9 negros que dão nome a ruas e avenidas de São Paulo

Preparamos uma lista com 9 negros que dão nome a ruas e avenidas de São Paulo, são brasileiros negros, que marcaram a historia do país. Sabemos que existem outras personalidades negras que dão nome a ruas,  avenidas e monumentos,  essa pequena lista que elaboramos é para ficarmos atentos a nossa historia:

1 – Torres Homem

Filho do padre Apolinário e da negra Maria Patrícia, conhecida como Maria “Você me Mata”, neta da escravizada Eva da Serra de Taubaté, Torres Homem, retratado como um macaco em caricaturas da época. É considerado o negro que conseguiu maior destaque durante o Império. Ele era contra a escravidão, mas escondia seu cabelo com perucas e usava pó de arroz para clarear a pele. Dava muita importância à aparência. Segundo ele, é “preciso não deixar os medíocres e tolos sequer essa superioridade: trajarem bem. As exterioridades têm inquestionável importância.” (Campos, 1954, p.19). Fez parte de sociedades secretas republicanas e mais de uma vez desrespeitou o Império. Apesar disso, recebeu o título de Visconde do Imperador em 1871. Foi deputado geral, presidente do Banco do Brasil, ministro da Fazenda, conselheiro de Estado e senador do Império do Brasil de 1868 a 1869.

2 – Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto, nasceu no Rio de Janeiro, mais conhecido como Lima Barreto, foi um jornalista e escritor que publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta  obra em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX. A maior parte de sua obra foi redescoberta e publicada em livro após sua morte por meio do esforço de Francisco de Assis Barbosa e outros pesquisadores, levando-o a ser considerado um dos mais importantes escritores brasileiros.

3 – Teodoro Sampaio

Nasceu no Engenho Canabrava, pertencente ao visconde de Aramaré, hoje localizado no município baiano de Teodoro Sampaio. Era filho da escravizada Domingas da Paixão do Carmo e do padre Manuel Fernandes Sampaio. Ainda em Santo Amaro estuda as primeiras letras no colégio do professor José Joaquim Passos. É levado pelo pai, em 1864 para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde estuda no Colégio São Salvador e, em seguida, ingressa no curso de Engenharia do Colégio Central. Ao tempo em que estuda leciona nos Colégios São Salvador e Abílio, do também baiano Abílio César Borges (Barão de Macaúbas), sendo ainda contratado como desenhista do Museu Nacional.

Formou-se em 1877, quando finalmente volta a Santo Amaro, na Bahia, onde nasceu. Ali, revê a mãe e os irmãos, e comprando, no ano seguinte, a carta de alforria de seu irmão Martinho, gesto que repete com os irmãos Ezequiel (1882) e Matias (em 1884). Sampaio nunca foi um escravizado. Em 1879 integra a “Comissão Hidráulica”, nomeada pelo imperador Dom Pedro II, sendo o único engenheiro brasileiro entre estadunidenses.

4 – José do Patrocínio

José Carlos do Patrocínio, nasceu em Campos dos Goytacazes, foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros e ex-escravizados. Filho de João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes e orador sacro de reputação na Capela Imperial, com Justina do Espírito Santo, uma jovem escravizada Mina de quinze anos, cedida ao serviço do cônego por D. Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, proprietária da região.

5 – Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no Rio de Janeiro, foi um enxadrista e escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

6 – Luiz Gama

Luís Gonzaga Pinto da Gama, nasceu em Salvador, foi um rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro. Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo escravizado aos 10, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado “o maior abolicionista do Brasil”.

Teve uma vida tão ímpar que é difícil encontrar, entre seus biógrafos, algum que não se torne passional ao retratá-lo — sendo ele próprio também carregado de paixão, emotivo e ainda cativante. A despeito disto o historiador Boris Fausto declarou que era dono de uma “biografia de novela”. Autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro; pautou sua vida na defesa da liberdade e da república, ativo opositor da monarquia, veio a morrer seis anos antes de ver seus sonhos concretizados.

7 – Mário de Andrade

Mario Raul Moraes de Andrade, nasceu em São Paulo, foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta brasileiro. Ele foi um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922. Andrade exerceu uma grande influência na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso—foi um pioneiro do campo da etnomusicologia—sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil.

Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Músico treinado e mais conhecido como poeta e romancista, Andrade esteve pessoalmente envolvido em praticamente todas as disciplinas que estiveram relacionadas com o modernismo em São Paulo, tornando-se o polímata nacional do Brasil.

8 – Cruz e Souza

João da Cruz e Sousa, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, foi um poeta brasileiro. Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi um dos precursores do simbolismo no Brasil. Segundo Antonio Candido, Cruz e Sousa foi o “único escritor eminente de pura raça negra na literatura brasileira, onde são numerosos os mestiços”. Filho dos escravizados alforriados Guilherme da Cruz, mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, João da Cruz desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. A esposa de Guilherme Xavier de Sousa, Dona Clarinda Fagundes Xavier de Sousa, não tinha filhos, e passou a proteger e cuidar da educação de João. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Em 1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor de Laguna por ser negro.

Em 1885, lançou o primeiro livro, Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea. Cinco anos depois foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com diversos jornais. Em fevereiro de 1893, publicou Missal (prosa poética baudelairiana) e em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao simbolismo no Brasil que se estende até 1922. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose, levando-a à loucura.

9 – André Rebouças

André Rebouças, nasceu em Cachoeira, foi um engenheiro, inventor e abolicionista brasileiro. Ele passou seus últimos 6 anos trabalhando pelo desenvolvimento de alguns países africanos. André Rebouças era filho de Antônio Pereira Rebouças e de Carolina Pinto Rebouças. Seu pai, filho de uma escravizada alforriada e de um alfaiate português, era advogado autodidata, deputado e conselheiro de D. Pedro II (1840 – 1889). Dois dos seus seis irmãos, Antônio Pereira Rebouças Filho e José Rebouças, também eram engenheiros. André ganhou fama no Rio de Janeiro, então Capital do Império, ao solucionar o problema de abastecimento de água, trazendo-a de mananciais fora da cidade. Servindo como engenheiro militar na guerra do Paraguai, André Rebouças desenvolveu um torpedo, utilizado com sucesso.

Em 1871, André e seu irmão Antônio, também engenheiro, apresentaram ao Imperador D. Pedro II o projeto da estrada de ferro ligando a cidade de Curitiba ao litoral do Paraná, na cidade de Antonina. Quando da execução do projeto, o trajeto foi alterado para o porto de Paranaguá. Até hoje, essa obra ferroviária se destaca pela ousadia de sua concepção. Ao lado de Machado de Assis, Cruz e Souza, José do Patrocínio, André Rebouças foi um dos representantes da pequena classe média negra em ascensão no Segundo Reinado e uma das vozes mais importantes em prol da abolição da escravatura. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora.

Em 2015, no mês da Consciencia Negra, o coletivo João Silva, grupo formado por publicitários, fez alguns adesivos, que foram colados junto a diversas placas de negros que dão nome a ruas e avenidas, com um pequeno perfil dos homenageados.

Do Afrokut

As fontes da Teologia Negra

Em relação às fontes para a elaboração de uma teologia negra, James Cone não nega as Escrituras e a tradição cristã (ocidental), mas não limita se a elas, além de contextualizá las. Para ele, as fontes da teologia negra devem incluir a história e a cultura dos oprimidos, que, no contexto norte americano, são os negros, indígenas, mestiços e asiáticos. Significativo notar que James Cone não faz menção às mulheres, cuja experiência e condição histórica particular, mais tarde, daria lugar a uma hermenêutica teológica própria, legitimada pelas mesmas premissas, mas desde o corpo e perspectiva da mulher negra.

Ao negar a universalidade da teologia tradicional euro norte americana, como vimos acima, James Cone defende a necessidade de buscar no evangelho respostas a perguntas da realidade concreta em um contexto/comunidade sociopolítico específico. Para isso, as fontes da teologia, necessariamente, deveriam privilegiar a experiência de vida, a história e a cultura dos negros, incluindo a apropriação criativa da tradição cristã nas comunidades negras. A “autoridade orgânica” destas fontes, em relação à realidade para a qual o evangelho era anunciado, as tornam indispensáveis para a TNdL.

Com isso, torna se necessário para o teólogo negro compreender como a comunidade negra relaciona a sua história e a sua cultura com a fé em Jesus Cristo. Para Cone, obviamente, essa relação se dá em uma perspectiva distinta da dos europeus e dos brancos norte americanos. Por isso, a tradição teológica clássica é insuficiente para compreender a religiosidade cristã negra. Cone defende que os métodos de análises devem ser originados a partir das próprias fontes para fazer jus ao pensamento negro. Já notamos aqui que as fontes, imbricadas na história e cultura negra, geram a necessidade de uma epistemologia na perspectiva do negro.

As fontes que James Cone destaca são: os sermões, as orações, cânticos, e elementos da experiência do negro para além da igreja como os contos, músic as seculares e os blues e os relatos pessoais.

1 –  Sermão

Ao tratar sobre o sermão, enquanto um evento litúrgico da Igreja Negra, James Cone alerta para uma distinção entre palavras do texto e a Palavra revelada no texto. “A Palavra é mais do que palavras sobre Deus. A Palavra de Deus é um acontecimento poético, evocação de uma realidade indescritível na vida do povo” (CONE, 1985, p. 27 28). A Palavra é mais sentida do que racionalizada em bases teóricas brancas e acadêmicas acerca do evangelho. O evangelho é correlacionado
com a busca da comunidade negra por liberdade. Portanto, “Se o evangelho significa liberdade, então a liberdade revelada nesse evangelho deve também ser revelada no evento da proclamação” (CONE, 1985, p. 28). Desse modo, a Palavra expressa se no ritmo e nas emoções da linguagem. Para Cone, quando o povo sente e confirma a veracidade da Palavra proclamada no sermão, é um sinal da presença do Espírito no meio do povo, que responde com ressonantes “améns”. O sermão está intimamente ligado com as condições de existência da comunidade negra, “O sermão negro resulta da totalidade da existência do povo sua dor e alegria, aflição e êxtase” (CONE, 1985, p. 28).

2 – Oração

Para James Cone, as orações dos negros não são iguais às dos brancos. Afirma que mesmo em situação de escravidão, sendo obrigado pelo senhor a cultuar o cristianismo, “o escravo transcendia as limitações da servidão e afirmava um sistema de valores religiosos que diferia do de seu senhor” (CONE, 1985, p. 29). Essa distinção evidenciava a afirmação da identidade negra na oração, o que leva James Cone a propor que o teólogo negro deve refletir sobre a Palavra da oração como revelada na afirmação da identidade dos negros. Em uma situação de opressão, a oração do negro revela a afirmação da identidade negra em busca da liberdade de ser o que se é: “Deus é o Espírito de Jesus que guia e move o povo negro em sua luta para ser aquilo que deve ser por criação” (CONE, 1985, p. 30).

3  – Cântico (spirituals e cânticos do evangelho)

Cone aponta que, assim como o sermão e a oração, os spirituals e cânticos do evangelho revelam que a verdade da religião dos negros não se limita à literalidade das palavras. A verdade se revela no modo como a linguagem é expressada, entusiasticamente, apaixonada, com gritos, gemidos, nas cantorias, na entonação e qualidade tonal corretas, onde ambiguamente expressam a dor e a alegria, a existência trágica dos negros e a sua resistência em não aceitar essa trágica condição.

Alguns dos exemplos sugerido s por James Cone aos teólogos negros para terem acesso a essas fontes são: livros que se dedicaram a estudar e compilar sermões, orações e cânticos; o cântico negro na própria igreja negra (o que seria um estudo empírico); gravações de artistas como Mahali a Jackson, James Cleveland, Clara Ward e Paul Robeson, e o álbum (na época recente) “ Amazing Grace ” de Aretha Franklin.

A música “ Amazing Grace ”, cantada por artistas como Aretha Franklin e Mahalia Jackson, é um exemplo de que o que importava para James Cone não era necessariamente a autoria dos cânticos, mas o modo como os negros se apropriavam deles. A citada canção foi originalmente composta por um ex comerciante de escravos. Porém, James Cone percebe a apropriação e ressignificação que os negros dão à canção quando cantada em um contexto de opressão social, política e cultural, fazendo referência à presença de Deus para a superação dessa situação:

(…) quando os filhos e filhas de escravos negros o cantavam, “Maravilhosa Graça” recebia a infusão da fo rça e do significado negros. Para os negros de Bearden, os “perigos, lutas e armadilhas” se referiam à sua luta diária pela sobrevivência, aos altos e baixos da existência negra, e à tentativa de tomar posse de uma melodia de liberdade numa situação extrem a de opressão. “Maravilhosa Graça” foi o milagre da sobrevivência, porque é difícil explicar como nós fizemos, através da escravidão, a reconstrução e a luta contra a opressão no século XX. Os negros de Bearden diziam: “Deve ter sido a graça de Deus!” (CON E, 1985, p. 13).

4 –  A experiência “secular”

Embora já tenhamos citado o sermão, a oração e o cântico como fontes da teologia negra propostas por James Cone, o referido autor não limita as fontes à experiência ligada à Igreja Negra. Cone propõe que as fontes da teologia negra também incluam a experiência negra dita secular. Porém, Cone faz questão de esclarecer que o que em sua teologia negra se entende por secular não significa a distinção ocidental entre o sagrado e o profano, pois, embora essa experiência negra não esteja ligada à Igreja, ao cristianismo e nem se refira a Deus, ela não é necessariamente antirreligiosa ou não religiosa.

Esse lado da experiência dos negros é secular, apenas enquanto é terreno e raramente usa Deus ou o cristianismo como os principais símbolos de suas esperanças e sonhos. É sagrado, porque é formado da mesma comunidade histórica como a experiência da igreja, e representa assim a tentativa do povo de formar a vida e vivê la de acordo com seus sonhos e aspirações (CONE, 1985, p.

Como exemplos dessa experiência “secular”, Cone cita os contos, músicas seculares e os blues e os relatos pessoais, identificando nessas expressões culturais o mesmo tema da sobrevivência e libertação que é encontrada no sermão, oração e cântico, expressando por um lado a libertação de Deus dos injustiçados e por outro lado a transcendência sobre as negações históricas. O autor ainda destaca a literatura negra, particularmente a poesia ligada à Renascença do Harlem (das décadas de 20 e 30) e seus sucessores, destacando poemas de Claude McKay McKay e Amiri Baraka Baraka.

Autores:  Joe Marçal Gonçalves dos Santos Charlisson Silva de Andrade.

Texto extraido do artigo (breve estudo): A TEOLOGIA NEGRA DA LIBERTAÇÃO EM JAMES CONE: ASPECTOS DE SUA HERMENÊUTICA CONTEXTUAL A PARTIR DE “O DEUS DOS OPRIMIDOS” (1975)

3 fatores que contribuiram para o surgimento da teologia negra

Conforme Prof. Cone, houve três fatores principais que são responsáveis pelo surgimento da teologia negra:

  • (1) o movimento dos direitos civis,
  • (2) a publicação do livro de Joseph Washington, Black Religion [A Religião Negra] em 1964 e,
  • (3) o nascimento do movimento “poder negro.”

Agora, vamos considerar estes fatores.

A. O Movimento dos Direitos Civis (nas décadas dos 50 e 60)

 

Este foi um movimento popular dos próprios negros que visou conseguir para si, exclusivamente por meio de métodos não violentos, os plenos direitos do cidadão. A organização principal do movimento foi a “Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor,” que desafiou com êxito muitas das leis que permitiram a discriminação racial. O líder principal foi o pastor negro batista Martin Luther King, Jr., que se tornou o profeta carismático do movimento e a consciência ética da nação no que tange às questões sociais, até que ele foi assassinado em 1968. Todas as pessoas envolvidas no surgimento da teologia negra participaram nas manifestações lideradas por Dr. King. Portanto, diferentemente de virtualmente todos os outros movimentos teológicos na América do Norte e na Europa, este não começou numa faculdade teológica, mas, sim, na rua quando os oprimidos protestavam contra a injustiça racial.

B. O Livro “Religião Negra” de Joseph Washington (1964)

 

O estudioso negro Washington argumentou, no seu livro, que há uma religião negra nos EUA que se distingue do Prostestantismo branco e de todas as outras expressões do Cristianismo. Mas visto que, na opinião dele, esta religião busca somente a liberdade e igualdade neste mundo, Washington concluiu que as congregações negras não são igrejas genuinas, mas meras sociedades religiosas sem teologias cristãs. Ele criticou as “verdadeiras” igrejas brancas por terem excluido estas sociedades negras do verdadeiro Protestantismo. Ora, nenhum teólogo negro podia ignorar esta investida contra a Igreja Negra e a teologia negra foi criada, em parte, para responder a este livro. Os líderes negros queriam corrigir dois mal-entendidos: (1) que a religião negra é não cristã e, por isso, não tem nenhuma teologia cristã, e (2) que o Evangelho Cristão não tem nada a ver com a luta pela justiça na sociedade.

C. O Movimento “Poder Negro”

Na década dos 60, muitos dos líderes negros mais jovens ficaram desiludidos com o “movimento dos direitos civis,” chefiado por Dr. King, concluindo que era impossível mudar a atitude do homem branco. Usando a divisa “poder negro,” ativistas como Stokely Carmichael abandonaram tanto o ideal da integração com os brancos e suas instituições quanto o compromisso de Dr. King com a não-violência. Além do mais, esta nova geração de ativistas desafiaram seus irmãos negros a ganharem o controle político e econômico de suas próprias comunidades e estabelecerem seus próprios valores, tal como a afirmação que “negro é bonito.”

Para a grande surpresa dos cristãos brancos, em 1966 o Comitê Nacional do Clero Negro publicou no New York Times uma declaração, entitulada “O Poder Negro,” em que os pastores negros apoiaram o conceito do “poder negro” como ele foi definido pelos ativistas políticos. O Prof. Cone afirma que este foi “o princípio do desenvolvimento consciente de uma teologia negra em que os ministros negros conscientemente distinguiram seu próprio entendimento do Evangelho de Jesus do Cristianismo branco e o identificaram com as lutas dos pobres negros para a justiça. . . O clero negro denunciou o racismo branco como o anticristo e foi inexorável no seu ataque contra sua presença demoníaca nas denominações eclesiásticas brancas. Foi neste contexto que surgiu a expressão ‘teologia negra.”

Por Filipe Dunaway

Extraido do texto da palestra: “A TEOLOGIA NEGRA: UMA INTRODUÇÃO“. A fonte principal desta palestra é o artigo do teólogo negro norte americano James Cone, “Black Theology,” em The Westminster Dicionary of Christian Theology.

8 pressupostos para construir um corpo de conhecimentos afrocentrados

A compreensão desse paradigma se dá por meio da centralidade e reconhecimento da experiência africana, a fim de reorientar cultural, social e politicamente os africanos e os intelectuais afrocentristas para trabalharem a partir dos seguintes postulados:

1. A humanidade começou na África e todos os subgrupos ou variedades humanas contemporâneos, isto é “raças”, são ramificações da árvore genealógica na África […].

2. Dada a premissa acima, os caucasianos são os descendentes de africanos que migraram para a Europa há cerca de cinquenta mil anos e, com a renovação da Idade do Gelo há quarenta mil anos sofreram alterações fenotípicas que os fizeram perder o pigmento e embranquecer. 

3. A cultura humana, como a própria humanidade, começa na África e atinge seu mais alto estágio, isto é, civilização, primeiro na África.

4. A civilização moderna se origina no nordeste da África, nas terras chamadas Ta-Seti e Kemet, mais tarde denominadas Núbia e Egito, entre aproximadamente seis mil e treze mil anos atrás.

5. O judaísmo e o cristianismo são, ambos, correntes de religiosidade humana que emanam do vale do rio Nilo nos sentidos conceitual, simbólico, de doutrina e de organização.

6. A civilização greco-romana foi um entre muitos subprodutos da civilização do vale do rio Nilo, isto é, do Egito e da Etiópia.

7. A ciência e a tecnologia ocidentais, assim como a religião originaram-se na África.

8. Houve uma série de viagens pré-colombianas da África até as Américas que se iniciaram aproximadamente em 1200 a.C. e continuaram até ao menos 1400.d.C. (FINCH III, 2009, p. 174-75).

Os pensadores afrocêntricos partem dos pressupostos apresentados acima para entender que é perfeitamente possível, e necessário, aos africanos se perceberem como agentes de sua história e a partir de então agir em função de seus próprios interesses, pois está evidente que a história e cultura do continente africano não são dependentes da história da Europa e de sua avaliação sobre a África. O resplandecer do legado africano será efetivo quando formos capazes de construir um corpo de conhecimentos que articule nossas experiências presentes com as das clássicas civilizações do continente.

Texto extraído da dissertação de mestrado de Katiúscia Ribeiro Pontes, intitulada: 

Kemetescolas e arcádeas: a importância da filosofia africana no combate ao racismo epistêmico e a lei 10639/03

Imagem: Afrokut
Título do texto adaptado

Símbolo Ankh

O símbolo Ankh (☥) é um “Metu Neter” (Hieróglifo) Kemético para “vida” ou “sopro da vida”.

Criado por africanos há muito tempo, o Ankh é considerado a primeira, ou original, cruz.  Os ankhs eram tradicionalmente colocados em sarcófagos para garantir a vida após a morte.

Ankh freqüentemente aparece nas obras artísticas do Kemet (Egito Antigo), onde os Neteru e os Netert são retratados com esse Ankh na mão, e muitas vezes em direção às narinas do faraó.

Os Kemitas (egípcios antigos) acreditavam que a jornada terrestre de alguém era apenas parte de uma vida eterna, o Ankh simboliza tanto a existência mortal quanto a vida após a morte.

O Ankh além de lindo traz consigo um significado incrível.

O que é Africologia?

Africologia ou estudos africanos, estudos negros, é o estudo multidisciplinar das histórias, políticas e culturas dos povos africanos e diáspora negra. Seu foco combina a África e a diáspora africana em um conceito de uma “experiência africana” com uma perspectiva pan-africana. Em essência, os estudos africanos e os estudos negros são termos intercambiáveis ​​que enfatizam os estudos negros em um sentido global e comparativo, enquanto os estudos afro-americanos enfatizam a experiência afro-americana. 

Definição de Africologia:

Uma disciplina acadêmica interdisciplinar que estuda a história e a cultura dos povos africanos em todo o mundo.

O impacto da Africologia na Afrocentricidade:

“O impacto mais importante da Afrocentricidade tem sido no campo da Africologia. Como o estudo afrocêntrico de fenômenos africanos, a Africologia assume o papel de uma disciplina para estudos referidos como AfroAmericanos, Africana, ou Estudos Negros. O que a disciplina capta é o fato de que os oprimidos devem resistir a todas as formas de escravização, e os fundadores do Movimento dos Estudos Negros nos anos 1960 foram claros de que o “Establishment” não estava prestes a abandonar sua posição de domínio sem luta, neste caso, uma luta intelectual. Aceitar a definição de africanos como marginais e marginalizados nos processos históricos do mundo, incluindo o mundo africano, é abandonar toda a esperança de reverter a degradação dos oprimidos.” Molefi Kete Asante.

Origem da Africologia:

Os departamentos de estudos africanos (Africana) em muitas das principais universidades surgiram dos programas e departamentos de estudos negros formados no final dos anos 1960 no contexto do Movimento dos Direitos Civis dos Estados Unidos, conforme os programas de estudos negros foram reformados e renomeados como “estudos africanos“, com o objetivo de abranger o continente africano e toda a diáspora africana usando terminologia enraizada na geografia e na história ao invés de raça. O primeiro departamento de estudos “Africana” foi formado após a aquisição de Willard Straight Hall na Cornell University, uma universidade da Ivy League localizada em Ithaca, Nova York .

Objetivo da Africologia:

Africologia examinam pessoas de ascendência africana onde quer que possam ser encontradas – por exemplo, na América Central e do Sul, na Ásia e nas Ilhas do Pacífico. Seus principais meios de organização são raciais e culturais. Muitos dos temas dos estudos de Africana são derivados do posição histórica dos povos africanos em relação às sociedades ocidentais e na dinâmica da escravidão, opressão, colonização, imperialismo, emancipação, autodeterminação, libertação e desenvolvimento socioeconômico e político. 

O objetivo deste campo de estudo interdisciplinar é ajudar os alunos a ampliar seu conhecimento da experiência humana em todo o mundo, apresentando um aspecto dessa experiência – a Experiência Negra – que tem sido tradicionalmente negligenciada ou distorcida por instituições educacionais. Além disso, a Africologia se esforça para apresentar uma perspectiva afro-centrada, incluindo fenômenos relacionados à cultura. 

Do Afrokut

Kemetic Yoga PDF

Kemetic Yoga em PDF, é uma prévia do livro Introdução ao Yoga Kemética, que é parte da “Coleção de Ensinamentos da Sabedoria do Antigo Kemet“. Uma série que reúne diversas instruções e ensinamentos da Ciência Espiritual Kemética, uma filosofia real baseada em princípios organizados, sistemáticos, consistentes e coerentes que estavam por toda a África. O antigo Kemet aprendeu o conhecimento que lhes foi transferido do interior da África e foi porta-voz de toda a espiritualidade africana.

BAIXE O ARQUIVO E FAÇA UMA BOA LEITURA:

Ebook em PDF – Coleção de Ensinamentos da Sabedoria do Antigo Kemet


O ativista da teologia negra Jackson Augusto fala sobre a representação dos evangélicos na imprensa

Como parte dos projetos especiais dos 100 anos da Folha de São Paulo, o articulador social e ativista da teologia negra, Jackson Augusto, fala sobre a representação dos evangélicos na imprensaJackson é criador do perfil @afrocrente, além de integrar a coordenação nacional do Movimento Negro Evangélico.

Nasci numa favela do Recife e a minha iniciação como cidadão foi na igreja. A primeira vez que vi alguém que passou no vestibular foi na igreja. O único lugar em que tive acesso a uma iniciação musical foi na igreja, então comecei a existir na igreja — apesar de ser um lugar atravessado pela questão racial, por preconceitos e tudo o mais.


Minha mãe é sindicalista, e cresci indo para o culto e para as assembleias gerais no sindicato. Não era algo contraditório para mim, ir para a greve e ir para o culto — reivindicar meus direitos e reivindicar minha fé. Minha fé me move para a justiça, a equidade, para desafiar ciclos de violência.


A teologia negra é uma ferramenta política, que nasce para denunciar algo. Preciso falar para outros jovens negros que existem metodologias e pensamentos a partir da fé cristã que nos ajudam a respeitar os direitos humanos, contribuir com a luta antirracista e se posicionar contra o conservadorismo.

Assista ao vídeo, com recursos de acessibilidade, logo abaixo:

Acesse a entrevista completa pelo link: https://www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2021/02/imprensa-ignora-abismos-de-diferencas-entre-evangelicos-diz-ativista.shtml

Afrokut

4 Poses exclusivamente de Yoga Kemética

Posturas e movimentos que são exclusivamente de kemetic Yoga

A Yoga Kemética realiza muitos dos movimentos e posturas, ou asanas, encontradas no Hatha Yoga convencional, porque muitos são vistos nos registros do antigo Kemet e também estão representados entre as práticas das sociedades africanas tradicionais.

Abaixo veremos algumas das posturas e movimentos que são exclusivamente keméticos antigos:

A Pose da Imortalidade

Pose da Imortalidade

Essa postura é um autêntico e original movimento kemético do yoga que não apenas abre os joelhos, tornozelos, quadris e coluna, mas move a energia prânica através dos canais de energia. Com a torção da coluna, você recebe uma massagem suave para seus órgãos!

A Pose de Anpu 

A Pose de Anpu

A pose do guerreiro pacífico ajuda a aumentar a flexibilidade da força, alinha o corpo e direciona a energia para o topo de sua cabeça. Essa postura também representa a submissão ao eu superior e a dissipação dos pensamentos autolimitados.

Pose de Sesh

Pose de Sesh

Esta pose estimula os pontos de reflexologia nos pés que estão ligados ao cérebro, nos dando melhor memória, foco, criatividade e intuição. Os escribas de Kemet ficariam nesta pose durante horas para otimizar as suas habilidades mentais.

A Pose de Maat

Pose de Maat

Uma mulher sentada em uma perna dobrada, com a coluna torcida e os braços estendidos, personifica Maat. Os braços têm asas presas, o que significa a capacidade de curar e o espírito de voar ou subir metaforicamente. Maat usa uma pena na cabeça.

Movimentos Keméticos são feitos lentamente, em comparação com outras formas de yoga.

Por Henani Francisco da Silva

Imagem de ilustração: Dayse Gomis

Informações do livro: Introdução ao Yoga Kemética

 

Do Afrokut

Livro Introdução ao Yoga Kemética

O objetivo deste livro é abrir caminhos para expansão e aprofundamento da Yoga Kemética. Também deseja apresentar a ideia de que, aquilo que foi referido como “IOGA”, era prática no Kemet mais cedo do que em qualquer outro lugar na história da humanidade. Além disso, mostrar que a Yoga Kemética é uma prática de disciplinas mentais, físicas e espirituais, que levam ao autocontrole e à autodescoberta, purificando a mente, o corpo e o espírito, e deve ser considerada uma filosofia de autoconhecimento.

O livro “Introdução ao Yoga Kemética“, foi lançado recentemente pela Rede Afrokut e já se encontra à venda em formatos impresso e digital.
 
LIVRO IMPRESSO – O livro está disponível em formatos impresso, na Loja da Editora Uiclap, clique na imagem abaixo:
 

 
 
E-book ( livro digital) caso queira esse formato, disponível instantaneamente pela Amazon, clique na imagem abaixo:
 
 
 

Leia o Ebook do livro:

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