9 acontecimentos históricos que fazem Trump um racista

Pesquisas recentes indicaram que 91 por cento dos afro-americanos  e  77 por cento dos hispânicos americanos atualmente ver o précandidato Donald Trump  negativamente.  Um dos grandes motivos para essa negatividade é o fato de Trump ser considerado um racista.

Vejamos  9 acontecimentos históricos que fazem Trump um racista:

1 – Trump é filho de um membro da Ku Klux Klan

Seu pai Fred Trump foi preso em um protesto da Ku Klux Klan em 1927, e Woody Guthrie, que viveu em uma propriedade dos Trumps nos anos 1950, condenou Fred Trump em textos recém-descobertos por incitar o ódio racial. O filho Donald Trump não se distanciou da organização racista, em uma entrevista à televisão Trump mostrou-se relutante em se distanciar da Ku Klux Kan. Em uma rede social Trump retuitou um gráfico que sugeria que 81% das vítimas de assassinato brancas são mortas por negros (o número verdadeiro é de aproximadamente 15%). Trump também retuitou mensagens de supremacistas brancos e de simpatizantes nazistas, incluindo duas de uma conta chamada @whitegenocidetm, com a foto do fundador do partido nazista americano.

2 – Donald Trump foi contra o movimento de direitos civis.

Nos anos 1970 Donald Trump furiosamente lutou contra os direitos civis nos tribunais e os meios de comunicação.

3 – Donald Trump não alugava suas casas para os negros

Em 1973 o Departamento de Justiça de Richard Nixon processou Trump e seu pai, Fred Trump, por discriminar sistematicamente negros na locação de casas. Donald Trump era então presidente da companhia imobiliária da família, e o governo juntou provas arrebatadoras de que a empresa mantinha uma política discriminatória contra negros, inclusive aqueles que serviam no Exército.

4 – Trump incitou a população contra jovens negros e hispânico

Em 1989, quando a Cidade de Nova York foi abalada pelo “caso da corredora do Central Park”, que envolveu o estupro e o espancamento de uma jovem branca. Cinco adolescentes negros e um hispânico foram presos. Trump se manifestou, criticando o pedido por paz do prefeito Ed Koch e comprou anúncios de páginas inteiras defendendo a pena de morte. Os cinco adolescentes passaram anos na prisão antes de serem absolvidos. Olhando em retrospecto, eles sofreram uma versão moderna de linchamento e Trump teve o seu papel ao incitar a população.

5 – Trump não gostava de negros em seus cassinos

Nos cassinos de Trump a discriminação o acompanhou. Nos anos 1980, um ex-funcionário do cassino, Kip Brown, foi citado pela “New Yorker”: “Quando Donald e Ivana vinham ao cassino, os gerentes mandavam todos os negros saírem de vista… Eles nos colocavam nos fundos.”

Em 1991, um livro escrito por John O’Donnell, que havia sido presidente do Trump Plaza Hotel and Casino em Atlantic City, citava uma crítica de Donald Trump contra um contador negro, dizendo: “Negros contando meu dinheiro! Detesto isso. O único tipo de gente que quero contando meu dinheiro são baixinhos usando quipás todo dia… Acho que o cara é preguiçoso. E provavelmente não é culpa dele, porque a preguiça é uma característica dos negros. Realmente é, acredito nisso. Não é algo que eles consigam controlar.”

6 – Trump apoiou seus partidários quando agrediram um manifestante negro

Em um comício de campanha, no Alabama, partidários de Trump atacaram fisicamente um manifestante negro depois que o homem começou a cantar “Black lives matter” (As Vidas Negras Importam). O vídeo do incidente mostra os agressores chutando o homem já caído no chão. No dia seguinte, Trump buscava justificar os agressores.

7- Trump é contra os imigrantes

Suas críticas contra imigrantes mexicanos que seriam: “criminosos, traficantes e estupradores”. Sua rejeição a um juiz americano descendentes de mexicanos, que segundo ele seria um mexicano que não poderia ouvir imparcialmente seu caso. Também sua proposta por uma proibição temporária a muçulmanos de entrarem nos Estados Unidos. As incitações de Trump já inspirou crimes de ódio. Dois irmãos presos em Boston por espancar um homem Latino cita a mensagem anti-imigrante do Trump ao explicar por que eles fizeram isso:

“Donald Trump estava certo – todos estes imigrantes ilegais devem ser deportados”, um dos homens teria dito a policiais.

8 – Trump fez teoria de conspiração racista com o presidente Barack Obama

A teoria de Trump de que o presidente Barack Obama havia nascido no Quênia. Trump afirmou em 2011 que enviou pessoas para o Havaí para investigar se Obama tinha realmente nascido lá. Mas Trump continua a insinuar que o presidente não nasceu no país.  Trump também fez insinuações de que Obama foi aceito em escolas de elite só por causa da política de cotas.

9 – Trump recebeu apoio da direita racista evangélica

Trump não é um convertido ao cristianismo conservador que a direita evangélica afirma. Mas os “cristãos” conservadores vão todos votar para ele de qualquer maneira, porque o seu fervor religioso nunca foi realmente sobre Jesus ou Deus, mas sobre política. A religião tem sido usada pelos conservadores para justificar ataques aos direitos humanos, direitos dos homossexuais, das mulheres e das minorias. É impossível imaginar que Trump é um convertido à fé cristã, mas é indiscutível que ele seja um convertido legítimo da direita cristã, que é a política reacionária. Trump representa um retorno às raízes da direita cristã focada principalmente na segregação racial. Com Trump, torna-se “claro” que a história da direita cristã como um movimento pró-segregação não é uma relíquia do passado.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Imagem: Mad Magazine com titulo do Afrokut

10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil

Em contraponto ao artigo 10 fatos que você não sabia sobre a escravidão nas igrejas evangélicas no Brasil, elaboramos esse novo artigo abordando fatos sobre a participação de protestantes na luta pela abolição da escravatura.

Sabemos que vários protestantes no mundo lutaram contra a escravidão. Pessoas como John WesleyJohn NewtonAnthony Benezet e Wilberforce lutaram contra a escravidão. No brasil tivemos também protestantes abolicionistas que estiveram presentes em quase todas as denominações históricas. Eram em sua maioria missionários do Norte dos Estados Unidos, europeus e alguns convertidos brasileiros.

Neste sentido segue 10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil.

1 – A lei que aboliu a escravatura no Brasil foi de um protestante presbiteriano

A Lei Áurea foi apresentada formalmente ao Senado Imperial pelo presbiteriano Rodrigo Augusto da Silva em 11 de maio de 1888. Foi debatida nas sessões dos dias 11, 12 e 13 daquele mês. O projeto foi aprovado pela Câmara e pelo Senado e no dia 13 de maio de 1888, foi convertido em Lei, tomando o nº. 3353, com a assinatura da Princesa Isabel. O Conselheiro Augusto da Silva , Ministro da Agricultura, que compareceu perante a Câmara, onde leu:

Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da Nação: Venho em nome de sua Alteza e Princesa Imperial Regente, em nome de sua Majestade o Imperador, apresentar-vos a seguinte proposta: Art. 1º – É declarada extinta a escravidão no Brasil, Art. 2º – Ficam revogadas as disposições em contrario. Palácio do Rio de Janeiro, em 8 de maio de 1888. Fonte: Site http://www.gobgo.org.br/cultural/2009/justica.html consultado dia 16/09/2009

2 – Senador protestante trabalhando pela abolição da escravatura e pela República

Outra importante participação foi do Presbiteriano Senador Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895), advogado, sociólogo, e escritor. Saldanha exerceu cargo supremo da Maçonaria brasileira, trabalhando pela causa da instrução pública, pela abolição da escravatura e pela República. Foi quem assinou, em primeiro lugar, o célebre manifesto republicano de 1870. Com a Proclamação da República, foi um dos autores do anteprojeto da Constituição de 1891. Teve destacada atuação na Questão Religiosa na década de 1870 quando publicou vários artigos em jornais. Fonte: http: //www.senado.gov.br/sf/SENADORES/senadores_biografia.asp?codparl=1865&li=22&lcab=1891-1893&lf=22 Consultado dia 16/09/2009

3 – O jornal Imprensa Evangélica criado pelo abolicionista Simonton

No ano de 1864 foi fundado o jornal Imprensa Evangélica pelo missionário norte-americano Ashbel Green Simonton (1833-1867), também fundador da Igreja Presbiteriana no Brasil. Durante a segunda metade do século XIX, décadas finais da escravidão no Brasil, este jornal, o meio de comunicação dos presbiterianos de então, foi um dos que expôs sua opinião quanto à escravidão.

O Imprensa Evangélica durou 28 anos. Recebeu uma grande aceitação, não somente entre os protestantes brasileiros, como em toda a sociedade brasileira; fora amplamente lido. No início da década de 70, do séc. XIX, havia uma relação racial harmoniosa no Brasil, bastante diferente da existente nos Estados Unidos da América.

Os abolicionistas protestantes se valeram muitas vezes disso para propagar sua preocupação em que houvesse uma reforma social no Brasil. Imprensa Evangélica se pronuncia neste período da seguinte maneira:

o Brasil poderia dar ao mundo este exemplo único de um país que faz uma reforma social desta ordem, sem se arruinar, e sem perturbar a paz em que há longos anos tem vivido”. Fonte: – PEREIRA, Eduardo Carlos. A emancipação. Imprensa Evangélica. 7 de junho de 1884, p. 81.

Conforme observa Barbosa, no livro Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora, o jornal Imprensa Evangélica procurou destacar que não havia ódio de raças no Brasil, diferentemente de como acontecia em outras nações, como nos próprios Estados Unidos da América. Segundo ele, “isto não significava a inexistência de conflitos de classes, entre senhores e escravos”. No dia 24 de maio de 1884 o jornal publicou a matéria “o abolicionismo” no qual lemos:

a demora em fazer justiça aos oprimidos traz perigo para os opressores e que o regime escravista é defendido por esse grande exército alistado sob a sua bandeira, não está disposto a capitular” . Fonte: BARBOSA, op. Cit. p. 97. Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora

4 – Protestantes, criam que a escravidão no Brasil estava condenada

Kidder e Fletcher,  missionários metodista norte-americano no Brasil, autores de O Brasil e os brasileiros, escreveram seu livro em pleno período escravagista, e, como protestantes, criam que a escravidão no Brasil estava condenada, que era apenas uma questão de pouco tempo. Fonte: O abolicionismo. Imprensa Evangélica. 24 de maio de 1884, p. 73.

A partir dessa década de 70, do século XIX, toda propaganda abolicionista começou a crescer no Brasil e Fletcher realmente esperava que ela ocorresse num período curto de tempo. Por isso dedicou-se a distribuição de literaturas anti-escravagistas. Davi Gueiros Vieira escreve que, “entre os muitos livros anti-escravagistas que Fletcher distribuiu, havia um que produziu grande impacto no Brasil. Foi a obra de George Livermore sobre o negro e a Revolução Americana”. Fonte: KIDDER, Daniel P. e FLETCHER, J.C. O Brasil e os brasileiros. Rio de Janeiro: Companhia Editorial Nacional, 1941. p. 147.

5 – Evangélicos batistas alforria escravizado

Havia um grupo batista no Brasil contrário à prática escravagista. O casal William Buck Bagby e Ana Luther Bagby, conforme o livro “O gigante que dorme”, comprava escravos e os alforriava, foram perseguidos por isso, e tiveram sua casa apedrejada por mais de uma vez. Em seu livro “Os Bagby no Brasil“, Harrison comenta sobre a alegria (e atitude) dos membros da Primeira Igreja Batista do Brasil, em Salvador, quando da alforria dada a um escravizado pela própria comunidade da Primeira Igreja Batista do Brasil. Este escravo, ao ser proibido de frequentar a igreja por seu senhor, também membro da igreja, recebe uma surpresa assim como relatada por Harrison:

Outro fato que causou muito comentário foi o relativo a um africano, que assistia aos cultos com regularidade e interesse. Quando ele deixou de vir por alguns domingos, alguém comentou em sessão, sobre sua ausência. Outro explicou que seu dono declarava que o mataria se ele pisasse na igreja novamente. Um membro sugeriu: Vamos comprá-lo! Após longa deliberação, pois a igreja não tinha um só membro abastado, votaram unanimemente comprá-lo e dar-lhe sua liberdade. O homem, duas vezes redimido, ficou radiante e alegremente uniu-se à pequena igreja.” Fonte: Harrison, Helen Bagby. Os Bagby do Brasil.

6 – Para o pastor Taylor o evangelho tinha dois grandes inimigos: a Monarquia e a Escravidão

Deste período destacamos também a voz do Pastor  Z. Taylor em cuja autobiografia refere-se à alegria de sua igreja ter libertado um escravo que havia se tornado cristão. Em sua autobiografia, Taylor não perde a oportunidade de acusar a igreja Católica Apostólica Romana ao afirmar que “os padres nunca fizeram nada para aliviar as dores dos escravos ou para redimi-los”. Quanto à abolição da escravidão no Império do Brasil (13 de maio de 1888), Pr. Taylor registra sua alegria expressando-se da seguinte forma:

Os dois grandes inimigos do progresso do evangelho desapareceram no Brasil, a escravidão e o Império. Assim todos os inimigos do evangelho devem cair. Neste momento só há lugar para um Rei, e este é Jesus… O senhor destruiu dois gigantes poderosos: a Monarquia e a Escravidão, replanejando-as com a República e a Liberdade em que suas sementes teriam melhores condições de prosperar. Fonte autobiografia Z. Taylor.

7 – O pastor Robert Kalley expulsou um crente da igreja porque não quis libertar seu escravizado

Na Igreja Fluminense havia uma consciência social mais profunda. Nos registros de sua história além de sua preocupação com “espiritual” também uma preocupação com questões como a escravidão. Desta igreja temos um relato muito interessante que foi um sermão pregado pelo Pastor Dr. Robert Kalley em 3 de novembro de 1865, conforme Duncan A. Reily assinala em sua História Documental do Protestantismo no Brasil.

A “exortação” de Kalley sobre a escravidão, dirigida ao Sr. Bernardino de Oliveira Rameiro, é datada de 3 de novembro do mesmo ano. Kalley acentua que o escravo trabalha “contra a vontade e sem salários e sob as ameaças de castigo e sofrimentos diversos”, a fim de produzir, não para si, mas para o seu patrão opressor, “bons serviços e excelentes lucros”. Ele conclui assim o documento:

… O escravo só trabalha porque teme as ameaças de pancadas e castigos desumanos da parte de um roubador da liberdade alheia! O senhor que procede desse Jesus que nos resgatou da maldição (Gl 3.13) e da lei do pecado da morte (Rm 8.2) e nos deu a liberdade, fazendo-nos FILHOS DE DEUS (Rm 8.15 e 16). Fonte: REILY, História documental, p. 155, nota 174.

O início da missão do casal Kalley demonstra fato pouco divulgado sobre sua estratégia da missão: uma semana após Sarah ( sua esposa) iniciar o projeto de escola dominical junto a crianças de Petrópolis, em 26 de agosto de 1855, Kalley começou a lecionar em classe bíblica de negros.

A proposta de missão do casal era no mínimo atípica – evangelizar crianças e negros – atingir os que eram negligenciados pela igreja oficial e pela igreja de imigração. Fonte: registrado por Reily em História Documental do Protestantismo no Brasil.

8 – Escravizados são alforriados apos batismo na Igreja Presbiteriana de São Paulo

O romancista Júlio Ribeiro, apresentou ao batismo na Igreja Presbiteriana de São Paulo, um pequeno escravizado a quem logo libertou, bem como à sua mãe. A fonte de Léonard é Lessa, que declara o seguinte:

Um dado curioso. No dia da profissão de fé de sua mãe, Júlio Ribeiro apresentou ao batismo um escravo seu menor, de nome Joaquim, pelo qual se responsabilizou como cristão. Faltava menos de um ano para a lei do ventre livre. Foi o primeiro menino escravo batizado, no registro das atas de São Paulo. Mais tarde o seu jovem senhor deu-lhe carta de alforria e à sua mãe, que também aceitara o evangelho. Fonte: LÉONARD, O protestantismo brasileiro, p. 101, nota 81. E LESSA, A nais da 1ª Igreja, p. 81.

Júlio César Ribeiro Vaughan foi um escritor e gramático brasileiro. Polêmico, abolicionista, anticlerical e representante do naturalismo, movimento fundado pelo francês Émile Zola. A Carne, publicado em 1888, é seu romance mais conhecido, possivelmente a sua obra-prima. Foi o criador da bandeira do estado de São Paulo, concebida em 1888 para ser a bandeira da república. Júlio Ribeiro propôs em 16 de julho de 1888, logo após a Abolição da Escravatura, a atual bandeira de São Paulo para ser a bandeira do Brasil, sendo parte da sua campanha pela República. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Ribeiro

9 – A presbiteriana Amélia Dantas de Souza Melo Galvão, uma incansável guerreira pela abolição da escravatura

Amélia Dantas de Souza Melo Galvão ou D. Sinhá Galvão, como era mais conhecida, teve papel de destaque no movimento abolicionista no Brasil. Segundo depoimentos do Major Romão Filgueira:

D. Sinhá era uma mulher dotada de raros predicados morais e culturais, belo espírito de comunicação e de idéias elevadas”. Tomou parte em todas as comissões importantes da Libertadora. Apaixonada pelo movimento, “convida suas amigas, entre elas as das famílias Soares do Couto, Dr. Paulo Leitão e outras, para saírem às casas dos senhores possuidores de escravos, concitando-os a alforriarem seus cativos, chegando ao ponto de quando não podiam receber adesões para o movimento, em virtude da escravidão ser garantida por lei, de se ajoelharem, beijando os pés dos potentados, indiferente aos sofrimentos dos prisioneiros das senzalas, rogando a liberdade imediata dos escravos que possuíam”.

Era filha do também abolicionista e poeta José Damião de Souza Melo, português radicado em Mossoró. Professava a religião presbiteriana, apesar de seu pai ter sido padre em Portugal. Nunca se soube o motivo da mudança de religião. Sabe-se apenas que um dia ele tirou a batina, queimou-a e veio para o Brasil, surgindo como comerciante em Mossoró. Na memorável sessão de 30 de setembro de 1883, D. Amélia Galvão teve a incumbência de dar carta de alforria às mulheres escravas e, a cada uma, beijava, dizendo:

D. Fulana, a senhora, de agora em diante é tão livre como eu”.

Dona Sinhá Galvão pagou um preço alto por sua luta em prol da libertação dos escravizados. Esgotada pelo cansaço adoeceu, contraindo uma tuberculose e dela não conseguiu se curar. Morreu a 14 de novembro de 1890, estando sepultada em túmulo próprio no Cemitério Público de Mossoró.

A luta de D. Sinhá Galvão ajudou Mossoró, cidade do Rio Grande do Norte, ser a primeira cidade do Brasil a acabar com a escravidão muito antes da lei áurea. Fonte http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=782 do Pesquisador Geraldo Maia.

10 – O pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira denunciava o silencio no pulpitos das igrejas sobre a escravidão

Reverendo Eduardo Carlos Pereira, uma peça fundamental na luta abolicionista, fundador da Igreja Presbiteriana Independente em 31 de julho de 1903, sua jornada registrada contra a escravidão, em 1886 publicou um folheto de 46 páginas denominado “A Religião Cristã em sua Relação com a Escravidão”. Em um trecho do artigo Pereira denuncia a covardia e o silencio no púlpito das igrejas:

Oh! Maldita instituição, que desperta no homem o instinto de fera… “É mister que a imprensa clame e não cesse que levante a trombeta a sua voz e denuncie ao povo a monstruosidade desse pecado nacional. É mister que diga aos senhores de escravos com franqueza o quanto há de ofensivo as leis de Deus e da humanidade…” Por que, então, a reserva e o silêncio medroso ante um crime tão grave? … O silencio do púlpito não é prudência, é infidelidade.  Fonte: RIBEIRO, 1981, p.100

Nas páginas finais do folheto ele pede aos crentes para libertarem os seus escravos:

Confesso que grande é minha vergonha e grande a confusão da igreja de Cristo no Brasil, ao ver incrédulo, pelo simples amor à humanidade, abrirem mão de seus escravos; entretanto, os que professam fé no Redentor dos cativos não rompem as ligaduras da impiedade, nem deixam ir livres os oprimidos! Leitor, se acaso vires algum incrédulo ler este artigo, eu te peço para honra da Igreja de Nosso Senhor no Brasil, que não deixe seus olhos percorrer este parágrafo”. Fonte: LÉONARD, O protestantismo brasileiro.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Referências e Informações:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodrigo_Augusto_da_Silva

Visões Protestantes Sobre a Escravidão – Elizete da Silva – Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2003 / pp. 1-26

A Igreja Presbiteriana do Brasil e a escravidão: BREVE ANÁLISE DOCUMENTAL – Hélio de Oliveira Silva – FIDES REFORMATA XV, Nº 2 (2010): 43-66

LÉONARD, Émile G. – Protestantismo Brasileiro – Editora Juerp

O Protestantismo e escravidão no Brasil – Hernani Francisco da Silva

Negro Não Entra na Igreja – Espia da Banda de Fora –  Barbosa, José Carlos. UNIMEP. 

http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=782 do Pesquisador Geraldo Maia


10 fatos que você não sabia sobre a escravidão nas igrejas evangélicas no Brasil

Os primeiros protestantes chegaram ao Brasil ainda no período da escravidão. Era um grupo composto principalmente por defensores da escravidão, omissos, e poucos abolicionistas. Os protestantes também foram proprietários de escravizados. 

Veja também: 10 fatos que você não sabia sobre a abolição da escravatura nas igrejas evangélicas no Brasil.

Segue 10 fatos que você não sabia sobre a escravidão nas igrejas evangélicas no Brasil:

1 – Anglicanos buscaram cristianizar os filhos dos escravizados.

Na cidade do Rio de Janeiro encontrava-se um grupo de anglicanos da Christ Church. Os membros dessa igreja, em sua maioria bastante abastados financeiramente, eram donos de escravos. Estes anglicanos buscaram cristianizar os filhos dos escravos de seus membros, forçosamente batizando-os e dando-lhes nomes cristãos. Consta no livro de atas da Christ Church os seguintes relatos:

Thereza, filha de Louisa – escrava negra, nativa de Manjoula, África – propriedade de James Thonton, um comerciante inglês”. Lê-se também: “Em 11 de maio de 1820 foram batizados 11 escravos do fazendeiro Robert Parker”. Fonte: Livro nº 1 de Registro de Batismo da Christ Church, p. 19/20. Doc. Christ Church. Rio de Janeiro.

Em outra igreja Anglicana, a que se reunia em Morro Velho, também se constata escravos pertencentes a membros. Há registros de batismos de escravos domésticos de John Alexander em 1830 e do Coronel Skerit em 1833. As cidades de Morro Velho e Passagem no estado de Minas Gerais eram locais de exploração a minas por uma empresa inglesa. Em torno dessas minas crescia uma colônia britânica numerosa, sempre visitada pelos bispos da igreja anglicana.

2 – Os primeiros evangélicos batistas no Brasil possuíam escravos.

Os primeiros colonos batistas no Brasil possuíam escravos. Muitos vieram para o Brasil por causa das facilidades e similaridades escravagistas aqui encontradas. Crabtree fora um missionário batista enviado pela Junta Missionária de Richmond (Convenção do Sul). Em 1859 ele escreve à Junta avaliando aquilo que seria, para ele, muito tranquilizador para o envio de missionários americanos para o Brasil:

o Brasil era como os Estados Unidos, tem escravos e os missionários enviados pela Convenção Batista do Sul não podiam sentir-se constrangidos a combater a escravatura e assim envolver-se na política do país”. Fonte CRABTREE, A.R. História dos Batistas do Brasil até 1906. Rio de Janeiro. Casa Publicadora Batista.1962, p.5

Muitos batistas em Santa Bárbara D’Oeste, em São Paulo, possuíam escravos para os trabalhos domésticos e, também, na lavoura. Rute Mathews, contando a história de Ana Bagby (missionária batista pioneira no Brasil), relata a história da Senhora Ellis, batista, senhora de escravos, e que hospedou os fundadores da Primeira Igreja Batista do Brasil, os missionários W. Bagby, em sua casa nos primeiros meses do casal no Brasil:

Depois de dormir uma noite na Capital Paulista, os missionários tomaram o trem para Sta. Bárbara, onde chegaram sob forte aguaceiro. Na estação os aguardavam os enviados da Sra. Ellis, com dois cavalos e um escravo, para carregar a bagagem. A estrada até o sítio estava bem lamacenta, mas ao chegar, foram carinhosamente recebidos”. Fonte CRABTREE, A.R. História dos Batistas do Brasil até 1906. Rio de Janeiro. Casa Publicadora Batista.1962, p.5

3 – Evangélicos Ingleses eram proprietários de mais de 2 mil escravizados.

O Rev. Boys era um capelão inglês da ilha britânica de Santa Helena, no meio do Atlântico Sul. Em 1819, ele foi obrigado a permanecer por um bom tempo no Rio de Janeiro, por causa de uma enfermidade de sua esposa. Sua carta informa que a cidade do Rio de Janeiro tinha naquela época 300 mil habitantes, 80 mil dos quais eram escravos. Ele continua:

Aqui temos residindo um embaixador inglês, o sr. Thornton, e aproximadamente 1.500 negociantes ingleses mais os franceses, muitos dos quais sei que favorecem uma sociedade bíblica auxiliar. A maioria deles possui escravos, os quais, naturalmente, eles têm a obrigação de instruir, e não poderiam ser incomodados [por cumprirem essa obrigação]. Daí haver bastante oportunidade para o estabelecimento de uma escola para adultos em casa para o benefício deles próprios… E quanta utilidade isso teria aqui! Pois não devem existir menos de 2 mil escravos, propriedade de negociantes ingleses (eu os estimaria em 3 mil ou 4 mil), inteiramente às ordens de nossos compatriotas”. Fonte: REILY, História documental, p. 49.

4 – Os Metodistas tinha duas classes de escola dominical de escravizados.

Spaulding foi o primeiro missionário metodista no Brasil; partindo de Nova York, chegou com sua família ao Rio de Janeiro em 29 de abril de 1836. Antes de completar um mês de estada no país, organizou a primeira escola dominical. Sua escola dominical tinha uma assistência de mais de quarenta crianças e jovens. Quanto aos escravos, ele diz:

Temos duas classes de pretos, uma fala inglês, a outra português. Atualmente, parecem muito interessados e ansiosos por aprender…”. Fonte: REILY, História documental, p. 92

5 – Os crentes evangélicos compravam escravos nos leilões.

No dia 10 de outubro de 1859, dois meses após desembarcar no Rio de Janeiro, Simonton escreveu em seu diário:

Fui com o senhor H. a um leilão em que ele comprou dois negros. Outra vez estou no meio do horror da escravidão”. Fonte: SIMONTON, Ashbel G. O Diário de Simonton, 1852-1866. 2. ed. ampliada. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 11.

Alguns dias antes (28/09), ele tivera uma discussão na qual contrariou certo Sr. “S.”, que o desapontara muito, pois esta pessoa era “absurdamente a favor” da escravidão. Simonton era nortista, logo, favorável à abolição, pois considerava a escravidão pecado e opressão. Apesar de sua opinião contrária à escravidão, Simonton se mostrou cauteloso quanto à exposição pública de suas ideias antiescravistas no Brasil. Três anotações em seu Diário, datada de 3 de janeiro de 1860 e 31 de dezembro de 1866, dão conta de que Simonton se utilizou do trabalho de escravos no Brasil, embora nunca os tenha possuído. Em 1860, quatro negros fizeram o transporte de sua mudança para a casa do Sr. Patterson. Em 1866, um negro chamado Quitano, alugado por Blackford, o ajudou na arrumação de sua nova casa. Depois, quando novamente se mudou de endereço, para a Rua dos Inválidos, uma escrava chamada Cecília trabalhou para ele por um tempo. Um dado interessante é que uma das últimas pessoas a orarem por ele junto ao seu leito de morte foi um negro, membro da igreja de São Paulo. Fonte FERREIRA, Júlio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil. 2 vols. 2. ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, vol. 1, p. 84.  

6 – Missionários levavam escravizados em suas viagens de pregação do evangelho.

Júlio Andrade Ferreira, ao narrar a chegada de John Boyle a Cajuru, interior de São Paulo, diz que ele se fazia acompanhar de um negro, que, cansado, queixou-se da longa viajem. Todavia, não faz qualquer alusão ao fato de esse negro ser um escravo, seu ou da missão, limitando-se a chamá-lo de “acompanhante”. Esse fato ocorreu entre 1882 e 1884, portanto, antes da abolição. Fonte: FERREIRA, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, vol. 1, p. 251. A citação original vem de outro livro de sua autoria, Galeria evangélica, p. 95-97.

7 – Evangélicos luteranos alemães possuíam escravizados.

Émile Léonard comenta em seu livro que nos estados do sul do Brasil, os alemães, em sua grande maioria protestantes, possuíam muito poucos escravos. Em São Leopoldo seu número era bastante reduzido e Hermann Blumenau não aceitava escravos na sua colônia. Porém, a razão para isso era mais econômica do que motivada por princípios cristãos, uma vez que os colonos eram muito pobres para possuir escravos.

Por outro lado, Léonard afirma que nas regiões onde “os alemães foram submetidos a uma economia escravagista, eles se conformavam”. Um exemplo disso foi a colônia Leopoldina, no sul da Bahia. Ali se contavam em 1853 apenas 25 trabalhadores livres para 1.245 escravos, que garantiam sua sobrevivência sob um clima terrível. Fonte LÉONARD, O protestantismo brasileiro, p. 101, nota 81.

8 – Na Revolta dos Malês dos 160 acusados, 45 eram escravizados de evangélicos.

Os súditos britânicos, membros da Saint Church, não só desobedeciam às ordens de S.M. Britânica ao participarem do rentável comércio negreiro que se fez na Bahia do século XIX, mas também eram proprietários de escravos que utilizavam como mão-de-obra doméstica ou em alguns empreendimentos de caráter manufatureiro que mantinham em Salvador. Em 1835, durante a revolta dos escravos malês, ocorrida em Salvador, dos 160 acusados, 45 eram escravos de ingleses residentes no bairro da Vitória. No sumário do juiz que condenou os líderes da insurreição escrava, fica evidente que as próprias lideranças do movimento eram propriedade de ingleses e se reuniam nos fundos de suas casas:

capturei como cabeças e Chefes de Clubes que se a ajuntavão na casa do Inglez Abraham e de que anteriormente tinha dado parte ao excelentíssimo Presidente da Província os seguintes nagôs-Diogo-Daniel-Jaimes e João escravos de Abraham, cabeças do clube, sahirão e recolherão se pela manhã-Carlos e Thomaz-Cabeças do Clube, sahirão e recolherão se pela manhã ainda com as calças com sangue examinei não tinha ferida alguma no corpo, escravos de Frederico Robelliard, Cornelio escravo Preto rei Inglez apanhou recolhendo se para caza confessou ter hido com os outros era também do Clube, aceitara o evangelho”. Fonte: In. Anais do Arquivo Público do Estado da Bahia.Salvador.1992. Vol.50, p.59.

9 – Os evangélicos ingleses possuíam escravizados como bens ou investimentos.

Compulsando testamentos e inventários de anglicanos que morreram na Bahia na segunda metade do século XIX, também constatou-se a presença de proprietários de escravos, tais como os senhores Eduardo Jones que tinha 6 escravos domésticos; o Sr. George Mumford 17 que possuía 11 escravos que trabalhavam na sua roça no Acupe e Sr. George Blandy, que possuía 4 escravos. Os seus herdeiros, cidadãos britânicos, se recusaram a ficar com os escravos, pois “pela legislação inglesa não pode o suplicante (James P. Mee) possuir escravos, e pedia que reforme a sentença aquinhoando aqueles escravos ao herdeiro João Miranda Pinheiro da Cunha cazado com D. Joaquina Blandy Pinheiro da Cunha.

É interessante destacar que o herdeiro inglês não teve nenhum pejo de tratar os escravos como mais um bem na herança a ser dividida. Ao invés de alforriar os escravos dando-lhes liberdade, solicitou uma barganha financeira com um herdeiro brasileiro, que poderia ser proprietário de escravos. O seu pedido foi atendido pelo Juiz.  Fonte: Testamento n 07/3056/04. Arq. Público do Estado da Bahia;Testamento n 07/3048/02. Arq. Público do Estado da Bahia; Partilha Amigável n 01/114/171/17. Arq. Público do Estado da Bahia.

10 – Os evangélicos lucrava com a escravização de seus próprios filhos.

Com um misto de surpresa e indignação, o Rev. Walsh a descrever episódios que demonstravam a desumanidade da escravidão vivido pelos escravos no Brasil, nada deixou mais chocado o clérigo do que constatar que seus concidadãos ingleses participavam e usufruíam do “nefando comércio,” lucrando com a escravização de mulheres e de seus próprios filhos, como presenciou na estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Incrédulo diante do que viu e ouviu, o capelão não podia admitir que aquele homem inglês fosse o mesmo que partiu de sua terra natal, mas tratava-se de uma outra pessoa que, estando:

em um país estrangeiro e entra em contato com a escravidão a sua natureza parece modificar-se, e ele passa a vender não só a mãe de seus filhos como os filhos propriamente ditos, e com tanta indiferença como se tratasse de uma porca com a sua ninhada.” Fonte: WALSH, p. 164.

Imagem: do filme 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO que mostra o crente fervoroso, senhor de escravos,  afirmando que todo o sofrimento que os escravizados estavam passando era justificado pela Bíblia. O filme mostra ainda  o assédios  e estupros das escravizadas  pelo escravista e o ciúme doentio de sua esposa. A imagem mostra também a mulher negra escravizada da ilustração de kendy Joseph.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Referências e Informações:

Visões Protestantes Sobre a Escravidão – Elizete da Silva – Revista de Estudos da Religião Nº 1 / 2003 / pp. 1-26

A Igreja Presbiteriana do Brasil e a escravidão: BREVE ANÁLISE DOCUMENTAL – Hélio de Oliveira Silva – FIDES REFORMATA XV, Nº 2 (2010): 43-66

LÉONARD, Émile G. – Protestantismo Brasileiro – Editora Juerp

O Protestantismo e escravidão no Brasil – Hernani Francisco da Silva

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O Lutero Negro

A primeira Igreja Protestante Brasileira foi Negra

A primeira tentativa de estabelecer uma igreja protestante no Brasil foi em 1555, que pretendia dar refúgio aos protestantes calvinistas franceses, perseguidos pela inquisição européia. A segunda tentativa foi em 1630, quando os Holandeses tomaram Recife, Olinda e parte do Nordeste, registrando uma presença do protestantismo. Após a expulsão dos holandeses, em 1654, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por mais de 150 anos. Com a chegada da família real e um “jeitinho português” abriu-se uma brecha no monopólio católico, permitindo a presença de outra religião que não fosse a católica: os protestantes estrangeiros não podiam pregar nem abrir uma igreja com formato de templo, mais podia se reunir e cultuar, também podia comercializar a bíblia e até distribui-la. Foi através dessa brecha que um negro, alfaiate, letrado, chamado Agostinho Jose Pereira, conheceu a bíblia e descobriu outra forma de cristianismo. Agostinho teve contato com protestantes estrangeiros que passaram pelo Recife. Por revelação divina, em sonho, torna-se protestante.

Em 1841, Agostinho Jose Pereira surge pregando pelas ruas de Recife. Nasce a primeira igreja protestante brasileira, a Igreja do Divino Mestre, com seus mais de 300 seguidores, negros e negras, todos livres e libertos. Agostinho os ensina a ler e escrever, em uma época que os proprietários de terras eram analfabetos. No Brasil de 1841, fora das colônias estrangeiras, não havia protestantismo algum. O Negro Agostinho foi o primeiro pregador brasileiro e fundou a Igreja do Divino Mestre, primeira igreja protestante do Brasil. Só depois em 1858 o reverendo Roberto Kalley fundou a Igreja Fluminense, episodio considerado pela historia oficial data de fundação da primeira igreja protestante do Brasil, depois vieram outras Igrejas como a presbiteriana (1859), a batista (1871), a anglicana (1889).

Igreja do Divino Mestre, era mística e teologicamente negra. A Igreja fundada por Agostinho fala de libertação bíblica, esperança de uma vida livre da escravidão, o povo negro como a primeira criação humana de Deus, e um Cristo não branco. As idéias de Agostinho eram avançadas e perigosa para a época onde a igreja católica era a religião oficial do Estado, e não admitia nenhuma outra crença a não ser a igreja de Roma. Agostinho ao ler a Bíblia e pregar uma outra forma de cristianismo, que era proibido, criticava o catolicismo com suas estátuas e santos intermediários, ele tornou-se alvo de perseguição da Igreja Católica, mais não foi só a igreja que se sentiu ameaçada com as pregações de Agostinho, as autoridades e a Imprensa de Recife se alvoroçaram com as idéias do Pastor Negro que falava da libertação dos escravos, citava a revolução do Haiti e insurreição escrava nos modos dos negros muçulmanos na Bahia, acontecimentos que deixava os escravistas brasileiros em arrepios. Ele era mais que subversivo, era negro em plena escravidão negra, era protestante em um Estado católico, e pregava a libertação dos negros em uma sociedade que sufocava qualquer movimento que ousasse tal feito. O negro Agostinho era um perigo para o Brasil da época.

A historia de Agostinho deixa muita perguntas sem resposta, pouco sabemos da sua vida, de onde veio, pra onde foi. O que sabemos é que ele era um negro letrado, e que fundou a primeira igreja protestante brasileira, essa igreja era negra. Sabemos também que na sua trajetória política conheceu Sabino o líder da revolta baiana conhecida como a sabinada, também participou da confederação do Equador. Um fato marcante na vida de Agostinho foi a sua prisão em 1846, graças a esse acontecimento foi registrado um pouco da sua vida documentado na imprensa de Recife e em inquérito policial, que hoje são fontes de pesquisas resgatando o legado desse grande homem. A imprensa discutia até onde ele era um rebelde, um fanático religioso, foi acusado de vigarista e enganador da boa fé de negros e pobres. Agostinho tinha 47 anos de idade quando foi preso. O chefe de policia da província suspeitava que a “seita” liderada por Agostinho tinha o objetivo de preparar uma insurreição de escravos. A policia cercou a casa onde a Igreja do Divino Mestre se reunia, prenderam Agostinho e seus fiéis. Com a prisão de Agostinho a sua igreja se expandiu pela cidade, e a perseguição policial se estende aos seus membros. No bairro de Boa Vista, a policia entra na casa de um de seus lideres, o interroga e confisca a sua bíblia. A policia invade a casa de Agostinho e apreende textos intitulados como o ABC, textos esses que criaram um grande alvoroço por conter citações da revolução dos escravos do Haiti. A perseguições prosseguiram aos membros da Igreja do Divino Mestre que registrara 16 pessoas detidas. O seu advogado de defesa foi Borges da Fonseca, um liberal de Pernambuco.

Não sabemos o que aconteceu com o pastor negro Agostinho Jose Pereira depois da sua prisão. Um jornal da época noticiara que Agostinho fora solto pelo hábeas corpos do advogado Borges da Fonseca e que quando passava nas ruas acompanhado pelos seus discípulos a multidão gritava e assoviava. Ao passar por Pernambuco em 1852 o naturalista inglês Charles B. Mansfield referiu-se ao Divino Mestre como um “Lutero Negro”, que não sabia onde ele estava, mas tinha ouvido que tinha sido condenado a 3 anos de prisão ou fora deportado, não sabia o certo. O Lutero Negro, assim como se referiu o inglês Mansfield, deixou um legado para a igreja e sociedade brasileira. Para o Movimento Negro Evangélico deixou uma bela herança histórica: “a primeira Igreja Protestante do Brasil foi negra”.

CONTINUA:

https://afrokut.com.br/blog/o-divino-mestre/

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Citações e Referências:

Léonard, Émile-G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP e ASTE, 1981.

Marcus JM de Carvalho – Rumores e rebeliões: estratégias de resistência escrava no Recife, 1817-1848 – 49 – Tempo – Revista do Departamento de Historia da UFF – Nº 6 Vol. 3 – Dez. 1998.

Marcus JM de Carvalho “FÁCIL É SEREM SUJEITOS, DE QUEM JÁ FORAM
SENHORES”: O ABC DO DIVINO MESTRE Afro-Ásia, número 031 Universidade Federal da Bahia, Brasil pp. 327-334, 2004.

 

Negras e Negros ganhadores do Oscar

O Oscar 2025, mesmo prometendo ser uma celebração da diversidade e do talento cinematográfico, apenas três atores negros foram indicados nas principais categorias. Entre os indicados, só Zoe Saldaña ganhou o Oscar 2025 na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em “Emilia Pérez”. Os outros dois indicados, para o Oscar 2025, foram: Cynthia Erivo, uma talentosa atriz indicada na categoria de Melhor Atriz por sua atuação em “Wicked”; e Colman Domingo, um ator multifacetado indicado a Melhor Ator por seu papel em “Sing Sing”, sua performance poderosa e emocional conquistou uma merecida indicação.

A representatividade negra no Oscar ainda é insuficiente. Nos últimos dez anos, 82,9% dos vencedores nas principais categorias foram pessoas brancas. A representatividade importa e é necessário que a indústria cinematográfica continue a se esforçar para alcançar uma representatividade equitativa.

O Oscar é marcado por momentos históricos, o longa brasileiro “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, foi eleito o Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. Trazendo para o Brasil sua primeira estatueta dourada em 97 anos de premiação.  Em outras edições, o Oscar é também marcado por polêmicas, como a exclusão de algumas categorias técnicas na cerimônia principal; discursos pró Ucrânia, país europeu que está em guerra com a Rússia; e o tapa de Will Smith em Chris Rock.

Lembrando que o Oscar de 2019 teve um número significativo de nomeações de negros e negras, um recorde de prêmios com 7 estatuetas. No Oscar 2019, Pantera Negra fez história como 1º filme de super-herói a disputar como Melhor Filme, e vencer em três categorias: figurino, direção de arte e trilha sonora. O feito foi suficiente para se tornar o longa de super-heróis com mais estatuetas na história. Pantera Negra não fez apenas história na Marvel ao vencer três estatuetas no Oscar 2019. O filme se tornou um dos mais importantes do gênero de super-heróis.

Segue lista de negras e negros vencedores do Oscar:

Zoe Saldaña venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante de 2025, pela atuação em Emília Pérez.

Ao ganhar o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Oscar, a atriz americana Zoe Saldaña, filha de dominicanos, fez um forte discurso em defesa dos migrantes. “Minha avó veio para este país em 1961. Tenho orgulho de ser filha de imigrantes!


Da’Vine Joy Randolph, vencedora do Oscar 2024 como Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em ‘Os Rejeitados

Na categoria Atriz Coadjuvante, Da’Vine Joy Randolph levou a primeira estatueta da carreira por seu papel como Mary Lamb em ‘Os Rejeitados’ em meio a polêmicas de plágio de roteiro.


Ruth E. Carter brilhou no Oscar 2023 ao vencer na categoria Melhor Figurino por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre

Ruth E. Carter é uma figurinista americana que venceu o Oscar de Melhor Figurino em 2023 por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre. Ela se tornou a primeira mulher negra a ganhar duas estatuetas: em 2023 e em 2019 na mesma categoria pelo primeiro longa do herói da Marvel. Ruth E. Carter se tornou a primeira mulher negra a vencer o Oscar de melhor figurino, Carter havia sido indicada anteriormente por dois filmes, “Malcolm X” (1992) e “Amistad” (1997). Em 2019, no seu discurso, ela agradeceu a Spike Lee, diretor de “Malcolm X”, por “lhe dar sua estrela”. Depois, ainda falou das inspirações para seus figurinos em “Pantera Negra”: “A Marvel pode ter criado o primeiro super-herói negro com ‘Pantera Negra‘, mas nós o transformamos em um rei africano”, comentou. 


Will Smith leva o Oscar 2022 de Melhor Ator por atuação em King Richard

 

Will Smith teve sua atuação no filme King Richard, ele ganhou o Oscar de Melhor Ator por conta da atuação como Richard Williams, pai das irmãs Venus e Serena. O filme conta a história de luta de Richard e da família para transformarem as irmãs, hoje estrelas consagradas, em tenistas. As irmãs Venus e Serena Williams estiveram presentes na cerimônia

No discurso após o anúncio, Smith se emocionou bastante e agradeceu a confiança da família em sua atuação. Ele também se disse um “pai louco, que faz coisas por amor”, em semelhança com Richard.

Will se envolveu em polêmica durante a cerimônia, ao se irritar com piada feita pelo comediante Chris Rock, que zombou da esposa do ator, Jada Pinkett Smith. Ele subiu no palco e deu um tapa na cara do apresentador.


Ariana DeBose ganha o Oscar 2022  Melhor  atriz coadjuvante por Amor Sublime Amor

Ariana DeBose, que interpretou Anita na refilmagem de Amor, Sublime Amor, se tornou a primeira atriz abertamente queer (termo geralmente usado para definir pessoas que não são heterossexuais ou não são cisgênero) a ganhar um Oscar. Ela foi premiada como Melhor Atriz Coadjuvante.

Fazendo referência à música de sucesso do musical, ele acrescentou: “Para qualquer um que já questionou sua identidade, ou já se viu vivendo em espaços cinzentos, garanto que há realmente um lugar para nós”.


Ahmir “Questlove” Thompson ganhou o Óscar 2022 de Melhor Documentário

 

Dirigido pelo líder da banda the Roots, Questlove (Ahmir Khalib Thompson), o documentário aborda o Festival Cultural de Harlem de 1969, reunindo nomes como Stevie Wonder, Mahalia Jackson, Sly and the Family Stone e Gladys Knight & the Pips, entre outros.


Hair Love“, venceu a categoria de Melhor curta-metragem de animação no Oscar 2020

 

Premiado melhor curta de animação, filme levou representatividade e enalteceu o amor próprio pelo cabelo crespo na cerimônia mais importante de Hollywood. Para receber o prêmio, subiram ao palco Matthew Cherry e e Karen Rupert Toliver, codiretores do filme.

“Fizemos esse filme porque queríamos ter mais representatividade nas animações e normalizar o cabelo afro”, disse Karen durante seu discurso.

“O projeto promove o amor ao cabelo natural, para que meninas e meninos negros se orgulhem dele. Grandes animações não abordam dinâmicas de famílias negras, não existe esta representatividade. Espero que possamos mudar isso”, afirmou Matthew. Veja o filme “Hair Love“, Melhor curta-metragem de animação no Oscar 2020.


Spike Lee ganha o Oscar 2019 no Melhor Roteiro Adaptado por Infiltrado na Klan

Spike Lee ganha primeiro Oscar ‘oficial’, em 2006 Lee ganhou um Oscar Honorário e  criticou a quantidade de negros concorrendo ao prêmio. O filme “Infiltrado na Klan”, do diretor Spike Lee: fala sobre o racismo do grupo Ku Klux Klan e o movimento do poder negro de 70. Spike Lee, diretor de “Infiltrado na Klan”, ao receber a estatueta como roteirista fez  o discurso mais inflamado da noite: Estar do lado certo da história. Lee se viu recompensado por seu melhor trabalho desde então.  Spike Lee é um cineasta muito importante, responsável por obras como Faça a Coisa Certa, Malcolm X, Febre da Selva, Irmãos de Sangue e A Última Noite.


Mahershala Ali , Oscar 2019, Melhor Ator Coadjuvante no Filme Green Book – O Guia

Ali, que venceu anteriormente na mesma categoria por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, se tornou  o segundo ator negro a ter dois Oscar na prateleira. O outro é Denzel Washington, que levou por “Tempo de Glória” (1989) e “Dia de Treinamento” (2001). Dirigido por Peter Farrelly, “Green Book” baseia-se em uma história real que envolve Tony Lip (Viggo Mortensen), um ítalo-americano bronco e preconceituoso que trabalhava como segurança na boate Copacabana, de Nova York, e que no começo dos anos 60 se tornou motorista de um magnífico pianista negro, Don Shirley (Mahershala Ali), durante sua turnê pelo sul dos Estados Unidos.
Muitos ativistas negros americanos têm feito objeções a “Green Book”, especialmente depois da família de Don Shirley (o pianista interpretado por Mahershala Ali no filme) contestar a veracidade de vários eventos do roteiro.


Regina King recebe o Oscar 2019 de “Melhor atriz coadjuvante”

Regina King, de “Se a Rua Beale falasse”, ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante. Regina era favorita na categoria, tendo vencido em varias outras premiações de cinema. O filme “Se a Rua Beale falasse” foi  Inspirado no romance de James Baldwin sobre uma mulher grávida, Tish ( Kiki Lane), que luta para livrar o marido de uma acusação criminal injusta.


Hannah Bleecher vence o Oscar 2019 de melhor direção de arte  em “Pantera Negra”

 

Hannah Bleecher foi a primeira negra a vencer na melhor direção de arte em Pantera Negra, o filme recria a clássica série de HQ sobre dois primos que  lutam pelo trono de uma superpotência africana  Wakanda: O maravilhoso reino afrofuturista do Pantera Negra. Em seu discurso, Hannah Bleecher, dirigiu seus agradecimentos a Ryan Coogler, diretor do filme da Marvel. “Eu estou aqui, e estou mais forte, por causa de você”, disse.


Barry Jenkins ganha o Oscar pelo melhor filme  MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR

Barry Jenkins é um cineasta norte-americano formado em Cinema e Artes Visuais pela Universidade do Estado da Flórida, em Tallahassee, e iniciou sua carreira com Medicine for Melancholy (2008), trabalho que lhe rendeu indicações para grandes premiações do mundo do cinema, como o Gotham Awards, em 2008, e o Independent Spirit Awards, em 2009. Oito anos depois, Barry retorna às telonas com o longa-metragem Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016). O filme, que é uma adaptação do livro de Tarell Alvin McCraney, foi elogiado pela crítica especializada e indicado a oito categorias do Oscar 2017, inclusive de melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado. O segundo filme assinado pelo diretor também rendeu dezenas de nomeações e já carrega um Globo de Ouro.


Viola Davis leva Oscar de melhor atriz coadjuvante

Viola Davis ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante no filme “Um Limite Entre Nós“,  dirigido e estrelado por Denzel Washington,  conta a história de um homem negro nos Estados Unidos dos anos 1950, que tenta levar adiante sua família frente ao racismo presente na época. Viola Davis é a atriz negra com maior número de indicações ao Oscar. Esta foi a terceira vez em que Viola Davis foi indicada a uma estatueta do Oscar. Antes de “Um Limite Entre Nós”, a norte-americana concorreu como melhor atriz por “Histórias Cruzadas” (2011) e melhor atriz coadjuvante por “Dúvida” (2008).


Steve McQueen o primeiro cineasta negro a vencer o principal prêmio de Hollywood 

Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood entregou os prêmios da 86ª edição do Oscar, em Los Angeles, nos EUA. O prêmio mais importante de Hollywood foi para Steve McQueen, primeiro cineasta negro a dirigir uma produção que venceu o principal prêmio do Oscar, de Melhor Filme: “12 Anos de Escravidão“. O prêmio de Melhor Filme é também o primeiro Oscar de Brad Pitt, que é produtor de “12 Anos de Escravidão“. Dirigida por Steve McQueen, a obra é baseada nas memórias de Solomon Northup(Chiwetel Ejiofor), negro livre do Norte dos Estados Unidos que é sequestrado e vendido como escravo.

“Agradeço a todos que merecem não só sobreviver, mas viver. Dedico a todos que sofreram com a escravidão e ainda sofrem hoje”, disse Steve. O filme ganhou três prêmios no evento: Roteiro Adaptado, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Filme.


Lupita Nyong’o levou a estatueta de melhor atriz coadjuvante do Oscar 2014

Em seu primeiro papel em um longa, artista nascida no Quênia ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante por seu papel em “12 Anos de Escravidão“, na 86ª cerimônia de entrega do principal prêmio da indústria do cinema, no Teatro Dolby, em Los Angeles. A atriz cresceu na África e estudou em Yale, nos EUA, onde se graduou em Atuação Dramática. A atuação de Lupita em “12 Anos de Escravidão” lhe rendeu prêmios como o do Sindicato dos Atores (elenco), Globo de Ouro e ‘Critic’s Choice‘ (melhor atriz coadjuvante).

“Quando eu olho para essa estátua dourada, espero que isso lembre todas as crianças pequenas que, não importa de onde você é, seus sonhos são válidos”, disse Lupita, arrancando aplausos e lágrimas da platéia no Dolby Theatre, palco da cerimônia.


Octavia Spencer é eleita Melhor Atriz Coadjuvante

Na 84° edição dos Oscar, que aconteceu em 26 de fevereiro de 2012, no Teatro Kodak, em Los Angeles, Octavia Spencer levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel da empregada doméstica Minny no filme Histórias Cruzadas.

A atriz era considerada a favorita, após ter levado o Globo de Ouro e o prêmio do Sindicato de Atores dos Estados Unidos. Aplaudida de pé, Octavia agradeceu à sua família e ao elenco do filme Histórias Cruzadas.


Mo’Nique venceu na categoria Melhor Atriz Coadjuvante

No Oscar de 2010Mo’Nique venceu na categoria Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel no drama de Lee Daniels, Preciosa – Uma História de Esperança.


Forest Whitaker recebeu o prêmio principal na categoria Melhor Ator

No Oscar de 2007, Forest Whitaker recebeu o prêmio principal na categoria Melhor Ator por dar vida ao ditador africano Idi Amin em O Último Rei da Escócia (2006);


Jennifer Hudson Melhor Atriz Coadjuvante

Em 2007, Jennifer Hudson representou os negros no Oscar com o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante.  Ela recebeu o troféu por seu trabalho em Dreamgirls – Em Busca de umSonho;


Morgan Freeman campeão da categoria Melhor Ator Coadjuvante

Após ser indicado três vezes ao Oscar, finalmente em sua quarta disputa pelo troféu, Morgan Freeman foi contemplado por uma estatueta. Em 2005, ele foi o campeão da categoria Melhor Ator Coadjuvante por Menina de Ouro, de Clint Eastwood. Anteriormente, o astro competiu pelas obras Armação Perigosa (1967), Conduzindo Miss Daisy (1989) e Um Sonho de Liberdade (1994). Em 2010, Freeman foi indicado pelo longa-metragem Invictus;


Jamie Foxx foi consagrado o Melhor Ator

Por sua interpretação visceral na cinebiografia Ray, Jamie Foxx foi consagrado o melhor ator do Oscar de 2005.  No mesmo ano, em outra categoria, o famoso astro negro Morgan Freeman  também recebeu um troféu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood;


Halle Berry o prêmio Melhor Atriz

Halle Berry também fez história no Oscar. Por viver a personagem Leticia Musgrove em Última Ceia, ela se tornou, em 2002, a primeira mulher negra a receber da Academia o prêmio de Melhor Atriz;


Cuba Gooding Jr. recebeu em 1997 o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante

Foi por sua atuação no sucesso Jerry Maguire – A Grande Virada, do diretor Cameron Crowe (Quase Famosos), que Cuba Gooding Jr. recebeu em 1997 o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante;


Denzel Washington já foi duplamente oscarizado: Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Ator

O astro Denzel Washington já foi duplamente oscarizado. Sua primeira estatueta veio  em 1990 com o filme Tempo de Glória, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. No ano de 2002, na mesma cerimônia em que Halle Berry venceu, Washington levou para casa o Oscar de Melhor Ator por seu trabalho em Dia de Treinamento;


Whoopi Goldberg vencedora na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante

O sucesso da falsa – e cômica – médium Oda Mae Brown, de Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990), foi tanto que Whoopi Goldberg recebeu uma das cobiçadas estatuetas do Oscar. A estrela se consagrou vencedora na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante;


Louis Gossett Jr.  vence o Oscar na categoria MelhorAtor Coadjuvante

Louis Gossett Jr. foi o primeiro negro a vencer o Oscar na categoria Melhor Ator Coadjuvante. Ele recebeu o prêmio por sua performance em  A Força do Destino, de 1982;


Sidney Poitier o primeiro negro a receber o troféu de Melhor Ator em um Oscar

Em 1964, o norte-americano Sidney Poitier entrou para a história ao se tornar o primeiro negro a receber o troféu de Melhor Ator em um Oscar. Ele foi contemplado por seu papel na comédia dramática Uma Voz nas Sombras(1963), de Ralph NelsonEm 2002 ganha o Oscar Honorário , “por suas performances extraordinárias e presença única na tela e por representar a indústria com estilo, dignidade e inteligência”.


Hattie McDaniel ficou famosa após vencer o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante

Hattie McDaniel ficou famosa após vencer o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em …E o Vento Levou (1939).  Com o prêmio, ela se tornou a primeira pessoa negra a ganhar um troféu da principal  premiação da indústria cinematográfica;

Hernani Francisco da Silva – Do  Afrokut

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Referências:

List of black Academy Award winners and nominees – Wikipedia, the free encyclopedia en.wikipedia.org

Hoje na Historia – JBlog – Jornal do Brasil – 14 de abril de 1964 – O Oscar negro de Sidney Poitierwww.jblog.com.br

Oscar 2010: Mo’Nique vence como atriz coadjuvante – Tempo real – Estadao.com.br blogs.estadao.com.br

Oscar de melhor ator – Wikipédia, a enciclopédia livre pt.wikipedia.org

Conheça os atores negros vencedores do Oscar – Foto 1 – Cinema – R7 entretenimento.r7.c

Academy Honorary Award – Wikipedia, the free encyclopedia en.wikipedia.org

http://entretenimento.r7.com/cinema/noticias/octavia-spencer-e-elei…

The 22 Black Actors who have won Academy Awards

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10 artistas que já sofreram racismo

O racismo existe em todo o Brasil e mundo, é uma realidade que está nas relações de todas as classes, ele não poupam pessoas negras ricas nem pobres, famosos ou celebridades. Todas as pessoas negras tem uma historia de racismo para contar.  O racismo é um mal que precisa sair das pessoas, é perverso é CRIME.  Conheça o depoimento de 10  artistas que já sofreram racismo:

O cantor Thiaguinho foi vítima de preconceito em um restaurante

Em 2012, o cantor Thiaguinho foi vítima de preconceito em um restaurante. “Fui almoçar num restaurante de shorts, camiseta e chinelo. Quando o manobrista trouxe o meu carro e eu fui entrar, ele colocou a mão na frente. Não achou que aquele carro pudesse ser o meu e perguntou: ‘Você é o dono?’ Tem um preconceito velado quando alguém vê um negro com um carrão. Logo perguntam: ‘É jogador ou pagodeiro?’. Ou seja, no Brasil o negro só pode ter dinheiro se tiver uma dessas duas profissões. E vivem me perguntando se sou jogador”, contou ele ao site ‘Ego’.

Adriana Bombom, revela que já sofreu muito preconceito pelo fato de ser negra

“No começo da carreira eu fui muito discriminada, pelo fato de ser mulata grande e bunduda, mas não era só um preconceito profissional não, por não ter o perfil… Os bookers da época falava que eu tava mais para Sargentele, do que para modelo. Não tinha muitos negros nas agências na época e sempre existiu uma panela muito grande. Sem falar que existia a queridinha dos bookers e eu sempre ficava na geladeira”, contou ao site ‘O Fuxico’ a dançarina Adriana Bombom, revelando que já sofreu muito preconceito pelo fato de ser negra.

Taís Araújo: eu sofro muito

Taís Araújo é hoje uma atriz consagrada. Mas, em 2004, quando interpretava a Preta de ‘Da Cor do Pecado’, a atriz, que na época namorava um rapaz branco, desabafou sobre o preconceito ao site ‘Vírgula’: “Eu sofro muito. Qual negro que não sofre com preconceito nesse país?! Meu namorado é branco, e ele fala que não é bem assim, que não há tanto preconceito. Só que eu digo pra ele: Se um dia eu tiver um filho com você, o nosso filho vai ser negro. E aí sim você vai sentir na pele esse preconceito. Só sentindo na pele pra saber. Dizem que, hoje em dia, está melhor, diminuiu bastante o preconceito. Porém, o dia que você nascer negro, ter um filho negro, vai saber como é. É duro, mas estamos aí, batalhando, na luta”, disse ela.

Gloria Maria, foi barrada na porta de um hotel de luxo no Rio de Janeiro

A primeira repórter negra da TV brasileira,Gloria Maria, foi barrada na porta de um hotel de luxo no Rio de Janeiro, no começo de sua carreira. “Fui a primeira repórter negra da televisão. A primeira a apresentar o jornal das sete, a primeira no comando do ‘Fantástico’… Mas tive que enfrentar muitas barreiras e obstáculos para conseguir as coisas. Tudo é mais difícil para um negro. Você tem que provar 100 vezes que você é o melhor. É cansativo, duro, doloroso. Se você não tiver uma força extraordinária, não consegue passar por isso. Mas eu vim ao mundo para lutar. Sou uma guerreira!”, contou a jornalista ao ‘Ego’.

Lázaro Ramos revelou que sofreu bastante com o preconceito

Em entrevista à Marília Gabriela, o ator Lázaro Ramos revelou que sofreu bastante com o preconceito antes de virar um ator famoso. “Sofri diversas vezes. Algumas delas de uma maneira mais explícita e outras de uma maneira que entendi depois. Por exemplo, eu tive a minha primeira namorada aos 17 anos, eu sempre fui o melhor amigo. Eu estudava em colégios particulares que tinham, em sua maioria, pessoas brancas, e eu tinha muita dificuldade em me relacionar”, contou ele.

Thalma de Freitas chegou a ser levada a uma delegacia por ‘engano’

A atriz Thalma de Freitas chegou a ser levada a uma delegacia por ‘engano’ depois de ser abordada saindo da casa de uma amiga. “Fui parada numa dura, saindo da casa da minha amiga Dani no Vidigal. Revistaram minha bolsa, não acharam nada e me trouxeram para a delegacia”, contou ela ao site ‘Quem Online’. Os policiais do caso foram autuados por abuso de autoridade.

Seu Jorge foi muito discriminado durante a temporada que passou na Itália

O cantor e ator Seu Jorge revelou que foi muito discriminado durante a temporada que passou na Itália para filmar o longa ‘A Vida Marinha com Steve Zissou’. “Não volto lá nunca mais. O italiano é racista. Eles têm sérios resquícios da colonização que sofreram: não aprenderam a lidar com outras etnias. Me maltrataram muito. Lá, percebi que, por ser negro, não era brasileiro, era da África, da Somália. No Brasil, isso também é forte ainda, viu?”, contou ele ao jornal ‘Extra’.

Preta Gil irei até o fim contra esse deputado, racista

Em março de 2011, em entrevista ao programa “CQC”, da TV Bandeirantes, o deputado Bolsonaro respondeu que não discutiria “promiscuidade” ao ser questionado por Preta Gil sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra. “Advogado acionado, sou uma mulher negra, forte e irei até o fim contra esse deputado, racista, homofóbico, nojento”, escreveu a cantora no Twitter após a resposta do parlamentar. Sobre o caso do jogador Daniel Alves, Preta desabafou no Facebook: “Fiquei orgulhosa com a atitude do Daniel Alves, ele deu uma banana para o preconceito e mostrou que de macaco não tem nada. Ele foi muito humano. Estou vendo o movimento da banana e respeito quem aderiu, pois, tenho certeza que foi de coração. Mas não sou macaca, eu tenho minha própria opinião, sou negra com muito orgulho! Racismo é crime, cadeia neles!”.

Gaby Amarantos rolou uma parada meio de racismo

“Quando era garota, queria fazer balé e tinha uma escola muito tradicional de balé. A minha mãe foi até lá para tentar me inscrever e rolou uma parada meio de racismo. Não pude participar. Fiquei meio frustrada com isso e triste porque queria muito ser dançarina. Não permitiram que eu me matriculasse por ser negra. Era uma escola mais elitizada e a minha mãe, na inocência, pensou: ‘A minha filha quer e vou lá perguntar como é’. Eu estava junto e fiquei meio frustrada com a dança por causa do preconceito. Era garotinha, tinha uns 4 ou 5 anos. Mas se tivesse me dedicado desde cedo talvez tivesse até um corpo diferente porque também queria fazer ginástica olímpica. Talvez fosse mais preparada para a dança. Depois disso não quis fazer mais nada ligado a dança. Fiquei com aquele trauma”, contou a cantora Gaby Amarantos à revista ‘Raça’.

Jonathan Azevedo foi abordado pelo segurança

O ator Jonathan Azevedo também já sofreu com racismo. Quando estava com a namorada em um shopping do Rio de Janeiro, o ator deixou a garota na fila do cinema para atender ao telefone. Quando voltou, Jonathan foi abordado pelo segurança: “Ele disse que não era para eu pedir dinheiro para a moça. Na hora pedi para ela ficar calma e conversei com ele. Expliquei a situação com educação”, contou o ator ao ‘Diário Grande ABC’.

Informações e imagens do Yahoo.

Do  Afrokut

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As igrejas evangélicas e os 136 anos da abolição da Escravatura

O Brasil completa, em 13 de maio de 2024, 136 anos da abolição da escravatura. Entretanto, as igrejas evangélicas brasileiras continuam com seu silêncio covarde e pecaminoso diante da realidade de opressão e racismo na qual se encontram os afrodescendentes. Os primeiros protestantes chegaram ao Brasil ainda no período da escravidão. Era um grupo composto principalmente por defensores da escravidão, omissos, e poucos abolicionistas. No geral, os protestantes não tiveram um papel relevante na abolição da escravatura. Também nunca defenderam oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil.

Conhecer esse passado da Igreja protestante no Brasil pode nos ajudar a entender a relação das igrejas evangélicas brasileira com o povo negro: sua cumplicidade na escravidão, sua omissão no passado e no presente diante do racismo, e seu silêncio no púlpito sobre a temática negra.

As igrejas evangélicas mais uma vez perde a sua essência profética, como aconteceu quando a sociedade brasileira discutia a abolição da escravatura, o seu trabalho missionário, apresentou contradições pois não teve como características a contestação social e a atuação nos problemas políticos nacionais, diante da escravidão. Hoje o seu posicionamento sobre a temática negra praticamente não existe. Vejamos cinco casos da questão racial no Brasil, de repercussão nacional, as igrejas evangélicas foram e são omissas:

No centenário da abolição da escravatura

Em 1988, ano em que se comemorava o centenário da abolição da escravidão no Brasil, as igrejas evangélicas perderam uma grande oportunidade rumo à remissão dos cem anos de omissão com relação ao povo negro. Os movimentos negros naquela ocasião buscavam uma oportunidade à reflexão, não era um momento festivo. A Igreja Católica lançava a Campanha da Fraternidade: “Ouvi o clamor deste povo”, com a temática negra. Enquanto as igrejas evangélicas repetiram o que fez cem anos antes na “abolição da escravatura”, mais uma vez omissa, ficando de fora, perdendo o seu testemunho cristão e o bonde da história.

Nas questões dos quilombolas

O quilombo constitui questão relevante desde os primeiros focos de resistência dos africanos ao escravismo colonial, e retorna à cena política durante a redemocratização do país. Trata-se, portanto, de uma questão importante na luta dos afrodescendentes. Nos últimos 20 anos, os descendentes de africanos organizados em associações quilombolas, em todo o território nacional, reivindicam o direito à permanência e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas e cultivadas para moradia e sustento, bem como o livre exercício de suas práticas, crenças e valores considerados em sua especificidade.

Com exceção da Igreja Anglicana, que na carta “Igreja Anglicana em defesa dos Quilombolas”, de abril de 2009, assinada pelo seu bispo primaz e dirigida ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Ação de Inconstitucionalidade apresentada pelo DEM (ex-PFL), as demais igrejas continuaram totalmente omissas em relação à questão dos quilombolas.

Na questão da intolerância religiosa

Outro tema preocupante é a intolerância religiosa, sobretudo em relação a seguidores de religiões de matriz africana. Um dos casos de maior repercussão foi o que vitimou a yalorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda. Sua morte gerou indignação de lideranças de diversas religiões, processo na Justiça e, como forma de reconhecimento, a instituição do dia 21 de janeiro como Dia Municipal de Luta contra a Intolerância Religiosa – que depois ganhou também um reconhecimento nacional.

Sabemos que a intolerância religiosa pode resultar em perseguição religiosa e ambas têm sido comuns na história. A maioria dos grupos religiosos já passou por tal situação numa época ou noutra. Os próprios evangélicos eram chamados de bodes, nova seita. Bíblias eram confiscadas e queimadas na praça das cidades. Muitos tiveram suas casas incendiadas criminosamente, seus bens extraviados, suas vidas vilipendiadas. Essas mesmas igrejas hoje, omissas e até mesmo intolerantes, não podem esquecer que as igrejas evangélicas já foram perseguidas pelo ímpeto da intolerância.

Na crença da maldição do povo negro e africano

Dizem que a maldição de Cam está sendo simplesmente cumprida na medida em que os negros vivem para servir a outras raças, particularmente aos brancos. George Samuel Antoine, cônsul do Haiti no Brasil, numa entrevista veiculada pelo SBT, apontou como possível causa do terremoto certa maldição que pesa sobre o povo africano. Ao fazer tão infeliz comentário, o cônsul não sabia que ainda estava sendo filmado. Na mesma direção o tele-evangelista estadunidense Pat Robertson explicou as “desgraças” haitianas como sendo consequência de “pactos” ocorridos há 200 anos entre os haitianos e o demônio. Também o pastor e deputado federal, Marco Feliciano, disse no Twitter que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado”. O parlamentar, que é pastor, continua afirmando: “Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome…”

Entretanto, a questão que fica é: de onde vem essa ideia de maldição dos negros? Essas ideias vieram dos missionários, sulistas racistas, que tinham a escravidão como instituída por Deus para justificá-la, baseando-se em argumentos teológicos de que o povo negro era da descendência de Cam, filho de Noé, amaldiçoado para serem escravos dos escravos. O mais triste de tudo isso é que nenhuma denominação protestante ou liderança evangélica se manifestou ,oficialmente, diante dessas declarações. Mais uma vez as igrejas foram omissas, reforçando uma doutrina diabólica aceita por muitos crentes dentro dos seus templos.

Na questão das cotas

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre cotas marca um momento histórico. A mais alta corte de Justiça do país admitiu não só que existem brasileiros tratados como cidadãos de segunda classe, mas que eles têm direito a um tratamento especial para vencer a desigualdade. As ações afirmativas ou sistema de cotas é certamente o assunto mais polêmico quando se trata do ingresso de negros no ensino superior no Brasil. O STF julgou a constitucionalidade das cotas aplicadas na Universidade de Brasília desde 2004: 20% das vagas para “negros e pardos”. O partido Democrata (DEM) tinha acusado a medida de ser anticonstitucional.

Outra vez as igrejas evangélicas ficaram de fora de mais uma grande questão do povo negro, omissas e silenciosas. Agindo como na parábola do bom samaritano narrada por Jesus nos evangelhos: passando de largo diante das questões dos negros e das negras.

As organizações ecumênicas Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e Koinonia têm realizado diversas ações referentes às questões dos quilombolas e à intolerância religiosa, mas elas não falam pelas igrejas evangélicas. São vozes proféticas, solidárias e solitárias que são criticadas por essas igrejas por suas ações na questão racial.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Foto: Image by © Bettmann/CORBIS

13 de maio, uma data que nos jogou ao léu

Por mais de três séculos, o negro escravizado impulsionou a economia e serviu de base à pirâmide social brasileira; durante esse período, reações individuais e coletivas – os levantes – representaram a outra face das relações entre senhores e escravos no Brasil. Humilhação ou revolta – a dominação teve limites preciosos durante praticamente todo o período colonial.

Só no final do século XVIII, quando as idéias dos liberais europeus passaram a ser difundidas entre nós, é que se começou efetivamente a considerar a possibilidade da extinção do cativeiro.Tornaram-se comuns as grandes manifestações de rua. Repetiam-se as passeatas e comícios onde a palavra de ordem era a frase de José do Patrocínio: “A propriedade do escravo é um roubo” Finalmente, em 1888, os antiescravistas conquistaram a maioria no Parlamento.

Refletindo a nova correlação de forças, a 7 de maio de 1888 o Congresso aprovava, por imensa maioria, um projeto de lei com o seguinte texto: “Artigo 1 ° . É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Artigo 2° . Revogam-se as disposições em contrário”.

Assinado a 13 de maio pela regente do trono, Princesa Isabel, o projeto transformou-se na Lei Áurea. Entretanto, ao contrário do que se esperava, a abolição não significou a emancipação efetiva da população escravizada.

Sem medidas institucionais que promovessem sua integração à sociedade, os negros foram entregues à própria sorte. Desprotegidos e discriminados, acabaram engrossando os contingentes marginalizados que se aglomeravam na periferia das grandes cidades.

Por  Luiz de Jesus

O ubuntu como cuidado e partilha

Para o ethos do ubuntu, uma pessoa não só é uma pessoa por meio de outras pessoas, mas também por meio de todos os seres do universo. Cuidar “do outro”, portanto, também implica o cuidado para com a natureza (o meio ambiente) e os seres não humanos, afirma o filósofo e psicólogo sul-africano Dirk Louw.

Não apenas ser porque tu és, mas também ser por meio de ti: essa é, em resumo, a ética ubuntu, segundo Dirk Louw, psicólogo e filósofo da África do Sul. Por isso, afirma, “ser humano significa ser por meio de outros”, sejam estes vivos ou mortos, humanos ou não.

Em um sentido mais geral, ubuntu também “significa simplesmente compaixão, calor humano, compreensão, respeito, cuidado, partilha, humanitarismo ou, em uma só palavra, amor”, explica Louw, nesta entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

Por isso, para Louw, os recentes episódios políticos da sociedade sul-africana, como a superação do apartheid, foi primordialmente “o resultado do surgimento de um ethos de solidariedade, um compromisso com a coexistência pacífica entre sul-africanos comuns a despeito de suas diferenças”. 

Louw indica ainda que “o ubuntu é resilientemente religioso”, já que “não só os vivos devem compartilhar e cuidar uns dos outros, mas os vivos e os mortos dependem uns dos outros”. Nesse sentido, afirma, “o conceito africano de comunidade inclui toda a humanidade. Todos nós (isto é, os vivos e os mortos-vivos ou ancestrais) somos família”. E não só: por ter nascido em um pensamento holístico como o africano, o ethos do ubuntu afirma que uma pessoa não só é uma pessoa por meio de outras pessoas, mas também é uma pessoa por meio de todos os seres do universo, incluindo a natureza e os seres não humanos, explica Louw.
Dirk J. Louw é psicólogo clínico da província de Limpopo e ex-professor de filosofia da University of the North, na África do Sul. Estudou na Universidade de Utrecht, na Holanda, na Universidade da África do Sul e na Stellenbosch University, também na África do Sul. É pesquisador da pesquisador da Universidade de Joanesburgo e do Centro de Ética Aplicada da Stellenbosch University e membro do Institute of Transpersonal Psychology. É membro fundador da South African Philosopher Consultants Association, ex-membro do comitê executivo da Sociedade Filosófica da África do Sul e ex-editor do South African Journal of Philosophy. Entre suas publicações, destacamos seu livro Ubuntu and the Challenges of Multiculturalism in Post-apartheid South Africa (Center for Southern Africa, Utrecht University, 2001) e seu artigo Ubuntu: An African Assessment of the Religious Other. 

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que significa ubuntu? Quais são as noções centrais para essa filosofia e estilo de vida?

Dirk Louw – O sentido de ubuntu está resumido no tradicional aforismo africano “umuntu ngumuntu ngabantu” (na versão zulu desse aforismo), que significa: “Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas”, ou “eu sou porque nós somos”. Ser humano significa ser por meio de outros. Qualquer outra forma de ser seria “des-umana” no duplo sentido da palavra, isto é, “não humano” e “desrespeitoso ou até cruel para com os outros”. Essa é, grosso modo, a forma como a ética ubuntu africana descreve e também prescreve o ser humano.
Em um sentido estritamente tradicional ou, se se preferir, religioso, ubuntu significa que só nos tornamos uma pessoa ao ser introduzidos ou iniciados em uma tribo ou em um clã específicos. Nesse sentido, “tornar-se uma pessoa por meio de outras pessoas” implica em passar por vários estágios, cerimônias e rituais de iniciação prescritos pela comunidade.
Entretanto, em um sentido comum ou, se se preferir, secular, ubuntu significa simplesmente compaixão, calor humano, compreensão, respeito, cuidado, partilha, humanitarismo ou, em uma só palavra, amor.

IHU On-Line – Como o ubuntu se relaciona com a história e a cultura africanas? Quais são as suas fontes?

Dirk Louw – As questões referentes às fontes do ubuntu e à sua relação com a história e a cultura africanas são controversas. Alguns pesquisadores sustentam que o ubuntu tem sido comunicado por meio de histórias de geração a geração desde tempos imemoriais, e que as articulações africanas dos valores do cuidado e da partilha são muito mais antigas do que suas articulações ocidentais – ou até que as articulações ocidentais têm suas raízes nas articulações africanas. Outros pesquisadores parecem sugerir que o ubuntu não passa de uma cortina de fumaça autofabricada para as atrocidades cometidas por africanos no passado e no presente.
 Então, o ubuntu existe? Os africanos de fato seguem o ubuntu? Essa pergunta merece mais atenção do que é possível aqui. Entretanto, ao menos quatro observações parecem apropriadas. Em primeiro lugar, afirmar que o ubuntu existe não significa necessariamente sustentar que a compaixão que ele expressa prevalece ou prevaleceu sempre e em toda parte nas sociedades africanas. É claro que não prevaleceu nem prevalece. Contudo, depois que se conseguir olhar para além das manchetes populares, podem-se detectar os mais anônimos atos de compaixão entre os africanos. Para citar apenas um exemplo: a transição relativamente não violenta da sociedade sul-africana, que passou de um Estado totalitário para uma democracia multipartidária, não foi meramente o resultado das negociações transigentes de políticos. Ela foi também – e talvez primordialmente – o resultado do surgimento de um ethos de solidariedade, um compromisso com a coexistência pacífica entre sul-africanos comuns a despeito de suas diferenças. 
Em segundo lugar, embora talvez se duvide da existência do ubuntu como uma realidade plenamente vivida, dificilmente se pode negar a sua existência como um conceito, narrativa ou mito proeminente na África e certamente no sul da África. Chamar a ética ubuntu de “mito” não significa negar sua “verdade factual” – embora o termo seja muitas vezes usado neste sentido. A palavra “mito”, da forma como é usada aqui, descreve a ética ubuntu como uma história duradoura que – independentemente de sua “verdade factual” – inspira moralmente e revela o sentido (isto é, a relevância ou importância) da vida para as pessoas que participam dela, ou seja, que contribuem para contá-la e recontá-la. 

Em terceiro lugar (ou formulando as duas primeiras observações de forma diferente), antes de começar a negar ou afirmar a existência de algo, seria de bom alvitre se envolver em análises conceituais relevantes. O que exatamente está sendo negado ou reafirmado? Neste caso: o que exatamente se quer dizer com “ubuntu” ou “existe”? Finalmente, mesmo afirmando a existência do ubuntu, deve-se cuidar para não exagerar a influência normativa da ética africana tradicional nas comunidades africanas.

IHU On-Line – Qual a relação entre o ubuntu e a religião? Como a ética ubuntu pode ajudar a melhor desenvolver um verdadeiro diálogo inter-religioso?

Dirk Louw – O ubuntu é resilientemente religioso. Para um ocidental, a máxima “Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas” não tem conotações religiosas óbvias. Ele provavelmente a interpretará apenas como um apelo geral para tratar as outras pessoas com respeito e decência.

Na tradição africana, entretanto, essa máxima tem um sentido profundamente religioso. A pessoa que devemos nos tornar “por meio de outras pessoas” é, em última análise, um ancestral. E, da mesma forma, essas “outras pessoas” incluem os ancestrais. Os ancestrais são a família extensa. Morrer é um último voltar para casa. Por conseguinte, não só os vivos devem compartilhar e cuidar uns dos outros, mas os vivos e os mortos dependem uns dos outros. 

A ética ubuntu ajuda a melhor desenvolver um diálogo inter-religioso verdadeiro condensando precondições vitais para esse diálogo. Essas precondições incluem um respeito pela religiosidade, individualidade, particularidade e historicidade ou natureza processual dos outros, assim como a valorização do consenso ou do acordo.

IHU On-Line – O que o ethos do ubuntu tem a ensinar às outras tradições, culturas e religiões não africanas? Que aspectos o ubuntu pode ajudar a aprimorar na ética ocidental?

Dirk Louw – Permita-me reformular ligeiramente essas perguntas: o ethos do ubuntu é unicamente africano? O ubuntu só faz parte da herança cultural africana? Seria etnocêntrico e absurdo sugerir que a ética ubuntu de cuidado e partilha é unicamente africana. Afinal de contas, os valores que o ubuntu procura promover também podem ser identificados em várias filosofias da Eurásia. Isso não significa negar a intensidade com que esses valores são expressos pelos africanos. Mas o mero fato de serem expressos intensamente por africanos não torna, por si só, esses valores exclusivamente africanos.

Entretanto, embora a compaixão, o calor humano, a compreensão, o cuidado, a partilha, o humanitarismo etc. sejam sublinhados por todas as principais cosmovisões, ideologias e religiões do mundo, eu gostaria, no entanto, de sugerir que o ubuntu atua como uma justificação distintivamente africana dessas formas de se relacionar com os outros. O conceito de ubuntu dá um sentido distintivamente africano e uma razão ou motivação distintivamente africanas para uma atitude amorosa para com o outro.

O que, então, o ethos do ubuntu tem a “ensinar” às tradições, culturas e religiões não africanas (incluindo as ocidentais)? Ele pode servir como um importante incentivo para reavaliar o “ser por meio de outros” em tradições, culturas e religiões não africanas, para reenfatizar os imperativos do cuidado e da partilha com os outros.

IHU On-Line – Qual a importância da comunidade e da família para a ética ubuntu?

Dirk Louw – É lógico que a comunidade/família é muito importante para a ética ubuntu. Afinal, o ubuntu significa “ser por meio de outros”. Mas o que exatamente “a comunidade/família” significa nesse contexto? Espera-se que uma ética da compaixão seja inclusiva, e não exclusiva, isto é, que ela inclua, e não exclua; que abra espaço, e não aliene. Mas quão inclusiva é a comunidade que o ubuntu descreve e prescreve? Às vezes, é difícil evitar a impressão de que o ubuntu não pretende ser exatamente uma “lei universal do amor”. Por exemplo: o sentido dos ritos de iniciação em sociedades africanas tradicionais parece implicar que o ubuntu funcionava (e ainda funciona) como uma ética vinculativa exclusivamente dentro dos limites de um clã específico. Essa compreensão exclusiva da comunidade que é o ubuntu combina com o óbvio potencial do ubuntu de desencadear conflitos étnicos. Ela (ou uma versão dela) também parece constituir a base da forma pela qual alguns negros sul-africanos tendem a ver o ubuntu como “a” diferença definitiva entre eles próprios como africanos e os não africanos (incluindo as chamadas “pessoas de cor”, asiáticos e brancos).

Ser membro da comunidade que é o ubuntu não parece, portanto, ser fácil para os não africanos ou, ao menos, para os africanos não negros. Os defensores do ubuntu parecem estar divididos no tocante a isso. Em termos gerais, todos eles enfatizam sua inclusividade. Entretanto, alguns proponentes do ubuntu dão a impressão de que, embora a comunidade que é o ubuntu transcenda os limites de um clã específico, ela só inclui aqueles cujas origens estão na África. Outros salientam que a comunidade que é o ubuntu também inclui “estranhos”, isto é, pessoas que não estão relacionadas por sangue, parentesco ou casamento. Por fim, para alguns autores, o conceito africano de comunidade, em seu mais pleno sentido, inclui toda a humanidade. Todos nós (isto é, os vivos e os mortos-vivos ou ancestrais) somos família – ninguém está excluído.

IHU On-Line – O senhor afirma que “a ênfase do ubuntu sobre o respeito pela particularidade é vital para a sobrevivência da África do Sul pós-apartheid”. Nesse sentido, que aspectos o ubuntu ajudou a forjar na sociedade e política sul-africanas? O que poderia ser ainda aprimorado?

Dirk Louw – O desafio da sociedade e da política da África do Sul é o desafio de afirmar a unidade ao mesmo tempo em que valoriza a diversidade, isto é, de forjar a unidade na diversidade e, igualmente, a diversidade na unidade. O ubuntu ajudou a forjar a unidade na diversidade por meio de sua ênfase na comunidade, expressada por palavras como simunye (“nós somos um”, isto é, “unidade é força”) e slogans como “um dano causado a um é um dano causado a todos”.
Ele também forjou a diversidade na unidade através de reavaliações criativas desse conceito, que acentuam a importância da alteridade no ethos do ubuntu. Essas reavaliações operam com conceitos de consenso ou de solidariedade que condizem com um regime democrático em comunidades políticas africanas. Talvez seja necessário trabalhar mais nesse sentido. Uma compreensão emancipatória da democracia ubuntu (democracia comunitária) poderá, por exemplo, exigir que os indivíduos recebam tanta oportunidade quanto possível para fazer mudanças e decidir por si mesmos como são governados.

IHU On-Line – O ubuntu também está relacionado ao respeito pela particularidade do outro e ao respeito pela individualidade. Assim, como o ubuntu vê a noção de “outro”? Em um mundo globalizado, o que o ubuntu pode oferecer para que se ultrapassem as diferenças culturais, políticas, econômicas e religiosas entre os povos?

Dirk Louw – É importante que ninguém seja um estranho em termos do suposto alcance da comunidade que é o ubuntu, dado o potencial do ubuntu para degenerar em um comunitarismo totalitário – isto é, dada a sua tendência de excluir, e não de incluir, como se esperaria de uma ética do cuidado e da partilha. Como uma ética excludente, um ubuntu desvirtuado representa a fortificação e a preservação de uma identidade dada por meio da limitação e da segregação. Nos termos dessa ética, o slogan simunye (“nós somos um”) sinaliza, ironicamente, a pureza de classe, cultura ou etnia; racismo e xenofobia – um fenômeno com o qual os (sul) africanos estão por demais familiarizados.
 O verdadeiro ubuntu se opõe a tendências totalitárias levando a pluralidade a sério. Ao mesmo tempo em que constitui o “ser pessoa” por meio de outras pessoas, ele valoriza o fato de que “outras pessoas” sejam assim chamadas, justamente porque, em última análise, nunca podemos “ficar inteiramente na pele delas” ou “enxergar completamente o mundo através de seus olhos”. Portanto, quando o “ubuntuísta” lê “solidariedade” e “consenso”, ele também lê “alteridade”, “autonomia” e “cooperação” (observe: não “cooptação”).

IHU On-Line – Como o ethos do ubuntu compreende a nossa relação com a natureza e a proteção das vidas não humanas?

Dirk Louw – O pensamento africano é holístico. Como tal, ele reconhece a íntima interconectividade e, mais precisamente, a interdependência de tudo. De acordo com o ethos do ubuntu, uma pessoa não só é uma pessoa por meio de outras pessoas (isto é, da comunidade em sentido abrangente: os demais seres humanos assim como os ancestrais), mas uma pessoa é uma pessoa por meio de todos os seres do universo, incluindo a natureza e os seres não humanos. Cuidar “do outro” (e, com isso, de si mesmo), portanto, também implica o cuidado para com a natureza (o meio ambiente) e os seres não humanos.

Por Moisés Sbardelotto | Tradução Luís Marcos Sander

Via Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Imagem: Afrokut


https://afrokut.com.br/blog/o-que-e-ubuntu/

Ubuntu como prática ética da singularidade

As relações entre o “eu” e o “outro”:  o ubuntu como prática ética da singularidade

No ubuntu, fazer justiça a alguém tem a ver com cuidar da sua singularidade como uma pessoa única, explica a filósofa e advogada norte-americana Drucilla Cornell. Por isso, o ubuntu pode ser extremamente útil para as feministas ou demais grupos de direitos humanos

Singularidade e alteridade: entre a relação tensa entre esses dois âmbitos, o ubuntu pode ser um caminho para se entender – e para ser – humano. Para a professora da Rutgers University, dos Estados Unidos, Drucilla Cornell, a ética do ubuntu nos ajuda a perceber que “viemos a um mundo com obrigações para com os outros, e esses outros têm obrigações para conosco”, pois são eles que nos ajudam “a encontrar nosso caminho para nos tornarmos uma pessoa única e singular”.

Por isso, ela descarta qualquer aproximação entre o ubuntu e o conceito de comunitarismo. Diferentemente deste, o ubuntu nos leva a “realizar uma individualidade verdadeira e nos erguer acima de nossa mera distintividade” por meio “do envolvimento e do apoio aos outros”, explica.

Em suma, segundo Drucilla, “o ubuntu está intermitentemente conectado ao porquê e ao como o ser humano é uma prática ética”. Isso se explica pelo fato de que “sempre nascemos com obrigações para com os outros e não podemos escapar delas, assim como elas, por sua vez, têm de ser pessoas éticas na medida em que nos ajudam a formar nosso caminho para nos tornarmos pessoas”.

Drucilla Cornell é professora de Ciências Políticas, Literatura Comparada e Estudos da Mulher da Rutgers University, de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Também é professora visitante das University of Pretoria, na África do Sul, e do Birkbeck College, da Universidade de Londres. Antes de começar sua vida acadêmica, Cornell foi líder sindical e feminista ativa durante muitos anos. Doutorou-se em direito pela University of California, em 1981. Ela também produziu um documentário sobre a ética do ubuntu, intitulado ubuntu Hokae. De 2008 até o final de 2009, Cornell foi professora da cátedra em direito, valores indígenas e jurisprudência da National Research Foundation, na University of Cape Town, na África do Sul. Ela fundou o projeto Ubuntu em 2003 e continua sendo sua codiretora junto com Chuma Himonga, no qual se busca compreender a importância do ubuntu na nova África do Sul e sua possível tradução na lei e no direito. É autora de diversos livros sobre teoria crítica e feminismo, como Feminismo como Crítica da Modernidade (Rosa dos Tempos, 1987), de coautoria de Seyla Benhabib. Destacamos também seu artigo Interpreting ubuntu: Possibilities for Freedom in the New South Africa, escrito com Karin van Marle.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como a senhora interpreta o conceito ubuntu?

Drucilla Cornell – Ubuntu é uma noção fundamentalmente ética do que significa ser um ser humano. Por conseguinte, é um aspecto crucial do que veio a ser conhecido como humanismo africano. É claro que o ubuntu teve certa importância na política sul-africana e foi muitas vezes aplicado como uma ideologia nacionalista africana. Há razões importantes para reconhecer os valores africanos como cruciais para o diálogo da humanidade, já que eles foram excluídos durante muito tempo. Mas o ubuntu, como uma ética em que praticamos o que significa ser humano em nossas atividades cotidianas, não se justifica apenas devido a suas raízes indígenas na África do Sul, mais especificamente nas línguas zulu e xhosa. Por isso, uma ética como o ubuntu será sempre contestada, e é um erro reduzi-la a uma ideologia nacionalista africana.

IHU On-Line – Como um princípio ético, quais são seus pilares fundamentais? Podemos encontrar algumas similaridades com outras escolas de pensamento filosófico?

Drucilla Cornell – Sabe-se que, na tradição xhosa e zulu, quando os bebês nascem, seu cordão umbilical é enterrado, e o local do enterro assinala o início de sua jornada a se tornar uma pessoa. A realização da singularidade como pessoa sempre é um projeto inseparável das obrigações éticas nas quais se participa, de uma forma ou de outra, desde o início da vida. Nós nascemos dentro de uma língua, de um grupo de parentesco, de um orgulho, de uma nação, de uma família. Mas essa inscrição não pode ser simplesmente reduzida a um fato social. Viemos a um mundo com obrigações para com os outros, e esses outros têm obrigações para conosco no sentido de nos ajudar a encontrar nosso caminho para nos tornarmos uma pessoa única e singular.

Seria um equívoco profundo confundir o ubuntu com o conceito anglo-americano de comunitarismo. É só por meio do envolvimento e do apoio aos outros que somos capazes de realizar uma individualidade verdadeira e nos erguer acima de nossa mera distintividade. Poderíamos, portanto, dizer que uma pessoa está eticamente entrelaçada com os outros desde o início. Esse entrelaçamento não constitui quem elas são e quem devem se tornar. Pelo contrário: cada um de nós precisa encontrar uma forma de se tornar uma pessoa singular em relação ao resto. Nessa singularidade, elas se tornam alguém que define suas próprias responsabilidades éticas à medida que vai se tornando uma pessoa. Se, então, uma comunidade está comprometida com a individuação e a realização de um destino único para cada pessoa – muitas vezes dissecada pelo nome, mas não determinada por ele –, então a pessoa tem obrigações para com a comunidade que a apoia, não simplesmente como um dever abstrato correlacionado com direitos, mas é uma forma de participação que permite que uma comunidade busque ser fiel à diferença e à singularidade. Parte dessa diferença é que também somos chamados a fazer a diferença contribuindo para a criação e a manutenção de uma comunidade humana e ética.

IHU On-Line – Para a ética do ubuntu, qual é o significado e a importância da justiça e do direito?

Drucilla Cornell – Obviamente, o ubuntu tem implicações importantes para o significado do direito, da justiça e da reconciliação. Para o grande filósofo africano Kwasi Wiredu , a diferença participativa – em que cada um de nós é diferente – se confunde com o princípio da imparcialidade simpática, em que procuramos imaginar a nós mesmos e aos outros como seres singularmente únicos. A imparcialidade simpática, nesse sentido singular, nos chama não a buscar a semelhança, mas a imaginar os outros em sua diferença com relação a nós. O problema de como desenvolvemos tal ligação com a alteridade – crucial para a justiça e, com efeito, para qualquer sistema jurídico – explica-se em parte porque já estamos tentando desenvolvê-la com os outros e eles são, em um sentido profundo, parte de nós.

Os críticos do ubuntu, incluindo os críticos que confundem o ubuntu com uma modalidade obsoleta de coesão e hierarquia social, cometem o erro de reduzir o ubuntu a uma ontologia ética de um mundo supostamente compartilhado. O que se deixa de perceber nessa crítica é justamente o ativismo inerente à diferença participativa que marca cada um de nós como a nossa própria pessoa. O ubuntu contém claramente um fim aspiracional e ideal – produzir um mundo humano e tornar-se uma pessoa nesse mundo humano para fazer uma diferença nele é algo que não tem fim. Portanto, o ubuntu acarreta um vínculo social, que está sempre sendo remoldado pelas exigências éticas que ele coloca a seus participantes. O ubuntu condensa, em sentido profundo, as obrigações morais dos seres humanos que devem viver juntos, o que constitui a base de qualquer noção do direito que vai além da limitada noção anglo-americana do direito. O ubuntu implica em uma moralização fundamental das relações sociais, e essa moralização é o aspecto imutável do ubuntu, que nos ensina que nunca podemos escapar do mundo ético que compartilhamos. Mas quero mais uma vez deixar claro o que é o ubuntu: não é perdão na acepção cristã; no ubuntu, se um mal foi cometido por alguém na comunidade, então seria necessário que o malfeitor compensasse a pessoa à qual fez o mal. O perdão é um conceito cristão que, às vezes, foi imposto na Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul sobre a noção de ubuntu e não faz justiça a essa noção.

IHU On-Line – Qual é o valor do ser humano e da vida humana para o ubuntu?

Drucilla Cornell – Como vimos, o aspecto aspiracional do ubuntu é de que precisamos nos esforçar juntos para alcançar um bem público em um mundo compartilhado, de modo que possamos sobreviver e florescer, cada um e cada uma de nós em sua singularidade. Mas, ao mesmo tempo, cada um de nós em nossas relações éticas está produzindo o que significa ser um ser humano – um ser humano ético. É a inserção do ubuntu em nossas relações que a torna transformadora em seu cerne, e essa transformação nunca pode ser eliminada da moralização das relações sociais. Teria sido absurdo há 500 anos se o ubuntu tivesse exigido eletricidade, já que nem havia acesso à eletricidade. Agora, entretanto, não é nada absurdo fazer tal proposta, porque a eletricidade é parte integrante da vida humana na sociedade moderna. Por conseguinte, o ubuntu está intermitentemente conectado ao porquê e ao como o ser humano é uma prática ética. O ubuntu tem implicações importantes para a noção do que significa ter uma vida humana: em última análise, que a vida humana deve ser uma vida ética.

Por isso, ele tem certa ressonância com o pensador Immanuel Kant . Para ele, diferentemente de quase todos os outros pensadores do mundo ocidental, a liberdade é inseparável da obrigação. Em Kant, é ao menos uma possibilidade prática que os seres humanos se postulem como autônomos, na medida em que podem formular uma lei entre si mesmos. Assim, podemos, por sua vez, nos representar como livres de nossos desejos cotidianos que nos impulsionam e, com efeito, nos tratam duramente. A relação entre o âmbito da liberdade interior (da moral), e o âmbito da liberdade exterior (do direito ou Recht), tem sido muito debatida na pesquisa sobre Kant. Mas está claro que precisa haver uma ligação entre os dois. Se não houver ligação, não há terreno para a liberdade exterior em que coordenamos mutuamente nossos fins.

É exatamente por isso que o experimento hipotético kantiano na imaginação, em que podemos configurar as condições em que os seres humanos podem aspirar ao grande ideal do Reino dos Fins , desperta a possibilidade de que, como criaturas da razão prática, podemos harmonizar nossos fins, o que nos permite reconciliar a obrigação com a liberdade. Essa reconciliação também é crucial para o ubuntu, o que explica por que Kant continua desempenhando um papel tão importante na herança intelectual do humanismo africano.

IHU On-Line – A partir do ubuntu, como o ser humano pode e deve se relacionar com a natureza? Que tipo de relação deve haver entre os seres humanos e não humanos?

Drucilla Cornell – O ubuntu, assim como expusemos anteriormente, tem a ver primordialmente com uma prática de ser humano que seja ética. Houve, entretanto, uma série de pensadores do ubuntu que tentaram sustentar que essa forma de praticar a humanidade implica efetivamente uma relação muito diferente e não exploradora com a natureza e a proteção da vida dos seres não humanos. É claro que, no humanismo africano, a noção do humano é expandida para incluir quase todo o mundo na comunidade humana.
Dito isso, o ubuntu é uma forma de ser humano que não desperta nenhuma capacidade que nos separe dos animais, mas nos devolve a uma relação mais holística com a natureza. Acredito que o ubuntu pode ser um conceito muito útil para repensar nossas obrigações para com os animais, indo além da noção jurídica de direitos animais.

IHU On-Line – Como o ubuntu pode enriquecer as culturas e a ética das sociedades não africanas?

Drucilla Cornell – Um dos meus alunos de pós-graduação está trabalhando atualmente em uma tese que sustenta que a noção de Amartya Sen , segundo a qual liberdade é desenvolvimento, pode ser melhor concebida através da herança intelectual do humanismo africano. Em seu mais recente livro, The Idea of Justice (Cambridge: Belknap Press/Harvard University Press, 2009), o próprio Sen sustenta que precisamos introduzir ideias de diferentes heranças intelectuais em nossos diálogos sobre a justiça. Mas nem mesmo o melhor diálogo nos levaria necessariamente a um acordo.

Em última análise, o ubuntu nos ajuda a entender por que o conflito é sempre inevitável entre os seres humanos e por que nem mesmo uma ética da solução de conflitos jamais levará necessariamente a um conjunto único de princípios éticos ou a regras jurídicas. 

No direito, o ubuntu sempre desempenhou um papel importante ao nos lembrar que precisamos olhar para o contexto, por exemplo, de por que um determinado indivíduo roubou um carro, ao invés da lei do sentido do roubo de carros. É essa insistência de que olhemos para o conflito e o resolvamos que tornou o ubuntu tão importante em várias áreas de peso do direito constitucional na África do Sul atualmente – incluindo a jurisprudência muito importante que está se desenvolvendo em torno dos direitos sociais e econômicos.

Por isso, em um sentido profundo, o ubuntu tem muito a nos ensinar sobre a cultura e a ética africanas, porque ele nos ajuda a pensar sobre o sentido do desenvolvimento como liberdade, pois entendemos que a liberdade tem um vínculo intrínseco com nossas obrigações para com os outros.

IHU On-Line – De que forma o ubuntu nos ajuda a repensar as questões de gênero ou feministas hoje?

Drucilla Cornell – O ubuntu foi muitas vezes criticado por feministas que sustentam que ele oferece uma ética patriarcal em que as mulheres são necessariamente colocadas abaixo dos homens. Como sustentei, o ubuntu não nos dá uma ontologia social estática. Pelo contrário, ele é uma noção ativa de como nos tornamos humanos em nossa própria prática cotidiana da ética.

Então, o que isso tem a ver com o feminismo? Pense-se, por exemplo, no caso Shilubana , em que uma mulher se tornou chefe. A associação de mulheres da área rural sustentou vigorosamente que o direito consuetudinário vivo da África do Sul, incluindo a ética do ubuntu, sempre permitiu que se desse grande flexibilidade ao que é a resposta certa em uma situação específica, que não pode ser reduzida a uma noção jurídica do que a lei nos diz o que fazer. Assim, no caso de uma mulher da área rural, elas argumentaram que o direito consuetudinário sempre foi flexível e que elas buscavam a justiça para permitir que uma mulher se tornasse chefe. 

Por isso, discordo dos críticos que dizem que o ubuntu implica em uma ontologia social que necessariamente implica em desigualdade de gênero. Essa é uma compreensão equivocada da noção muito ativa do ubuntu como uma virtude ética em que damos vida ao nosso ser humano através de nossas ações para com os outros.

IHU On-Line – Em sua opinião, como o ubuntu pode ser uma alternativa – ou fomentar algumas alternativas – para a modernidade capitalista neoliberal e à cultura ocidental?

Drucilla Cornell – Muitos dos movimentos de base apelam ao ubuntu como uma forma de justificar sua própria militância de base e, de fato, seu apelo a uma ética socialista. Parte da razão pela qual os valores nativos são aplicados é, sem dúvida, por causa do legado colonial da borracha, do apagador. Como observei repetidamente em minhas respostas, essa não é a forma pela qual o ubuntu se justifica. O ubuntu se justifica como uma prática ética universalizável do que significa ser um ser humano, visto que temos sempre, desde o início, obrigações para com os outros e precisamos expandir as necessidades de nossa humanidade tanto quanto possível para incluir todos aqueles que podem estar excluídos do registro da humanidade.

Assim, não surpreende que muitas pessoas relacionem o ubuntu com a noção de Karl Marx  segundo a qual uma sociedade comunista se basearia na ideia “de cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com sua necessidade”. Essa é, com efeito, a ética mais individuada da justiça que se possa imaginar. O ubuntu entende por que essa noção de obrigação e de nossas próprias responsabilidades como pessoas com capacidades não tornaria necessário que tentássemos alcançar o máximo possível por nossa própria conta. Mas, ao invés disso, ele nos leva a criar uma comunidade justa em que possamos viver junto com outras pessoas.

Lembrem-se de que há uma verdade no ubuntu: sempre nascemos com obrigações para com os outros e não podemos escapar delas. Assim como elas, os outros, por sua vez, têm de ser pessoas éticas na medida em que nos ajudam a formar nosso caminho para nos tornarmos pessoas. 

Isso nos leva a um último aspecto de por que o ubuntu é importante para as feministas. Muitas feministas sustentam que existe um conflito, ou ao menos uma tensão, entre a justiça e o cuidado. Mas, no ubuntu, fazer justiça a alguém sempre tem a ver com cuidar da sua singularidade como uma pessoa única. Por isso, o ubuntu pode ser extremamente útil para as feministas que veem isso como uma tensão que não pode ser superada. Em última análise, o ubuntu inspirou muitos movimentos a se chamarem explicitamente de socialistas ou até a praticarem o comunismo vivo ao procurarem corresponder às obrigações cotidianas que todos nós aceitamos se entendemos que as relações sociais mútuas são primordialmente éticas e que isso inclui a nossa noção de eu-econômico, que é completamente incompatível com a visão capitalista de mundo.

Por Moisés Sbardelotto | Tradução Luís Marcos Sander

Via Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Imagem: Afrokut


O que é Ubuntu?