5 práticas para uma Educação Antirracista com Equidade

Para uma Educação Antirracista acontecer o trabalho fora e dentro da sala de aula precisa ser contínuo e baseado na EQUIDADE. Mas o que é equidade e como basear os momentos de aprendizagem a partir desse viés?

Relembrando o conceito, equidade significa “dar às pessoas o que elas precisam para que todos tenham acesso às mesmas oportunidades.” Ou seja, é sobre reconhecer que os alunos não são todos iguais e que é preciso ajustar esse “desequilíbrio”, adaptando às necessidades à realidade de cada um.

Pensando em levar essa discussão tão importante adiante, a Nova Escola preparou uma lista com 5 conteúdos que propõem atividades para trazer mais equidade ao ambiente escolar. Confira!

  1. Feira de Ciências antirracista: inovações e saberes negros e indígenas [Clique Aqui]

  2. Etnomatemática para valorizar culturas e diversificar as aulas [Clique Aqui]

  3. Abolição da Escravatura: baixe jogo para usar na sala de aula[Clique Aqui]

  4. 10 brincadeiras africanas e indígenas para explorar na escola[Clique Aqui]

  5. Como incluir culturas afro-brasileiras e indígenas em diferentes componentes curriculares[Clique Aqui]

Curtiu? Inclua as atividades no seus planos de aula e colabore com uma Educação Antirracista e com mais equidade!

Fonte:  Nova Escola

Colonização, quilombos: modos e significações

O livro de Antônio Bispo faz parte da coleção de obras publicadas pelo INCT de Inclusão e assinadas por mestres e mestras das comunidades tradicionais brasileiras – indígenas, afro-brasileiras, e das culturas populares. Líder quilombola pertencente a uma comunidade rural do Piauí, Bispo foi professor da disciplina Encontro de Saberes na UnB em 2012 e 2013 e pertence à rede de mestres docentes do Instituto.

Seu livro traz uma perspectiva nova no campo de ensaios de interpretação do Brasil: a visão dos quilombos, comunidades de negros que se rebelaram contra a violência do regime escravo e se tornaram historicamente um símbolo maior da luta dos povos do Novo Mundo contra a escravidão e o racismo e pela afirmação de comunidades auto-sustentáveis.

Com uma narrativa concisa, Bispo constrói um argumento denso sobre a história das resistências, rebeliões, insurgências e experiências concretas de construção de comunidades livres e auto-sustentáveis, como Palmares, Canudos, Caldeirões e Pau de Colher, projetando seus ideais para os dias de hoje. Desenvolvendo um conceito amplo de colonização, o autor contesta o atual modelo ecocida e desumano de desenvolvimento econômico ao qual o Brasil, junto com os demais países da América Latina, se rendeu completamente.

Em contraposição a esse projeto de sociedade autodestrutiva, passa a propor uma alternativa civilizatória baseada na biointeração, comum aos quilombos, aos terreiros das religiões de matriz africana e à capoeira. É com essa síntese de pensamento crítico e libertário, e uma disponibilidade de mestre ao ensinar um saber profundo e essencial para a vida (incluindo a alegria, transparente no seu ensaio) que Bispo vem somar a sua escrita quilombista à galeria da intelectualidade brasileira atual.

José Jorge de Carvalho

Nego Bispo: o pensador quilombola

Antônio Bispo dos Santos (1959-2023) nasceu no Vale do Rio Berlengas, Piauí. Formou-se pelos ensinamentos de mestras e mestres de ofício do quilombo Saco-Curtume, município de São João do Piauí; completou o ensino fundamental, tornando-se o primeiro de sua família a ter acesso à alfabetização. Nego Bispo, como também é conhecido, é autor de artigos, poemas e dos livros Quilombos, modos e significados (2007) e Colonização, Quilombos: modos e significações (2015). Como liderança quilombola, atuou na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Destaca-se por sua atuação política e militância, que estão fortemente relacionadas à sua formação quilombola, evidenciada por uma cosmovisão a partir da qual os povos constroem, em defesa de seus territórios tradicionais, símbolos, significações e modos de vida.

O pensamento de Bispo constrói-se a partir da experiência e concepções das comunidades quilombolas e dos movimentos sociais de luta pela terra. Dessa perspectiva, desenvolveu algumas proposições epistemológicas a partir dos saberes tradicionais dos povos “afro-pindorâmicos”, segundo a sua expressão para referir-se aos descendentes africanos e indígenas/pindorâmicos em substituição às designações empregadas pelo colonizador. Seu pensamento vem despertando debates dentro e fora da academia, sobretudo a partir do conceito de “contra-colonização”, que postula uma relação entre regimes sociopolíticos e cosmológicos. O autor compreende a colonização como um processo etnocêntrico que busca substituir uma cultura pela outra, por meio de práticas de invasão, expropriação e etnocídio. Como sugere o pensador quilombola, o conceito de “contra-colonização” inscreve no processo colonial a ressignificação da matriz cultural dos povos e de suas práticas tradicionais, de modo a ancorar a enunciação e as formas de resistência à colonização.

Colonização, quilombos: modos e significações (2015) propõe um novo ponto de vista acerca dos estudos decoloniais, ainda que não dialogue diretamente com essa literatura. A obra, que traz ensaios e poemas, elabora uma perspectiva própria sobre as formações “orgânicas” – como Bispo nomeia esse regime de subjetivação – das comunidades tradicionais, retomando a história da resistência de Palmares, Canudos, Caldeirões e Pau de Colher. A crítica epistemológica que o livro apresenta é engendrada pela cosmovisão dos povos contra-colonizadores, indissociável de suas práticas. A contra-colonização localiza-se, portanto, no âmbito de um debate teórico e prático, oferecendo instrumentos para examinar os modos de resistência de povos negros e indígenas que não se permitiram colonizar. A perspectiva crítica do autor repousa na experiência “orgânica” e política do povo quilombola, de forma que o pensamento contra-colonialista mostra-se uma prática que se dá por meio da cosmovisão afro-pindorâmica.

Outro pilar que constitui o conceito de contra-colonização é a relação entre discurso e prática, permitindo o que o autor chama de “confluência”, isto é a convivência entre elementos diferentes entre si e que, ainda assim, se aproximam em suas cosmovisões. Segundo ele, a confluência é o que tem mobilizado o pensamento dos povos tradicionais, oriundo da cosmovisão pluralista dos povos politeístas. A “transfluência”, em contrapartida, rege as “relações de transformação dos elementos da natureza”, estando associada a processos, discursos e práticas derivados da concepção monista, vinculados a um pensamento eurocêntrico e monoteísta. Esses dois pontos são importantes para a compreensão do que o autor denomina “pensamento orgânico” e “pensamento sintético”: o orgânico se refere ao saber constitutivo do desenvolvimento do ser, à organicidade advinda do processo de subjetivação e potência empírica da trajetória dos povos afro-pindorâmicos; o sintético seria o saber canonizado na academia, caracterizado por uma prática colonialista, constituindo-se pela ênfase no “ter.” Enquanto o orgânico é o saber da confluência, o sintético seria o da transfluência.

O pensamento de Nego Bispo busca oferecer contribuições políticas e acadêmicas aos movimentos de luta pela terra, com destaque para as organizações político-sociais dos povos indígenas e quilombolas. Ao reforçar as manifestações coletivas e ao colocar o acento político na oralidade, vem ocupando um lugar na reestruturação conceitual dos estudos decoloniais. Impulsionando o debate acadêmico, Bispo realizou palestras, conferências e cursos, tendo participado como professor e mestre convidado do projeto Encontro de Saberes (UNB/INCT). Ministrou aulas no Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Fonte: Universidade de São Paulo – PORFÍRIO, Iago & OLIVEIRA, Lucas Timoteo de. 2021. “Antônio Bispo dos Santos”. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: <https://ea.fflch.usp.br/autor/antonio-bispo-dos-santos>

Manifesto do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas

Não havendo profecia, o povo se corrompe”. (Provérbios 29.18).

MANIFESTO DO FÓRUM DE LIDERANÇAS NEGRAS EVANGÉLICAS PARA CBE2

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, membros do corpo de Cristo, Senhor da Igreja. Nós aqui chegamos na condição de escravizados. Nosso país recebeu o maior número de escravos em relação aos demais países na América Latina e foi o último país a abolir a escravidão negra. Na história da humanidade não se tem registro de uma escravidão tão longa e cruel quanto à do negro no Brasil. Fomos desrespeitados ao longo da história, reprimidos e massacrados em nossos valores religiosos. No mesmo barco que veio o colonizador veio o evangelizador. Colonizar significava evangelizar. Esta evangelização, no princípio foi representada pelo catolicismo e, mais tarde, pelo protestantismo. A expressão religiosa do negro passou a ser associada à coisa do demônio. Nos evangelizavam, sem no entanto nos considerar como sujeitos do processo de evangelização. Quase tudo nos foi negado ao longo destes séculos de conquista e colonização. Jamais, porém, conseguiram apagar em nós a esperança.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, congregados de diversas igrejas protestantes. Sabemos que as igrejas históricas foram as primeiras denominações protestantes a chegarem no Brasil através dos imigrantes, e depois pelos missionários estrangeiros. Essas igrejas chegaram no período da escravidão. Dentro delas havia os que buscavam reproduzir o modelo escravocrata firmado em um discurso teológico, e não conseguiam ver a incompatibilidade entre escravidão e fé cristã. Estes eram os missionários que vieram do sul dos Estados Unidos, ainda com ressentimentos da derrota na guerra da Secessão contra o Norte pela libertação dos escravizados. A grande maioria desses primeiros protestantes quando não escravistas eram omissos. Eles também defendiam a sua posição teologicamente, afirmando que a Igreja não devia interferir no Estado. Além disso, havia a divisão arbitrária entre o espiritual e o material, entre o corpo e a alma, pensamento que até hoje permanece em muitas igrejas. Reconhecemos também a existência dos abolicionistas: eram em sua maioria missionários do norte dos Estados Unidos, europeus, e um pequeno grupo de convertidos brasileiros.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, e lamentamos que os missionários que aqui chegaram no período da escravidão vieram para fazer missões, ganhar a elite brasileira e constituir suas igrejas. Só se manifestaram a favor da abolição quando o Brasil inteiro já estava convencido do seu fim, uma tragédia para quem devia transformar a sociedade. Mesmo os que tinham uma postura defensora dos direitos humanos e da abolição do escravismo na Inglaterra e nos EUA, ao chegarem no Brasil acomodaram-se ao ambiente escravista e quase nada fizeram com repercussão pública, em favor dos escravos. A Igreja Evangélica jamais chegou a defender oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil. Se passaram mais de 100 anos e as Igrejas continuam com seu silêncio covarde e pecaminoso diante da realidade de opressão e racismo na qual se encontram os afrodescendentes.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, pois em meio ao sentimento de dor, tristeza e indignação, enchem-nos de esperança as experiências de Deus em Jesus Cristo, através das quais vivemos a nossa fé como negros e negras. Não queremos apenas lamentar, é tempo de profetizar e denunciar, mas também de proclamar que a Igreja Evangélica brasileira só poderá viver verdadeiramente a sua Missão Integral se contemplar a questão do afrodescendente. Temos a convicção de que estamos vivendo tempos da manifestação de Deus entre nós e entendemos que os cristãos foram postos no mundo para ser a consciência da sociedade. A Igreja tem de ser a voz que fará a diferença no mundo descendo até os excluídos, como resultado da tragédia da escravidão e marginalização. É preciso sim que os afrodescendentes recebam um tratamento diferenciado porque foi assim que Deus fez a Israel quando foi escravizado no Egito.

Somos afrodescendentes e evangélicos sim, e compreendemos que a verdadeira espiritualidade do povo de Deus se expressa em sua integralidade. A igreja que proclama as boas novas do reino deve ser a mesma que estende a mão ao necessitado. Vimos por esse meio apelar ao II Congresso Brasileiro de Evangelização – CBE2 que dê um basta na omissão da Igreja Evangélica brasileira e quebre o silêncio dos púlpitos com a temática negra e que não fique só nas palavras, nos sermões e nas declarações, mas também através de ações concretas: programas, campanhas, ações afirmativas e reparações. E juntos vamos “Proclamar o reino de Deus, vivendo o evangelho de Cristo”.

Fórum de Lideranças Negras Evangélicas Belo Horizonte, 27 de outubro de 2003

Manifesto “Escravidão: E a igreja com isso?”

Nós, pessoas antirracistas evangélicas, através deste documento fazemos um apelo público à igreja protestante e evangélica deste país. Há 136 anos, o povo negro no Brasil recebeu um documento oficial de abandono do Estado brasileiro, depois de 388 anos de sistema escravocrata, os poderosos decidiram abolir a escravidão sem nenhum tipo de reparação para o povo que gerou a riqueza de um dos países mais ricos da atualidade. Mais de 130 anos depois da abolição da escravidão, alguns silêncios permanecem. Apesar dos esforços de estudiosos dedicados a compreender esse período, ainda existe uma demanda historiográfica e informacional que contribui para a manutenção de narrativas únicas que omitem em muito as vozes dos silenciados e violentados que foram a base para a consolidação dessas instituições no Brasil. 

Entendemos que a escravidão colonial, foi um dos maiores crimes da história da humanidade e por isso precisamos dizer que é urgente: Reconhecer a escravidão como crime humanitário, incentivar a preservação e resgate da memória da história de comunidades e pessoas negras que foram apagadas, responsabilizar as instituições que lucraram e se beneficiaram do sistema escravocrata e defender a reparação dos povos escravizados como um direito fundamental para conseguirmos construir um país mais justo e igualitário que tem um compromisso radical com a justiça social.

Através deste manifesto afirmamos que a luta contra o legado da escravidão não é somente responsabilidade do povo negro ou indígena, mas sim de todo o país. É um dever ético reconhecer que o debate da escravidão precisa ser de cunho civilizatório, estamos literalmente discutindo que tipo de nação queremos ser, e se todo o sofrimento causado ao povo negro durante séculos continuará sem respostas, ou se iremos assumir um compromisso como povo de tocarmos em uma ferida ainda aberta que se chama: Escravidão.

Nós reconhecemos que o debate sobre memória e verdade para reparação já tem sido levantado desde a Conferência da ONU em Durban em 2001, onde se estabeleceu a importância de políticas e práticas para a ampliação do acesso à memória como passo crucial para alcançarmos políticas de reparação. Importante dizer que pastores, redes e coletivos negros evangélicos já lançaram manifestos que cobravam das igrejas uma posição sobre a escravidão: Em 2003 tivemos o Manifesto do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas, em 2008 tivemos o Manifesto “O perdão, os 120 anos da abolição inacabada e as igrejas históricas“, em 2020 tivemos o Manifesto de Negras e Negros Evangélicos e em 2022 tivemos o Manifesto Negro Protestante Brasileiro. Todos estes documentos foram elaborados por pessoas negras evangélicas, em sua maioria lideranças pastorais e teológicas, e de alguma maneira alertavam a igreja brasileira sobre um pecado em que ela historicamente contribuiu e muitas vezes ficou em silêncio.

Nós insistimos de maneira repetida no amor. Acreditamos firmemente que somente o caráter revolucionário do amor pode dar espaço para uma realidade de justiça plena para todas as pessoas. Neste contexto, fazemos um apelo público as igrejas históricas, primeiro por um pedido de perdão oficial ao povo negro brasileiro, e segundo, solicitamos que atuem no sentido de reescrever a história da igreja não só facilitando o acesso aos registros e documentos oficiais das instituições eclesiásticas que já estavam no Brasil naquele período mas trabalhando para que se estabeleça a verdade. 

Portanto reiteramos: Irmãs e irmãos, liberem e facilitem o acesso aos seus arquivos da época da escravidão, queremos entender melhor qual era a relação das igrejas protestantes históricas com a escravidão. Queremos saber: E a igreja com isso?

ASSINE O MANIFESTO “ESCRAVIDÃO: 

A Parditude e os Dilemas dos Pardos, Maior Grupo Étnico-Racial do Brasil

O artigo da BBCOs dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022” oferece uma análise abrangente da complexa situação dos pardos no Brasil, que representam 45,3% da população, tornando-se o maior grupo étnico-racial do país. O texto explora as diversas nuances da identidade parda, os desafios enfrentados por essa população e as diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade brasileira. O artigo destaca os desafios que os pardos enfrentam em áreas como o mercado de trabalho, educação, saúde e justiça. 

Apesar de serem a maioria da população, eles ainda estão sub-representados em cargos de liderança e poder, e frequentemente experimentam discriminação e desigualdade.

O artigo da BBC perde uma oportunidade de enriquecer o debate sobre a identidade parda ao não mencionar a Parditude, mesmo que de forma breve. A inclusão do termo, ainda que sem um aprofundamento maior, poderia despertar a curiosidade dos leitores e motivá-los a buscar informações mais profundas sobre o tema.

Ao abordar a Parditude, mesmo que superficialmente, o artigo poderia:

  • Ampliar o escopo da discussão: O foco do artigo se limita aos desafios práticos enfrentados pela população parda, como discriminação e desigualdade. A Parditude, por outro lado, introduz uma perspectiva histórica e cultural à discussão, reconhecendo a trajetória específica dos pardos na formação da sociedade brasileira.
  • Reconhecer a heterogeneidade da população parda: A Parditude valoriza a diversidade dentro da categoria parda, reconhecendo as diferentes origens ancestrais, experiências de vida e tons de pele que compõem esse grupo. Essa abordagem contribui para combater a ideia de que a identidade parda é homogênea e monolítica.
  • Conectar o debate à academia: A Parditude é um conceito teórico com base em estudos acadêmicos. Ao mencioná-la, o artigo poderia conectar o debate público à produção intelectual sobre raça e identidade no Brasil, dando visibilidade ao trabalho de pesquisadores renomados como Lilia Moritz Schwarcz, Eduardo de Oliveira e Silva e Kabengele Munanga.
  • Estimular o debate e a reflexão: A inclusão da Parditude no artigo poderia gerar um debate mais rico e aprofundado sobre a identidade parda, incentivando os leitores a refletirem sobre suas próprias experiências e posicionamentos em relação à “raça” no Brasil.

Lembramos que a omissão da Parditude no artigo não invalida seu valor como um importante ponto de partida para a reflexão sobre os desafios enfrentados pela população parda no Brasil.

Essa omissão pode ser explicada por alguns motivos:

  1. Foco no Censo 2022: O artigo se concentra em apresentar os dados do Censo 2022 e suas implicações para a população parda. O termo “Parditude”, embora importante para o debate acadêmico e político sobre “raça” no Brasil, não é uma categoria oficial utilizada pelo IBGE.
  2. Abrangência para o público leigo: O texto da BBC parece ter como objetivo alcançar um público amplo, incluindo pessoas que não estejam familiarizadas com os termos específicos do debate racial no Brasil. Nesse sentido, o uso de um termo como “Parditude” poderia dificultar a compreensão da mensagem principal do artigo.
  3. Complexidade do conceito: A Parditude é um conceito teórico complexo que envolve diversas nuances e diferentes correntes de pensamento. Abordar esse conceito em um artigo de jornal poderia desviar o foco do tema central e gerar confusões entre os leitores.
  4. Ênfase nos desafios práticos: O artigo da BBC prioriza a análise dos desafios práticos enfrentados pela população parda, como a discriminação no mercado de trabalho e a desigualdade no acesso à educação e à saúde. O foco na Parditude, por outro lado, poderia levar a uma discussão mais abstrata sobre identidade e subjetividade.
  5. Espaço limitado: É importante considerar que um artigo de jornal possui um espaço limitado para abordar um tema complexo como a identidade parda. A escolha de quais aspectos abordar é feita em função do público-alvo e dos objetivos específicos do texto.
  6. Pluralidade de perspectivas: O artigo apresenta diferentes perspectivas sobre a identidade parda, mas não se aprofunda em nenhuma delas. Essa abordagem pode ter sido escolhida para evitar a polarização do debate e apresentar um panorama mais abrangente da questão.

O artigo da BBC oferece uma visão abrangente dos dilemas e desafios enfrentados pelos pardos no Brasil. A análise da heterogeneidade da identidade parda e das diferentes perspectivas sobre seu papel na sociedade contribui para um debate mais rico e aprofundado sobre raça e desigualdade no país.

Pontos-chave adicionais do artigo:

  • A autodeclaração racial é um processo complexo e influenciado por diversos fatores, como contexto social, familiar e histórico.
  • O Censo 2022 revelou um aumento no número de pessoas que se declaram pardas, o que pode ser explicado por diversos fatores, como o crescimento do movimento negro e a maior visibilidade da temática racial na sociedade brasileira.
  • A ascensão de políticos que defendem a “democracia racial” e minimizam o problema do racismo no Brasil pode ter um impacto negativo na luta pela igualdade racial, inclusive para a população parda.
  • A coesão entre os diferentes grupos que compõem a população negra (pretos e pardos) é fundamental para o combate ao racismo estrutural no Brasil.

É fundamental que continuemos buscando informações e diferentes perspectivas sobre o tema, a fim de construirmos uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

A Parditude reconhece que a identidade parda é complexa e multifacetada, marcada pela herança africana, indígena e europeia. Ela se contrapõe à ideia de que a identidade racial no Brasil é binária, dividida entre preto e branco.

A Parditude ainda é um conceito em desenvolvimento, mas vem ganhando cada vez mais espaço no debate sobre raça e identidade no Brasil. Ela é uma ferramenta importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as pessoas, independentemente de sua cor de pele, sejam reconhecidas e valorizadas.

Embora o artigo da BBC não mencione o termo “Parditude“, ele oferece uma análise valiosa dos desafios enfrentados pela população parda no Brasil. A leitura do artigo pode ser um ponto de partida para pesquisas e reflexões mais aprofundadas sobre a identidade parda e seu papel na sociedade brasileira.

Segue link para uma Leitura completa do artigo da BBC

Os dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Afrokut 

A indigenitude do Samba

O samba é uma expressão cultural que celebra a diversidade e a riqueza da cultura brasileira. Ele é uma manifestação de alegria, resistência e construção de identidades, e é uma parte importante da cultura brasileira. O samba tem suas raízes na cultura africana, indígena, e europeia. A Indigenitude do Samba é uma parte importante desse processo de mistura e hibridização cultural. 

A prática do samba por parte dos povos indígenas é uma forma de reafirmar sua identidade e sua cultura. A música e a dança são formas importantes de expressão cultural para os povos indígenas.

Os Pataxós desempenharam um papel importante na formação do samba, mas eles não foram os únicos responsáveis por sua criação. Os Pataxós, assim como outros povos indígenas, africanos e europeus, contribuíram para a criação do samba.

Os povos indígenas Pataxós contribuíram com elementos musicais, rítmicos e culturais que ajudaram a moldar o samba. Os Pataxós têm uma longa tradição musical e de dança. Eles praticam uma dança chamada “cacuriá“, que é acompanhada de cantos e instrumentos musicais. Essa dança é similar ao samba em alguns aspectos, como o uso de palmas, cantos e passos ritmados. Além disso, os Pataxós têm uma tradição oral rica em histórias, lendas e mitos. Essas histórias e lendas são frequentemente contadas ao som de cantos e instrumentos musicais. Essa tradição oral também contribuiu para a formação do samba, que é uma forma de expressão cultural que também é baseada em histórias, lendas e mitos.

Hoje, o samba Pataxó é uma forma de expressão cultural importante para a comunidade Pataxó. Ele ajuda a manter viva a cultura e a identidade do povo Pataxó. Um exemplo são os Marujos Pataxos, um grupo de indígenas Pataxó da Aldeia Mãe Barra Velha localizada no litoral sul da Bahia, sambadores e sambadoras. Eles representam a contribuição dos povos indígenas para a formação dessa importante forma de expressão cultural. Os Marujos Pataxos que são um exemplo da diversidade cultural do samba brasileiro. Eles praticam uma forma de samba que é uma mistura de elementos indígenas, africanos e europeus. Os Marujos Pataxos se vestem com roupas coloridas e usam instrumentos musicais como o pandeiro, o tambor, o violão, o triângulo e o maracá. Eles cantam músicas que contam histórias sobre sua cultura e sua história.

Além dos Marujos Pataxos, existem outros grupos e referências indígenas que também têm tradição no samba. Aqui estão alguns exemplos:

Os Guarani da Aldeia Ytu, em São Paulo, praticam um estilo de samba chamado “samba guarani“. Esse samba é uma mistura de elementos indígenas, africanos e europeus. Os instrumentos musicais usados incluem o maracá, o ganzá, o pandeiro, o tambor e o violão. As letras das músicas falam sobre a cultura e a história do povo Guarani.

Os Yanomami do Amazonas também praticam o samba. Eles adaptaram o samba para incorporar elementos de sua própria cultura, como a dança e os cantos tradicionais Yanomami.

O grupo “Urucum Samba” é composto por indígenas de diversas etnias, como os Pataxós, os Guaranis e os Yanomami. O grupo toca um samba que é uma mistura de elementos das diferentes culturas indígenas.

O cantor e compositor indígena Janduí da Mata Vermelha também é um importante divulgador do samba indígena. Ele já lançou CDs com suas músicas, que falam sobre a cultura e a história dos povos indígenas.

A Indigenitude do Samba foi tão importante que um grupo de sambistas negros que se originaram no Rio de Janeiro, no início do século XX, se denominaram “Sambistas Pataxos“. Eles eram um grupo de trabalhadores, principalmente de origem africana, que se reuniam para tocar samba nas ruas da cidade. Os Sambistas Pataxos foram um dos grupos mais importantes na formação do samba carioca. Eles foram pioneiros na mistura de elementos africanos e indígenas com elementos europeus, criando um novo estilo de samba que era mais vibrante e dançante. Os Pataxos também foram um dos primeiros grupos a levar o samba para fora das favelas e para os clubes e teatros da elite carioca. Eles ajudaram a popularizar o samba e a torná-lo um símbolo da cultura brasileira.
Alguns dos sambistas Pataxos mais famosos incluem:

Donga, Pixinguinha, João da Baiana, Ismael Silva, Cartola, e Nelson Cavaquinho.

Os Sambistas Pataxos deixaram um legado importante na história do samba. Eles foram um grupo inovador que ajudou a moldar o estilo e o significado do samba carioca.

Aqui estão alguns exemplos de músicas de samba compostas por sambistas Pataxos:

Pelo Telefone” (Donga)

Apanhei no Tapete” (Pixinguinha)

O Que é Que a Baiana Tem?” (João da Baiana)

O Meu Segredo” (Ismael Silva)

As Rosas Não Falam” (Cartola)

O Sol Nascerá” (Nelson Cavaquinho)

Essas músicas são consideradas clássicos do samba e são tocadas até hoje. Elas são um testemunho da importância dos sambistas Pataxos para a cultura brasileira.

O nome “Pataxó” é uma referência ao povo indígena Pataxó, que habita a região Nordeste do Brasil. Os sambistas Pataxos se autodenominavam assim como uma forma de homenagear seus ancestrais indígenas.

De acordo com a tradição oral Pataxó, o nome do povo vem do som que o mar faz ao bater nas pedras: “Patá…”, ao que o mar responde: ““. Esse som é considerado sagrado pelos Pataxós e representa a força da natureza.
Os sambistas Pataxos adotaram esse nome como uma forma de se identificarem com a sua herança indígena. Eles acreditavam que os Pataxós eram um povo forte e resiliente, e que essas qualidades eram importantes para a sobrevivência do samba.

O nome “Pataxó” também é uma forma de resistência cultural. Os sambistas Pataxos estavam lutando para preservar sua cultura e sua identidade em um contexto de racismo e discriminação. O nome “Pataxó” era uma forma de afirmar sua identidade e sua ancestralidade indígena.
O nome “Pataxó” é um símbolo importante na história do samba. Ele representa a mistura de elementos africanos, europeus e indígenas que deram origem ao samba carioca e Brasileiro.

Como vimos, os povos indígenas têm uma longa tradição de música e dança, que é semelhante ao samba em alguns aspectos.  A  tradição do samba nas comunidades indígenas pode ter se desenvolvido de forma independente, sem influência externa.
Com essas informações podemos afirmar que existe uma forte indigenitude do samba.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut 

Tudo Vibra

Nada está parado, tudo se move, tudo vibra.

Tudo é composto de átomos em constante vibração.

Sagrada Geometria, Cimática ciência.

De ondas sonoras geradas pela vibração.

Matéria e Energia, Mente e Espírito.

Resultam das ordens variáveis de Vibração.

Nada está parado, tudo se move, tudo vibra.

Tudo é composto de átomos em constante vibração;

De ondas sonoras geradas pela vibração;

Resultam das ordens variáveis de vibração.

Música Tudo Vibra, inspirada nos saberes ancestrais do Princípio de Vibração das 7 Leis Universais do Kemet 

Canção Meditação Cantada,
Música composta, tocada e cantada por:
Hernani Francisco da Silva Leia mais…

Simeão o Niger e Simão de Cirene são a mesma pessoa?

As interpretações eurocêntricas da Bíblia, tem escondido muitas histórias dos povos africanos no livro sagrado. Contudo, a Sankofa está brilhando sobre a antiguidade bíblica, e camadas de preconceitos estão sendo eliminados. No seu lugar temos uma base com o surgimento de estudos críticos e investigativos sobre a presença negra na Bíblia e a recuperação de pessoas negras nas histórias bíblicas. Consequentemente, as pessoas de ascendência africana têm agora a oportunidade de redescobrir menções consistentes e favoráveis aos seus antepassados nas páginas da Bíblia.

Nesta direção trazemos a história de Simão de Cirene e Simeão o Niger, que conforme evidências, são a mesma pessoa. Também para responder as diversas indagações dos nossos leitores que depois de lerem o artigo: “A Paixão de Cristo e do Negro Simão”, sempre perguntam: Simeão o Niger e Simão de Cirene são a mesma pessoa?

Então, vamos aos fatos:

Simão de Cirene, mencionado nos Evangelhos: Mateus (27:32), Marcos (15:21) e Lucas (23:26). Cada um desses relatos bíblicos nos conta algo diferente sobre Simão de Cirene. Um homem de origem africana, que vivia em Cirene, uma cidade no norte da África. Ele foi forçado a carregar a cruz de Jesus, mas acabou se tornando um seguidor do Cristo. Conforme lemos em Marcos 15:21:

No caminho, os soldados encontraram um homem chamado Simão, que vinha do campo para a cidade. Esse Simão, o pai de Alexandre e Rufo, era da cidade de Cirene. Os soldados obrigaram Simão a carregar a cruz de Jesus.”

Simeão o Niger (niger” significa “negro” em latim) foi um líder da igreja primitiva em Jerusalém. Ele é mencionado no livro de Atos dos Apóstolos, identificado com um dos profetas e doutores de Antioquia citado em Atos 13:1:

Na igreja de Antioquia, havia profetas e mestres: Barnabé; Simeão, chamado Níger; Lúcio, de Cirene; Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca; e Saulo.”

Lúcio de Cirene e Simão o Negro, estavam juntos em Antioquia, orando e jejuando e participando da missão do Espírito de enviar navios escolhidos para a primeira viagem missionária. Note-se que este núcleo africano de missionários precedeu Paulo no testemunho do evangelho, eles ordenaram Paulo (Atos 13:3). Relato que reflete especificamente a importância influência da diáspora africana no cristianismo primitivo.

Evidências que podemos afirmar que Simeão o Niger e Simão de Cirene são a mesma pessoa:

  • Com relação a diferença nos nomes: Simão e Simeão, são grafias alternativas do mesmo nome.
  • Cirene é uma cidade na costa africana, um lugar onde as pessoas tem a pele escura: Simão e Simeão, eram negros.
  • Se verificarmos Atos 11:19-21, descobrimos que a igreja em Antioquia, onde reaparece como Simeão o Niger, foi fundada por homens de Chipre e Cirene. Então aqui está outra Evidência. Não se diz que Simeão Níger seja de Cirene em Atos 13, nem de outro lugar, então Cirene é uma possibilidade, considerando que ele era líder de uma igreja fundada por cireneus.
  • Marcos 15:21 menciona os filhos de Simão, Alexandre e Rufo. Sabemos pela tradição e por várias palavras latinas no texto grego que Marcos estava escrevendo seu Evangelho para um público predominantemente romano. Então isso pode ajudar a conectar Rufo com o Rufos mencionado por Paulo em Romanos 16:13. Sabemos por Romanos 16:13 que Paulo aparentemente conhecia a mãe de Rufo.

Então com essas evidências, podemos afirmar, Simão de Cirene e Simeão o Niger, são a mesma pessoa:

Simão de Cirene tornou-se um seguidor de Jesus e seus filhos eram bem conhecidos na igreja primitiva. Mais tarde, ele viajou para Antioquia e ajudou a iniciar a igreja lá. Sua esposa e filhos estavam com ele. Em Antioquia recebeu o apelido de Simão o Negro. Anos mais tarde, após a morte de Simão/Níger, sua esposa e filho Rufos estavam morando em Roma. Eles eram proeminentes na igreja local, em parte por causa do papel único que Simão desempenhou na história do Evangelho. Escrevendo para um público romano, Marcos menciona Rufo e Alexandre, porque ele e a igreja romana os conheciam pessoalmente. Paulo, escrevendo aos romanos, cumprimenta Rufo e sua mãe pelo mesmo motivo.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Fotor IA

A População Negra Evangélica

Em comparação com o caso dos Estados Unidos, em que existem igrejas pentecostais “exclusivamente negras”, nas quais se constituiu um importante espaço para a tomada da consciência racial, reivindicação e luta pelos direitos civis, aqui no Brasil por muito tempo as instituições cristãs foram agentes perpetuadores e legitimadores do racismo na sociedade brasileira. Essa realidade se dá por vários fatores. Segundo Vagner Gonçalves da Silva (2017), as especificidades do racismo brasileiro, o tipo de missão evangelizadora das igrejas protestantes “que enfatizam a universalidade do acesso aos dons do Espírito Santo e da prática de sua fé”, e a demonização das práticas religiosas não cristãs seriam fatores fulcrais para se entender a realidade negra e evangélica brasileira. Outro ponto de discordância nessa narrativa se refere ao lugar atribuído às heranças culturais negras e africanas na cultura brasileira, sobretudo as relativas às religiões afro-brasileiras, em que a intolerância religiosa é um entrave para o diálogo entre esses dois setores na construção de uma agenda do movimento negro evangélico.

Uma diferença importante entre os negros protestantes estadunidense e os brasileiros é que desde as suas origens o pentecostalismo dos Estado Unidos sempre esteve atrelado à espiritualidade dos povos negros escravizados que ali residiam, que com isso desenvolveram “um estilo diferenciado de culto baseado em cantos efusivos e experiências de avivamento com alegria e dança”. A expressão dessa musicalidade derivou em ritmos e estilos musicais tais como rock, blues, soul, spiritual, jazz, rap, funk entre outros, todas oriundas da ancestralidade e religiosidades africanas (SILVA, 2017).

Na realidade brasileira contemporânea de crescente intolerância religiosa e aumento do conservadorismo, formou-se nas últimas décadas uma agitação entre os fiéis evangélicos negros e com consequência houve um princípio de mobilização, o que posteriormente foi chamado de Movimento Negro Evangélico (MNE). Em sua tese de doutorado intitulada “A cor da fé: ‘identidade negra’ e religião”, Rosenildo Silva de Oliveira (2017), na sessão destinada aos evangélicos negros, argumenta que o recente processo de formação de um movimento negro antirracista dentro das igrejas evangélicas brasileiras deve ser encarado como em constante processo de construção e não como um projeto consolidado, diferentemente do caso católico que já possui grupos institucionalizados (OLIVEIRA, 2017).

Devido à sua grande pluralidade de denominações, a própria mobilização negra dentro do protestantismo é dificultada, inviabilizando o estabelecimento de organismos centralizados do MNE, visto que a sua principal característica é a descentralização de suas ações. Diferentemente do catolicismo, que conta com três grandes grupos que pautam as questões raciais dentro da mesma instituição religiosa, são eles a Pastoral Afro-Brasileira, o Instituto Mariama (organização que reúne diáconos, padres e bispos negros) e o Grupo de Religiosos e Religiosas Negros e Indígenas (GRENI), possuindo políticas coordenadas e estreita relações de cooperação, já que parte significativa dos seus integrantes pertencem às três organizações, desenvolvendo ações em conjunto. No caso evangélico, as iniciativas observáveis são de caráter independente, em sua grande maioria por meio de plataformas digitais e redes sociais (OLIVEIRA, 2017).

As primeiras iniciativas foram fóruns em redes sociais como o MSN em 2002, como o Fórum de Afrodescendentes Evangélicos, que foram se expandindo em outras plataformas como o Orkut, Twitter e Facebook reunindo evangélicos de várias denominações. Na onda deste movimento, Hernani Silva cria em 2008 o Afrokut, rede social exclusiva para a interação, criação e propagação de conteúdo produzido por negros evangélicos. Ainda nessa empreitada, o trabalho de Hernani Silva nos mostra uma tentativa de “resgate da presença negra nas raízes do cristianismo”, ao mesmo tempo que critica o que ele chama de “teologia evangélica racista”. Essas ideias foram compiladas na publicação do livro “O Movimento Negro Evangélico” (2011). Nessa obra, o autor tenta retratar a história do negro evangélico brasileiro a partir da reformulação da narrativa hegemônica que invisibiliza esses indivíduos. Isso é feito através da reinterpretação da história da presença evangélica no Brasil, por exemplo, a descoberta do pregador negro Agostinho José Pereira, apelidado de “Lutero Negro”, considerado o primeiro pregador brasileiro e fundador da Igreja do Divino Mestre em 1841 na cidade de Recife (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2011).

Outra iniciativa nesse movimento tem como objetivo demonstrar a influência africana no cristianismo por meio de um resgate das heranças africanas para essa religião, colocando em evidências os personagens bíblicos negros e elementos que legitimam a luta pelos seus direitos, como a luta do povo de Deus em nome da libertação de toda forma de opressão. Esses preceitos têm ligação com a chamada “Teologia Negra”, uma variante da Teologia da Libertação, surgida nos anos de 1960 nas igrejas negras e protestantes dos Estados Unidos em um contexto de luta pelos direitos civis. A libertação da escravidão do povo hebreu no Egito é uma das passagens mais citadas dessa experiência de libertação ocorrida em terras africanas (SILVA, 2017).

Hernani Silva (2011) ainda desenvolve a ideia de que a formação do Movimento Negro Evangélico Contemporâneo teve um momento de guinada nas décadas de 1970 e 80, pois, neste recorte temporal houve diversas iniciativas institucionais e tomadas de consciência para com sua negritude. A relativa consolidação do MNE na atualidade, pós ascensão das redes sociais, transformou esse movimento em umas “das mais novas forças de combate ao racismo e de consciência negra no Brasil”, sendo a missão do MNEpromover a reflexão e o debate bíblico/teológico e em uma perspectiva negra e combater toda forma de racismo” (OLIVEIRA, 2017, p. 138 e SILVA, 2011, p. 16).

Apesar disso, o MNE também tem suas cisões internas e divergências de pautas, sobretudo no que tange à visão que cada um tem de como se dialoga com a herança africana do Brasil. Existem duas correntes que defendem abordagens distintas quanto a essa pauta. Por um lado temos os que defendem uma visão pan-africanista/afrocentrista da questão e outros com uma visão mais voltada à negritude cristã brasileira. Ambas as perspectivas têm em comum a visão de que existe uma origem africana no cristianismo, porém, se pode distinguir o pan-africanismo/afrocentrismo por defenderem uma herança exclusivamente africana, abdicando da formação miscigenada brasileira. E foi justamente essa postura defendida pelo Conselho Nacional de Negras e Negros Cristão (CNNC), durante o 1º Encontro Nacional de Negras e Negros Evangélicos, que aconteceu em Salvador em abril de 2007 (OLIVEIRA, 2017).

Por fim, Oliveira (2017) salienta que independente das visões ideológicas, dois fatores se tornaram consenso, são eles: “a tentativa de se criar uma igreja evangélica negra e o investimento na formulação intelectual de uma teologia da negritude, inclusive com a perspectiva de publicação de uma bíblia da negritude” (p.142). O autor também chama a atenção para o fato da maioria das iniciativas em torno dessa causa está nas igrejas protestantes históricas, e não nas pentecostais ou neopentecostais, das quais detêm o maior número de fiéis negros. Isso seria devido à abordagem adotada historicamente pelas igrejas pentecostais e neopentecostais, já que contra a exclusão social sofrida pelos negros historicamente “foram os pentecostais quem ofereceram acolhimento e espaços em que eles seriam valorizados, independentes de suas origens, e ofereceram a possibilidade de prosperarem materialmente” (p.144), muito embora que para isso fosse necessária uma conversão plena e rejeição de qualquer herança cultural afro-brasileira (OLIVEIRA, 2017).

De acordo com o livro “A religião mais negra do Brasil” (2015), do pastor Marco Davi de Oliveira, embasado por dados do Censo demográfico, a maioria dos brasileiros pretos e pardos (que nos parâmetros do IBGE juntos formam o grupo dos negros) que professam uma religião, ou seja, são praticantes assíduos da religião, encontra-se no segmento evangélico, mais concentrado nos protestantes pentecostal. Seu argumento é sustentado a partir da análise de que “embora cerca de 61 milhões de negros se declarem católicos contra aproximadamente 15 milhões de evangélicos pentecostais a maioria dos negros que professam o catolicismo não frequenta ativamente a igreja, ao contrário do que acontece com os negros pertencentes às igrejas evangélicas, que participam de forma efetiva de suas comunidades locais” (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2017)

A despeito da afirmativa “a maioria dos negros brasileiros são evangélicos”, e considerando as tabelas 1 e 2, podemos abstrair algumas inferencias dessa análise. Primeiramente é correto afirmar que “as igrejas evangélicas de origem pentecostal detém o maior percentual de membros negros em relação ao número total de fiéis no seu segmento” (14.545.768, ou seja, 57,33%), na frente se compararmos com as igrejas evangélicas tradicionais (3.393.957 ou 46,75%)”. Dentro da Assembleia de Deus é ainda maior o percentual (cerca de 12.314.410 do total de 42.275.440 adeptos ou 29% dos evangélicos), desses 61% (7.547.959) se autodeclaram negros. Se ainda compararmos com o candomblé, teremos outra interpretação, veremos que 68% dos candomblecistas se auto declaram negros (cerca de 114.629 adeptos), portanto, em termos proporcionais o candomblé é “a religião mais negra do Brasil”, enquanto em termos absolutos o catolicismo (com 61 milhões de adeptos) também pode ser considerada “a religião mais negra do Brasil” com mais adeptos (OLIVEIRA, 2017 e SILVA, 2017).

Autor: Bruno Alcântara Conde da Silva (UFRGS) – Texto Artigo: A ascensão evangélica na política brasileira: a presença dos negros no movimento evangélico

Artigo apresentado no 45º Encontro Anual da Anpocs no SPG09. Democracia, Laicidade e Neoconservadorismos, bem como o artigo publicado nos anais, é uma versão final da pesquisa apresentada como requisito para a aprovação na disciplina “Competição Partidária e Base Eleitoral dos Partidos”, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCP-UFRGS)

Para ler o artigo completo: A ascensão evangélica na política brasileira: a presença dos negros no movimento evangélico.docx

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