A palavra négritude em francês deriva de nègre, termo que no início do século XX tinha um caráter pejorativo, utilizado normalmente para ofender ou desqualificar o negro, em contraposição a noir, outra palavra para designar negro, mas que tinha um sentido respeitoso. A intenção do movimento foi justamente inverter o sentido da palavra négritude ao pólo oposto, impingindo-lhe uma conotação positiva de afirmação e orgulho racial.
Nessa perspectiva, a tática foi de desmobilizar o inimigo em um de seus principais instrumentos de dominação racial: a linguagem. O próprio Aimé Césaire assinalava que o movimento da negritude representou uma revolução na linguagem e na literatura.
O termo negritude apareceu com esse nome, pela primeira vez, em 1939, no poema Cahier d´un Retour au Pays Natal (“Caderno de um regresso ao país natal”), escrito pelo antilhano Césaire e editado por Volontés:
Minha negritude não é nem torre nem catedral Ela mergulha na carne rubra do solo Ela mergulha na ardente carne do céu Ela rompe a prostração opaca de sua justa paciência.
Na sua fase inicial, o movimento da negritude tinha um caráter cultural. A proposta era negar a política de assimilação à cultura (conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e dos valores transmitidos coletivamente) européia. O dilema para os africanos e negros da diáspora, assevera Franz Fanon, deixou de ser “embranquecer ou desaparecer”. Até essa época considerava-se positivo apenas, os modelos culturais brancos que vinham da Europa. Para rejeitar esse processo de alienação, os protagonistas da ideologia da negritude passaram a resgatar e a enaltecer os valores e símbolos culturais de matriz africana. Como salienta Jean Paul Sartre, “trata-se de morrer para a cultura branca a fim de renascer para a alma negra”.
Hodierno, negritude é um termo polissêmico. Segundo a classificação de Zilá Bernd, ele pode significar o fato de se pertencer à raça negra; à própria raça como coletividade; à consciência e à reivindicação do homem negro civilizado; à característica de um estilo artístico ou literário; ao conjunto de valores da civilização africana. Já o Novo Aurélio define negritude como:
1) estado ou condição das pessoas da raça negra;
2) ideologia característica da fase de conscientização pelos povos negros africanos da opressão colonialista, a qual busca reencontrar a subjetividade negra observada objetivamente na fase pré-colonial e perdida pela dominação da cultura ocidental.
E, finalmente, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o qual define negritude como sinônimo de:
1) qualidade ou condição de negro;
2) sentimento de orgulho racial e conscientização do valor e riqueza cultural dos negros.
Texto extraído do artigo “Movimento da negritude – uma breve reconstrução histórica” de Petrônio Domingues.
Negritude
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