forma, os pardos possuem múltiplas ascendências e uma rica e plural ancestralidade.

Isto fica claro quando analisamos os dados para as Unidades da Federação (UFs), conforme mostra a tabela abaixo. Nota-se que a percentagem de pardos é maior nas UFs do Norte e Nordeste, especialmente naqueles estados onde existe grande quantidade de população indígena. As pessoas que se autodeclaram pardas são mais de dois terços da população no Pará e no Amazonas.

As duas UFs com maior percentagem de população autodeclarada preta são a Bahia e o Rio de Janeiro. Na Bahia há 22,4% de indivíduos autodeclarados pretos (com 57,3% de população parda) e no Rio de Janeiro há 16,2% (com 41,6% de população parda). No total há 18 UFs com maioria de população parda, há 5 UFs sem qualquer maioria absoluta e 4 UFs com maioria da população autodeclarada branca.

Portanto, os pardos são maioria absoluta em 18 Unidades da Federação, são maioria simples em 5 UFs e somente são minoria em 4 UFs (SP, PR, SC e RS). Portanto, o Brasil é um país marcado pela miscigenação entre brancos, pretos, amarelos e indígenas e a presença parda se distribui de forma diferenciada no território brasileiro.

O artigo de Beatriz BuenoReconhecendo a parditude: Consciência mestiça na sociedade brasileira”, publicado na Revista Fórum (23/3/2024) alerta que: “Hoje em dia, as pessoas mestiças se veem , no centro de uma disputa ideológica, sendo obrigadas a se categorizar apenas entre branco e negro. Diante desse cenário, é crucial que as próprias pessoas pardas investiguem suas experiências. Assim nasce a Parditude”.

A autora relata que a Parditude abrange uma série de experiências e desafios:
• “Ambiguidade Racial: Pessoas mestiças, resultado principalmente das misturas afro/euro/indígena, vivem situações de não pertencimento sócio racial.
Exclusão e silenciamento: A sensação de “não lugar” causa apagamento de ancestralidade e constrangimentos sociais, levando a consequências psicológicas graves.
Identidade em questão: O constante questionamento sobre a própria raça e a pressão para se autodeclarar de uma forma específica.
Luta pela identidade: Mesmo ao escolher se autodeclarar como branco, negro, indígena ou pardo, há sempre questionamentos externos, pois sua aparência física não é objetiva e cada um afirma o que pensa de acordo com as próprias ideologias e percepções.
Exclusão nas Políticas Públicas: O direito de cota é negado em diversas bancas de heteroidentificação do país, pois não é considerada a aparência ambígua, ignorando a vulnerabilidade social histórica do grupo mestiço”.

Parditude é um termo que se refere à identidade e à cultura dos pardos ou mestiços brasileiros, valorizando a diversidade e a riqueza cultural que os pardos e mestiços representam, reconhecendo suas origens indígenas, africanas, europeias e asiáticas. A consciência mestiça não se opõe a outros grupos, apenas garante a afirmação de uma especificidade que é muito própria da história do Brasil.

O pardo não deveria ser definido como o outro, muito menos ser visto como branco pelos pretos ou preto pelos brancos. Os pardos não deveriam ser vistos como uma categoria residual, definidos como “brancos escuros” ou “pretos claros”. O fato é que a população parda – que é maioria da população brasileira – costuma se sentir discriminada na categorização “brancos” versus “não-brancos”, ou na percepção de “brancos retintos” versus “pretos retintos”.

Assim, parditude é uma afirmação da identidade e da cidadania da população mestiça, que reivindica seus direitos e sua participação na sociedade brasileira de forma multifacetada e não-binária.

Por conseguinte, a parditude é real e legítima não devendo ser subsumida ou “obscurecida” em uma das pontas da diversidade étnico-racial do país. Há quem afirme que a mestiçofobia é uma espécie de genocídio estatístico da população parda, particularmente daqueles alinhados à ancestralidade dos povos originários.

Em geral, o contingente de pessoas que se autodeclaram pardos são reconhecidos no denominador das políticas públicas, mas, no particular, costumam ser excluídos do numerador, uma vez que a recusa de vagas no sistema de cotas expõe preconceitos e até racismo contra as pessoas pardas pobres.

A especificidade da população parda já estava presente em um artigo que escrevi há cerca de 14 anos – “A definição de cor/’raça’ do IBGE” – no Portal Ecodebate, dizendo: “Chegamos, assim, na principal dificuldade existentes nos estudos de cor/raça, qual seja, definir a cor parda. Fica evidente pela definição do manual do recenseador do IBGE que pardo não é “marrom”, “trigueiro”, “escurinho” ou uma outra tonalidade de cor entre o branco e o preto. Pardo, na definição do manual é uma mistura de cor, ou seja, é uma pessoa gerada a partir de alguma miscigenação, seja ela “mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça” (Alves, 28/06/2010). Nesta mesma linha, falei ao jornalista Bruno Alfano sobre os problemas na definição de negro como a soma de pretos com pardos, em reportagem no jornal O Globo, em 23/07/2022.

Indubitavelmente, a parditude não deve ser encarada como mais uma manifestação identitária, mas sim como afirmação da especificidade de um grupo que é majoritário na população brasileira.

O reconhecimento da desigualdade não significa apoiar qualquer forma de singularismo, sectarismo ou tribalismo, mas sim garantir as legítimas expressões étnico-raciais do país, viabilizando a unidade na diversidade.

A despeito das inúmeras diferenças, existe sempre um terreno comum onde se pode interagir, colaborar e atuar no sentido da defesa da equidade social e “racial” da população brasileira.

Referências:

ALVES, JED. A definição de cor/’raça’ do IBGE, Ecodebate, 28/06/2010
https://www.ecodebate.com.br/2010/06/28/a-definicao-de-corraca-do-ibge-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Bruno Alfano. Ex-pesquisador do IBGE aponta problemas na definição de negro como a soma de pretos com pardos, O Globo, 23/07/2022
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/07/ex-pesquisador-do-ibge-aponta-problemas-na-definicao-de-negro-como-a-soma-de-pretos-com-pardos.ghtml

Beatriz Bueno. Reconhecendo a parditude: Consciência mestiça na sociedade brasileira, Revista Fórum, 23/3/2024
https://revistaforum.com.br/opiniao/2024/3/23/reconhecendo-parditude-conscincia-mestia-na-sociedade-brasileira-156166.html

IBGE. Censo Demográfico 2022, Identificação étnico-racial da população, por sexo e idade. Resultados do universo, IBGE, 2023
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/13ee0337cffc1de37bf0cd4da3988e1f.pdf

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Fonte: EcoDebate 

Imagem: Afrokut – Inspirado no video: Caetano Veloso – Pardo

A Parditude e os Dilemas dos Pardos, Maior Grupo Étnico-Racial do Brasil

O artigo da BBCOs dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022” oferece uma análise abrangente da complexa situação dos pardos no Brasil, que representam 45,3% da população, tornando-se o maior grupo étnico-racial do país. O texto explora as diversas nuances da identidade parda, os desafios enfrentados por essa população e as diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade brasileira. O artigo destaca os desafios que os pardos enfrentam em áreas como o mercado de trabalho, educação, saúde e justiça. 

Apesar de serem a maioria da população, eles ainda estão sub-representados em cargos de liderança e poder, e frequentemente experimentam discriminação e desigualdade.

O artigo da BBC perde uma oportunidade de enriquecer o debate sobre a identidade parda ao não mencionar a Parditude, mesmo que de forma breve. A inclusão do termo, ainda que sem um aprofundamento maior, poderia despertar a curiosidade dos leitores e motivá-los a buscar informações mais profundas sobre o tema.

Ao abordar a Parditude, mesmo que superficialmente, o artigo poderia:

  • Ampliar o escopo da discussão: O foco do artigo se limita aos desafios práticos enfrentados pela população parda, como discriminação e desigualdade. A Parditude, por outro lado, introduz uma perspectiva histórica e cultural à discussão, reconhecendo a trajetória específica dos pardos na formação da sociedade brasileira.
  • Reconhecer a heterogeneidade da população parda: A Parditude valoriza a diversidade dentro da categoria parda, reconhecendo as diferentes origens ancestrais, experiências de vida e tons de pele que compõem esse grupo. Essa abordagem contribui para combater a ideia de que a identidade parda é homogênea e monolítica.
  • Conectar o debate à academia: A Parditude é um conceito teórico com base em estudos acadêmicos. Ao mencioná-la, o artigo poderia conectar o debate público à produção intelectual sobre raça e identidade no Brasil, dando visibilidade ao trabalho de pesquisadores renomados como Lilia Moritz Schwarcz, Eduardo de Oliveira e Silva e Kabengele Munanga.
  • Estimular o debate e a reflexão: A inclusão da Parditude no artigo poderia gerar um debate mais rico e aprofundado sobre a identidade parda, incentivando os leitores a refletirem sobre suas próprias experiências e posicionamentos em relação à “raça” no Brasil.

Lembramos que a omissão da Parditude no artigo não invalida seu valor como um importante ponto de partida para a reflexão sobre os desafios enfrentados pela população parda no Brasil.

Essa omissão pode ser explicada por alguns motivos:

  1. Foco no Censo 2022: O artigo se concentra em apresentar os dados do Censo 2022 e suas implicações para a população parda. O termo “Parditude”, embora importante para o debate acadêmico e político sobre “raça” no Brasil, não é uma categoria oficial utilizada pelo IBGE.
  2. Abrangência para o público leigo: O texto da BBC parece ter como objetivo alcançar um público amplo, incluindo pessoas que não estejam familiarizadas com os termos específicos do debate racial no Brasil. Nesse sentido, o uso de um termo como “Parditude” poderia dificultar a compreensão da mensagem principal do artigo.
  3. Complexidade do conceito: A Parditude é um conceito teórico complexo que envolve diversas nuances e diferentes correntes de pensamento. Abordar esse conceito em um artigo de jornal poderia desviar o foco do tema central e gerar confusões entre os leitores.
  4. Ênfase nos desafios práticos: O artigo da BBC prioriza a análise dos desafios práticos enfrentados pela população parda, como a discriminação no mercado de trabalho e a desigualdade no acesso à educação e à saúde. O foco na Parditude, por outro lado, poderia levar a uma discussão mais abstrata sobre identidade e subjetividade.
  5. Espaço limitado: É importante considerar que um artigo de jornal possui um espaço limitado para abordar um tema complexo como a identidade parda. A escolha de quais aspectos abordar é feita em função do público-alvo e dos objetivos específicos do texto.
  6. Pluralidade de perspectivas: O artigo apresenta diferentes perspectivas sobre a identidade parda, mas não se aprofunda em nenhuma delas. Essa abordagem pode ter sido escolhida para evitar a polarização do debate e apresentar um panorama mais abrangente da questão.

O artigo da BBC oferece uma visão abrangente dos dilemas e desafios enfrentados pelos pardos no Brasil. A análise da heterogeneidade da identidade parda e das diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade contribui para um debate mais rico e aprofundado sobre raça e desigualdade no país.

Pontos-chave adicionais do artigo:

  • A autodeclaração racial é um processo complexo e influenciado por diversos fatores, como contexto social, familiar e histórico.
  • O Censo 2022 revelou um aumento no número de pessoas que se declaram pardas, o que pode ser explicado por diversos fatores, como o crescimento do movimento negro e a maior visibilidade da temática racial na sociedade brasileira.
  • A ascensão de políticos que defendem a “democracia racial” e minimizam o problema do racismo no Brasil pode ter um impacto negativo na luta pela igualdade racial, inclusive para a população parda.
  • A coesão entre os diferentes grupos que compõem a população negra (pretos e pardos) é fundamental para o combate ao racismo estrutural no Brasil.

É fundamental que continuemos buscando informações e diferentes perspectivas sobre o tema, a fim de construirmos uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

A Parditude reconhece que a identidade parda é complexa e multifacetada, marcada pela herança africana, indígena e europeia. Ela se contrapõe à ideia de que a identidade racial no Brasil é binária, dividida entre preto e branco.

A Parditude ainda é um conceito em desenvolvimento, mas vem ganhando cada vez mais espaço no debate sobre raça e identidade no Brasil. Ela é uma ferramenta importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as pessoas, independentemente de sua cor de pele, sejam reconhecidas e valorizadas.

Embora o artigo da BBC não mencione o termo “Parditude“, ele oferece uma análise valiosa dos desafios enfrentados pela população parda no Brasil. A leitura do artigo pode ser um ponto de partida para pesquisas e reflexões mais aprofundadas sobre a identidade parda e seu papel na sociedade brasileira.

Segue link para uma Leitura completa do artigo da BBC

Os dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Afrokut 

A diferença entre Parditude e Negritude

A Parditude surgiu na inspiração do conceito de Negritude, de Senghor e de Césaire. A Negritude foi um movimento literário e político que teve origem nas décadas de 1930 e 1940, no contexto do colonialismo e da escravidão, que deixaram marcas profundas na história e na identidade dos povos africanos e afrodescendentes. A palavra “Negritude” é uma junção dos termos “negro” e “atitude”, e representa a valorização da cultura, história e identidade negra. A Negritude busca combater estereótipos e preconceitos raciais, promovendo o orgulho e a valorização da herança africana.

A Parditude, por sua vez, é um termo mais recente, que busca dar visibilidade e reconhecimento aos pardos ou mestiços no Brasil, que são aqueles que possuem origens indígenas, africanas, europeias e asiáticas. A Parditude é uma afirmação da identidade e cidadania dos pardos e mestiços, reivindicando seus direitos e sua participação na sociedade brasileira.

A diferença entre Parditude e Negritude é que a Parditude se refere à identidade e à cultura dos pardos ou mestiços no Brasil, enquanto a Negritude se refere à identidade e à cultura dos negros ou afrodescendentes no mundo. Ambos os conceitos buscam valorizar a diversidade e a riqueza cultural que esses grupos representam, reconhecendo suas origens e contribuições para a humanidade. No entanto, a Parditude e a Negritude também possuem suas especificidades e desafios, de acordo com os contextos históricos e sociais em que surgiram e se desenvolveram.

A Parditude não é separada da Negritude, Indigenitude e da Branquitude, pois compõe a essência da Afro-humanitude que mostra que a humanidade é uma só, mas com múltiplas expressões.  Assim, a Parditude e a Negritude são conceitos que se complementam e se fortalecem na luta contra o racismo e pela valorização da diversidade cultural.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

O que é Parditude?

Parditude é um termo que se refere à identidade e à cultura dos pardos ou mestiços no Brasil. Uma forma de valorizar a diversidade e a riqueza cultural que os pardos e mestiços representam, reconhecendo suas origens indígenas, africanas, europeias e asiáticas. Parditude é uma afirmação da identidade e cidadania dos pardos e mestiços, reivindicando seus direitos e sua participação na sociedade brasileira.

Segundo a definição de Beatriz Bueno, uma pesquisadora e ativista do movimento racial brasileiro, Parditude é “a consciência de que somos um povo mestiço, que temos uma história própria, que não somos nem brancos nem negros, mas sim uma mistura de ambos, e que temos orgulho disso”. Parditude também é o nome de um canal no YouTube, onde Beatriz Bueno compartilha seus conhecimentos e experiências sobre o tema.

Parditude é uma forma de resistir ao racismo e ao apagamento histórico que os pardos e mestiços sofrem no Brasil, onde muitas vezes são invisibilizados ou forçados a se enquadrar em categorias raciais binárias. Os pardos no Brasil são as pessoas que se identificam como tendo uma mistura de origens étnicas, principalmente de brancos, negros e indígenas.

De acordo com o IBGE, pardo é um termo que se refere às pessoas que se identificam como tendo uma mistura de origens étnicas, principalmente de brancos, negros e indígenas. Preto é um termo que se refere às pessoas que se identificam como tendo uma ascendência oriunda de nativos da África, independentemente de seu território ou construção social, pelo fenótipo manifestado por sua pele de cor escura. Negro é um termo que se refere ao conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pelo IBGE, ou que adotam autodefinição análoga.

Os pardos são o maior grupo racial do Brasil, representando 46,8% da população, de acordo com a PNAD de 2019. Os pardos estão presentes em todas as regiões do país, mas são predominantes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Os pardos têm uma história e uma cultura própria, que refletem a riqueza da diversidade brasileira.

A origem da palavra pardo vem do latim pardus, que significa leopardo, Panthera pardus, também chamado de pantera, faz parte da família dos felinos. Essa palavra teria passado para o grego como párdos, e depois para o português como pardo, designando uma cor entre o escuro e o menos escuro, por comparação com a cor do felino. No Brasil, a palavra pardo foi usada desde o século XVI para se referir às pessoas mestiças, especialmente de origem indígena e africana, que não se encaixavam nas categorias raciais impostas pelos colonizadores. A palavra pardo, portanto, tem uma origem complexa e uma história marcada pela diversidade e pela resistência.

O termo Parditude surge na inspiração do conceito de Negritude, de Senghor e de Césaire. Assim, a Parditude não é separada da Negritude, Indigenitude e da Branquitude, pois compõe a essência da Afro-humanitude que mostra que a humanidade é uma só, mas com múltiplas expressões. A Afro-humanitude é um conceito que propõe a África como o berço da humanidade e o centro da história universal do mundo. A Afro-humanitude é a conexão entre a África e a Humanitude (Sumak Kawsay, Teko Porã, e Ubuntu), que é o vínculo universal que liga toda a humanidade. A Afro-humanitude contempla a Negritude, a Indigenitude, a Branquitude, a Parditude, e continua aberta e disponível para outras humanitudes, reconhecendo a diversidade e a riqueza cultural que elas representam.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut