Eu a Supremacia Branca: Como reconhecer seu privilégio, combater o racismo e mudar o mundo

Como reconhecer seu privilégio, combater o racismo e mudar o mundo.  Um livro para todos que estão prontos a examinar de perto as próprias crenças e preconceitos, e a fazer o trabalho necessário para mudar o mundo.

Baseado num desafio no Instagram que conquistou a atenção de pessoas ao redor do mundo, Eu e a supremacia branca conduz os leitores por uma jornada de 28 dias, com sugestões de exercícios e dicas para realizar o necessário e indispensável trabalho capaz de levar a uma melhoria das relações sociais.

Revisto e atualizado após o desafio on-line, aqui o trabalho antirracista proposto será aprofundado com contextos históricos e culturais, emocionantes histórias pessoais, definições expandidas, e exemplos e referências, oferecendo aos leitores o que cada um precisa para entender o racismo e desmontar seus preconceitos.

Foi originalmente publicado em 2020 e entrou na lista de best-sellers do The New York Times.

LAYLA F. SAAD


Branquitude


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Branquitude no Brasil

Apesar de os Estados Unidos se apresentarem como importante propulsor dos estudos críticos da branquidade a partir dos anos 90, tornando-se o principal centro de estudos sobre o tema, o pesquisador Lourenço Cardoso (2010) atenta para o fato de que o pioneirismo na problematização da identidade racial branca caberia, primeiro, a W. B. Du Bois já em 1935 e, em seguida, a Frantz Fanon, em 1952, com a publicação de Pele Negra, Máscaras Brancas.

Nesta obra Fanon propõe uma análise da relação entre o negro e o branco, mostrando como um vê o outro, a necessidade instaurada no negro de ser branco, enquanto, por outro lado, o branco assume a condição de único ser humano. Mostrando como as identidades raciais acabam por criar limitações para que o indivíduo alcance a condição humana.

Além de Du Bois e Fanon, podemos incluir o ativista Steve Biko entre os percursores na análise da identidade racial branca entre as décadas de 60 e 70. No Brasil, Cardoso afirma que o termo branquitude foi utilizado em primeira instância, em 1962, por Gilberto Freyre, que critica tanto a utilização do termo branquitude como negritude, já que defendia a existência da democracia racial brasileira através da mestiçagem. Apesar de ser Freyre o primeiro a utilizar o termo branquitude, foi Alberto Guerreiro Ramos o primeiro a propor uma discussão sobre o assunto. “Esse autor utilizava o termo ‘brancura’, que significaria para nossa literatura científica atual o conceito branquitude”. (CARDOSO, 2008, p. 57).

Em 1957, Guerreiro Ramos já discutia o que chamou de “patologia branca no Brasil”. Segundo o autor, a utilização do negro como tema por pesquisadores brancos era uma forma de assegurar a sua brancura. Exaltando seus traços europeus, estes pesquisadores mantinham o status de superioridade e a situação de privilégio da qual desfrutavam. Entre os pesquisadores que adotavam essa prática, denominada por ele como “patologia-protesto”, estão Nina Rodrigues e o próprio Gilberto Freyre citado anteriormente.

Embora a produção de Guerreiro Ramos tenha sido de vital importância para iniciar a problematização do branco no cenário nacional, a autora Liv Sovik (2004) afirma que ela está ultrapassada em alguns pontos. De acordo com Sovik, ao colocar a discussão no plano da necessidade de afirmação de traços europeus para manter o privilégio e a condição de ser humano ideal do branco, o autor não leva em consideração o real motivo para que os europeus não considerem qualquer outra nacionalidade, que seria o fato de que só os europeus terem direito ao seu eurocentrismo. O que não corresponderia as práticas de manutenção de privilégio coexistentes baseadas na discriminação direta de traços fenotípicos (SOVIK, 2004, p. 368).

Além disso, a autora afirma que no contexto atual de discriminação no Brasil já é comum as pessoas admitirem que tem um “pé na cozinha”, na tentativa de forjar uma falsa ideia de democracia racial, o que não diminui, pelo contrário, o poder e o prestígio concedido pela branquitude. Para Sovik os resquícios coloniais já não são o principal problema nessa discussão. “É um texto anacrônico, mas nem tanto. Guerreiro Ramos abriu frentes que ainda estão presentes na discussão” (SOVIK, 2004, 369).

A autora reconhece também que, embora não seja o principal problema, a ascendência europeia ainda é utilizada como um triunfo para muitos ciosos pela manutenção da diferenciação que assegura o poder. Como também aponta a pesquisa desenvolvida pelo pesquisador John Nervell (2001).

Ao entrevistar moradores de classe média da zona sul do Rio de Janeiro, Nervell percebeu uma contradição freqüente nos discursos de pessoas que ao mesmo tempo em que identificam a mistura de raças como fonte da nação brasileira, utilizam esse ideal de mistura para identificar em suas origens traços que lhe deixam praticamente de fora desta “nação”.

O autor utiliza exemplo de pessoas que evitam o termo “branco” para identificar sua cor, mas resgatam em sua árvore genealógica europeus que justificam a ausência de suas características mais brasileiras que lhes aproximem da cultura negra, como o gosto pelo samba ou carnaval.

O que confirma as explanações feitas por Guerreiro Ramos ainda na década de 50. Somente no ano de 2000, de acordo com o pesquisador Lourenço Cardoso, que as discussões sobre a branquitude voltam a ganhar destaque no Brasil com o trabalho da pesquisadora Edith Piza. Com a publicação dos artigos, “Branco no Brasil? Ninguém sabe, ninguém viu” e “Porta de Vidro: entrada para branquitude”, a branquitude volta ao cenário nacional.

Lourenço Cardoso (2010), em seu trabalho, apresenta uma lista das principais publicações em que o branco surgiu como tema de pesquisa, tendo a branquitude como principal discussão. De acordo com a sua relação, após a publicação do livro de Guerreiro Ramos, os principais trabalhos que destaca o papel do branco foram realizados pela autora Edith Piza, a partir do ano de 2000.

Em suas obras, Piza desenvolve a ideia que compartilhava com a pesquisadora norteamericana Ruth Frankemberg. Para elas, até então, a branquitude era não-marcada e invisível, ou seja, aqueles que a praticavam podiam estar cometendo as ações sem consciência sobre seus atos já que não se enxergavam racializados. Esta definição, como veremos mais adiante, será reelaborada.

O segundo artigo de Edith Piza é publicado em um importante livro organizado pelas autoras Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento. Intitulado Psicologia Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil, o livro reúne trabalhos relevantes sobre a temática. De acordo com Bento, a branquitude pode ser definida como “traços da identidade racial do branco brasileiro a partir das ideias sobre branqueamento” (BENTO, 2002, p. 29).

Na obra é possível encontrar uma reunião de trabalhos que discutem o silenciamento do branco diante da história como forma de manter o status quo. A estratégia é aumentar a visibilidade sobre o negro enquanto o branco permanece omisso na história. Discussões sobre conceitos como “medo do outro” e “pacto narcísicos” chamam atenção no livro. O primeiro diz respeito ao medo constante que o branco nutre de perder o privilégio e a condição de superioridade, o que lhe conduz ao segundo conceito que a autora define como o isolamento de brancos em locais de brancos para fortalecer os laços de branquitude, a cumplicidade entre os iguais (brancos) favorecendo uns aos outros, deixando o não-branco à margem, afastado.

Até então o termo branquitude é utilizado para dar nome às práticas realizadas por portadores da brancura com o objetivo de manter o privilégio que o branco possui nas sociedades estruturadas pela hierarquia racial. O branco assume a postura de ser humano ideal e cria condições para que o status seja mantido.

Texto do artigo de Camila Moreira de Jesus
BRANCO

BRANQUITUDE X BRANQUIDADE: UMA ANÁLISE CONCEITUAL DO SER BRANCO


Branquitude

 

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Definições sobre a branquitude

Os Estados Unidos, principalmente nos anos 1990, com os critical whiteness studies tornaram-se o principal centro de pesquisas sobre branquitude. Todavia, existem produções acadêmicas sobre essa temática na Inglaterra, África do Sul, Austrália e Brasil. No entanto, W. E. B. Du Bois talvez seja o precursor em teorizar sobre a identidade racial branca com sua publicação Black Reconstruction in the United States.

Na galeria dos pioneiros em problematizar a identidade racial branca não podemos deixar de considerar Frantz Fanon. Em 1952, esse pensador caribenho e africano com sua publicação Peau noire, masques blancs defendeu o argumento de abolição da raça. Esse autor estava preocupado em libertar o branco de sua branquitude e o negro de sua negritude, porque a identidade racial seria um encarceramento que obstaculizava a pessoa de chegar e gozar sua condição humana.

O ativista Steve Biko também pode ser incluído entre os precursores em analisar a identidade racial branca. O ilustre ativista versou sobre o branco sul-africano dos anos 1960 e 1970. Ele refletiu a respeito da branquitude sulafricana no momento em que lutava contra o racismo estrutural da sociedade sul-africana, perdeu a própria vida nessa causa.

Vale lembrar que a teoria anti-racista, de maneira geral, tem restringido em pesquisar o oprimido, deixando de lado o opressor. Desta forma, é sugerido que a opressão é somente um “problema do oprimido” em que o opressor não se encontra relacionado. Por esta razão que Guerreiro Ramos sustentou que teorias sobre relações raciais no Brasil são na verdade uma “sociologia do negro brasileiro” (Ramos, 1995[1957]c, pp. 163-211, Sovik, 2004ª, pp. 363-386). Não se trata, portanto, de teoria sobre relações raciais, trata-se de uma abordagem unilateral, feita muitas vezes por prestigiados pesquisadores brancos preocupados em analisar o “problema do negro”.

Procurando preencher uma lacuna nas teorias das relações raciais Albert Memmi considerou necessário retratar o opressor e o oprimido. Seu pensamento é significativo para teorias sobre branquitude, porque Memmi foi o pensador pioneiro em apontar a importância de se problematizar também o opressor.

Definições genéricas da branquitude

Nos estudos sobre a branquitude, no Brasil e em outros países, existe o consenso de que a identidade racial branca é diversa. No entanto, na busca por uma definição genérica, podemos entender a branquitude da seguinte forma: a branquitude refere-se à identidade racial branca, a branquitude se constrói. A branquitude é um lugar de privilégios simbólicos, subjetivos, objetivo, isto é, materiais palpáveis que colaboram para construção social e reprodução do preconceito racial, discriminação racial “injusta” e racismo. Uma pesquisadora proeminente desse tema Ruth Frankenberg define:

“a branquitude como um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê os outros, e a si mesmo, uma posição de poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir ao outro aquilo que não se atribui a si mesmo”. (Frankenberg, 1999b, pp. 70-101, Piza, 2002, pp. 59-90).

Branquitude crítica e Branquitude acrítica

É importante analisar dois tipos de branquitudes distintas e divergentes: a branquitude crítica que desaprova o racismo “publicamente”, e a branquitude acrítica que não desaprova o racismo, mesmo quando não admite seu preconceito racial e racismo, a branquitude acrítica sustenta que ser branco é uma condição especial, uma hierarquia obviamente superior a todos não-brancos.

O termo branquitude crítica e branquitude acrítica surge inspirado pelos critical whiteness studies. Essas linhas de pesquisas dos Estados Unidos e do Reino Unido procuraram descobrir e distinguir os diferentes tipos de racismos desde os praticados sutilmente pela polícia até os assassinatos perpetrados por grupos como a Ku Klux Klan. Porém, a literatura científica sobre a identidade racial branca de língua inglesa, assim como a de língua portuguesa, de maneira geral concentra-se em pesquisar os tipos de racismos praticados por brancos que discordam da tese de superioridade racial branca. Isto significa que existe uma produção crescente sobre a branquitude crítica que pratica racismos que não chegam ao homicídio, enquanto praticamente inexistem trabalhos que pesquisam sobre a branquitude acrítica que possui característica homicída. Branquitude acrítica que age feito quem diz: você que é “diferente” (Santos, 2006c, pp. 259-293), leia-se não-branco, portanto é justificável que seja assassinado.

Ainda a respeito dos critical whiteness studies vale acrescentar que os autores salientam que a branquitude são muitas, assim como as práticas de racismo. Contudo, esses pesquisadores geralmente distinguem os tipos de racismos praticados como aquele perpetrado por um grupo neonazista com agressão física; daquele praticado, às vezes sem intenção, por um profissional de Recursos Humanos (RH).

Assim como se faz necessário definir as diferentes práticas de racismos, igualmente, não se pode deixar de distinguir a pessoa ou grupo que pratica racismo. Essa é uma das razões da nomeação da branquitude de forma distinta como branquitude crítica e branquitude acrítica. Pois nesta perspectiva esses conceitos podem contribuir para maior observação, análise e pesquisa do conflito racial.

Fonte do Artigo Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista – Lourenço Cardoso – Pesquisador a Unesp-Araraquara


Branquitude


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Protestantismo e negritude

Uma grande contribuição bibliográfica que trata da questão negritude-protestantismo é a tese de doutorado de Elizete da Silva. Um dos temas trabalhados é a questão da discriminação racial entre os protestantes, mais especificamente, entre os anglicanos e batistas independentes. Seu recorte cronológico abrange o contexto baiano no período que vai de 1880 a 1930.

Para a autora, um dos pontos que devemos considerar, ao analisar a ética e prática protestante, é a distância que existe entre o discurso e a prática desse grupo. Isto é, “as diferenças entre o concebido teologicamente e a vivência cotidiana dos fiéis, inclusive do próprio clero”, oposição claramente observada nas documentações trabalhadas.

Elizete Silva observou que embora o discurso teológico ensinasse sobre a unidade de todos os seres humanos, sem distinção, era possível perceber posicionamentos que deixavam escapar o preconceito contra os negros e, portanto, a distinção entre as pessoas. Um bom exemplo apontado pela autora é o texto de uma revista do clero anglicano escrita em 1908, em que o articulista dizia que o negro devia ocupar seu lugar, que não era certo desejar lugares que ele não poderia ocupar e encerra dizendo:

“o problema com o negro é que ele está o tempo todo tentando obter reconhecimento, quando o que devia estar fazendo é obter algo para reconhecer”.

Outros documentos analisados pela pesquisadora, como cartas escritas por reverendos anglicanos, deixam escapar concepções racistas, por exemplo, quando descreviam a estrutura física dos negros comparando-os com animais selvagens, ou mostrando-os como intelectualmente inferiores, ou, até mesmo, como grosseiros e incapazes de boas maneiras civilizadas, etc.

Elizete Silva aclara que algumas atitudes em favor do escravo, por parte dos batistas, podiam ser percebidas. Como o caso citado pela autora, de um escravo que freqüentava a igreja batista de Salvador, mas foi proibido por seu ‘dono’ de assistir aos cultos. Diante dessa situação, os membros da igreja decidiram comprar a liberdade do escravo. Atitude que não pode ser interpretada como uma posição política dos batistas contra a escravidão, pois não houve nenhum tipo de ação coletiva nesse sentido. De acordo com a autora,

“a alforria do irmão escravo fazia parte de uma estratégia evangelística e não uma ação política mais abrangente que questionasse o escravismo enquanto sistema econômico, baseado na propriedade de seres humanos, como mão-de-obra servil.”

Após 1888, com a abolição oficial da escravatura brasileira, contraditoriamente, os batistas passam a condenar a escravidão por ser incompatível com a fé cristã. Os batistas compartilhavam da versão difundida pela historiografia oficial, interpretando a abolição como uma sucessão de medidas naturais tomadas pelos governantes, desconsiderando as lutas e resistências dos negros.

Por se centrarem na salvação das almas perdidas, poucos refletiram sobre as reais condições sociais e políticas vivida pelos negros e demais brasileiros.

Esse texto é parte do artigo: “Religião e negritude: discursos e práticas no Protestantismo e nos Movimentos Pentecostais”. Autora Cristina Kelly da Silva Pereira.

Imagem: Pregação de David LivingstoneSociedade Missionária de Londres – Crédito: Wikimedia Commons, o repositório de mídia livre – Esta imagem é de domínio público porque seus direitos autorais expiraram e seu autor é anônimo.

https://afrokut.com.br/producao-cientifica-sobre-o-movimento-negro-evangelico/

O que é Ubuntu?

Ubuntu é uma filosofia africana que vem sendo usada desde a origem da humanidade na África. É uma palavra originária do tronco linguístico banto, não tem tradução literal para o português, trata-se de um conceito amplo sobre a essência do ser humano, como palavra mais próxima tenho usado Humanitude.

Assim Ubuntu/Humanitude é:

humanidade, bondade, compaixão, partilha, humildade, respeito mútuo e responsabilidade, interconexão, harmonia – um vínculo universal que liga toda a humanidade.

Ô Ubuntu também é Quântico. A mecânica quântica ecoa o antigo conhecimento do Ubuntu e do Kemet (Egito Negro) e outras culturas antigas em todo o mundo como:

 “a crença em um vínculo universal de partilha que liga toda a humanidade”.

Ubuntu está bem descrito em ensinamentos antigos que são analisados na ciência moderna, incluindo a noção de totalidade e similaridade, postulada no campo de física quântica por David Bohm.

A Filosofia Africana do Ubuntu afirma que estamos todos conectados e a Física Quântica está constantemente apontando para a conexão como o caminho do Universo da mesma forma que as tradições espirituais defendidas pelos antigos Africanos.

Por Hernani Francisco da Silva

O que é AfroHumanitude?

O conceito de AfroHumanitude proposto aqui é a África como berço da humanidade e centro da história universal do mundo. Afro-Humanitude é África e a Humanitude conectada: África onde a humanidade surgiu e Humanitude o vínculo universal que liga toda a humanidade.

A Humanitude é um conceito de natureza antropológica, que nos leva a ver as raízes da nossa condição humana. O conceito de Humanitude foi definido por Albert Jacquard, em 1987, inspirado no conceito de Negritude, de Aimé Cesaire. Mais tarde, em 1989, um geriatra francês, Lucien Mias, introduziu pela primeira vez o termo da humanitude nos cuidados da medicina com idosos. Em 1995, Rosette Marescotti e Yves Gineste decide escrever uma nova filosofia de cuidados que eles chamaram de “filosofia da humanitude“, na aplicação aos cuidados de enfermagem.

Na nossa perspectiva Humanitude é Ubuntu, uma filosofia tradicional Africana que nos oferece uma compreensão de nós mesmos em relação com o mundo. De acordo com Ubuntu, existe um vínculo comum entre todos nós e é deste elo, através de nossa interação com nossos companheiros seres humanos, que descobrimos nossas próprias qualidades humanas. No ensino do Ubuntu uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas.

Neste sentido Ubuntu/humanitude  também é uma filosofia quântica. A mecânica quântica ecoa o antigo conhecimento do Ubuntu e do Kemet (Egito Negro) e outras culturas antigas em todo o mundo como: “a crença em um vínculo universal de partilha que liga toda a humanidade”.  Ubuntu está bem descrito em ensinamentos antigos que são analisados na ciência moderna, incluindo a noção de totalidade e similaridade, postulada no campo de Física Quântica por David Bohm.

“Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas”.  (Umuntu ngumuntu ngabantu). Provérbio Zulu e xhosa.

O Sul Africano Nobel da Paz Arcebispo Desmond Tutu descreve Ubuntu como:

É a essência do ser humano. Ela fala do fato de que minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligado na sua. Eu sou humano, porque eu pertenço. Ela fala sobre a totalidade, ela fala sobre a compaixão. Uma pessoa com Ubuntu é acolhedora, hospitaleira e generosa, disposta a compartilhar. Essas pessoas são abertas e disponíveis para os outros, disposto a ser vulnerável, apoiam os outros, não se sentem ameaçados que os outros são bons e capazes, porque eles têm uma boa auto-confiança que vem de saber que eles pertencem a um todo maior. Eles sabem que estão diminuído quando outros são humilhados, diminuído quando outros são oprimidos, diminuído quando outros são tratados como se fossem menos de quem eles são. A qualidade do Ubuntu dá às pessoas resistência, permitindo-lhes sobreviver e emergir ainda ser humano, apesar de todos os esforços para desumanizar-los.

Acredito que a Afrohumanitude tem muito para contribuir com a questão racial no Brasil e no mundo. Entendo que a África é o berço da humanidade e a Humanitude é Ubuntu que liga toda a humanidade. Essa conexão forma  a AfroHumanitude, que contempla: a indigenitude, negritude, branquitude, e continua aberta e disponível para outras humanitudes.

Neste artigo procurei traçar uma pequena introdução do que é AfroHumanitude, e resgatar esse conceito na perspectiva da nossa caminhada. Portanto, há uma necessidade de compreender, revitalizar e promover as virtudes da Afrohumanitude.

Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut


Bibliografia e referências:

humanitude, teste, Genebra, Labor et Fides Ed, 1980

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. Soins, corps communication. Les liens

d’humanitude ou l’art d’être ensemble jusqu’au bout de la vie.

http://perso.wanadoo.fr/cec-formation.net/philohumanitude.html. Consultado em 5 de Março, 2007.

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. La philosophie de l’humanitude.

http://perso.orange.fr/cec-formation.net/humanitude1.htm Consultado em 3 de Março, 2007.

ALTUNA, Raul Ruiz de Asúa. Cultura Tradicional Banto. Luanda, Secr.Arquidioc.de Pastoral. 1985. ANSELMO, Antônio Joaquim.


Afro-Humanitude


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