AfroHumanitude na Promoção do Letramento Racial

Reconhecendo a África como o berço da humanidade e o conceito de Ubuntu (Humanitude), que liga todos os seres humanos, a AfroHumanitude enfatiza que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais. A AfroHumanitude tem o potencial de enriquecer e transformar o debate racial no Brasil e no mundo.  A  AfroHumanitude propõe um entendimento mais inclusivo e holístico das diferenças humanas. A ideia de que a África é o berço da humanidade e que o conceito de Ubuntu conecta todos os seres humanos é poderosa e inspiradora.

Assista ao vídeo completo aqui:

No vídeo, exploramos a inovadora proposta da AfroHumanitude, que vai além das tradicionais dicotomias raciais. Vamos entender como esse conceito unificado e inclusivo reconhece que todos pertencemos à mesma espécie, Homo sapiens, e celebra a diversidade humana em suas múltiplas expressões:   NegritudeIndigenitude,  BranquitudeParditude.

O Que é Letramento Racial?

O letramento racial é um processo de conscientização e educação que visa capacitar as pessoas a entenderem e combaterem o racismo. É uma forma de responder às tensões raciais de forma individual e de reeducar as pessoas em uma perspectiva antirracista.

Do Afrokut

 

AfroHumanitude: Uma Ferramenta Poderosa na Promoção do Letramento Racial

A AfroHumanitude é uma proposta inovadora que busca ir além das dicotomias raciais tradicionais, promovendo uma visão unificada e inclusiva da humanidade. Ao reconhecer que todas as pessoas pertencem a uma única espécie, o Homo sapiens, e que nossas diferenças são superficiais, a AfroHumanitude se posiciona como uma ferramenta poderosa na promoção do letramento racial. Este conceito não apenas reconhece a diversidade humana, mas também celebra suas múltiplas expressões, como a Negritude, Indigenitude, Branquitude e Parditude.

O letramento racial é um conjunto de práticas e ensinamentos que visam conscientizar as pessoas sobre a estrutura e o funcionamento do racismo na sociedade. O objetivo é tornar os indivíduos capazes de reconhecer, criticar e combater atitudes racistas em seu cotidiano. Esse processo envolve a desconstrução de formas de pensar e agir que foram naturalizadas socialmente, promovendo uma perspectiva antirracista. Em outras palavras, é sobre aprender a identificar e desafiar os privilégios e desigualdades raciais que existem em nossa sociedade.

A AfroHumanitude, com sua visão inclusiva e holística da humanidade, tem um grande potencial para trabalhar o letramento racial de forma efetiva e significativa. Aqui estão algumas maneiras de como isso poderia ser implementado:

  • Promover espaços de diálogo onde diferentes humanitudes possam compartilhar suas experiências e visões é fundamental para o letramento racial. Esses espaços de conversação permitem a aprendizagem mútua e a empatia, essencial para a construção de relações sociais mais saudáveis e justas. A reflexão sobre as próprias atitudes e crenças em relação às diferentes “raças” (entre aspas, para denotar o seu caráter de construção social) é um passo crucial para a mudança pessoal e social.
  • A integração da AfroHumanitude nos currículos escolares e programas de formação continuada para educadores é essencial para promover o letramento racial. Ao abordar a história e as contribuições de todas as humanitudes de forma equitativa, as instituições de ensino podem criar um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e respeitoso. Isso ajuda a desconstruir estereótipos e preconceitos, proporcionando uma compreensão mais profunda e ampla da diversidade humana.
  • Celebrar as diversas culturas e identidades nas comunidades escolares e nos espaços públicos é uma maneira eficaz de promover a AfroHumanitude. Reconhecer e valorizar as contribuições únicas de cada grupo ajuda a construir uma sociedade mais inclusiva, onde todos se sentem vistos, ouvidos e valorizados. Eventos culturais, feiras temáticas e semanas de conscientização são exemplos práticos de como isso pode ser implementado.
  • Desenvolver políticas e práticas pedagógicas que combatam o racismo e promovam a igualdade racial é fundamental. A formação de alianças entre diferentes comunidades para enfrentar conjuntamente o racismo e outras formas de discriminação promove uma solidariedade baseada no respeito e na equidade. A AfroHumanitude incentiva essas alianças, reforçando a ideia de que a luta contra o racismo é uma responsabilidade coletiva.
  • Utilizar materiais didáticos que representem a diversidade humana em todas as suas formas é crucial para o letramento racial. Evitar estereótipos e promover narrativas positivas e inclusivas ajuda a construir uma visão mais equilibrada e justa da sociedade. Essa abordagem não só enriquece o processo educativo, mas também prepara os alunos para serem cidadãos mais conscientes e empáticos.

A AfroHumanitude, com sua perspectiva interseccional, oferece uma abordagem poderosa para a promoção do letramento racial. Ao reconhecer a unidade da espécie humana e celebrar suas múltiplas expressões, a AfroHumanitude promove a desconstrução de hierarquias sociais e a valorização da diversidade. Implementar essa visão nas práticas educacionais e sociais pode gerar um impacto profundo e duradouro, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e unida. Inspirados pelo conceito de Ubuntu, podemos avançar juntos na luta contra o racismo e na promoção da dignidade humana para todas as pessoas.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

O caso da Nossa Igreja Brasileira

A denominação supramencionada está localizada, atualmente, na rua da Carioca, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O casal, Marco Davi de Oliveira e Nilza Valéria Zacarias são principais articuladores dessa igreja. O pastor Marco Davi é natural de Teresópolis/RJ, formou-se em teologia, história e ciências da religião, foi um dos fundadores do Movimento Negro Evangélico (MNE) em 2003. Publicou o livro A religião mais negra do Brasil: por que os negros fazem opção pelo pentecostalismo? É o idealizador do projeto Discipulado, Justiça e Reconciliação e atualmente apresenta o programa de rádio, Papo de CrenteNilza Valéria é formada em jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Recentemente (08 de março de 2023) recebeu, pelo Senado Federal, o Diploma Bertha Lutz por sua militância a favor do Estado democrático de direito e dos direitos humanos. É fundadora e coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito (FEED), e cofundadora do MNE. Atualmente coordena o projeto de comunicação, Papo de Crente (programa radiofônico homônimo e Revista de Estudo Bíblico).

O primeiro culto da Nossa Igreja Brasileira ocorreu no dia 3 de março de 2018 em um espaço cedido pela Igreja Batista Memorial da Tijuca, localizada no bairro da Lapa, próximo ao centro da cidade. No entanto, Rosenilton Oliveira (2021) afirma que o pastor Marco Davi de Oliveira fundou o Ministério Nossa Igreja Brasileira no ano de 2014. Antes da sede atual, a igreja já realizou cultos dominicais na Casa Porto, um estabelecimento gastronômico boêmio localizado no bairro da Saúde, local conhecido como Pequena África. Nas fotos divulgadas nas redes sociais é possível ver os fiéis próximo aos engradados de cerveja, mesa de totó, arcade (ou fliperama) etc. A igreja também teve alguns encontros no Kuzinha Nem, a cozinha vegana solidária da Casa Nem (espaço de
acolhimento LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social, fundada pela militante Indeanarae Siqueira) e também nas dependências do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN).

A igreja tem como principal proposta a valorização da cultura brasileira (brasilidade) em suas múltiplas manifestações culturais. Algo que se expressa inclusive no nome e no logotipo da denominação, que faz referência as cores da bandeira do Brasil (principalmente verde e amarelo), aos pontos turísticos do Rio de Janeiro (Cristo redentor e Pão de Açúcar) e o pandeiro, um dos instrumentos de percussão mais populares do universo do samba.

A proposta de valorização da brasilidade pode ser percebida também em seu cancioneiro constituído por inúmeros ritmos musicais pertencentes as culturas populares afro-brasileira e indígena, como o sertanejo, o xote, o forró, o samba, o maxixe, a bossa nova, o frevo, o jongo entre outros.

Algumas das canções encontrada no cancioneiro trata diretamente da questão racial, como é caso de “Sorriso negro”, em que diz:

Um sorriso negro
Um abraço negro
Traz felicidade
Negro sem emprego
Fica sem sossego
Negro é a raiz de liberdade
Negro é uma cor de respeito
Negro é inspiração
Negro é silêncio é luto
Negro é a solução
Negro que já foi escravo
Negro é a voz da verdade
Negro é destino é amor
Negro também é saudade

Percebe-se que a canção “Sorriso Negro” exalta positivamente a negritude, repetindo inúmeras vezes a palavra, “negro”. Em conversa com o pastor Marco Davi de Oliveira, este afirmou que muitas das canções foram compostas por ele mesmo, e isso decorreria da dificuldade de encontrar canções evangélicas que trata da questão racial e social. A maioria das canções evangélicas, de acordo com Marco Davi, seriam voltadas quase que exclusivamente para a dimensão espiritual e individual em detrimento das questões sociais e coletivas.

Um dos esforços da denominação para valorizar a “brasilidade” são as rodas de samba (com músicas seculares) organizadas no espaço da igreja. Em um dos encontros que participei, o pastor Marco Davi no púlpito afirmou que a roda de samba enquanto expressão cultural existe “para a glória de Deus” e que “ali está a graça de Deus”.

Os elementos da cultura afro-brasileira estão presentes na liturgia da igreja, em visita a uma das reuniões, comemorou-se uma festa junina, com decoração característica das festas de rua, com bandeirinhas, balão, vestimentas, paleta cores, comidas típicas (caldo de feijão, paçoca, milho cozido, bolo etc.), ritmo musical, dança e uma reflexão sobre a importância dessa tradição enquanto expressão da cultura popular brasileira, que na percepção de suas lideranças, é uma expressão, sobretudo, afro-indígena. Em certa ocasião desse encontro, o
pastor Marco Davi afirmou que a denominação tem uma “proposta decolonial”, reforçando o argumento de que o cristianismo é diverso e por isso a cultura popular deve ser valorizada, no sentido político da inversão, ou “subversão”.

Entre os argumentos defendidos pelos agentes do protestantismo negro de esquerda é a ideia de que o próprio cristianismo em si é uma religião de matriz africana ou afro-asiática. Parte-se do princípio de que o cristianismo possui uma forte herança cultural africana e que inúmeros personagens bíblicos são de origem africana. Aqui temos algo assemelhado com as propostas de “reafricanização dos espíritos” do movimento estético, filosófico e literário afrofranco-caribenho, Negritude e os pensadores africanos, Amílcar Cabral e Mario Pinto de Andrade, que também deram uma importante contribuição a esse conceito.

Ainda no início de sua formação a NIB organizava encontros semanais com grupos menores denominado de Pequenos Quilombos. Em uma publicação de 2019 na rede social Facebook definia esses grupos de “veículos de formação bíblica, teológica, cultural e política”. O grupo das Mulheres chamava-se Madalenas, o dos homens, Zé João. Esse é um exemplo de como a NIB realiza um conjunto de esforços voltados para questão étnico-racial. Preocupação essa que envolve identidade visual, seleção dos ritmos musicais, manuseio de um conjunto de terminologias específicas, detalhes nos aspectos litúrgicos, seleção e interpretação de passagens bíblicas entre outras.

Os símbolos mobilizados, resgatados, construídos e ressignificados dentro dessa dinâmica, objetivam fortalecer a ideia de uma igreja pautada na experiência negra. E neste sentido a denominação pertenceria ao movimento negro e ao movimento negro evangélico. A NIB se propõe a fazer de forma sistemática um resgate e uma valorização afirmativa e positiva das múltiplas expressões culturais negro africana e indígena. Apresentado, dessa forma, uma narrativa teológica e política contra hegemônica, na sociedade e no campo evangélico.

Rosenilton Oliveira (2021) afirma que no movimento negro evangélico a dinâmica de (re)africanização por meio de um deslocamento do “eurocentrismo” (“deseuropeizá-lo”) e uma recusa do candomblé e outras religiões de matriz africana e enquanto expressão única da africanidade (“descandombletizá-lo”). A NIB também realiza esse duplo movimento a seu modo enquanto defende o cristianismo como uma expressão religiosa afro-asiática, mas sem fazer oposição as outras religiões de matriz africana.

Wallace Cabral Ribeiro

Texto retirado do trabalho de pesquisa de  Wallace Cabral Ribeiro. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (PPGS-UFF). Realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

Protestantismo negro de esquerda – Trabalho completo – Wallace Cabral Ribeiro – 48º Encontro Anual da ANPOCS – 2024

Protestantismo negro de esquerda

 

No final do ano de 2022, o cantor e pastor evangélico Kleber Lucas, em entrevista ao podcast do cantor Caetano Veloso, do canal Mídia Ninja, afirmou que o racismo existente na sociedade brasileira também se expressa nas canções que compõem o hinário das igrejas evangélicas.

Tem um hino que diz: “alvo mais que a neve”, se você aceitar Jesus, você vai ficar branco como a neve. Isso é cantado por brancos e negros  com lágrimas, porque tem uma melodia lindíssima. No final da santa ceia– Você toma santa ceia, eucaristia e canta “alvo mais que a neve”,  porque tem uma melodia, porque o discurso, às vezes nefasto, um discurso de dominação, ele está embalado. Ele tem uma entrega muito boa, de uma melodia linda, de uma memória familiar, de uma memória comunitária, todo mundo cantando de olhinhos fechados, de mãos levantadas ou ajoelhados ou um coro cantando “alvo mais… branco como a neve, branco como a neve”. Porque o sangue de Jesus me torna branco. As ideias de embranquecimento estão lá no hino.” (Kleber Lucas)12

O refrão da referida canção afirma: “Alvo mais que a neve, Alvo mais que a neve, Sim, nesse sangue lavado, Mais alvo que a neve serei”1

Essa reflexão de Kleber Lucas provocou uma reação generalizada entre evangélicos mais conservadores. Influencers e lideranças eclesiásticas se engajaram em uma campanha para negar a existência do racismo nas
comunidades de fé evangélica. Nesse contexto, a fala de Kleber Lucas foi alvo de ridicularização por meio de “memes” e discursos em tom mais bélico e agressivo, descredibilizando suas reflexões teológicas e políticas acerca da dimensão do racismo.

A preocupação com a linguagem racista nas canções evangélicas não é nova, de acordo com Rosenilton Oliveira (2021) essa demanda já se apresentava na criação da Pastoral Nacional de Combate ao Racismo, da Igreja Metodista, na década de 1980. O caso que envolve Kleber Lucas é nosso ponto de partida para refletir sobre a atuação dos evangélicos negros de esquerda engajados na luta política e teológica contra o racismo, certa vez que o próprio Kleber Lucas participa ativamente desse movimento político e teológico/religioso.

O protestantismo negro de esquerda é uma experiência minoritária tanto no interior do evangelicalismo como no espectro da esquerda política. No entanto, os agentes individuais e coletivos são muito atuantes e produzem de maneira sistemática ações diversificadas relacionadas a luta antirracista, como a realização de debates, produção de conteúdo para as redes sociais, lançamento de cartilhas e livros, participação em manifestações de rua, formação de grupos de estudos, cultos, eventos culturais etc.

Entre os objetivos específicos dessas ações identificamos, por exemplo, a demanda em demonstrar que a origem do cristianismo está muito mais vinculada ao continente africano do que o europeu. E parte desses esforços se constitui em expor a presença da África e de personagens negros na bíblia e pela defesa de um Jesus negro (ou de um Jesus não branco). Também verificamos a valorização da ancestralidade pelo resgate de figuras do passado, denunciar a intolerância contra religiões de matriz africana (racismo religioso), apontar o silenciamento da questão racial nas igrejas, afirmar a prática do racismo como pecado, defender as cotas raciais nas universidades e concursos públicos, exaltar positivamente as expressões culturais afro-brasileiras, expor a violência perpetrada pelo Estado contra a comunidade negra (necropolítica), entre outras.

Verificou-se a existência de um campo semântico próprio do protestantismo negro de esquerda, com expressões do tipo “Jesus preto de Nazaré”, “contra o pecado do racismo”, “a bíblia é um livro negro”, “Jesus é preto” entre outras. Ideias, frases, jargões e terminologias que são expressas verbalmente, em estampas de camisetas, na produção teórica escrita, no conteúdo das redes sociais etc.

Os agentes sociais buscam afirmar a negritude e a africanidade de múltiplas formas, uma delas é no próprio corpo físico, por meio de uma estética corporal, conformando uma “estilística” ou “estética da existência” (FOUCAULT, 2004). O corpo é uma espécie de espaço político de afirmação positiva da negritude e da africanidade, isso acontece por meio do uso de dreadlocks (principalmente entre homens); cabelos crespos e cacheados volumosos (principalmente entre mulheres); vestimentas coloridas com estampas africanas; adereços como colares, anéis, brincos, pulseiras, gargantilhas, lenços, turbantes.

Há também as tatuagens com referências ao território continental africano e suas múltiplas expressões culturais, como o sankofa (símbolo adinkra das culturas akan na África ocidental). Em um dos encontros que participei na Nossa Igreja Brasileira, o pastor Marco Davi de Oliveira vestia uma camiseta de cor preta com
a frase estampada com fonte branca, “Sou seguidor do negro da periferia, Jesus de Nazaré”. Muitos dos agentes sociais observados possuem curso superior em diferentes áreas, como teologia, ciências sociais, jornalismo, história, arquitetura, medicina, pedagogia etc. Alguns articulam militância política com pesquisa acadêmica, Rosenilton Silva de Oliveira (2021) já havia percebido em suas pesquisas que parte da atuação política dos agentes sociais do movimento negro evangélico (MNE) é mediada pela pesquisa cientifica.

Percebeu-se que a maioria pertence ou já pertenceu a denominações históricas e missionárias, poucos são ou já foram de igrejas pentecostais. As três igrejas observadas nessa pesquisa que tem um engajamento político antirracista, são denominações de orientação batista, a saber, Nossa Igreja Brasileira, Comunidade Batista de São Gonçalo e Igreja Batista do Caminho. Percebe-se que muitos evangélicos não estão vinculados a nenhuma denominação, como é o caso de um dos entrevistados nessa pesquisa. Os evangélicos que se encontram nessa situação são denominados nesse campo religioso de “desigrejados”. De acordo com o Censo Demográfico do IBGE de 2010 existem mais de 9 milhões de evangélicos sem pertencer a uma denominação, o que corresponde à 4,8% da população brasileira. No Censo este seguimento está agrupado sob a categoria de “não determinados”.

Os evangélicos negros de esquerda produzem intensamente teologias antirracistas, que compõem a denominada teologia negra. As grandes influências teóricas são os autores da teologia negra estadunidense, da teologia da
libertação, da teologia da missão integral, os pensadores anticoloniais, pós-coloniais e decoloniais, da psicanálise, dos estudos culturais, do pensamento social brasileiro, entre outros. A maioria dos pensadores e pensadoras mobilizadas nessas reflexões políticas e teológicas são sobretudo negros, como James Cone, Martin Luther King Jr, Desmond Tutu, Neusa Santos Souza, Lélia Gonzalez, Frantz Fanon, Stuart Hall, Sueli Carneiro, Abdias do Nascimento etc.

De acordo com a pesquisa realizada pelo teólogo Hernani Francisco da Silva (2011), o movimento evangélico negro, tem longa história no Brasil. Teria se iniciado com Agostinho José Pereira, por volta de 1841 quando fundou a Igreja do Divino Mestre na cidade de Recife em Pernambuco. Esse pastor enfatizava em suas pregações passagens bíblicas que condenavam a escravidão e exaltava a liberdade, de acordo com o historiador Marcus Carvalho, “A própria Bíblia tornava-se um instrumento de resistência e não de conformismo” (1998, s,p). O líder também mencionava com certa frequência a revolução haitiana do final do século XVIII (Revolução de São Domingos), alfabetizava pessoas negras escravizadas e libertas. Sua igreja, de acordo com os poucos registros da época, aglutinava cerca e 300 pessoas, sendo majoritariamente negras.

O movimento religioso foi desarticulado por conta de uma série de perseguições, prisões, apreensão de material e interrogatórios de suas principais lideranças. As autoridades policiais enxergavam o Divino Mestre como um sujeito potencialmente perigoso por desconfiarem que havia participado da revolta da sabinada na Bahia, alguns anos anteriores. Não se sabe o que de fato ocorreu com o líder religioso após esse episódio.

A figura de Agostinho José Pereira é mencionada com certa frequência nos debates teológicos e políticos promovidos pelos agentes observados nesta pesquisa. A percepção que os agentes sociais têm desse líder religioso é que seu agenciamento teria afrontado os diversos tabus estabelecidos na época, como a religião, a questão de raça, de classe e educação. Aqui vale ressaltar que os atores sociais em sua atuação e produção de conhecimento reivindicam a existência de uma tradição evangélica que combate a opressão racial.

A publicação do livro Movimento Negro Evangélico: Um Mover do Espírito Santo é um esforço por parte do teólogo Francisco Hernani da Silva de resgatar a memória de personalidades e experiências coletivas que se encontram a margem da denominada “história oficial”. Esse é exatamente o caso do já mencionado Agostinho José Pereira (“o Lutero Negro”) e a Igreja do Divino Mestre, mas também da Mãe Maria (“a Jovem Maria da nação Nagô”), João Cândido (“o marinheiro negro”), Solano Trindade (“o poeta negro”), João Pedro Teixeira (“da Liga Camponesa de Sapé”), por exemplo. A produção teórica, os discursos e as práticas sociais promovida pelos diferentes agentes do protestantismo negro desafia as teorias, as práticas e os discursos hegemônicos ao mesmo tempo que tensionam o debate sobre a questão racial na sociedade e no protestantismo brasileiro. São essas questões que planejamos verificar no caso da denominação, Nossa Igreja Brasileira – Igreja Batista.

Wallace Cabral Ribeiro

Texto retirado do trabalho de pesquisa de  Wallace Cabral Ribeiro. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (PPGS-UFF). Realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

Protestantismo negro de esquerda – Trabalho completo – Wallace Cabral Ribeiro – 48º Encontro Anual da ANPOCS – 2024

CONTRA O PECADO DO RACISMO”: PROTESTANTISMO NEGRO DE
ESQUERDA NA LUTA ANTIRRACISTA

Branquitude não é o oposto de Negritude na perspectiva da AfroHumanitude

Superar o paradigma binário preto/branco pode ampliar a compreensão das dinâmicas raciais e permitir um debate mais inclusivo e enriquecedor. A “raça” é apenas um dos muitos fatores que compõem a identidade de uma pessoa. Considerar outras interseccionalidades, como classe, gênero, orientação sexual e etnia, pode proporcionar uma análise mais complexa e precisa das desigualdades raciais e sociais. Além disso, é fundamental reconhecer as experiências únicas de pessoas que não se encaixam perfeitamente nesse binarismo. Expandir o debate pode levar a soluções mais abrangentes e eficazes, capazes de endereçar as múltiplas dimensões da opressão e do privilégio.

Nessa direção, o debate acadêmico vem, desde então, buscando uma reflexão sobre as relações raciais na contemporaneidade. Destaca-se, neste debate acadêmico, a oposição a uma “branquitude positiva” e a substituição da palavra branquitude pelo termo “branquidade“( utilizando para falar da situação de privilégio que o branco detém nas sociedades estruturadas pelas hierarquias raciais).  Branquitude e Branquidade por Edith Piza, oferece uma base teórica importante ao redefinir a branquitude como uma identidade que se manifesta através do compromisso antirracista, ao invés de ser o oposto da negritudePiza usa “branquidade” como tradução de “whiteness“, referindo-se à identidade racial branca ligada ao racismo, enquanto “branquitude” é proposta como um movimento de reflexão e antirracismo. Ela sugere que a branquitude é um destino, um movimento consciente de negação da supremacia branca. Piza argumenta que branquitude e negritude não são meramente opostos, mas sim conceitos complexos com suas próprias identidades e dinâmicas sociais. Piza propõe que a verdadeira branquitude envolve um deslocamento dos espaços de privilégio e um engajamento consciente na luta contra as desigualdades raciais. Ela sugere que essa transformação pessoal é fundamental para a criação de uma sociedade mais justa e equitativa. Para alguns acadêmicos, destacar a branquidade é uma maneira de manter o foco nas injustiças e nos privilégios sistemáticos. Já a proposta de uma branquitude positiva tenta encorajar uma transformação interna e externa, levando os brancos a reconhecerem seus privilégios e a atuarem de maneira antirracista. 

No entanto, críticas como as de Lourenço Cardoso ressaltam que essa distinção pode, às vezes, obscurecer os privilégios sistêmicos que permanecem, independentemente das atitudes individuais. Cardoso, aponta que a distinção proposta por Edith Piza entre “branquidade” e “branquitude” pode ser vista como uma tentativa de beneficiar a si mesma ao diferenciar-se como uma pessoa branca que critica seus próprios privilégios. Ele argumenta que, ao criar essa distinção, Piza pode estar se colocando em uma posição de superioridade moral, onde o “branco com branquitude” se vê como mais crítico e consciente em comparação ao “branco com branquidade”. Segundo Cardoso, essa distinção pode ser problemática porque, independentemente das atitudes críticas de um indivíduo branco, os privilégios raciais permanecem os mesmos dentro das estruturas sociais. Em suma, Cardoso sugere que a criação do conceito de “branquitude” por Piza poderia servir para deslocar ou silenciar a realidade contínua dos privilégios brancos, destacando que esses privilégios operam independentemente das atitudes individuais. É uma crítica sobre como essas distinções teóricas podem não refletir as realidades práticas das desigualdades raciais.

Na sua dissertação “Conscientização Branca em Espaços de Capoeira: Percepções de Privilégio Entre Brancos que Convivem com Negros“, Ansel Joseph Courant apresenta uma visão que se opõe à de Edith Piza sobre os conceitos de branquitude e branquidade. Courant argumenta que a distinção feita por Piza entre esses termos pode ser confusa e pouco eficaz na prática. Courant, no entanto, critica essa abordagem, argumentando que qualquer distinção entre branquidade e branquitude pode ser ilusória, pois os privilégios raciais dos brancos permanecem, independentemente de suas atitudes antirracistas. Ele sugere que tal distinção pode até servir para que indivíduos brancos se coloquem numa posição de superioridade moral, sem realmente desafiar as estruturas de poder que perpetuam o racismo. Courant enfatiza que o racismo é uma estrutura institucional e sistêmica, e não apenas uma questão de atitudes individuais. Ele argumenta que a crítica de Piza foca demais em aspectos individuais e atitudinais, negligenciando a persistência das desigualdades estruturais.

Enfim, enquanto Piza vê na branquitude uma possibilidade de transformação pessoal e política através da conscientização e do deslocamento de espaços de privilégio, Courant destaca que tais transformações individuais não alteram necessariamente as estruturas institucionais que sustentam o racismo. Portanto, para Courant, a abordagem de Piza pode inadvertidamente silenciar a continuidade dos privilégios brancos em termos institucionais. Portanto, longe de ser um conceito que beneficia a si mesma, a ideia de branquitude de Piza visa incentivar os brancos a tomar responsabilidade e a agir contra o racismo de forma concreta e significativa.

Ao desconstruir a ideia de que branquitude é apenas o oposto de negritude, percebemos que ambas são construções sociais complexas. O processo de conscientização da branquitude pode ser uma ferramenta de autoconhecimento e transformação interna, ajudando os indivíduos a reconhecer seus privilégios e agir de maneira mais justa. Embora essa transformação pessoal seja valiosa, a verdadeira mudança ocorre quando essas reflexões pessoais se traduzem em ações coletivas para desmantelar estruturas de opressão e promover a igualdade. Tanto a branquitude quanto a negritude têm papéis importantes na transformação social, e entender suas diferenças e interseções é crucial para a construção de uma sociedade mais equitativa e justa. Nesse contexto, a AfroHumanitude se posiciona como uma proposta que busca unir e valorizar todas as identidades humanas—Negritude, Indigenitude, Branquitude, Parditude—e outras ainda por se reconhecer.

A proposta da AfroHumanitude é uma visão inovadora que busca transcender o paradigma binário preto e branco que tem historicamente moldado as discussões sobre raça e identidade. Inspirada na ideia de que a humanidade é uma só, mas com múltiplas expressões, a AfroHumanitude propõe um entendimento mais inclusivo e holístico das diferenças humanas. A ideia de que a África é o berço da humanidade e que o conceito de Ubuntu conecta todos os seres humanos é poderosa e inspiradora.

Reconhecendo a África como o berço da humanidade e o conceito de Ubuntu (Humanitude), que liga todos os seres humanos, a AfroHumanitude enfatiza que as diferenças entre nós são superficiais e não devem ser usadas para justificar discriminação ou hierarquias sociais. A AfroHumanitude tem o potencial de enriquecer e transformar o debate racial no Brasil e no mundo. Para que essa visão ganhe força e reconhecimento, é fundamental acreditar nela e promovê-la ativamente. Isso envolve integrar a AfroHumanitude nas pautas dos movimentos antirracistas, na academia e nos movimentos sociais. Incorporar esses conceitos nos livros didáticos e currículos escolares pode plantar sementes em jovens mentes, promovendo uma visão mais inclusiva e holística da humanidade desde cedo.

A transformação pessoal é essencial para essa mudança. Pequenas ações individuais podem gerar grandes impactos coletivos ao longo do tempo. Ao educar e engajar as pessoas em discussões sobre AfroHumanitude, podemos modificar o campo mórfico—ou as memórias do inconsciente coletivo—e criar novos paradigmas que valorizem a diversidade humana.

Em conclusão, a AfroHumanitude tem o potencial de enriquecer e transformar o debate racial no Brasil e no mundo. Ao promover uma compreensão mais profunda e inclusiva das dinâmicas sociais, podemos avançar de maneira significativa na luta pela justiça e igualdade racial. Inspirados pelo conceito de Humanitude (Ubuntu, Sumak Kawsay, Teko Porã) podemos trabalhar juntos para construir um futuro onde todas as identidades sejam reconhecidas e valorizadas.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

REFERÊNCIAS

A branquitude acrítica revistada e as críticas. In: MÜLLER, Tânia M.P.; CARDOSO, Lourenço (Org.). Branquitude: Estudos sobre a identidade branca no Brasil. Curitiba: Editora Appris, 2017.

Courant, Ansel Joseph. Conscientização branca em espaços de Capoeira: percepções de privilégio entre brancos que convivem com negros. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2018. Dissertação de Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos.

PIZA, E. Porta de vidro: entrada para branquitude. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (org.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002.

A Indigenitude: uma inovação cultural que busca reforçar a identidade indígena no contexto contemporâneo

A Indigenitude é um termo sugerido por James Clifford para descrever a crescente consciência e revitalização das culturas indígenas. É  uma resposta às décadas de colonização e opressão, celebrando e adaptando as tradições indígenas no contexto contemporâneo. Envolve não só um retorno às raízes, mas também a incorporação de elementos modernos. Na perspetiva da   Afro-humanitude é uma visão de libertação, resistência e propostas de mudança fundamentada no Sumak KawsayTeko Porá.

James Clifford, em seu livro “Returns“, faz uma análise profunda da reemergência indígena, propondo uma comparação interessante com o movimento Negritude dos anos 1950. A Negritude, como Clifford aponta, foi um movimento que enfatizou a afirmação de identidade, cultura e valores da diáspora africana, respondendo à colonização e racismo com uma celebração da herança africana e um chamado à solidariedade negra

Da mesma forma, Clifford identifica um movimento emergente que ele chama de “Indigenitude”. Esse conceito reflete a crescente consciência e revitalização das culturas indígenas, que, como a Negritude, é uma resposta às décadas de colonização, opressão e marginalização. A Indigenitude, conforme Clifford, não é apenas um retorno às tradições, mas uma adaptação e inovação cultural que busca reforçar a identidade indígena no contexto contemporâneo.

Clifford sugere que, assim como a Negritude promoveu uma nova forma de pensar e ser no mundo, a Indigenitude está transformando as comunidades indígenas. Ele observa que a Indigenitude não se trata de um simples retorno ao passado, mas de um movimento dinâmico que incorpora elementos modernos enquanto preserva e ressignifica tradições ancestrais. Este fenômeno é visto tanto em práticas culturais, como em arte e música, quanto em estratégias políticas e sociais que desafiam as estruturas coloniais ainda existentes.

Assim, ao comparar a Indigenitude com a Negritude, Clifford destaca o poder das identidades coletivas em movimentos de resistência cultural. Ambas as noções valorizam a memória histórica e a solidariedade comunitária, ao mesmo tempo em que enfrentam e reconfiguram as narrativas dominantes de opressão. Em última análise, a Indigenitude, segundo Clifford, é um conceito que encapsula a luta contínua das comunidades indígenas por reconhecimento, justiça e autodeterminação.

Do Afrokut

Principais Organizações do Movimento Negro Evangélico no Brasil

O Movimento Negro Evangélico no Brasil é composto por uma rede diversificada de organizações, grupos e coletivos que atuam em diferentes regiões do país. A atuação dessas organizações pode variar em termos de foco, abrangência e estratégias. É importante ressaltar que a dinâmica do movimento é fluida, com novas organizações surgindo e outras se consolidando ao longo do tempo.

O Movimento Negro Evangélico contemporâneo começa a se formar na década de 70 e 80, onde surgem pessoas e organizações com o propósito trabalhar a questão racial negra nas igrejas evangélicas. Em 1973 é criada a Comissão Nacional de Combate ao Racismo por iniciativa de um grupo de negros e negras metodistas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Em 1985 a Igreja Metodista oficializa a Comissão Nacional de Combate ao Racismo e cria a Pastoral de Combate ao Racismo. Em seguida é criada a Comissão Ecumênica Nacional de Combate ao RacismoCENACORA, com varias igrejas históricas. Neste mesmo ano, o pastor Rubens dos Santos, cria a Comunidade Martin Luther King, em 1986 o pastor Rubens implanta a Igreja de Deus em Cristo no Brasil, a maior igreja pentecostal negra norte-americana. Nessa década surgem várias outras organizações: a Associação Evangélica Palmares (1987), o GEVANABGrupo Evangélico Afro Brasileiro (1988), o Coral de Resistência de Negros Evangélicos (1988), a Sociedade Cultural Missões Quilombo (1988), Capoeiristas de Cristo, Negros Evangélicos de Londrina, entre outros.

A partir dos anos 2000, o movimento começa a criar forma através do surgimento de organizações em diversos estados brasileiros, voltadas para a temática de combate às discriminações raciais dentro das igrejas evangélicas, tais como:

Grupo de Reflexão Teológica, Teólogos Negros, AGAR (Sociedade Teológica de Mulheres Negras),  Ministério de Combate ao Racismo da Igreja Metodista, o Grupo de Combate ao Racismo da Igreja Batista (Centenário, Duque de Caxias, Rio de Janeiro). Fórum das Mulheres Cristãs Negras de São Paulo, Projeto Palmares da Igreja Batista – SP, Negros Evangélicos do Rio de Janeiro, Ministério Azusa, ANNEB – Alianças de Negros e Negras Evangélicos do Brasil, Fórum de Lideranças Negras Evangélicas,  Fórum Afrodescendentes Evangélicos, Pastorais de Negritudes, entre outras.

Algumas dessas organizações se destacaram por sua atuação histórica e pela influência em suas comunidades, muitas delas hoje extintas.

Atualmente, o MNE está presente em 10 estados brasileiros, engajando as comunidades evangélicas em uma reflexão crítica sobre inclusão e justiça. Embora não exista uma organização jurídica centralizadora do MNE, o Movimento Negro Evangélico tem uma  Coordenação Nacional: o MNE Brasil.

Algumas das principais organizações do Movimento Negro Evangélico:

  • Rede Mulheres Negras Evangélicas: O MNE conta com a participação de mulheres negras evangélicas, a rede foi criada no 1º Encontro de Mulheres Negras Cristãs (EMNC) realizado em Agosto de 2018 pelo Movimento Negro Evangélico em Recife protagonizado pelo Comitê de Gênero e Direitos Humanos do MNE.
  • Cuxi Coletivo Negro Evangélico: a Cuxi é um movimento que luta por justiça e igualdade racial, unindo fé e igualdade. O coletivo promove diálogo e transformação, e tem como ações sociais: Leitura bíblica afrocentrada, Estética negra, Juventude negra, Educação laica.
  • Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil: a ANNEB é uma organização dedicada a promover o fortalecimento do movimento negro evangélico para comungar experiências, reflexões e propostas concretas visando à mobilização da igreja na contribuição de uma sociedade mais justa e igualitária.
  • Fórum de Negritude da Aliança de Batistas do Brasil: é um movimento atuante sobre questões relacionadas à negritude. A Aliança de Batistas do Brasil se compromete com a construção de uma sociedade justa, plural e democrática.
  • Coletivos e grupos de estudo: Existem diversos coletivos e grupos de estudo espalhados pelo país, que se reúnem para discutir temas relacionados à teologia negra, à identidade negra e à luta por justiça racial. São elas: Coletivo Reverendo Martin Luther King Jr.Coletivo Independente de Pessoas Negras da Igreja MetodistaColetivo NúbiasGrupo de Estudos Antirracista África BíblicaGT “Teologia e Negritude” da FTLPastoral de Negritude Igreja Batista do PinheiroPastoral da Negritude Rosa Parks, entre outros.
  • Afrokut: Uma das plataformas online mais conhecidas sobre o tema, o Afrokut oferece informações, artigos e debates sobre o Movimento Negro Evangélico, além de promover eventos e ações de conscientização.

Características comuns dessas organizações:

  • Foco na teologia negra: A maioria dessas organizações se baseia nos princípios da teologia negra, buscando uma interpretação da Bíblia a partir da experiência da pessoa negra.
  • Luta contra o racismo: A luta contra o racismo institucional e cultural é uma das principais bandeiras dessas organizações.
  • Promoção da identidade negra: Essas organizações trabalham para promover a valorização da identidade negra e da cultura afro-brasileira.
  • Articulação com outros movimentos sociais: O Movimento Negro Evangélico mantém estreitas relações com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o Movimento Feminista.

Desafios e perspectivas:

  • Visibilidade: Apesar de sua importância, o Movimento Negro Evangélico ainda enfrenta desafios para conquistar maior visibilidade na sociedade brasileira.
  • Diversidade interna: O movimento é composto por pessoas com diferentes visões teológicas e políticas, o que pode gerar debates internos e divergências.
  • Articulação com as igrejas: Uma das grandes desafios é promover um diálogo mais profundo com as igrejas evangélicas, buscando transformar as práticas e as teologias predominantes.

As organizações do Movimento Negro Evangélico desempenham um papel fundamental na luta por justiça racial no Brasil. Ao unir fé e ativismo, elas contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Do Afrokut

 

A teologia negra: um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil

A Influência da Teologia Negra no Brasil

A teologia negra desempenhou um papel fundamental na formação e no desenvolvimento do Movimento Negro Evangélico no Brasil. Originária dos Estados Unidos, essa corrente teológica, que busca interpretar a Bíblia a partir da experiência da pessoa negra, encontrou um terreno fértil em nosso país, onde as questões raciais sempre foram cruciais.

Como a teologia negra influenciou o Brasil:

  • Conscientização e Empoderamento: A teologia negra proporcionou ferramentas teóricas e espirituais para que os negros brasileiros se conscientizassem da dimensão racial de suas opressões e se empoderassem para a luta por justiça social. Ela ofereceu uma nova leitura das Escrituras, destacando os aspectos que falam de libertação e de luta contra a opressão.
  • Críticas ao Racismo Institucional: A teologia negra contribuiu para uma crítica contundente ao racismo institucionalizado na sociedade brasileira, incluindo as igrejas. Ela denunciou as formas sutis e explícitas de discriminação racial, incentivando os evangélicos negros a se posicionarem contra essas práticas.
  • Valorização da Cultura Negra: Ao valorizar a experiência negra e sua cultura, a teologia negra contribuiu para o resgate da autoestima e da identidade dos negros brasileiros. Ela incentivou a valorização das tradições afro-brasileiras e a busca por uma expressão religiosa mais autêntica e contextualizada.
  • Articulação com a Luta Social: A teologia negra impulsionou a articulação do Movimento Negro Evangélico com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o movimento estudantil. Ela fortaleceu a luta por direitos civis e justiça social, inspirando muitos ativistas a se engajarem nessa causa.
  • Formação de Lideranças: A teologia negra contribuiu para a formação de lideranças negras dentro das igrejas e nos movimentos sociais. Esses líderes, inspirados pelos princípios da teologia negra, passaram a ocupar espaços de decisão e a influenciar as políticas das igrejas e da sociedade em geral.

Exemplos de aplicação da teologia negra no Brasil:

  • Criação de grupos de estudo: Muitos grupos de estudo foram criados para aprofundar o estudo da teologia negra e discutir suas implicações para a realidade brasileira.
  • Desenvolvimento de projetos sociais: Diversos projetos sociais foram desenvolvidos por negras e negros evangélicos, visando promover a inclusão social e o desenvolvimento de comunidades empobrecidas.
  • Produção de materiais didáticos: Livros, artigos e outros materiais didáticos foram produzidos para difundir os princípios da teologia negra e facilitar o acesso a essa corrente teológica.
  • Organização de eventos: Conferências, seminários e encontros foram organizados para debater as questões raciais e a teologia negra, reunindo teólogos, pastores, ativistas e outros interessados no tema.

Em suma, a teologia negra foi um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil, fornecendo um arcabouço teórico e espiritual para a luta contra o racismo e a promoção da justiça social. Ao valorizar a experiência negra e a cultura afro-brasileira, a teologia negra contribuiu para o empoderamento dos negros brasileiros e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Do Afrokut

A História do Movimento Negro Evangélico no Brasil

O Movimento Negro Evangélico no Brasil tem raízes profundas, entrelaçando fé, identidade e luta por justiça racial. Embora suas manifestações mais organizadas se concentrem nas últimas décadas, suas origens remontam ao período colonial.

Os Primórdios: Igrejas Negras e a Resistência

  • Século XIX: A primeira Igreja Protestante Brasileira, a Igreja do Divino Mestre, fundada por Agostinho José Pereira em 1841, o Lutero Negro, era predominantemente negra. Essa e outras iniciativas demonstravam a presença e a organização de negros evangélicos desde o início do protestantismo no país.
  • Resistência e Identidade: Essa igreja pioneira servia como espaço de resistência e afirmação da identidade negra, oferecendo um contraponto à hegemonia católica e às discriminações sofridas pela população negra.

A Década de 1970: Um Novo Impulso

  • Influência da Teologia Negra: A teologia negra, que emergiu nos Estados Unidos, inspirou muitos líderes religiosos negros no Brasil a refletir sobre a fé a partir da experiência da opressão racial.
  • Conscientização e Organização: A década de 1970 foi marcada por um crescente processo de conscientização racial e pela organização de movimentos sociais, e o pontapé inicial para o surgimento do Movimento Negro Evangélico contemporâneo.
  • Articulação com a Luta Social: Os evangélicos negros passaram a se articular com outros movimentos sociais, como o Movimento Negro e o movimento estudantil, fortalecendo a luta por direitos civis e justiça social.

Décadas de 1980 e 2000: A Consolidação do Movimento

  • Crescimento e Diversidade: Nas décadas seguintes, o movimento se consolidou, com a criação de diversas organizações e grupos de estudo. A diversidade de expressões religiosas e teológicas também se ampliou.
  • Questões Centrais: A luta contra o racismo institucional, a defesa de políticas públicas afirmativas e a valorização da cultura negra foram e continuam sendo questões centrais para o movimento.
  • Principais Organizações do Movimento Negro Evangélico no Brasil: A partir dos anos 2000, o movimento começa a criar forma através do surgimento de organizações em diversos estados brasileiros, voltadas para a temática de combate às discriminações raciais dentro das igrejas evangélicas.

Século XXI: Desafios e Avanços

  • Novos Desafios: O século XXI trouxe novos desafios, como o crescimento do conservadorismo religioso e a intensificação do debate sobre questões de gênero e sexualidade.
  • Articulação e Visibilidade: Apesar dos desafios, o movimento negro evangélico continua atuante, articulando-se com outros movimentos sociais e buscando maior visibilidade na sociedade brasileira.
  • Uma Força pela Justiça Racial: A luta por justiça racial permanece como uma das principais bandeiras do movimento, que busca transformar as realidades de desigualdade e discriminação que ainda persistem no país.

Legado e Importância

O Movimento Negro Evangélico tem um papel fundamental na história da luta antirracista no Brasil. Ao unir fé e ativismo, ele contribui para:

  • Democratizar as igrejas: Promove a discussão sobre raça e racismo dentro das igrejas, contribuindo para a democratização desses espaços.
  • Fortalecer a luta por justiça social: Articula a fé com a luta por justiça social, inspirando outras pessoas a se engajarem nessa causa.
  • Diversificar o movimento negro: Amplia a luta antirracista, incluindo um público que antes era pouco representado.

Em síntese, a história do Movimento Negro Evangélico no Brasil é marcada por resistência, organização e luta por justiça racial. Desde suas origens até os dias atuais, esse movimento tem sido fundamental para a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

Do Afrokut

O Movimento Negro Evangélico: Uma Força pela Justiça Racial

O Movimento Negro Evangélico é uma importante expressão da luta antirracista no Brasil, que busca conciliar a fé cristã com a identidade negra. Esse movimento, que se desenvolve desde os anos 1970, reúne pessoas negras que se identificam com o protestantismo evangélico e que atuam para combater o racismo dentro e fora das igrejas.

Principais Objetivos:

  • Combater o racismo institucional e cultural: O movimento busca denunciar e combater as diversas formas de discriminação racial presentes na sociedade, inclusive dentro das próprias igrejas.
  • Promover a igualdade racial: Defende políticas públicas e ações afirmativas que garantam a igualdade de oportunidades para pessoas negras.
  • Valorizar a cultura negra: Promove a valorização da cultura negra dentro das igrejas e na sociedade em geral, buscando resgatar a história e as tradições afro-brasileiras.
  • Conscientizar sobre a teologia negra: Difunde a teologia negra, que busca interpretar a Bíblia a partir da experiência da pessoa negra, enfatizando a libertação e a justiça social.

Influências e Desafios:

  • Teologia Negra: um marco fundamental para o Movimento Negro Evangélico no Brasil. A teologia negra, desenvolvida por teólogos negros nos Estados Unidos, exerceu grande influência sobre o movimento no Brasil, inspirando a luta pela libertação e a justiça social.
  • Luta pelos direitos civis: A luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, liderada por Martin Luther King Jr., também foi uma importante referência para o movimento negro evangélico brasileiro.
  • Desafios internos: O movimento enfrenta desafios internos, como o conservadorismo de algumas igrejas e a resistência à discussão sobre raça e racismo.
  • Desafios externos: O movimento também enfrenta desafios externos, como o racismo estrutural e a desvalorização da cultura negra.

Importância:

O Movimento Negro Evangélico é fundamental para a luta antirracista no Brasil, pois contribui para:

  • Diversificar o movimento negro: Amplia a luta antirracista, incluindo um público que antes era pouco representado.
  • Democratizar as igrejas: Promove a discussão sobre raça e racismo dentro das igrejas, contribuindo para a democratização desses espaços.
  • Fortalecer a luta por justiça social: Articula a fé com a luta por justiça social, inspirando outras pessoas a se engajarem nessa causa.

Portanto, o Movimento Negro Evangélico é uma força importante na luta por um Brasil mais justo e igualitário. Ao unir fé e ativismo, esse movimento contribui para a construção de uma sociedade livre de racismo e discriminação.

Do Afrokut