Sacada do Self da nova militância negra

No programa Conversa com Bial, que abordou reflexões acerca da temática dos 130 anos da abolição da escravatura, o Rapper Emicida comenta uma declaração do então presidente José Sarney que abria oficialmente as comemorações do Centenário da Abolição. Em seguida, o professor Hélio Santos comenta a fala de Emicida e revela a sacada do Self da nova militância negra, dizendo:

“Eu sou de uma geração, Emicida, que não é a sua, que lutava muito para mudar a sociedade. O pessoal da sua geração não quer mudar a sociedade não, eles tão mudando eles mesmos… E com isso vão mudar a sociedade.”

A fala do professor nos remete a refletir sobre essa nova geração com outros olhos, e incentiva a sermos mais observadores sobre tais mudanças. Acredito que, a geração a qual o professor Helio Santos se refere, seja a dos nascidos da década de 80 até meados dos anos 90, a chamada “geração Y”. O  rapper Emicida nasceu em 1985.

O principal objetivo dessa geração, segundo estudos, é a satisfação pessoal, equilíbrio entre corpo, mente e espírito é o valor mais importante. Eles procuram por um lugar em que possam descobrir a si mesmos (Self), e a ideia de viver a vida de forma plena é mais importante do que o sucesso material. É a primeira geração genuinamente globalizada, cresceram com a tecnologia e usam-na desde a primeira infância. Eles são os sucessores da geração X, incorporaram a geração Z, e juntos estão construindo o caminho para a Geração F (a geração Facebook, composta pelos jovens que nasceram na era  das mídias sociais).

Essa geração apontada pelo professor Hélio, “tão mudando eles mesmos”? Pois, me parece, que tal mudança não é algo intencional, ela ocorre, segundo alguns estudiosos, devido o individualismo e narcisismo dessa geração. Dessa forma, essa mudança tem sido superficial, ou seja, não há uma transformação interior, o que desejam, sentem e pensam, esteja voltado tão somente para uma “selfie” e não para seus Self. Podem até interferir na sociedade, por sua vez, gera pouco impacto. É importante considerar que essas projeções universalistas idealizadas de comportamento geracional não são verdades absolutas. A nossa reflexão aqui é dentro de uma perspectiva da geração de negros e negras que tem suas diferenças dentro dessas gerações pesquisadas.

Nesse contexto, o professor refere-se a “Geração Y de negros e negras militantes“, que inclui também a primeira geração de estudantes formados após a implantação do sistema de cotas raciais (Conquista da luta das gerações X e anteriores), que vem mudando o perfil das profissões como direito, comunicação, arquitetura, engenharias, odontologia, medicina, que, até o ano 2000 eram praticamente profissões exclusivas da classe média branca, e da elite. E na carreira acadêmica fazendo também uma presença crescente de negros e negras na pesquisa e na intelectualidade.

O princípio fundamental da psicologia Kemética: “conhece a ti mesmo”, é essa a sacada que o professor Hélio Santos observou nessa nova geração. Esses negros e negras podem ( ou já estão) alicerçar-se no “Self Kemetico” calcado no tripé: amar, conhecer, e mudar, ou seja, amar a si mesmo é conhecer a si mesmo e mudar a si mesmo é ser o seu “Eu Negro“.

O Self: amar a si mesmo, conhecer a si mesmo, e mudar si mesmo é o salto quântico em direção a essa mudança apontada pelo professor. Amar a si mesmo é revolucionário, porque a menos que a pessoa ame a si mesma a pessoa nunca conhecerá a si mesma. Quando nos amamos, estamos sempre abertos às mudanças, especialmente internas, para cada vez mais atingirmos o Eu Negro (Self Kemético).

Por Hernani Francisco da Silva – Ativista Quântico Negro – Do Afrokut

VÍDEO:

Emicida assiste discurso do Sarney sobre abolição da escravatura

Essa foi no Conversa com Bial. Você reagiria assim também?

Posted by Emicida on Friday, June 1, 2018