14 personalidades negras que receberam o Prêmio Direitos Humanos do Governo Brasileiro

Conheça catorze personalidades negras que receberam o Prêmio Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.

O Prêmio Direitos Humanos é a mais alta condecoração do Governo Brasileiro a pessoas e entidades que se destacam na defesa, na promoção e no enfrentamento às violações dos Direitos Humanos. Esses agraciados, negros e negras, são pessoas com destacada atuação na luta antirracista, direitos do povo negro, e na promoção dos Direitos Humanos no Brasil.

O prêmio é uma honraria concedida pelo Governo Federal, desde 1995, a cerimônia de entrega do Prêmio acontece tradicionalmente em dezembro, em homenagem às comemorações da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Conheça os negros e negras agraciados do Prêmio Direitos Humanos:

1 – Eunice Aparecida de Jesus Prudente

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos em 2018, na categoria Igualdade Racial.

Eunice Prudente é advogada, com graduação, mestrado e doutorado pela USP. É autora do livro “Preconceito Racial e Igualdade Jurídica”, publicado em 1988 – obra pioneira no Brasil, com a tese pela criminalização da discriminação racial. Foi Secretária da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo (2007).

2 – Sonia Aparecida Dos Santos

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos em 2016, na categoria Igualdade Racial.

Ativista na luta contra o racismo, a militante integra o Movimento Negro UnificadoMNU, atuando na garantia dos direitos dos afro-brasileiros. Entre as ações desenvolvidas por ela, constam o enfrentamento ao genocídio da juventude negra, condições dignas à população da periferia e defesa das mulheres negras.

3 – Silvana do Amaral Verissimo

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos em 2015, na categoria Igualdade Racial.

Silvana atua em prol da mulher negra e do combate ao racismo, hoje ocupa várias atividades e posições nesse contexto, é membro do Comitê de Articulação e Monitoramento do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM; do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, representando a mulher negra; e do Fórum Nacional de Mulheres Negras.

4 – Mário Lucio Duarte Costa

Goleiro Aranha; Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2014, na categoria Igualdade Racial.

O Aranha, atuava como goleiro no Santos, foi um dos homenagedos em 2014. Ele foi premiado na categoria Igualdade Racial, por ter protagonizado uma forte cena de racismo. Em um jogo no Rio Grande do Sul, ele foi xingado por uma torcedora do Grêmio de macaco.

5 – Creuza Maria Oliveira

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial em 2011.

Em 1983, Creuza  ingressou na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas. Participou da fundação da Associação Profissional das Domésticas, em 1986, e foi umas das criadoras do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia, em 1990. Atualmente, exerce a função de presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, além de ser membro do Conselho Nacional da Promoção da Igualdade.

6 – Beatriz Moreira CostaMãe Beata

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial em 2010.

Mãe Beata foi escolhida para receber o Prêmio de Direitos Humanos 2010 do Programa Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República na Categoria Igualdade Racial.  A cerimônia de entrega do Prêmio aconteceu no dia 13 de Dezembro de 2010 em Brasília e contou com a presença do então presidente Lula. 

Mãe Beata de Iemanjá,  foi uma mãe-de-santo, escritora e artesã brasileira, que desenvolveu trabalhos relacionados à defesa e preservação do meio ambiente, aos direitos humanos, à educação, saúde, combate ao sexismo e ao racismo.

7 – Abdias Nascimento

Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2009, na categoria Igualdade Racial.

Abdias do Nascimento foi ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras.

Considerado um dos maiores expoentes da cultura negra e dos direitos humanos no Brasil e no mundo. Fundou entidades pioneiras como o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Foi um idealizador do Memorial Zumbi e do Movimento Negro Unificado (MNU) e atuou em movimentos nacionais e internacionais como a Frente Negra Brasileira, a Negritude e o Pan-Africanismo.

8 – Aurelielza Nascimento Santos

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial em 2008.

Licenciada em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia no Departamento de Ciências HumanasCampus-V.  Foi Coordenadora da Executiva Baiana dos Estudantes de Geografia (CEBEGEO), Coordenadora do Centro Acadêmico de Geografia (CAGEO) da UNEB-Campus V e Diretora de Promoção da Igualdade Racial no município de Amélia Rodrigues – BA. Especialista em Educação à Distância pela UNEB e mestranda em Educação e Contemporaneidade pela UNEB – Campus I.

9 – Milton Santos (post mortem)

Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2007, na categoria Igualdade Racial.

O geógrafo, doutor e autor de 40 livros, recebeu homenagem póstuma. Milton Santos, foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. Também se destacou por seus trabalhos sobre a globalização nos anos 1990. A obra de Milton Santos caracterizou-se por apresentar um posicionamento crítico ao sistema capitalista, e seus pressupostos teóricos dominantes na geografia de seu tempo.  Ele também ganhou o Prêmio Vautrin Lud, em 1994, o de maior prestígio na área da geografia. O prêmio é considerado “o Nobel da Geografia”.

 

10 – Mãe Hilda Jitolu

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Personalidades em 2005.

Liderança de um dos terreiros mais tradicionais da cidade de Salvador, Mãe Hilda Jitolu foi um símbolo de resistência das religiões de matriz africana, que têm sofrido agressões vitais nos últimos anos no Brasil. 

Hilda Dias dos Santos, mais conhecida como Mãe Hilda Jitolú ou simplesmente Mãe Hilda, foi uma Ialorixá do candomblé Jeje, que tinha por ori a Obaluaiê, e ainda educadora e defensora da identidade afro-descendente, uma das mentoras do Ilê Aiyê.

11 – Maria José de Jesus Alves Cordeiro

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Ações Afirmativas em 2004.

A Professora Maria José de Jesus Alves Cordeiro, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero, Raça e Etnia (GEPEGRE/CNPq/UEMS); coordenadora do Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação, Gênero, Raça e Etnia (CEPEGRE/UEMS); e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas de Educação Superior/Mariluce Bittar  (GEPPES/MB). Coordenadora de subprojeto PIBID/Pedagogia. Membro do Coletivo de Mulheres Negras ‘Raimunda Luzia de Brito’ (CMNEGRAS/MS). Pesquisadora filiada a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).Integrante do GT 21- Educação e Relações Étnico-Racias da ANPED e pesquisadora da Rede Universitas/Br.

12 – Ivete Alves do Sacramento

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Ações Afirmativas em 2003.

Ivete Sacramento foi reitora da UNEB, no período de 1998 a 2006. Em 2002 ela surpreendeu o país a implantar as cotas para estudantes negros na universidade, dando início a uma polêmica e disputas juridicas em todo o país, que perdurou até este ano, com a constitucionalidade das cotas reconhecida por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A atuação da ex-reitora em defesa da democratrização do ensino superior foi reconhecido no Brasil e no exterior. São mais de 30 prêmios e condecorações, como o Prêmio Cláudia 2007, na categoria políticas públicas; a Medalha 2 de Julho, concedida pelo Governo da Bahia, a Medalha Tomé de Souza, da Câmara de Salvador e o Prêmio Direitos Humanos 2003, da Presidência da República.

13 – Maria da Fé da Silva Viana

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Livre em 2001.

Maria da Fé da Silva Viana (Fezinha), teóloga de formação, educadora, ativista do movimento negro, coordenadora da Pastoral de Combate ao Racismo da Igreja Metodista e do Fórum Permanente de Mulheres Negras Cristãs. Vice-presidente do COMIRA (Conselho Municipal pela Igualdade Racial). Empenhada na busca de uma sociedade mais justa e fraterna.  Membro da Igreja Metodista de Fonte Carioca.

14 – Hernani Francisco da Silva

Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2000, na categoria Livre.

Hernani recebeu o prêmio na categoria livre, pelo movimento, criado em 1988, para engajar jovens na luta contra o racismo; em 1991, fundou a Sociedade Cultural Missões Quilombo para modificar a visão equivocada e preconceituosa que as igrejas evangélicas têm da cultura negra

Hernani é fundador e editor da Rede Afrokut, uma plataforma voltada para a produção de conteúdo, com uma nova abordagem na superação do racismo, focada em uma mudança interior (autoconhecimento), com uma visão holística.

Do Afrokut


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Grupo de Estudos de Intelectuais Negras e Negros do Neabi/UFS

 
Na próxima quarta-feira (24/11), o Grupo de Estudos de Intelectuais Negras/Negros do Neabi/UFS iniciará um novo módulo de estudos, dessa vez se debruçando sobre a Teologia Negra de James Cone (1938-2018). A intenção é ler e discutir, sempre de forma coletiva, os livros “Teologia Negra” (1970) e “O Deus dos Oprimidos (1975).
 
Para abrir a programação, Leno de Andrade dará sua  contribuição abordando a constituição histórica e hermenêutica da Teologia Negra nos Estados Unidos, com intuito de evidenciar o contexto histórico, social, político e teológico, do qual a Teologia Negra emerge, os seus primeiros desdobramentos e o papel que o jovem James Cone assume nesse processo.
 
Se a linguagem teológica se baseia nas tradições do Antigo Testamento, então deve considerar o testemunho unânime dessas tradições sobre o compromisso de Iahweh com a justiça a favor dos pobres e dos fracos. Concordemente, não pode evitar de tomar partido em política, e o partido que a teologia deve tomar é revelado pelo partido que Iahweh já tomou. Qualquer outro partido, seja com os opressores ou com a neutralidade (que não é nada senão uma identificação camuflada com os que dominam), não é bíblico. Se a teologia não ficar ao lado dos pobres, então ela não pode falar por Iahweh, que é o Deus dos pobres”. James ConeO Deus dos Oprimidos (1975).
O encontro será via Google meet, a partir das 17h.  Mais informações:
 
 
 

O racismo religioso se apropriou até mesmo da bíblia para atacar tudo que vem da África

Interpretações racistas da Bíblia foram base para a escravidão e sustentam o racismo e a intolerância religiosa ainda hoje

Uma parte da história dos irmãos Caim e Abel é muito conhecida: o primeiro matou o segundo por inveja. Mas ela tem outras camadas. Uma delas foi alvo de uma interpretação teológica racista que serviu de base para a escravidão e ainda hoje sustenta o racismo e a intolerância religiosa. Quando Caim assassinou seu irmão, ele recebeu de Deus um sinal. A Bíblia não descreve esse sinal, mas não vacila quanto ao seu objetivo: proteger Caim.

“O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que o achasse.” (Gênesis 4.15). É o que diz o trecho. Ainda assim, entre os séculos XV e XVI, teólogos racistas elaboraram um discurso que apontava a marca como negra e sendo um sinal do pecado; que Deus havia tornado Caim um homem negro como punição.

 É nossa tarefa usar a mesma Bíblia para denunciar esses crimes, esse pecado

Segundo Ras André Guimarães, educador popular e pastor da Igreja Metodista Filadélfia, essa não é a única passagem bíblica que foi distorcida nesse sentido. Em um episódio de embriaguez de Noé, Cam, seu filho, o vê deitado nu em uma rede. Ao se deparar com a cena, ele a relata a seus irmãos, o que foi considerado um desrespeito. Quando Noé toma conhecimento do ato de seu filho, ele amaldiçoa seu neto Canaã, filho de Cam.

Noé diz que Canaã seria escravo de seus irmãos. E aí se construiu um discurso de que Canaã seria a África, logo todos os africanos seriam escravos desses irmãos. Então, tanto a maldição de Caim quanto a de Canaã são utilizadas para justificar a escravidão. E aí a gente vai ver todo um processo de ocupação de territórios da América com esse tipo de discurso de que o negro é fruto do pecado.”, explica Ras André.

Segundo o pastor metodista, a insinuação é de que existe uma ordem divina que justifica a exploração desse povo.

E aí qual o grande problema: a mentalidade religiosa, tanto do protestantismo, quanto do catolicismo, vai absorver esse imaginário, essa perspectiva racista, para justificar seu distanciamento com os pretos, descendentes de africanos. A leitura bíblica construída daí pra frente é toda de negação da figura negra”, complementa.

Nessa perspectiva, ele também acrescenta que a igreja cristã não rompeu com essa matriz escravagista.

Quando ela se depara com um país de maioria negra e essa maioria tá numa situação de sofrimento, não há resposta pra essa dor e sofrimento por parte dessas igrejas. Quem vai chorar pelos meninos mortos com 111 tiros? Pelos rapazes presos e torturados no supermercado? Há o imaginário de que aquilo é o destino, permissão de Deus”.

Para ele, todos os textos da Bíblia podem ser usados para combater o racismo:

O texto bíblico precisa ser lido com o viés das práticas de justiça, da mudança que Jesus trouxe. Salvação é as pessoas se livrarem desse inferno, do racismo, da intolerância religiosa. Quem são os samaritanos do tempo presente? São os povos subalternizados de hoje. Estão nas comunidades empobrecidas, na população indígena, nos terreiros de Candomblé.”.

Se uma igreja se coloca como cristã – que tem como sua base a vida, o testemunho, a luta e o serviço de Jesus Cristo – não há como separar o seu papel da luta antirracista. Se não há abraço, acolhimento, se uma criança sofre bullying por ser do Candomblé, a tarefa da igreja é denunciar. Conversar com os/as fiéis, apresentar textos que provocam o senso por justiça. Ouvir os relatos de quem sofre com a intolerância religiosa. Acho que essa é a nossa maior tarefa.”.

E todo esse racismo se estende ao campo religioso.

Em pleno século 21, espaços são depredados, pessoas são impedidas de trabalhar com suas indumentárias, deixam de conseguir um emprego. Tudo por conta de uma mentalidade que foi construída lá atrás, por alguém que usou a Bíblia para dizer que tudo que vinha da África era maldito. É nossa tarefa usar a mesma Bíblia para denunciar esses crimes, esse pecado.”, afirma o pastor.

A intolerância contra as religiões de matriz africana

Iyá Márcia destaca a importância do diálogo inter-religioso na luta contra a intolerância. Ela cresceu vendo sua mãe pedir e dar a benção a pastores/as, reverendas/os, padres.

Eu a questionava, falava que aquelas pessoas não eram do Candomblé e ela respondia que a gente pode tomar a benção de qualquer pessoa. ‘É muito bom ouvir um ‘Jeová lhe abençoe’, ‘Deus te abençoe’, dizia. O diálogo inter-religioso é promotor da paz.”.

O racismo religioso, dentre tantas formas de ataque, traz consigo a demonização das divindades da África. Diz que são “do mal”, mas é algo tão enraizado que as pessoas nem mesmo sabem dizer o porquê de pensarem assim. Foi naturalizado no imaginário social. E é preciso se refletir: religiões como o budismo ou o espiritismo não sofrem ataques como as religiões de matriz africanas. Por vezes, são até romantizadas.

Iyá Márcia de Ogum, ialorixá criada no Candomblé, ironiza a demonização feita por cristãos/as contra as religiões de matriz africana. Ela afirma que os povos de terreiro são acusados de cultuarem o diabo, mas o diabo sequer existe na sua cultura.

Diabo é uma nomenclatura das religiões cristãs. No Candomblé, existe o culto à ancestralidade e aos Orixás – Ogum, Oxum, Oyá, Iroko, logun edé.”.

Como exemplo escancarado de racismo, ela cita o caso da mãe que perdeu a guarda da filha após a jovem passar por rituais de iniciação no Candomblé, em São Paulo.

Só aconteceu porque se tratava do Candomblé. Com qualquer outra religião não haveria essa postura. A gente cresce ouvindo que a Justiça deve ser imparcial, mas a nossa termina sendo tendenciosa quando deixa de ouvir uma mãe para ouvir terceiros/as.”.

Ela também denuncia as estruturas negligentes do Estado para tratar do assunto.

Infelizmente nós não temos delegacias especializadas para receber as denúncias de racismo religioso e tomar as providências cabíveis contra os criminosos no nosso país. Muitas vezes, o/a criminoso/o não é chamado/a para ser ouvido/a no caso. Só se for um flagrante, como aconteceu uma vez com o busto de Mãe Gilda.”.

O busto de mãe Gilda, localizado no parque metropolitano do Abaeté, em Salvador, já foi alvo do racismo religioso na forma da depredação por duas vezes – em 2016, sendo reformado no mesmo ano, e em 2020, à luz do dia e em plena pandemia. No caso mais recente, o agressor disse que atacou a imagem da Mãe de Santo “a mando de Deus”. À época, a ialorixá Jaciara dos Santos, filha de Mãe Gilda, questionou: “que Deus é esse?”.

A CESE na luta e prática antirracista

A CESE entende o racismo como gerador de injustiças contra pessoas negras e sempre apoiou movimentos, organizações e grupos deste segmento. Nos últimos 15 anos, foram cerca de 660 projetos apoiados no campo da luta antirracista, beneficiando 314 mil pessoas com um investimento de 5 milhões de reais. Neste Dia da Consciência Negraa CESE reafirma a sua Política Institucional de Equidade Racial, na qual estão definidas estratégias para a superação do racismo no âmbito da gestão e ação institucionais.

Helivete Ribeiro,  pastora da Aliança de Batista do Brasil e presidenta da CESE, destaca que, como mulher negra evangélica, sabe que o racismo presente na sociedade tem reflexo nas comunidades de fé.

Poucas mulheres negras são pastoras, diaconizas ou seminaristas. Falta representatividade nas igrejas, na história e na tradição cristã, que na maioria das vezes, ainda é apresentada de forma eurocentrada, branca e heteronormativa.”, afirma.

Ela reforça a necessidade de se possibilitar a construção de uma teologia mais inclusiva, incorporando elementos da cultura negra sem demonizá-los, valorizando a identidade negra. 

Como evangélica, entendo que devemos estudar a liturgia universal que aceita todas as pessoas sem discriminação. Não podemos negar que há uma rejeição da herança cultural e religiosa africana que tem levado muitos/as de nós a negar nossa identidade racial para sermos ‘bons e boas cristãs’.’”.

“Como diz Lélia Gonzalez, escritora negra: ‘tonar-se negra é uma conquista’.

Ser mulher negra, pastora evangélica, ativista, divorciada, sim, é uma conquista. Não se trata só de mim. Como presidenta da CESE, me orgulho em fazer parte de uma organização que reconhece a existência dos racismos – institucional, estrutural, ambiental, religioso – na construção histórica do Estado e da sociedade brasileira e atua na defesa e garantia de direitos e tem o compromisso com a luta e a prática antirracista, finaliza a pastora Helivete.

As pastoras Sônia Mota e Bianca Daébs, respectivamente Diretora Executiva e Assessora para Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CESE reafirmam a importância do diálogo entre as religiões para a promoção da paz.

Posturas exclusivistas, verdades absolutas, demonização da religião do outro não contribuem para uma cultura de paz, que é o que, a princípio, as religiões defendem.”, afirmam,

 Fonte:  CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço

O ativismo negro evangélico no Brasil

Muitos de nós já ouvimos algo sobre Martin Luther King Jr. e a participação das black churches na luta pelos direitos civis dos negros nos EUA. Entretanto, quando pensamos na participação política dos evangélicos ou no movimento negro no Brasil, ambos os fenômenos parecem tão distintos como água e óleo.

Haveria fenômeno semelhante no Brasil? Seria possível articular politicamente tais identidades racial e religiosa em nosso contexto, sem prejuízo de alguma delas? As respostas estão indicadas: a expansão demográfica evangélica, a onda de afirmação racial e a crescente mobilização política de minorias e segmentos historicamente discriminados têm seu desaguadouro em um ativismo negro evangélico que, embora tenha berço nos anos 1970, reemergiu publicamente com mais força e visibilidade nos últimos anos. Seus atores, coletivamente organizados, promovem o antirracismo e incidem nas igrejas e na sociedade em geral a partir de suas crenças e valores religiosos.

Para compreensão desses processos, os textos sugeridos a seguir contribuem ao desnaturalizar as identidades racial e religiosa, nos lembrando de que não são entidades fixas, mas sim posições relacionais e situacionais que devem ser consideradas historicamente. Com diferentes abordagens teórico-metodológicas, todos privilegiam os agenciamentos em suas análises e nos previnem de determinismos. Diante disso, o desafio que se abre é compreender tanto o modo como negros e evangélicos se realizam em suas experiências cotidianas, quanto suas operações no expediente das arenas públicas de que participam.

Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil

Ricardo Mariano (Loyola, 1999)

Publicado em 1999, o best-seller da sociologia da religião apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado concluída em 1996. O volume contém uma tipologia do pentecostalismo brasileiro, cuja evolução teria se dado por três “ondas”: a primeira, que data do início do século 20 e inclui denominações como Assembleia de Deus e Congregação Cristã no Brasil; a segunda onda, também chamada “deutero-pentecostal”, marcada pela ênfase na cura divina e pelo uso mais intensivo dos meios de comunicação, sobretudo o rádio; e a terceira onda, a “neopentecostal”, objeto central da pesquisa.

As igrejas neopentecostais, aponta o autor, apresentavam valores e práticas religiosas que, em alguma medida, eram distintivas das demais, como a valorização da teologia da prosperidade; o apelo a noções de “guerra espiritual” e a liberalização de usos e costumes. Na soma, tratava-se do diagnóstico de um processo social específico: o ascetismo contracultural que definiu os evangélicos pentecostais por décadas estava sendo reduzido; o neopentecostalismo era a ponta de lança de uma acomodação sociocultural dos evangélicos, agora cada vez mais “mundanos”.

Para além da radiografia desse segmento religioso e de suas mutações, o texto ilumina a sua expansão demográfica e crescente visibilização ao mostrar que, enquanto cresciam e se tornavam mais visíveis e mais integrados às esferas seculares de ação, os evangélicos também ampliavam sua disponibilidade política e adquiriam maior plasticidade cultural. É um livro incontornável para entender o lastro das subjetividades emergentes desse grupo religioso e como chegamos ao quadro atual em que a identidade evangélica e o ativismo político evangélico tornaram-se tão relevantes.

A queda do profeta negro: o significado ambivalente de raça no pentecostalismo

John Burdick (Comunicações do ISER, 1989)

O antropólogo estadunidense e estudioso brasilianista, John Burdick, certamente foi quem mais contribuiu para os estudos sobre a questão racial no meio evangélico. Suas pesquisas se estenderam dos anos 1980 até a década de 2010 e incluem dados e reflexões sobre a produção musical negra evangélica; as relações raciais em igrejas e o ativismo negro evangélico propriamente dito.

No artigo “A queda do profeta negro”, Burdick apresenta dados etnográficos de pesquisa realizada em uma igreja pentecostal e uma paróquia católica, ambas na Baixada Fluminense (RJ). O autor mostra como, na comunidade evangélica, as tensões raciais eram transfiguradas e expressas simbolicamente em linguagem ritual durante os cultos e reuniões dos fiéis; como carisma e identidade racial se combinavam e como a política eclesiástica, ainda que feita em termos estritamente religiosos, era atravessada pelo fator raça. Seu texto mostra a raça produzindo a religião e não o contrário, como poderíamos supor de imediato.

Why is the Black Evangelical Movement Growing in Brazil?

John Burdick (Journal of Latin American Studies, 2005)

Nesse artigo, Burdick atualiza sua agenda de pesquisa e tenta responder à pergunta: “por que o movimento negro evangélico está crescendo no Brasil?” Sua resposta é a de que o crescimento desse ativismo se deu por fatores internos como a disponibilidade de lideranças e o uso da internet para comunicação e organização coletiva a nível nacional, mas também às favoráveis estruturas de oportunidade política como a crescente problematização pública do racismo – inclusive oficialmente reconhecido pelo Estado brasileiro desde 1995. Além disso, os ativistas negros evangélicos adotavam enquadramentos em que, habilmente, incluíam o racismo sob o guarda-chuva dos “direitos humanos”, contra os quais as resistências seriam menores dentro das igrejas.

Burdick também reitera sua observação já anotada em textos anteriores de que haviam preconceitos por parte de ativistas do movimento negro tradicional contra evangélicos, o que dificultava o diálogo e a colaboração cada vez mais necessária entre os grupos, afinal os evangélicos já somavam quantias consideráveis da população negra brasileira em 2005. O texto também chamou a atenção, com notável intuição, para a presença de lideranças públicas negras evangélicas (Reginaldo Germano, Benedita da Silva, entre outros) e a possibilidade de o movimento negro capitalizar politicamente com o eleitorado evangélico.

What is the Color of the Holy Spirit? Pentecostalism and Black Identity in Brazil

John Burdick (Latin American Research Review, 1999)

Nesse artigo, John Burdick discute as experiências de negros evangélicos e o modo como articulavam marcadores raciais e religiosos no cotidiano. O autor discorda da opinião corrente entre setores do movimento negro de que a religiosidade evangélica seria demasiadamente “assimilacionista” e que, portanto, levaria seus fiéis negros a abandonar sua identidade racial em favor da fé. Com extensa pesquisa de campo e trabalho etnográfico no Rio de Janeiro, Burdick argumenta que a socialização dos negros nas igrejas pentecostais das periferias urbanas os estimulava em sua autoestima e autoaceitação. Os padrões de beleza feminina tal como estabelecidos na sociedade eram relativizados ou subvertidos em função de noções espirituais de beleza, por exemplo, assim como as dinâmicas de contração de namoro e casamento eram menos restritas para as mulheres negras em comparação com os ambientes extra-eclesiais, onde estatisticamente sua preterição era mais frequente.

Junto disso, a produção cultural dos negros nas igrejas por meio da música ou dos carismas religiosos exercidos em suas práticas individuais e comunitárias contrastava com os estigmas de que costumavam ser objetos fora da igreja, seja no trabalho, no espaço doméstico, entre outros. Em resumo, o que o antropólogo demonstra é que, ao contrário do que supunha um senso comum, a experiência racial dos negros evangélicos adquiria novos significados para esses indivíduos a partir de sua fé, de modo que as identidades se interpenetravam em composições complexas. A realização identitária do negro evangélico não estava comprometida.

Controvérsias religiosas e esfera pública: repensando as religiões como discurso

Paula Montero (Religião & Sociedade, 2012)

O artigo marcou uma nova agenda para os estudos do fenômeno religioso no Brasil. Em lugar das pesquisas de viés mais antropológico, preocupadas com os componentes cosmológicos das religiões, e das abordagens sociológicas clássicas às voltas com noções estanques de secularização e modernidade, Montero propõe a abordagem das religiões como discurso. A própria esfera pública não seria mais que um fluxo de interações discursivas, um espaço de visibilidade no qual os atores articulam significados diversos e travam disputas o que, de pronto, exclui abordagens normativas e teleológicas das manifestações públicas da religião e abre espaço para estudos mais fenomenológicos. Para isso uma boa perspectiva seria a das controvérsias públicas – elas seriam momentos/situações de visibilidade pelas quais o investigador pode verificar a produção de legitimidade e de categorias pelos agentes religiosos durante as próprias interações, diga-se, sempre conflituosas. Descrever como a religião é produzida em público tornou-se o programa de pesquisa fundamental para a compreensão dos ativismos político-religiosos no Brasil contemporâneo.


Vítor Queiroz de Medeiros é cientista social e mestrando em sociologia (USP). Pesquisa o ativismo negro evangélico brasileiro e integra o projeto temático “Religião, Direito e Secularismo: a reconfiguração do repertório cívico no Brasil contemporâneo” (Cebrap/Fapesp). Recebeu, em 2021, o  Prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política na categoria “mestrando”.

Este texto faz parte da série de materiais que serão publicados ao longo de 2021, no Nexo Políticas Públicas, pelos vencedores da primeira edição do Prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política.

Fonte: Nexo Políticas Públicas

O que é Humanitude?

A Humanitude é um conceito de natureza antropológica, que nos leva a ver as raízes da nossa condição humana. O conceito de Humanitude foi definido por Albert Jacquard, em 1987, inspirado no conceito de Negritude, de Léopold Senghor. Mais tarde, em 1989, um geriatra francês, Lucien Mias, introduziu pela primeira vez o termo da humanitude nos cuidados da medicina com idosos. Em 1995, Rosette Marescotti e Yves Gineste decide escrever uma nova filosofia de cuidados que eles chamaram de “filosofia da humanitude“, na aplicação aos cuidados de enfermagem.

O conceito de humanitude proposto aqui é uma conexão com a Afro-humanitude através da filosofia Ubuntu para reenfatizar os imperativos do cuidado e da partilha através da humanitude. O Ubuntu é uma filosofia tradicional Africana que nos oferece uma compreensão de nós mesmos em relação com o mundo. De acordo com Ubuntu, existe um elo comum entre todos nós e é através deste vínculo, através de nossa interação com nossos companheiros seres humanos, que descobrimos nossas próprias qualidades humanas. No ensino do Ubuntu uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas.

Adama Samassékou, do Mali, no artigo “Humanitude, ou como saciar a sede por humanidade” aborda esse novo conceito da Humanitude:

Foi com essas considerações em mente que, vários anos atrás, eu sugeri que explorássemos um novo conceito – humanitude – em referência à negritude, um conceito que herdei de meu mentor, o poeta Aimé Césaire, da Martinica.

Utilizo este conceito de humanitude para traduzir o que, na África, nós chamamos de maaya (em bamanankan, a língua bambara), neddaaku (em fulfulde, a língua fula), boroterey (em songai, a língua songai), nite (em wolof) e ubuntu (nas línguas bantu), entre outros. Existem muitos termos que significam, literalmente, “a qualidade de ser humano”.

humanitude é a nossa abertura permanente ao Outro, nossas relações de ser humano para ser humano. Ela determina uma relação permanente de solidariedade, livre de manipulação – um impulso espontâneo de acolher o Outro. Essa humanitude torna possível “conectar humano com humano” – para usar a bela expressão de Césaire – e é a base para uma cultura do “ser”, o oposto de uma cultura totalitária do “ter”, que leva a relações permanentemente conflituosas de aquisição, ou mesmo dominação. Adama Samassékou

Os valores de Ubuntu é numerosos demais para discuti-los todos aqui. No entanto, presumo que a interdependência e comunalismo, fornecer um vislumbre beneficio que podemos trabalhar na Humanitude.

O Sul Africano Nobel da Paz Arcebispo Desmond Tutu descreve Ubuntu como:

É a essência do ser humano. Ela fala do fato de que minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligado na sua. Eu sou humano, porque eu pertenço. Ela fala sobre a totalidade, ela fala sobre a compaixão. Uma pessoa com Ubuntu é acolhedora, hospitaleira e generosa, disposta a compartilhar. Essas pessoas são abertas e disponíveis para os outros, disposto a ser vulnerável, apóiam os outros, não se sentem ameaçados que os outros são bons e capazes, porque eles têm uma boa auto-confiança que vem de saber que eles pertencem a um todo maior. Eles sabem que estão diminuído quando outros são humilhados, diminuído quando outros são oprimidos, diminuído quando outros são tratados como se fossem menos de quem eles são. A qualidade do Ubuntu dá às pessoas resistência, permitindo-lhes sobreviver e emergir ainda ser humano, apesar de todos os esforços para desumanizar-los. 

Interdependência é altamente valorizado na África, tanto quanto é na Ásia. No entanto, no Ocidente, a independência, em vez de interdependência é a norma. Como já vimos a essência do Ubuntu é que um indivíduo deve sua existência à existência dos outros. Esse caráter interpessoal do Ubuntu é a fonte de muitas das suas virtudes distintas, como a paciência, a lealdade de hospitalidade, respeito, convivência, sociabilidade, vitalidade, resistência, simpatia, a obediência, a partilha, entre outros.

Comunalismo é um dos valores fundamentais do Ubuntu. É um valor, segundo a qual o interesse do indivíduo é subordinado ao do grupo. Em outras palavras, o grupo constitui o foco das atividades dos membros individuais da sociedade em geral. Comunalismo insiste que o bem de todos determina o bem de cada um ou, em outras palavras, o bem-estar de cada um depende o bem-estar de todos.

Neste artigo procurei traçar uma pequena introdução do que é Humanitude, e resgatar esse conceito na perspectiva da Afro-humanitude. Portanto, há uma necessidade de compreender, revitalizar e promover as virtudes do Ubuntu na Humanitude. Acredito que a Humanitude tem muito para contribuir com a questão racial no Brasil e no mundo. Entendo que Afro-humanitude contempla a negritude, branquitude, indigenitude, e continuará aberta e disponíveis para outras humanitudes que possa vir. Neste sentido estarei trazendo para Afrokut uma serie de artigos com a temática da Humanitude, Ubuntu, e Afro-humanitude.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Bibliografia e referências:

humanitude, teste, Genebra, Labor et Fides Ed, 1980

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. Soins, corps communication. Les liens

d’humanitude ou l’art d’être ensemble jusqu’au bout de la vie.

http://perso.wanadoo.fr/cec-formation.net/philohumanitude.html. Consultado em 5 de Março, 2007.

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. La philosophie de l’humanitude.

http://perso.orange.fr/cec-formation.net/humanitude1.htm Consultado em 3 de Março, 2007.

ALTUNA, Raul Ruiz de Asúa. Cultura Tradicional Banto. Luanda, Secr.Arquidioc.de Pastoral. 1985. ANSELMO, Antônio Joaquim.

https://pt.unesco.org/courier/julho-setembro-2017/humanitude-ou-como-saciar-sede-humanidade


O que é Ubuntu?


O que é AfroHumanitude?

O que é Indigenitude?

Indigenitude  é uma visão de libertação, resistência e propostas de mudança fundamentada no Sumak Kawsay (traduzido como Bem Viver, na língua quíchua, idioma tradicional dos Andes). Para a bióloga equatoriana Esperanza Martínez, “o bem viver é mais do que viver melhor, ou viver bem: o bem viver é Viver em Plenitude“. O termo utilizado não é “alli kawsay” (alli = bem; Kawsani = viver), mas sim “sumak Kawsay” (sumak = plenitude; kawsani = viver). 

Sumak Kawsay (Viver em Plenitude) é uma filosofia de vida, que se baseia na cosmovisão dos povos indígenas andinos e nos saberes ancestrais em geral, fundamenta-se em, entre outros, nos pilares:

  • Relacionalidade, que se refere à interpretação de haver uma interconexão de todos elementos que juntos compõem um só, o “Todo”;
  • Reciprocidade, entendida como uma relação recíproca e coparticipativa entre os mundos superiores, inferiores e o mundo atual, e entre humanos e natureza;
  • Correspondência, que vê os elementos da realidade se corresponderem de uma maneira harmoniosa, a maneira de proporcionalidade;
  • Complementaridade, que se baseia na ideia de que os opostos podem ser complementares, já que nada é incontornável.

Em Guarani, um conceito semelhante é designado como Teko Porã. A Indigenitude incorpora os valores do Viver em PlenitudeSumak KawsayTeko Porã, e Ubuntu, com valores éticos profundos do COMUM, visando a construção de uma cidadania ativa e solidária.

Assim, Sumak KawsayTeko Porã, e Ubuntu são Humanitude.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut


Indigenitude


O Movimento Negro Evangélico do Brasil anuncia com grande entusiasmo a realização da Conferência Enegrecer, um evento internacional que promete marcar a história da teologia negra. Entre os dias 18…

É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento de Marcos Costa, ocorrido em 14 de março de 2025. Marcos não era apenas um amigo de mais de 20 anos, mas…

O discurso do pastor Cosme Felippsen  é um apelo sincero por inclusividade e compaixão, refletindo o espírito do Carnaval como uma celebração da vida e da comunidade. Cosme Felippsen, integrante do…

A Escalada Fascista, Fundamentalista e Conservadora no Protestantismo Histórico Brasileiro e nos Evangélicos em Geral e a luta do Movimento Negro Evangélico. O cenário religioso brasileiro, marcado pela diversidade e…

Estudos recentes sobre o DNA antigo de 348 indivíduos que viveram na Europa entre 3.000 e 8.000 anos atrás revelaram uma descoberta fascinante: a pele clara, hoje associada aos europeus…

Nas últimas décadas, o Brasil tem observado uma mudança significativa em seu cenário racial. A população que se identifica como negra, composta por pessoas de cor parda e preta, agora…

Personagens negros apresentados nas Escrituras oferecem lições inspiradoras à Igreja Por Marcelo Santos Palavra inspirada e útil para o ensino, como escreveu o apóstolo Paulo a Timóteo (2 Tm 3.16),…

Finalmente, John Burdick afirma que, além da música, há outros locais no protestantismo evangélico que promovem a identidade étnico-racial negra e o antirracismo. Uma sugestão final: como indicado ao longo…

John Burdick discute as limitações e potencialidades da etnografia ativista, sugerindo que a etnografia pode revelar dimensões ocultas e fragmentadas da consciência que podem atrair novos públicos. Contudo, ele questiona…

O estudo de Burdick revela que, apesar das barreiras teológicas, o Movimento Negro Evangélico no Brasil conseguiu articular uma identidade negra orgulhosa e antirracista, utilizando a música como uma ferramenta…

10 sites com conteúdos antirracistas

O desmantelamento do racismo deve ser um processo regular e intencional que ocorre ao longo de nossas vidas. Desaprender o racismo e se tornar anti-racista é um processo contínuo e vitalício. Para apoiá-lo neste trabalho, separamos 10 sites com conteúdos antirracistas:

 CEERT

Criado em 1990, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e DesigualdadesCEERT é uma organização não-governamental que produz conhecimento, desenvolve e executa projetos voltados para a promoção da igualdade de raça e de gênero.

Desenvolve projetos nas áreas de acesso da população negra à Justiça, ao direito de igualdade racial, à liberdade de crença, de implementação de políticas públicas, de educação, saúde e relações de trabalho. Saiba mais

Alma Preta

A Alma Preta é uma agência de jornalismo especializada na temática racial. Com objetivo de construir um novo formato de gestão de processos, pessoas e recursos através do jornalismo qualificado e independente.

No site você encontra reportagens, análises, coberturas de eventos, artigos opinativos e demais conteúdos jornalísticos em formato textual e audiovisual.
Saiba mais

Resistência Afroliterária

O Resistência Afroliterária nasceu com o intuito de ser um espaço de divulgação e exposição de arte negra. No site você encontra análises, resenhas, divulgações, indicações, reflexões e notícias sobre literatura e cultura feita por e para pessoas negras. Saiba mais.

Portal Geledés

O Portal Geledés é a plataforma virtual do Instituto da Mulher Negra – Geledés. Uma organização da sociedade civil, fundada em 30 de abril de 1988, que se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos sociais padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais em função do racismo e do sexismo vigente na sociedade brasileira.

É uma das maiores ONGs de feminismo negro do Brasil com várias campanhas e ações significativas contra o racismo. Seu nome deriva do conceito de gelede, sociedades secretas femininas na cultura Iorubá. Saiba mais

Notícia Preta

O Notícia Preta é um jornal antirracista que acredita na comunicação como uma ferramenta de não reprodução de preconceitos e estereótipos, estigmatizantes ou pejorativos em relação à população negra e periférica na imprensa.

Um jornal antirracista e uma plataforma educativa pois, através da informação, trabalha na mudança de termos e formas comunicacionais historicamente preconceituosas e, que muitas vezes, já estão enraizadas em nossa sociedade. Saiba mais

Coletivo Pico Preto

A Pico Preto, antes chamada de Coletivo Ponto Art, nasceu em 2016 com o propósito de desenvolver ações artísticas afirmativas e evidenciar o protagonismo negro nas produções artístico-cultural da cidade. 

O Coletivo Pico Preto organiza uma série de outros projetos importantes, como a Revista Pico Preto, espetáculos de teatro e encontros de cultura. Saiba mais.

Site Negrê

O Site Negrê tem como princípio um jornalismo ancestral, antirracista e descolonizador. Como primeiro portal de notícias e mídia negra nordestina no Brasil, o Negrê tem como lema unir modos de ver, ser, sentir e escrever sobre questões raciais.

O portal de notícias e mídia preta nordestina amplifica vozes negras e seus múltiplos olhares. Saiba mais.

Revista Afirmativa

A Revista Afirmativa é um veículo multimídia de mídia negra, que rompe com o discurso de pretensa imparcialidade pregado pela grande mídia, tradicionalmente racista, machista e heteronormativa.

A Afirmativa é feita pela Juventude Negra Voz Ativa, construindo mais um horizonte afirmativo para o jornalismo da diversidade e do direito à informação.  Saiba mais

Mundo Negro

O Mundo Negro é um portal de notícias voltado para comunidade negra brasileira e demais etnias que se interessem pelos assuntos relacionados à cultura e ao cotidiano dos negros no Brasil e no mundo.

O Mundo Negro traz notícias recentes, dicas de entretenimento voltadas para o universo negro e matérias sobre arte, cultura e estilo. O site ainda possui uma agenda cultural, dicas sobre carreira e negócios, entre outras editorias. Saiba mais

Portal Correio Nagô

Portal Correio Nagô, um veículo de comunicação do Instituto Mídia Étnica criado em 2008. Uma plataforma digital que tem como objetivo divulgar as ações comunidade negra do Brasil e da diáspora. 

O Correio Nagô é uma das maiores plataformas de conteúdo sobre a comunidade negra brasileira do Brasil, possuindo correspondentes em diversos estados do Brasil e do mundo. Saiba mais

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Zumbi

Tudo começou com um Brás Rocha que atacou Palmares em 1655 e carregou, entre presas adultas, um recém-nascido. Brás o entregou, honestamente, como era do contrato, ao chefe de uma coluna, e este decidiu fazer um presente ao cura de Porto Calvo. Padre Melo achou que devia chamá-lo de Francisco.

Não podia, naquele momento, está visto, adivinhar que se afeiçoaria ao pretinho.

Se pode imaginar que não foi das piores a infância de Francisco. O padre talvez lhe batesse, como mandava a época, mas não lhe faltou alimento e médico. “Quem dá os beijos, dá os peidos”, dizia o povo. Padre Melo achava Francisco inteligentíssimo: resolveu desasná-lo em português, latim e religião. Talvez olhasse com orgulho o moleque passar com o turíbulo, repetir os salmos.

Francisco apreciava, certamente, histórias da Bíblia. Havia esta, por exemplo: Um sacerdote por nome Eli, velho e piedoso, aceitou na sua casa um menino chamado Samuel. Samuel era obediente e esperto. Certa noite, recolhidos os dois, Samuel ouviu que lhe chamavam: “Samuel! Samuel!” Isso foi antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor: ali dormia a Arca de Jeová. Samuel foi até o quarto de Eli: “O senhor me chamou? Estou aqui…” “Não te chamei, filho – respondeu o velho. – Torna a te deitar.” Aconteceu uma segunda vez: alguém, de dentro da noite, chamava o garoto. “Não chamei, meu filho. Torna a te deitar.” Na terceira vez, Eli compreendeu de quem era a voz: “Vai te deitar, e quando te chamarem de novo responde: Fala, porque o teu servo ouve.” Assim fez, e a Voz queria que ele a seguisse; e deixou um recado para o sacerdote: que julgaria a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu.

Francisco se chamava agora Zumbi.

Onde encontrou esse nome? No Congo e em Camarões, o deus principal se chamava Nzambi; em Angola, diziam ser zombi o defunto, e zumbis, no Caribe, são mortos-e-vivos, criaturas sem descanso, mesmo no Além. Mais uma vez, dependeremos dos papéis históricos para algum dia decifrar o mistério do rebatismo de Francisco: do passado distante, ele zomba de nós.

É mais fácil responder a esta pergunta: por que escravos fugidos mudavam de nome?

Para os povos ágrafos, como eram a maioria dos africanos trazidos para cá, e os indígenas, naturais daqui, o nome é uma coisa absolutamente vital. Na Senegâmbia, uma criança só era gente depois que seu pai lhe gritava ao ouvido, no meio do mato, o nome que lhe queria dar. […]

Era, pois, uma violência extra o que faziam os traficantes europeus ao comprarem um negro: lhe davam um nome cristão. Não o faziam por maldade: precisavam esvaziar o africano de sua cultura. […]

O tráfico separava, para sempre, as famílias. […] funcionando como liga entre pessoas desenraizadas tão violentamente. As autoridades proibiam ajuntamentos de pretos da mesma terra; fazendeiros não compravam mais de dois pretos da mesma “raça”: pavor de que voltassem a ser gente.

Numa noite de 1670, ao completar quinze anos, Francisco fugiu.

Francisco, retornando a Palmares, com quinze anos, passou a se chamar Zumbi. E constituiu, livremente, sua família – um pai, irmãos, tias e tios. O principal destes se chamava Ganga Zumba.

Ganga Zumba, que chegou a Palmares no tempo da invasão holandesa, era, ao contrário de Zumbi, um africano alto e musculoso. Tinha, provavelmente, temperamento suave e habilidades artísticas – como, em geral, os nativos de Allada, nação fundada pelo povo ewe na Costa dos Escravos.

Em 1670, quando Zumbi voltou, Palmares eram dezenas de povoados, cobrindo mais de seis mil quilômetros quadrados. Trezentos anos depois, nomes sonoros saltam dos papéis históricos: Macaco, na Serra da Barriga (oito mil moradores); Amaro, perto de Serinhaém (cinco mil moradores); Subupira, nas fraldas da Serra da Juçara; Osenga, próximo do Macaco; aquele que mais tarde se chamou Zumbi, nas cercanias de Porto Calvo; Aqualtene, idem; Acotirene, ao norte de Zumbi (parece ter havido dois Acotirenes); Tabocas; Dambrabanga; Andalaquituche, na Serra do Cafuxi; Alto Magano e Curiva, cerca da atual cidade pernambucana de Garanhuns. Gongoro, Cucaú, Pedro Capacaça, Guiloange, Una, Catingas, Engana-Colomim… Quase trinta mil viventes, no total.

Trechos da biografia de Zumbi dos Palmares – por Joel Rufino dos Santos, escritor, historiador e professor de pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ e diretor de Comunicação do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em seus livros para crianças e adolescentes, mais do que contar histórias, coloca questões pertinentes, para uma releitura crítica da nossa cultura popular, especialmente a negra e ameríndia. Em Zumbi, o autor narra de forma comovente e analítica a biografia do líder negro, a criação, a resistência e a destruição do quilombo de Palmares.

O amanhã não está à venda

As reflexões de um de nossos maiores pensadores indígenas sobre a pandemia que parou o mundo.

Há vários séculos que os povos indígenas do Brasil enfrentam bravamente ameaças que podem levá-los à aniquilação total e, diante de condições extremamente adversas, reinventam seu cotidiano e suas comunidades. Quando a pandemia da Covid-19 obriga o mundo a reconsiderar seu estilo de vida, o pensamento de Ailton Krenak emerge com lucidez e pertinência ainda mais impactantes. 

Em páginas de impressionante força e beleza, Krenak questiona a ideia de “volta à normalidade“, uma “normalidade” em que a humanidade quer se divorciar da natureza, devastar o planeta e cavar um fosso gigantesco de desigualdade entre povos e sociedades. Depois da terrível experiência pela qual o mundo está passando, será preciso trabalhar para que haja mudanças profundas e significativas no modo como vivemos. 

“Tem muita gente que suspendeu projetos e atividades. As pessoas acham que basta mudar o calendário. Quem está apenas adiando compromisso, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo no passado […]. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã.” 

A vida não é útil

Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada “civilização”:

consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.

Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo:

a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global.

Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca:

“Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, “civilizar-se” não é um destino. Sua crítica se dirige aos “consumidores do planeta”, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia.
Se, em meio à terrível pandemia de covid-19, sentimos que perdemos o chão sob nossos pés, as palavras de Krenak despontam como os “paraquedas coloridos” descritos em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, que já vendeu mais de 50 mil cópias no Brasil e está sendo traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão.

A vida não é útil reúne cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020.

Pesquisa e organização de Rita Carelli.