O ativismo negro evangélico no Brasil

Muitos de nós já ouvimos algo sobre Martin Luther King Jr. e a participação das black churches na luta pelos direitos civis dos negros nos EUA. Entretanto, quando pensamos na participação política dos evangélicos ou no movimento negro no Brasil, ambos os fenômenos parecem tão distintos como água e óleo.

Haveria fenômeno semelhante no Brasil? Seria possível articular politicamente tais identidades racial e religiosa em nosso contexto, sem prejuízo de alguma delas? As respostas estão indicadas: a expansão demográfica evangélica, a onda de afirmação racial e a crescente mobilização política de minorias e segmentos historicamente discriminados têm seu desaguadouro em um ativismo negro evangélico que, embora tenha berço nos anos 1970, reemergiu publicamente com mais força e visibilidade nos últimos anos. Seus atores, coletivamente organizados, promovem o antirracismo e incidem nas igrejas e na sociedade em geral a partir de suas crenças e valores religiosos.

Para compreensão desses processos, os textos sugeridos a seguir contribuem ao desnaturalizar as identidades racial e religiosa, nos lembrando de que não são entidades fixas, mas sim posições relacionais e situacionais que devem ser consideradas historicamente. Com diferentes abordagens teórico-metodológicas, todos privilegiam os agenciamentos em suas análises e nos previnem de determinismos. Diante disso, o desafio que se abre é compreender tanto o modo como negros e evangélicos se realizam em suas experiências cotidianas, quanto suas operações no expediente das arenas públicas de que participam.

Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil

Ricardo Mariano (Loyola, 1999)

Publicado em 1999, o best-seller da sociologia da religião apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado concluída em 1996. O volume contém uma tipologia do pentecostalismo brasileiro, cuja evolução teria se dado por três “ondas”: a primeira, que data do início do século 20 e inclui denominações como Assembleia de Deus e Congregação Cristã no Brasil; a segunda onda, também chamada “deutero-pentecostal”, marcada pela ênfase na cura divina e pelo uso mais intensivo dos meios de comunicação, sobretudo o rádio; e a terceira onda, a “neopentecostal”, objeto central da pesquisa.

As igrejas neopentecostais, aponta o autor, apresentavam valores e práticas religiosas que, em alguma medida, eram distintivas das demais, como a valorização da teologia da prosperidade; o apelo a noções de “guerra espiritual” e a liberalização de usos e costumes. Na soma, tratava-se do diagnóstico de um processo social específico: o ascetismo contracultural que definiu os evangélicos pentecostais por décadas estava sendo reduzido; o neopentecostalismo era a ponta de lança de uma acomodação sociocultural dos evangélicos, agora cada vez mais “mundanos”.

Para além da radiografia desse segmento religioso e de suas mutações, o texto ilumina a sua expansão demográfica e crescente visibilização ao mostrar que, enquanto cresciam e se tornavam mais visíveis e mais integrados às esferas seculares de ação, os evangélicos também ampliavam sua disponibilidade política e adquiriam maior plasticidade cultural. É um livro incontornável para entender o lastro das subjetividades emergentes desse grupo religioso e como chegamos ao quadro atual em que a identidade evangélica e o ativismo político evangélico tornaram-se tão relevantes.

A queda do profeta negro: o significado ambivalente de raça no pentecostalismo

John Burdick (Comunicações do ISER, 1989)

O antropólogo estadunidense e estudioso brasilianista, John Burdick, certamente foi quem mais contribuiu para os estudos sobre a questão racial no meio evangélico. Suas pesquisas se estenderam dos anos 1980 até a década de 2010 e incluem dados e reflexões sobre a produção musical negra evangélica; as relações raciais em igrejas e o ativismo negro evangélico propriamente dito.

No artigo “A queda do profeta negro”, Burdick apresenta dados etnográficos de pesquisa realizada em uma igreja pentecostal e uma paróquia católica, ambas na Baixada Fluminense (RJ). O autor mostra como, na comunidade evangélica, as tensões raciais eram transfiguradas e expressas simbolicamente em linguagem ritual durante os cultos e reuniões dos fiéis; como carisma e identidade racial se combinavam e como a política eclesiástica, ainda que feita em termos estritamente religiosos, era atravessada pelo fator raça. Seu texto mostra a raça produzindo a religião e não o contrário, como poderíamos supor de imediato.

Why is the Black Evangelical Movement Growing in Brazil?

John Burdick (Journal of Latin American Studies, 2005)

Nesse artigo, Burdick atualiza sua agenda de pesquisa e tenta responder à pergunta: “por que o movimento negro evangélico está crescendo no Brasil?” Sua resposta é a de que o crescimento desse ativismo se deu por fatores internos como a disponibilidade de lideranças e o uso da internet para comunicação e organização coletiva a nível nacional, mas também às favoráveis estruturas de oportunidade política como a crescente problematização pública do racismo – inclusive oficialmente reconhecido pelo Estado brasileiro desde 1995. Além disso, os ativistas negros evangélicos adotavam enquadramentos em que, habilmente, incluíam o racismo sob o guarda-chuva dos “direitos humanos”, contra os quais as resistências seriam menores dentro das igrejas.

Burdick também reitera sua observação já anotada em textos anteriores de que haviam preconceitos por parte de ativistas do movimento negro tradicional contra evangélicos, o que dificultava o diálogo e a colaboração cada vez mais necessária entre os grupos, afinal os evangélicos já somavam quantias consideráveis da população negra brasileira em 2005. O texto também chamou a atenção, com notável intuição, para a presença de lideranças públicas negras evangélicas (Reginaldo Germano, Benedita da Silva, entre outros) e a possibilidade de o movimento negro capitalizar politicamente com o eleitorado evangélico.

What is the Color of the Holy Spirit? Pentecostalism and Black Identity in Brazil

John Burdick (Latin American Research Review, 1999)

Nesse artigo, John Burdick discute as experiências de negros evangélicos e o modo como articulavam marcadores raciais e religiosos no cotidiano. O autor discorda da opinião corrente entre setores do movimento negro de que a religiosidade evangélica seria demasiadamente “assimilacionista” e que, portanto, levaria seus fiéis negros a abandonar sua identidade racial em favor da fé. Com extensa pesquisa de campo e trabalho etnográfico no Rio de Janeiro, Burdick argumenta que a socialização dos negros nas igrejas pentecostais das periferias urbanas os estimulava em sua autoestima e autoaceitação. Os padrões de beleza feminina tal como estabelecidos na sociedade eram relativizados ou subvertidos em função de noções espirituais de beleza, por exemplo, assim como as dinâmicas de contração de namoro e casamento eram menos restritas para as mulheres negras em comparação com os ambientes extra-eclesiais, onde estatisticamente sua preterição era mais frequente.

Junto disso, a produção cultural dos negros nas igrejas por meio da música ou dos carismas religiosos exercidos em suas práticas individuais e comunitárias contrastava com os estigmas de que costumavam ser objetos fora da igreja, seja no trabalho, no espaço doméstico, entre outros. Em resumo, o que o antropólogo demonstra é que, ao contrário do que supunha um senso comum, a experiência racial dos negros evangélicos adquiria novos significados para esses indivíduos a partir de sua fé, de modo que as identidades se interpenetravam em composições complexas. A realização identitária do negro evangélico não estava comprometida.

Controvérsias religiosas e esfera pública: repensando as religiões como discurso

Paula Montero (Religião & Sociedade, 2012)

O artigo marcou uma nova agenda para os estudos do fenômeno religioso no Brasil. Em lugar das pesquisas de viés mais antropológico, preocupadas com os componentes cosmológicos das religiões, e das abordagens sociológicas clássicas às voltas com noções estanques de secularização e modernidade, Montero propõe a abordagem das religiões como discurso. A própria esfera pública não seria mais que um fluxo de interações discursivas, um espaço de visibilidade no qual os atores articulam significados diversos e travam disputas o que, de pronto, exclui abordagens normativas e teleológicas das manifestações públicas da religião e abre espaço para estudos mais fenomenológicos. Para isso uma boa perspectiva seria a das controvérsias públicas – elas seriam momentos/situações de visibilidade pelas quais o investigador pode verificar a produção de legitimidade e de categorias pelos agentes religiosos durante as próprias interações, diga-se, sempre conflituosas. Descrever como a religião é produzida em público tornou-se o programa de pesquisa fundamental para a compreensão dos ativismos político-religiosos no Brasil contemporâneo.


Vítor Queiroz de Medeiros é cientista social e mestrando em sociologia (USP). Pesquisa o ativismo negro evangélico brasileiro e integra o projeto temático “Religião, Direito e Secularismo: a reconfiguração do repertório cívico no Brasil contemporâneo” (Cebrap/Fapesp). Recebeu, em 2021, o  Prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política na categoria “mestrando”.

Este texto faz parte da série de materiais que serão publicados ao longo de 2021, no Nexo Políticas Públicas, pelos vencedores da primeira edição do Prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política.

Fonte: Nexo Políticas Públicas

O que é Humanitude?

A Humanitude é um conceito de natureza antropológica, que nos leva a ver as raízes da nossa condição humana. O conceito de Humanitude foi definido por Albert Jacquard, em 1987, inspirado no conceito de Negritude, de Léopold Senghor. Mais tarde, em 1989, um geriatra francês, Lucien Mias, introduziu pela primeira vez o termo da humanitude nos cuidados da medicina com idosos. Em 1995, Rosette Marescotti e Yves Gineste decide escrever uma nova filosofia de cuidados que eles chamaram de “filosofia da humanitude“, na aplicação aos cuidados de enfermagem.

O conceito de humanitude proposto aqui é uma conexão com a Afro-humanitude através da filosofia Ubuntu para reenfatizar os imperativos do cuidado e da partilha através da humanitude. O Ubuntu é uma filosofia tradicional Africana que nos oferece uma compreensão de nós mesmos em relação com o mundo. De acordo com Ubuntu, existe um elo comum entre todos nós e é através deste vínculo, através de nossa interação com nossos companheiros seres humanos, que descobrimos nossas próprias qualidades humanas. No ensino do Ubuntu uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas.

Adama Samassékou, do Mali, no artigo “Humanitude, ou como saciar a sede por humanidade” aborda esse novo conceito da Humanitude:

Foi com essas considerações em mente que, vários anos atrás, eu sugeri que explorássemos um novo conceito – humanitude – em referência à negritude, um conceito que herdei de meu mentor, o poeta Aimé Césaire, da Martinica.

Utilizo este conceito de humanitude para traduzir o que, na África, nós chamamos de maaya (em bamanankan, a língua bambara), neddaaku (em fulfulde, a língua fula), boroterey (em songai, a língua songai), nite (em wolof) e ubuntu (nas línguas bantu), entre outros. Existem muitos termos que significam, literalmente, “a qualidade de ser humano”.

humanitude é a nossa abertura permanente ao Outro, nossas relações de ser humano para ser humano. Ela determina uma relação permanente de solidariedade, livre de manipulação – um impulso espontâneo de acolher o Outro. Essa humanitude torna possível “conectar humano com humano” – para usar a bela expressão de Césaire – e é a base para uma cultura do “ser”, o oposto de uma cultura totalitária do “ter”, que leva a relações permanentemente conflituosas de aquisição, ou mesmo dominação. Adama Samassékou

Os valores de Ubuntu é numerosos demais para discuti-los todos aqui. No entanto, presumo que a interdependência e comunalismo, fornecer um vislumbre beneficio que podemos trabalhar na Humanitude.

O Sul Africano Nobel da Paz Arcebispo Desmond Tutu descreve Ubuntu como:

É a essência do ser humano. Ela fala do fato de que minha humanidade está presa e está indissoluvelmente ligado na sua. Eu sou humano, porque eu pertenço. Ela fala sobre a totalidade, ela fala sobre a compaixão. Uma pessoa com Ubuntu é acolhedora, hospitaleira e generosa, disposta a compartilhar. Essas pessoas são abertas e disponíveis para os outros, disposto a ser vulnerável, apóiam os outros, não se sentem ameaçados que os outros são bons e capazes, porque eles têm uma boa auto-confiança que vem de saber que eles pertencem a um todo maior. Eles sabem que estão diminuído quando outros são humilhados, diminuído quando outros são oprimidos, diminuído quando outros são tratados como se fossem menos de quem eles são. A qualidade do Ubuntu dá às pessoas resistência, permitindo-lhes sobreviver e emergir ainda ser humano, apesar de todos os esforços para desumanizar-los. 

Interdependência é altamente valorizado na África, tanto quanto é na Ásia. No entanto, no Ocidente, a independência, em vez de interdependência é a norma. Como já vimos a essência do Ubuntu é que um indivíduo deve sua existência à existência dos outros. Esse caráter interpessoal do Ubuntu é a fonte de muitas das suas virtudes distintas, como a paciência, a lealdade de hospitalidade, respeito, convivência, sociabilidade, vitalidade, resistência, simpatia, a obediência, a partilha, entre outros.

Comunalismo é um dos valores fundamentais do Ubuntu. É um valor, segundo a qual o interesse do indivíduo é subordinado ao do grupo. Em outras palavras, o grupo constitui o foco das atividades dos membros individuais da sociedade em geral. Comunalismo insiste que o bem de todos determina o bem de cada um ou, em outras palavras, o bem-estar de cada um depende o bem-estar de todos.

Neste artigo procurei traçar uma pequena introdução do que é Humanitude, e resgatar esse conceito na perspectiva da Afro-humanitude. Portanto, há uma necessidade de compreender, revitalizar e promover as virtudes do Ubuntu na Humanitude. Acredito que a Humanitude tem muito para contribuir com a questão racial no Brasil e no mundo. Entendo que Afro-humanitude contempla a negritude, branquitude, indigenitude, e continuará aberta e disponíveis para outras humanitudes que possa vir. Neste sentido estarei trazendo para Afrokut uma serie de artigos com a temática da Humanitude, Ubuntu, e Afro-humanitude.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Bibliografia e referências:

humanitude, teste, Genebra, Labor et Fides Ed, 1980

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. Soins, corps communication. Les liens

d’humanitude ou l’art d’être ensemble jusqu’au bout de la vie.

http://perso.wanadoo.fr/cec-formation.net/philohumanitude.html. Consultado em 5 de Março, 2007.

Gineste, Yves et Rosette Marescotti. La philosophie de l’humanitude.

http://perso.orange.fr/cec-formation.net/humanitude1.htm Consultado em 3 de Março, 2007.

ALTUNA, Raul Ruiz de Asúa. Cultura Tradicional Banto. Luanda, Secr.Arquidioc.de Pastoral. 1985. ANSELMO, Antônio Joaquim.

https://pt.unesco.org/courier/julho-setembro-2017/humanitude-ou-como-saciar-sede-humanidade


O que é Ubuntu?


O que é AfroHumanitude?

O que é Indigenitude?

Indigenitude  é uma visão de libertação, resistência e propostas de mudança fundamentada no Sumak Kawsay (traduzido como Bem Viver, na língua quíchua, idioma tradicional dos Andes). Para a bióloga equatoriana Esperanza Martínez, “o bem viver é mais do que viver melhor, ou viver bem: o bem viver é Viver em Plenitude“. O termo utilizado não é “alli kawsay” (alli = bem; Kawsani = viver), mas sim “sumak Kawsay” (sumak = plenitude; kawsani = viver). 

Sumak Kawsay (Viver em Plenitude) é uma filosofia de vida, que se baseia na cosmovisão dos povos indígenas andinos e nos saberes ancestrais em geral, fundamenta-se em, entre outros, nos pilares:

  • Relacionalidade, que se refere à interpretação de haver uma interconexão de todos elementos que juntos compõem um só, o “Todo”;
  • Reciprocidade, entendida como uma relação recíproca e coparticipativa entre os mundos superiores, inferiores e o mundo atual, e entre humanos e natureza;
  • Correspondência, que vê os elementos da realidade se corresponderem de uma maneira harmoniosa, a maneira de proporcionalidade;
  • Complementaridade, que se baseia na ideia de que os opostos podem ser complementares, já que nada é incontornável.

Em Guarani, um conceito semelhante é designado como Teko Porã. A Indigenitude incorpora os valores do Viver em PlenitudeSumak KawsayTeko Porã, e Ubuntu, com valores éticos profundos do COMUM, visando a construção de uma cidadania ativa e solidária.

Assim, Sumak KawsayTeko Porã, e Ubuntu são Humanitude.

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut


Indigenitude


O discurso do pastor Cosme Felippsen  é um apelo sincero por inclusividade e compaixão, refletindo o espírito do Carnaval como uma celebração da vida e da comunidade. Cosme Felippsen, integrante do…

A Escalada Fascista, Fundamentalista e Conservadora no Protestantismo Histórico Brasileiro e nos Evangélicos em Geral e a luta do Movimento Negro Evangélico. O cenário religioso brasileiro, marcado pela diversidade e…

Estudos recentes sobre o DNA antigo de 348 indivíduos que viveram na Europa entre 3.000 e 8.000 anos atrás revelaram uma descoberta fascinante: a pele clara, hoje associada aos europeus…

Nas últimas décadas, o Brasil tem observado uma mudança significativa em seu cenário racial. A população que se identifica como negra, composta por pessoas de cor parda e preta, agora…

Personagens negros apresentados nas Escrituras oferecem lições inspiradoras à Igreja Por Marcelo Santos Palavra inspirada e útil para o ensino, como escreveu o apóstolo Paulo a Timóteo (2 Tm 3.16),…

Finalmente, John Burdick afirma que, além da música, há outros locais no protestantismo evangélico que promovem a identidade étnico-racial negra e o antirracismo. Uma sugestão final: como indicado ao longo…

John Burdick discute as limitações e potencialidades da etnografia ativista, sugerindo que a etnografia pode revelar dimensões ocultas e fragmentadas da consciência que podem atrair novos públicos. Contudo, ele questiona…

O estudo de Burdick revela que, apesar das barreiras teológicas, o Movimento Negro Evangélico no Brasil conseguiu articular uma identidade negra orgulhosa e antirracista, utilizando a música como uma ferramenta…

Ao investigar mais profundamente, Burdick descobriu a rica diversidade da música negra evangélica em São Paulo. A cidade abrigava uma vasta gama de artistas cristãos que tocavam soul, funk, gospel,…

A música se mostrou uma peça central na estratégia de atração e mobilização do MNE. Hernani mencionou a dificuldade em atrair grupos musicais pentecostais e neopentecostais para eventos do Movimento…

10 sites com conteúdos antirracistas

O desmantelamento do racismo deve ser um processo regular e intencional que ocorre ao longo de nossas vidas. Desaprender o racismo e se tornar anti-racista é um processo contínuo e vitalício. Para apoiá-lo neste trabalho, separamos 10 sites com conteúdos antirracistas:

 CEERT

Criado em 1990, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e DesigualdadesCEERT é uma organização não-governamental que produz conhecimento, desenvolve e executa projetos voltados para a promoção da igualdade de raça e de gênero.

Desenvolve projetos nas áreas de acesso da população negra à Justiça, ao direito de igualdade racial, à liberdade de crença, de implementação de políticas públicas, de educação, saúde e relações de trabalho. Saiba mais

Alma Preta

A Alma Preta é uma agência de jornalismo especializada na temática racial. Com objetivo de construir um novo formato de gestão de processos, pessoas e recursos através do jornalismo qualificado e independente.

No site você encontra reportagens, análises, coberturas de eventos, artigos opinativos e demais conteúdos jornalísticos em formato textual e audiovisual.
Saiba mais

Resistência Afroliterária

O Resistência Afroliterária nasceu com o intuito de ser um espaço de divulgação e exposição de arte negra. No site você encontra análises, resenhas, divulgações, indicações, reflexões e notícias sobre literatura e cultura feita por e para pessoas negras. Saiba mais.

Portal Geledés

O Portal Geledés é a plataforma virtual do Instituto da Mulher Negra – Geledés. Uma organização da sociedade civil, fundada em 30 de abril de 1988, que se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos sociais padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais em função do racismo e do sexismo vigente na sociedade brasileira.

É uma das maiores ONGs de feminismo negro do Brasil com várias campanhas e ações significativas contra o racismo. Seu nome deriva do conceito de gelede, sociedades secretas femininas na cultura Iorubá. Saiba mais

Notícia Preta

O Notícia Preta é um jornal antirracista que acredita na comunicação como uma ferramenta de não reprodução de preconceitos e estereótipos, estigmatizantes ou pejorativos em relação à população negra e periférica na imprensa.

Um jornal antirracista e uma plataforma educativa pois, através da informação, trabalha na mudança de termos e formas comunicacionais historicamente preconceituosas e, que muitas vezes, já estão enraizadas em nossa sociedade. Saiba mais

Coletivo Pico Preto

A Pico Preto, antes chamada de Coletivo Ponto Art, nasceu em 2016 com o propósito de desenvolver ações artísticas afirmativas e evidenciar o protagonismo negro nas produções artístico-cultural da cidade. 

O Coletivo Pico Preto organiza uma série de outros projetos importantes, como a Revista Pico Preto, espetáculos de teatro e encontros de cultura. Saiba mais.

Site Negrê

O Site Negrê tem como princípio um jornalismo ancestral, antirracista e descolonizador. Como primeiro portal de notícias e mídia negra nordestina no Brasil, o Negrê tem como lema unir modos de ver, ser, sentir e escrever sobre questões raciais.

O portal de notícias e mídia preta nordestina amplifica vozes negras e seus múltiplos olhares. Saiba mais.

Revista Afirmativa

A Revista Afirmativa é um veículo multimídia de mídia negra, que rompe com o discurso de pretensa imparcialidade pregado pela grande mídia, tradicionalmente racista, machista e heteronormativa.

A Afirmativa é feita pela Juventude Negra Voz Ativa, construindo mais um horizonte afirmativo para o jornalismo da diversidade e do direito à informação.  Saiba mais

Mundo Negro

O Mundo Negro é um portal de notícias voltado para comunidade negra brasileira e demais etnias que se interessem pelos assuntos relacionados à cultura e ao cotidiano dos negros no Brasil e no mundo.

O Mundo Negro traz notícias recentes, dicas de entretenimento voltadas para o universo negro e matérias sobre arte, cultura e estilo. O site ainda possui uma agenda cultural, dicas sobre carreira e negócios, entre outras editorias. Saiba mais

Portal Correio Nagô

Portal Correio Nagô, um veículo de comunicação do Instituto Mídia Étnica criado em 2008. Uma plataforma digital que tem como objetivo divulgar as ações comunidade negra do Brasil e da diáspora. 

O Correio Nagô é uma das maiores plataformas de conteúdo sobre a comunidade negra brasileira do Brasil, possuindo correspondentes em diversos estados do Brasil e do mundo. Saiba mais

Por Hernani Francisco da Silva – Do Afrokut

Zumbi

Tudo começou com um Brás Rocha que atacou Palmares em 1655 e carregou, entre presas adultas, um recém-nascido. Brás o entregou, honestamente, como era do contrato, ao chefe de uma coluna, e este decidiu fazer um presente ao cura de Porto Calvo. Padre Melo achou que devia chamá-lo de Francisco.

Não podia, naquele momento, está visto, adivinhar que se afeiçoaria ao pretinho.

Se pode imaginar que não foi das piores a infância de Francisco. O padre talvez lhe batesse, como mandava a época, mas não lhe faltou alimento e médico. “Quem dá os beijos, dá os peidos”, dizia o povo. Padre Melo achava Francisco inteligentíssimo: resolveu desasná-lo em português, latim e religião. Talvez olhasse com orgulho o moleque passar com o turíbulo, repetir os salmos.

Francisco apreciava, certamente, histórias da Bíblia. Havia esta, por exemplo: Um sacerdote por nome Eli, velho e piedoso, aceitou na sua casa um menino chamado Samuel. Samuel era obediente e esperto. Certa noite, recolhidos os dois, Samuel ouviu que lhe chamavam: “Samuel! Samuel!” Isso foi antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor: ali dormia a Arca de Jeová. Samuel foi até o quarto de Eli: “O senhor me chamou? Estou aqui…” “Não te chamei, filho – respondeu o velho. – Torna a te deitar.” Aconteceu uma segunda vez: alguém, de dentro da noite, chamava o garoto. “Não chamei, meu filho. Torna a te deitar.” Na terceira vez, Eli compreendeu de quem era a voz: “Vai te deitar, e quando te chamarem de novo responde: Fala, porque o teu servo ouve.” Assim fez, e a Voz queria que ele a seguisse; e deixou um recado para o sacerdote: que julgaria a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu.

Francisco se chamava agora Zumbi.

Onde encontrou esse nome? No Congo e em Camarões, o deus principal se chamava Nzambi; em Angola, diziam ser zombi o defunto, e zumbis, no Caribe, são mortos-e-vivos, criaturas sem descanso, mesmo no Além. Mais uma vez, dependeremos dos papéis históricos para algum dia decifrar o mistério do rebatismo de Francisco: do passado distante, ele zomba de nós.

É mais fácil responder a esta pergunta: por que escravos fugidos mudavam de nome?

Para os povos ágrafos, como eram a maioria dos africanos trazidos para cá, e os indígenas, naturais daqui, o nome é uma coisa absolutamente vital. Na Senegâmbia, uma criança só era gente depois que seu pai lhe gritava ao ouvido, no meio do mato, o nome que lhe queria dar. […]

Era, pois, uma violência extra o que faziam os traficantes europeus ao comprarem um negro: lhe davam um nome cristão. Não o faziam por maldade: precisavam esvaziar o africano de sua cultura. […]

O tráfico separava, para sempre, as famílias. […] funcionando como liga entre pessoas desenraizadas tão violentamente. As autoridades proibiam ajuntamentos de pretos da mesma terra; fazendeiros não compravam mais de dois pretos da mesma “raça”: pavor de que voltassem a ser gente.

Numa noite de 1670, ao completar quinze anos, Francisco fugiu.

Francisco, retornando a Palmares, com quinze anos, passou a se chamar Zumbi. E constituiu, livremente, sua família – um pai, irmãos, tias e tios. O principal destes se chamava Ganga Zumba.

Ganga Zumba, que chegou a Palmares no tempo da invasão holandesa, era, ao contrário de Zumbi, um africano alto e musculoso. Tinha, provavelmente, temperamento suave e habilidades artísticas – como, em geral, os nativos de Allada, nação fundada pelo povo ewe na Costa dos Escravos.

Em 1670, quando Zumbi voltou, Palmares eram dezenas de povoados, cobrindo mais de seis mil quilômetros quadrados. Trezentos anos depois, nomes sonoros saltam dos papéis históricos: Macaco, na Serra da Barriga (oito mil moradores); Amaro, perto de Serinhaém (cinco mil moradores); Subupira, nas fraldas da Serra da Juçara; Osenga, próximo do Macaco; aquele que mais tarde se chamou Zumbi, nas cercanias de Porto Calvo; Aqualtene, idem; Acotirene, ao norte de Zumbi (parece ter havido dois Acotirenes); Tabocas; Dambrabanga; Andalaquituche, na Serra do Cafuxi; Alto Magano e Curiva, cerca da atual cidade pernambucana de Garanhuns. Gongoro, Cucaú, Pedro Capacaça, Guiloange, Una, Catingas, Engana-Colomim… Quase trinta mil viventes, no total.

Trechos da biografia de Zumbi dos Palmares – por Joel Rufino dos Santos, escritor, historiador e professor de pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ e diretor de Comunicação do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em seus livros para crianças e adolescentes, mais do que contar histórias, coloca questões pertinentes, para uma releitura crítica da nossa cultura popular, especialmente a negra e ameríndia. Em Zumbi, o autor narra de forma comovente e analítica a biografia do líder negro, a criação, a resistência e a destruição do quilombo de Palmares.

Sumak Kawsay – “Viver em Plenitude”

Sumak Kawsay, é uma forma de viver em harmonia com as comunidades, com nós mesmos e, com a natureza. O modo de vida Sumak Kawsay permeou as culturas indígenas por milhares de anos.

O termo Sumak Kawsay é originário da língua quíchua, idioma tradicional dos Andes. “Sumak” significa plenitude e “Kawsay“, viver.  Sumak, é a plenitude, o sublime, excelente, magnífico, belo e superior. Kawsay, é vida, é ser. Portanto, Sumak Kawsay é Vida em Plenitude. Vida no material e espiritual com abundância. 

Vivendo o Sumak Kawsay, as comunidades são capazes de preservar sua cultura e identidade únicas e cuidar do Meio Ambiente  para  proporcionar um mundo melhor para as futuras gerações, propiciar o diálogo com a natureza e se comprometer com ela na sua dimensão espiritual. Sumak kawsay está embutido nos valores éticos das culturas indígenas.

O Sumak Kawsay foi incorporado aos governos equatoriano e boliviano como forma de garantir direitos à natureza. O conceito de Sumak Kawsay foi incorporado à Constituição de 2008 do Equador, que foi o primeiro país a reconhecer legalmente os direitos da natureza.

Contudo, a interpretação ética, cultural, política e prática do  Sumak Kawsay na academia e sociedade são diversos. Portanto, o debate com respeito ao  conceito Sumak Kawsay está aberto por ser um conceito dinâmico inacabado.

Indigenitude incorpora os valores do Viver em PlenitudeSumak Kawsay,  visando a construção de uma cidadania ativa e solidária. Nesta perspectiva a Indigenitude se entrelaça com a AfroHumanitude – a essência do ser humano. Afro-Humanitude é África e Humanitude conectada.


Indigenitude

Branquitude no Brasil

Apesar de os Estados Unidos se apresentarem como importante propulsor dos estudos críticos da branquidade a partir dos anos 90, tornando-se o principal centro de estudos sobre o tema, o pesquisador Lourenço Cardoso (2010) atenta para o fato de que o pioneirismo na problematização da identidade racial branca caberia, primeiro, a W. B. Du Bois já em 1935 e, em seguida, a Frantz Fanon, em 1952, com a publicação de Pele Negra, Máscaras Brancas.

Nesta obra Fanon propõe uma análise da relação entre o negro e o branco, mostrando como um vê o outro, a necessidade instaurada no negro de ser branco, enquanto, por outro lado, o branco assume a condição de único ser humano. Mostrando como as identidades raciais acabam por criar limitações para que o indivíduo alcance a condição humana.

Além de Du Bois e Fanon, podemos incluir o ativista Steve Biko entre os percursores na análise da identidade racial branca entre as décadas de 60 e 70. No Brasil, Cardoso afirma que o termo branquitude foi utilizado em primeira instância, em 1962, por Gilberto Freyre, que critica tanto a utilização do termo branquitude como negritude, já que defendia a existência da democracia racial brasileira através da mestiçagem. Apesar de ser Freyre o primeiro a utilizar o termo branquitude, foi Alberto Guerreiro Ramos o primeiro a propor uma discussão sobre o assunto. “Esse autor utilizava o termo ‘brancura’, que significaria para nossa literatura científica atual o conceito branquitude”. (CARDOSO, 2008, p. 57).

Em 1957, Guerreiro Ramos já discutia o que chamou de “patologia branca no Brasil”. Segundo o autor, a utilização do negro como tema por pesquisadores brancos era uma forma de assegurar a sua brancura. Exaltando seus traços europeus, estes pesquisadores mantinham o status de superioridade e a situação de privilégio da qual desfrutavam. Entre os pesquisadores que adotavam essa prática, denominada por ele como “patologia-protesto”, estão Nina Rodrigues e o próprio Gilberto Freyre citado anteriormente.

Embora a produção de Guerreiro Ramos tenha sido de vital importância para iniciar a problematização do branco no cenário nacional, a autora Liv Sovik (2004) afirma que ela está ultrapassada em alguns pontos. De acordo com Sovik, ao colocar a discussão no plano da necessidade de afirmação de traços europeus para manter o privilégio e a condição de ser humano ideal do branco, o autor não leva em consideração o real motivo para que os europeus não considerem qualquer outra nacionalidade, que seria o fato de que só os europeus terem direito ao seu eurocentrismo. O que não corresponderia as práticas de manutenção de privilégio coexistentes baseadas na discriminação direta de traços fenotípicos (SOVIK, 2004, p. 368).

Além disso, a autora afirma que no contexto atual de discriminação no Brasil já é comum as pessoas admitirem que tem um “pé na cozinha”, na tentativa de forjar uma falsa ideia de democracia racial, o que não diminui, pelo contrário, o poder e o prestígio concedido pela branquitude. Para Sovik os resquícios coloniais já não são o principal problema nessa discussão. “É um texto anacrônico, mas nem tanto. Guerreiro Ramos abriu frentes que ainda estão presentes na discussão” (SOVIK, 2004, 369).

A autora reconhece também que, embora não seja o principal problema, a ascendência europeia ainda é utilizada como um triunfo para muitos ciosos pela manutenção da diferenciação que assegura o poder. Como também aponta a pesquisa desenvolvida pelo pesquisador John Nervell (2001).

Ao entrevistar moradores de classe média da zona sul do Rio de Janeiro, Nervell percebeu uma contradição freqüente nos discursos de pessoas que ao mesmo tempo em que identificam a mistura de raças como fonte da nação brasileira, utilizam esse ideal de mistura para identificar em suas origens traços que lhe deixam praticamente de fora desta “nação”.

O autor utiliza exemplo de pessoas que evitam o termo “branco” para identificar sua cor, mas resgatam em sua árvore genealógica europeus que justificam a ausência de suas características mais brasileiras que lhes aproximem da cultura negra, como o gosto pelo samba ou carnaval.

O que confirma as explanações feitas por Guerreiro Ramos ainda na década de 50. Somente no ano de 2000, de acordo com o pesquisador Lourenço Cardoso, que as discussões sobre a branquitude voltam a ganhar destaque no Brasil com o trabalho da pesquisadora Edith Piza. Com a publicação dos artigos, “Branco no Brasil? Ninguém sabe, ninguém viu” e “Porta de Vidro: entrada para branquitude”, a branquitude volta ao cenário nacional.

Lourenço Cardoso (2010), em seu trabalho, apresenta uma lista das principais publicações em que o branco surgiu como tema de pesquisa, tendo a branquitude como principal discussão. De acordo com a sua relação, após a publicação do livro de Guerreiro Ramos, os principais trabalhos que destaca o papel do branco foram realizados pela autora Edith Piza, a partir do ano de 2000.

Em suas obras, Piza desenvolve a ideia que compartilhava com a pesquisadora norteamericana Ruth Frankemberg. Para elas, até então, a branquitude era não-marcada e invisível, ou seja, aqueles que a praticavam podiam estar cometendo as ações sem consciência sobre seus atos já que não se enxergavam racializados. Esta definição, como veremos mais adiante, será reelaborada.

O segundo artigo de Edith Piza é publicado em um importante livro organizado pelas autoras Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento. Intitulado Psicologia Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil, o livro reúne trabalhos relevantes sobre a temática. De acordo com Bento, a branquitude pode ser definida como “traços da identidade racial do branco brasileiro a partir das ideias sobre branqueamento” (BENTO, 2002, p. 29).

Na obra é possível encontrar uma reunião de trabalhos que discutem o silenciamento do branco diante da história como forma de manter o status quo. A estratégia é aumentar a visibilidade sobre o negro enquanto o branco permanece omisso na história. Discussões sobre conceitos como “medo do outro” e “pacto narcísicos” chamam atenção no livro. O primeiro diz respeito ao medo constante que o branco nutre de perder o privilégio e a condição de superioridade, o que lhe conduz ao segundo conceito que a autora define como o isolamento de brancos em locais de brancos para fortalecer os laços de branquitude, a cumplicidade entre os iguais (brancos) favorecendo uns aos outros, deixando o não-branco à margem, afastado.

Até então o termo branquitude é utilizado para dar nome às práticas realizadas por portadores da brancura com o objetivo de manter o privilégio que o branco possui nas sociedades estruturadas pela hierarquia racial. O branco assume a postura de ser humano ideal e cria condições para que o status seja mantido.

Texto do artigo de Camila Moreira de Jesus
BRANCO

BRANQUITUDE X BRANQUIDADE: UMA ANÁLISE CONCEITUAL DO SER BRANCO


Branquitude

 

VEJA TAMBÉM:

O discurso do pastor Cosme Felippsen  é um apelo sincero por inclusividade e compaixão, refletindo o espírito do Carnaval como uma celebração da vida e da comunidade. Cosme Felippsen, integrante do…

A Escalada Fascista, Fundamentalista e Conservadora no Protestantismo Histórico Brasileiro e nos Evangélicos em Geral e a luta do Movimento Negro Evangélico. O cenário religioso brasileiro, marcado pela diversidade e…

Estudos recentes sobre o DNA antigo de 348 indivíduos que viveram na Europa entre 3.000 e 8.000 anos atrás revelaram uma descoberta fascinante: a pele clara, hoje associada aos europeus…

Nas últimas décadas, o Brasil tem observado uma mudança significativa em seu cenário racial. A população que se identifica como negra, composta por pessoas de cor parda e preta, agora…

Personagens negros apresentados nas Escrituras oferecem lições inspiradoras à Igreja Por Marcelo Santos Palavra inspirada e útil para o ensino, como escreveu o apóstolo Paulo a Timóteo (2 Tm 3.16),…

Finalmente, John Burdick afirma que, além da música, há outros locais no protestantismo evangélico que promovem a identidade étnico-racial negra e o antirracismo. Uma sugestão final: como indicado ao longo…

John Burdick discute as limitações e potencialidades da etnografia ativista, sugerindo que a etnografia pode revelar dimensões ocultas e fragmentadas da consciência que podem atrair novos públicos. Contudo, ele questiona…

O estudo de Burdick revela que, apesar das barreiras teológicas, o Movimento Negro Evangélico no Brasil conseguiu articular uma identidade negra orgulhosa e antirracista, utilizando a música como uma ferramenta…

Ao investigar mais profundamente, Burdick descobriu a rica diversidade da música negra evangélica em São Paulo. A cidade abrigava uma vasta gama de artistas cristãos que tocavam soul, funk, gospel,…

A música se mostrou uma peça central na estratégia de atração e mobilização do MNE. Hernani mencionou a dificuldade em atrair grupos musicais pentecostais e neopentecostais para eventos do Movimento…

Definições sobre a branquitude

Os Estados Unidos, principalmente nos anos 1990, com os critical whiteness studies tornaram-se o principal centro de pesquisas sobre branquitude. Todavia, existem produções acadêmicas sobre essa temática na Inglaterra, África do Sul, Austrália e Brasil. No entanto, W. E. B. Du Bois talvez seja o precursor em teorizar sobre a identidade racial branca com sua publicação Black Reconstruction in the United States.

Na galeria dos pioneiros em problematizar a identidade racial branca não podemos deixar de considerar Frantz Fanon. Em 1952, esse pensador caribenho e africano com sua publicação Peau noire, masques blancs defendeu o argumento de abolição da raça. Esse autor estava preocupado em libertar o branco de sua branquitude e o negro de sua negritude, porque a identidade racial seria um encarceramento que obstaculizava a pessoa de chegar e gozar sua condição humana.

O ativista Steve Biko também pode ser incluído entre os precursores em analisar a identidade racial branca. O ilustre ativista versou sobre o branco sul-africano dos anos 1960 e 1970. Ele refletiu a respeito da branquitude sulafricana no momento em que lutava contra o racismo estrutural da sociedade sul-africana, perdeu a própria vida nessa causa.

Vale lembrar que a teoria anti-racista, de maneira geral, tem restringido em pesquisar o oprimido, deixando de lado o opressor. Desta forma, é sugerido que a opressão é somente um “problema do oprimido” em que o opressor não se encontra relacionado. Por esta razão que Guerreiro Ramos sustentou que teorias sobre relações raciais no Brasil são na verdade uma “sociologia do negro brasileiro” (Ramos, 1995[1957]c, pp. 163-211, Sovik, 2004ª, pp. 363-386). Não se trata, portanto, de teoria sobre relações raciais, trata-se de uma abordagem unilateral, feita muitas vezes por prestigiados pesquisadores brancos preocupados em analisar o “problema do negro”.

Procurando preencher uma lacuna nas teorias das relações raciais Albert Memmi considerou necessário retratar o opressor e o oprimido. Seu pensamento é significativo para teorias sobre branquitude, porque Memmi foi o pensador pioneiro em apontar a importância de se problematizar também o opressor.

Definições genéricas da branquitude

Nos estudos sobre a branquitude, no Brasil e em outros países, existe o consenso de que a identidade racial branca é diversa. No entanto, na busca por uma definição genérica, podemos entender a branquitude da seguinte forma: a branquitude refere-se à identidade racial branca, a branquitude se constrói. A branquitude é um lugar de privilégios simbólicos, subjetivos, objetivo, isto é, materiais palpáveis que colaboram para construção social e reprodução do preconceito racial, discriminação racial “injusta” e racismo. Uma pesquisadora proeminente desse tema Ruth Frankenberg define:

“a branquitude como um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê os outros, e a si mesmo, uma posição de poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir ao outro aquilo que não se atribui a si mesmo”. (Frankenberg, 1999b, pp. 70-101, Piza, 2002, pp. 59-90).

Branquitude crítica e Branquitude acrítica

É importante analisar dois tipos de branquitudes distintas e divergentes: a branquitude crítica que desaprova o racismo “publicamente”, e a branquitude acrítica que não desaprova o racismo, mesmo quando não admite seu preconceito racial e racismo, a branquitude acrítica sustenta que ser branco é uma condição especial, uma hierarquia obviamente superior a todos não-brancos.

O termo branquitude crítica e branquitude acrítica surge inspirado pelos critical whiteness studies. Essas linhas de pesquisas dos Estados Unidos e do Reino Unido procuraram descobrir e distinguir os diferentes tipos de racismos desde os praticados sutilmente pela polícia até os assassinatos perpetrados por grupos como a Ku Klux Klan. Porém, a literatura científica sobre a identidade racial branca de língua inglesa, assim como a de língua portuguesa, de maneira geral concentra-se em pesquisar os tipos de racismos praticados por brancos que discordam da tese de superioridade racial branca. Isto significa que existe uma produção crescente sobre a branquitude crítica que pratica racismos que não chegam ao homicídio, enquanto praticamente inexistem trabalhos que pesquisam sobre a branquitude acrítica que possui característica homicída. Branquitude acrítica que age feito quem diz: você que é “diferente” (Santos, 2006c, pp. 259-293), leia-se não-branco, portanto é justificável que seja assassinado.

Ainda a respeito dos critical whiteness studies vale acrescentar que os autores salientam que a branquitude são muitas, assim como as práticas de racismo. Contudo, esses pesquisadores geralmente distinguem os tipos de racismos praticados como aquele perpetrado por um grupo neonazista com agressão física; daquele praticado, às vezes sem intenção, por um profissional de Recursos Humanos (RH).

Assim como se faz necessário definir as diferentes práticas de racismos, igualmente, não se pode deixar de distinguir a pessoa ou grupo que pratica racismo. Essa é uma das razões da nomeação da branquitude de forma distinta como branquitude crítica e branquitude acrítica. Pois nesta perspectiva esses conceitos podem contribuir para maior observação, análise e pesquisa do conflito racial.

Fonte do Artigo Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco anti-racista – Lourenço Cardoso – Pesquisador a Unesp-Araraquara


Branquitude


VEJA TAMBÉM:

O discurso do pastor Cosme Felippsen  é um apelo sincero por inclusividade e compaixão, refletindo o espírito do Carnaval como uma celebração da vida e da comunidade. Cosme Felippsen, integrante do…

A Escalada Fascista, Fundamentalista e Conservadora no Protestantismo Histórico Brasileiro e nos Evangélicos em Geral e a luta do Movimento Negro Evangélico. O cenário religioso brasileiro, marcado pela diversidade e…

Estudos recentes sobre o DNA antigo de 348 indivíduos que viveram na Europa entre 3.000 e 8.000 anos atrás revelaram uma descoberta fascinante: a pele clara, hoje associada aos europeus…

Nas últimas décadas, o Brasil tem observado uma mudança significativa em seu cenário racial. A população que se identifica como negra, composta por pessoas de cor parda e preta, agora…

Personagens negros apresentados nas Escrituras oferecem lições inspiradoras à Igreja Por Marcelo Santos Palavra inspirada e útil para o ensino, como escreveu o apóstolo Paulo a Timóteo (2 Tm 3.16),…

Finalmente, John Burdick afirma que, além da música, há outros locais no protestantismo evangélico que promovem a identidade étnico-racial negra e o antirracismo. Uma sugestão final: como indicado ao longo…

John Burdick discute as limitações e potencialidades da etnografia ativista, sugerindo que a etnografia pode revelar dimensões ocultas e fragmentadas da consciência que podem atrair novos públicos. Contudo, ele questiona…

O estudo de Burdick revela que, apesar das barreiras teológicas, o Movimento Negro Evangélico no Brasil conseguiu articular uma identidade negra orgulhosa e antirracista, utilizando a música como uma ferramenta…

Ao investigar mais profundamente, Burdick descobriu a rica diversidade da música negra evangélica em São Paulo. A cidade abrigava uma vasta gama de artistas cristãos que tocavam soul, funk, gospel,…

A música se mostrou uma peça central na estratégia de atração e mobilização do MNE. Hernani mencionou a dificuldade em atrair grupos musicais pentecostais e neopentecostais para eventos do Movimento…


Morre o reverendo Antonio Olímpio de Sant’Ana

Morreu ontem (16/07/2021) em Piracicaba (SP), aos 84 anos, o reverendo Antonio Olímpio de Sant’Ana, da Igreja Metodista do Brasil, ativista de direitos humanos e pioneiro na luta antirracista nas igrejas protestantes no Brasil. Ele estava em cuidados paliativos devido a um câncer no estômago. O reverendo Sant’Ana deixa esposa e filhas.

O reverendo “Antonio Olímpio de Sant’Ana” deixa um grande legado

“Minha religião é Metodista, mas a minha espiritualidade é negra. Antes de ser metodista e cristão, sou negro.” Reverendo Sant’Ana

Sant’Ana se transformou num dos mais ativos militantes religiosos na luta contra o racismo. Uma militância que extrapolou as fronteiras brasileiras. Seu quilométrico currículo inclui publicações nacionais e internacionais e participação na elaboração do documento oficial brasileiro para a Conferência da ONU contra o Racismo, em Durban, África do Sul, em 2001. Foi membro do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), do Conselho Latino Americano de Igrejas (CLAI) e do Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina (Ciemal).

Reverendo Sant’Anna não atuou só em entidades religiosas, mas em várias outras do Movimento Negro e da luta pelos Direitos Humanos, foi membro do Conselho do Olodum por cerca de 25 anos.

Segue um singelo recorte da vida, pensamento e luta de Antonio Olímpio de Sant’Ana, nas suas proprias palavras:

Direitos Humano versus Ditadura, tortura, assassinatos e o silêncio das igrejas

O despertar para os direitos humanos passa sempre pela dor e sofrimento do povo. Passa pela prática da injustiça geradora de tanta miséria e corrupção. E não nos esqueçamos que, entre aqueles que introduziram a discussão sobre Direitos Humanos no Brasil, estão algumas Igrejas que, por meio de seus vários grupos liderados por teólogos, sociólogos, antropólogos, educadores, pastores(as) e líderes populares, todos impulsionados pela fé, introduziram no interior das igrejas locais a discussão sobre a vinculação profunda que havia entre os direitos humanos e a pessoa humana. Muitos “irmãos e irmãs” ignoraram, mas muitos de nós nos tornamos frutos daqueles momentos de esperança, amor e potente fé que superavam os medos e covardias diante da ditadura opressora. Havia uma igreja atuante, presente na liderança e na base de nossas igrejas, e outra igreja silenciosa, negando-se ao sagrado exercício da profecia e testemunho em momentos de perseguição, sofrimentos e sacrifício. Reverendo Sant’Anna

A força e testemunho da igreja atuante

Quem não se lembra das lições da escola dominical que discutiam abertamente se o “cristão deveria ser de direita ou esquerda, das lições que nos desafiavam a agir como cidadãos e cidadãs responsáveis, homens e mulheres de boa vontade, praticantes de uma fé encarnada na realidade, das memoráveis celebrações ecumênicas da Praça da Sé organizadas por grupos sociais bem diversificados, onde participei não poucas vezes como o orador evangélico, Henry Sobel representando a comunidade judaica e o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns representando a comunidade católica. Falávamos para milhares e milhares de pessoas que se acotovelavam naquele “espaço de liberdade”. Chegávamos e saíamos os três no carro do Cardeal por razões de segurança. Era perigoso? Era. Mas foi um momento grandioso viver a pujança da nossa fé e testemunhar que Jesus Cristo é O Senhor, Aquele que derruba os muros da desigualdade e fortalece a prática da justiça. Reverendo Sant’Anna

As grandes celebrações ecumênicas

Na década de 60, 70 e 80 em Belo Horizonte, marcaram muito a minha vida e meu ministério pastoral. Formar parceria no púlpito com Dom Hélder Câmara e os padres carmelitas na Igreja Católica Romana do Carmo, Belo Horizonte, por vários anos seguidos foi uma fantástica experiência para a minha postura de fé e de missionário junto ao povo sofrido. Aprendi com Dom Hélder, grande servo do Senhor, que quando assumimos a postura profética, estamos seguindo os passos dos grandes baluartes da fé, participantes de uma “linha de esplendor sem fim” que não se matrimoniaram com o poder opressor constituído. Reverendo Sant’Anna

Direitos Humanos são Direitos Divinos: a feliz parceria com os pentecostais

O que me levou ao diálogo com os pentecostais e outros grupos religiosos não pertencentes ao diálogo ecumênico tradicional, histórico, foi a minha aproximação com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), Brasília, em meados dos anos 90. Desafios me empurravam para áreas inexploradas e algumas perguntas angustiantes sobre a ineficácia e morosidade das relações ecumênicas precisavam de respostas e estas só podiam ser conseguidas com um diálogo corajoso e respeitoso. Reverendo Sant’Anna

Comissão Nacional de Combate ao Racismo e a Cenacora

Em setembro de 1985, exercendo o cargo de Secretário Geral de Ação Social da Igreja Metodista no Brasil, devidamente autorizado pelo Conselho Geral da Igreja Metodista, e com o apoio financeiro da Junta de Mulheres Metodistas dos Estados Unidos e do Programa de Combate ao Racismo do Conselho Mundial de Igrejas, Genebra, contando ainda com a inestimável simpatia de Clai e Ciemal, convocamos o “Primeiro Encontro Nacional do Negro Metodista” no Rio de Janeiro, no Instituto Metodista Bennett. Sessenta e dois negros, sendo 42 metodistas vindos de todas as regiões eclesiásticas e 20 negros ativistas experientes convidados para compartilhar o seu saber específico para os negros metodistas. Solidarizaram-se com o nosso inédito encontro repassando a sua experiência, entre outros, Benedita da Silva, então Deputada Estadual, cineasta Joelzito (Zezito) Araújo, economista Hélio Santos, advogado Antonio Carlos Arruda, a renomada educadora negra Lélia Gonzalez, Herbert de Souza, o Betinho, que orientou-nos quanto à necessidade de se fazer uma análise de conjuntura, necessária para o estabelecimento adequado de estratégias e metodologia de trabalho na luta contra a o poder opressor, gerador de injustiça e de morte.

Ao final dos três dias do encontro é formalizada a criação da Comissão Nacional de Combate ao Racismo, na Igreja Metodista do Brasil. A decisão do negro metodista é comunicada às lideranças eclesiásticas e inicia-se a sua atuação inédita, combatendo o racismo que estava impregnado em nossa hinologia, literatura religiosa, lições da escola dominical e nos sermões. A pesquisa e análise da existência do racismo na vida e obra da Igreja Metodista alcançaram resultados positivos e logo se tornaram conhecidos da militância de outras Igrejas Nacionais, gerando ao longo destes anos o surgimento de comissões, grupos e militâncias individuais contra o racismo. Reverendo Sant’Anna

CRIAÇÃO DA CENACORA

Como Secretário Geral de Ação Social da Igreja Metodista, após articulações feitas no início de 1986, foram convidados representantes das Igrejas Nacionais, membros do CONIC- Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, objetivando a criação de uma comissão ecumênica semelhante à da Igreja Metodista. Reunidos na Chácara Flora, S.Paulo, os representantes das Igrejas membros do CONIC concordam na criação de um organismo semelhante que pudesse “representar” as Igrejas fundadoras: Episcopal do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, Metodista do Brasil, Presbiteriana Unida do Brasil e Católica Apostólica Romana. Mais tarde retira-se a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, agregando-se, contudo, outras duas, Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil e Igreja Evangélica Luterana do Brasil. E por decisão da Assembléia da Cenacora, foram recebidas como membros as organizações evangélicas dedicadas ao combate ao racismo: Missões Quilombo e Instituto Nacional de Debates Nelson Mandela, ambas de S.Paulo; Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo” e um grupo do Rio de Janeiro, de maioria Batista, Markingjr , Movimento de Ação e Reflexão Martin Luther King Jr. Reverendo Sant’Anna

Do Afrokut

9 negros que dão nome a ruas e avenidas de São Paulo

Preparamos uma lista com 9 negros que dão nome a ruas e avenidas de São Paulo, são brasileiros negros, que marcaram a historia do país. Sabemos que existem outras personalidades negras que dão nome a ruas,  avenidas e monumentos,  essa pequena lista que elaboramos é para ficarmos atentos a nossa historia:

1 – Torres Homem

Filho do padre Apolinário e da negra Maria Patrícia, conhecida como Maria “Você me Mata”, neta da escravizada Eva da Serra de Taubaté, Torres Homem, retratado como um macaco em caricaturas da época. É considerado o negro que conseguiu maior destaque durante o Império. Ele era contra a escravidão, mas escondia seu cabelo com perucas e usava pó de arroz para clarear a pele. Dava muita importância à aparência. Segundo ele, é “preciso não deixar os medíocres e tolos sequer essa superioridade: trajarem bem. As exterioridades têm inquestionável importância.” (Campos, 1954, p.19). Fez parte de sociedades secretas republicanas e mais de uma vez desrespeitou o Império. Apesar disso, recebeu o título de Visconde do Imperador em 1871. Foi deputado geral, presidente do Banco do Brasil, ministro da Fazenda, conselheiro de Estado e senador do Império do Brasil de 1868 a 1869.

2 – Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto, nasceu no Rio de Janeiro, mais conhecido como Lima Barreto, foi um jornalista e escritor que publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta  obra em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX. A maior parte de sua obra foi redescoberta e publicada em livro após sua morte por meio do esforço de Francisco de Assis Barbosa e outros pesquisadores, levando-o a ser considerado um dos mais importantes escritores brasileiros.

3 – Teodoro Sampaio

Nasceu no Engenho Canabrava, pertencente ao visconde de Aramaré, hoje localizado no município baiano de Teodoro Sampaio. Era filho da escravizada Domingas da Paixão do Carmo e do padre Manuel Fernandes Sampaio. Ainda em Santo Amaro estuda as primeiras letras no colégio do professor José Joaquim Passos. É levado pelo pai, em 1864 para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde estuda no Colégio São Salvador e, em seguida, ingressa no curso de Engenharia do Colégio Central. Ao tempo em que estuda leciona nos Colégios São Salvador e Abílio, do também baiano Abílio César Borges (Barão de Macaúbas), sendo ainda contratado como desenhista do Museu Nacional.

Formou-se em 1877, quando finalmente volta a Santo Amaro, na Bahia, onde nasceu. Ali, revê a mãe e os irmãos, e comprando, no ano seguinte, a carta de alforria de seu irmão Martinho, gesto que repete com os irmãos Ezequiel (1882) e Matias (em 1884). Sampaio nunca foi um escravizado. Em 1879 integra a “Comissão Hidráulica”, nomeada pelo imperador Dom Pedro II, sendo o único engenheiro brasileiro entre estadunidenses.

4 – José do Patrocínio

José Carlos do Patrocínio, nasceu em Campos dos Goytacazes, foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros e ex-escravizados. Filho de João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes e orador sacro de reputação na Capela Imperial, com Justina do Espírito Santo, uma jovem escravizada Mina de quinze anos, cedida ao serviço do cônego por D. Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, proprietária da região.

5 – Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no Rio de Janeiro, foi um enxadrista e escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

6 – Luiz Gama

Luís Gonzaga Pinto da Gama, nasceu em Salvador, foi um rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro. Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo escravizado aos 10, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado “o maior abolicionista do Brasil”.

Teve uma vida tão ímpar que é difícil encontrar, entre seus biógrafos, algum que não se torne passional ao retratá-lo — sendo ele próprio também carregado de paixão, emotivo e ainda cativante. A despeito disto o historiador Boris Fausto declarou que era dono de uma “biografia de novela”. Autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro; pautou sua vida na defesa da liberdade e da república, ativo opositor da monarquia, veio a morrer seis anos antes de ver seus sonhos concretizados.

7 – Mário de Andrade

Mario Raul Moraes de Andrade, nasceu em São Paulo, foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta brasileiro. Ele foi um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922. Andrade exerceu uma grande influência na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso—foi um pioneiro do campo da etnomusicologia—sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil.

Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Músico treinado e mais conhecido como poeta e romancista, Andrade esteve pessoalmente envolvido em praticamente todas as disciplinas que estiveram relacionadas com o modernismo em São Paulo, tornando-se o polímata nacional do Brasil.

8 – Cruz e Souza

João da Cruz e Sousa, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, foi um poeta brasileiro. Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi um dos precursores do simbolismo no Brasil. Segundo Antonio Candido, Cruz e Sousa foi o “único escritor eminente de pura raça negra na literatura brasileira, onde são numerosos os mestiços”. Filho dos escravizados alforriados Guilherme da Cruz, mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, João da Cruz desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. A esposa de Guilherme Xavier de Sousa, Dona Clarinda Fagundes Xavier de Sousa, não tinha filhos, e passou a proteger e cuidar da educação de João. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Em 1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor de Laguna por ser negro.

Em 1885, lançou o primeiro livro, Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea. Cinco anos depois foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com diversos jornais. Em fevereiro de 1893, publicou Missal (prosa poética baudelairiana) e em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao simbolismo no Brasil que se estende até 1922. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose, levando-a à loucura.

9 – André Rebouças

André Rebouças, nasceu em Cachoeira, foi um engenheiro, inventor e abolicionista brasileiro. Ele passou seus últimos 6 anos trabalhando pelo desenvolvimento de alguns países africanos. André Rebouças era filho de Antônio Pereira Rebouças e de Carolina Pinto Rebouças. Seu pai, filho de uma escravizada alforriada e de um alfaiate português, era advogado autodidata, deputado e conselheiro de D. Pedro II (1840 – 1889). Dois dos seus seis irmãos, Antônio Pereira Rebouças Filho e José Rebouças, também eram engenheiros. André ganhou fama no Rio de Janeiro, então Capital do Império, ao solucionar o problema de abastecimento de água, trazendo-a de mananciais fora da cidade. Servindo como engenheiro militar na guerra do Paraguai, André Rebouças desenvolveu um torpedo, utilizado com sucesso.

Em 1871, André e seu irmão Antônio, também engenheiro, apresentaram ao Imperador D. Pedro II o projeto da estrada de ferro ligando a cidade de Curitiba ao litoral do Paraná, na cidade de Antonina. Quando da execução do projeto, o trajeto foi alterado para o porto de Paranaguá. Até hoje, essa obra ferroviária se destaca pela ousadia de sua concepção. Ao lado de Machado de Assis, Cruz e Souza, José do Patrocínio, André Rebouças foi um dos representantes da pequena classe média negra em ascensão no Segundo Reinado e uma das vozes mais importantes em prol da abolição da escravatura. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora.

Em 2015, no mês da Consciencia Negra, o coletivo João Silva, grupo formado por publicitários, fez alguns adesivos, que foram colados junto a diversas placas de negros que dão nome a ruas e avenidas, com um pequeno perfil dos homenageados.

Do Afrokut