O protestantismo e a questão racial no Brasil

Embora o número de negros e pardos seja proporcionalmente maior nas igrejas pentecostais do que nas igrejas históricas42 (IBGE, 2010), é principalmente a partir do contexto destas últimas que se têm levantado pessoas buscando lançar luz sobre tais questões, incluindo-as na pauta de interesse de algumas igrejas evangélicas.

Exemplo de tal constatação foi a oficialização da Comissão Nacional de Combate ao Racismo – em 1985, na gestão de Antônio Olímpio Sant’Ana sobre a Secretaria de Ação Social da igreja Metodista. Designada a partir de então como Pastoral Nacional de Combate ao Racismo, esta comissão fora criada doze anos antes por membros da denominação oriundos dos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, tendo como objetivo identificar linguagem racista na hinologia e na própria literatura produzida pela igreja, além
de capacitar lideranças para atuarem nas diversas regiões eclesiásticas (OLIVEIRA, 2017). Outros exemplos são a criação da Associação Evangélica Palmares (1987), do Grupo Evangélico Afro-brasileiro e dos Capoeiristas de Cristo (1988).

Outra figura pioneira a manifestar tal preocupação foi Hernani Francisco da Silva, cuja “segunda conversão” consistiu em “despertar sua negritude”, ocasião em que se sentiu impelido a desenvolver um trabalho voltado para o combate ao racismo no interior do campo religioso evangélico. Em 1991, Hernani Silva, então pertencente a uma igreja pentecostal, fundou com o auxílio de outras pessoas a Sociedade Cultural Missões Quilombo, cujo objetivo principal era“modificar a visão que as igrejas evangélicas têm da cultura negra’ através de uma tentativa de resgate da presença negra nas raízes do cristianismo e da denúncia do que considera uma ‘teologia evangélica racista” (SILVA, 2011; apud OLIVEIRA, 2017: 132).

Nas décadas seguintes, eclode um sem-número de grupos, atuantes desde os níveis local a nacional, interessados em discutir a situação do indivíduo negro adepto do protestantismo. Assim como ocorreu no contexto católico, o movimento negro evangélico foi impulsionado no período da redemocratização. Contudo, como observa Oliveira (2017), diferentemente daquele, não houve no campo protestante a mesma concentração de ações e agentes nos movimentos de cunho étnico-racial, devido ao caráter plural deste segmento religioso.

Por isso, várias tentativas foram empreendidas ao longo dos anos a fim de possibilitar a troca de informações e realização de atividades em conjunto: o Fórum de Afrodescendentes Evangélicos; as comunidades Negros Cristãos, CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos, Negros Evangélicos, Negros Sim!! Somos Cristãos, Movimento Negro Evangélico, Teologia Negra, o Afrokut e outras, todas reunindo evangélicos de várias denominações e estabelecidas em redes virtuais de relacionamento.

Atualmente, enquanto uma vertente do movimento adota a defesa da brasilidade (isto é, da integração entre negros e brancos), outros rejeitam não só a miscigenação e as relações inter-raciais, por exemplo, mas também a existência de um movimento evangélico, alegando que o movimento negro seria um só. A despeito disso, a mobilização de uma pequena parcela dos negros evangélicos tem provocado debates sobre o que outrora era um tabu, isto é, a relação entre religião e negritude. Porém, se no nível da militância tais questões vêm sendo discutidas desde o século passado, o mesmo não se dá no nível acadêmico, onde são escassos os trabalhos que se debruçam sobre tal tema.

Por Alexandre Florencio dos Santos

Protestantismo e identidade negra sob enfoque narrativo: dilemas e relações possíveis / Alexandre Florencio dos Santos; orientadora: Liana de Andrade Biar. – 2022.

Tese (doutorado) Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Departamento de Letras, 2022.

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Protestantismo e Identidade Negra sob enfoque narrativo: dilemas e relações possíveis

Produção científica sobre o Movimento Negro Evangélico

A gêneses do movimento negro evangélico no Brasil

Reconstruir a história do Movimento Negro Evangélico Brasileiro (MNE) é uma tarefa complexa, sobretudo porque esse é um processo ainda em andamento, com suas fronteiras borradas. Essa dificuldade parece ser maximizada na medida em que olhamos com maior vagar para o interior do próprio campo religioso cristão não católico, nomeado genericamente neste texto como “evangélicos”.2 Entretanto, é possível observar uma espécie de fio de Ariadne3 que conduz seus agentes no desenvolvimento de suas ações.

Pode-se falar em Movimento Negro Evangélico (MNE), por um lado, na medida em que se tem como referencial um conjunto de ações produzidas por grupos consolidados ou em construção, cujos agentes são pessoas que se autoclassificam como “evangélicas” e negras (pretas ou pardas, de acordo com a nomenclatura adotada pelo IBGE). Por outro, deve-se considerar que, em geral, os destinatários dessas atividades são também pessoas negras que participam de alguma igreja classificada como “evangélica”.

O combate ao racismo no interior das igrejas, em particular, e na sociedade, em geral, pode ser tomado como o elemento central a partir do qual se organizam as diversas iniciativas com temática racial empreendidas por esses grupos. Tais iniciativas têm em comum o fato de serem organizadas com base em certa orientação teológica-pastoral de inspiração protestante. Isso significa que, mais do que tratar de um grupo específico, para compreender o MNE, é preciso, antes de tudo, mapear as diversas atividades presentes nas várias igrejas para, em seguida, proceder a análise de suas estruturas.

Neste texto será apresentado de maneira panorâmica uma historiografia do MNE, a partir da atuação de alguns de seus agentes paradigmáticos. Discute-se também o modo como os símbolos da herança africana no Brasil são acionados nas ações desses grupos. Os dados que seguem foram recolhidos durante a pesquisa de campo,4 que privilegiou a produção escrita dos agentes evangélicos, a participação em curso de formação sobre a presença do negro na igreja, entrevistas e depoimentos colhidos por meio de sites de relacionamento (especificamente o Afrokut, que reúne exclusivamente negras e negros evangélicos) além de conversas informais.

É importante ressaltar que, embora a participação das mulheres seja fundamental para a consecução do MNE, pastores e lideranças masculinas ganham proeminência na narrativa pública sobre a gênese do movimento. Em parte, esse fenômeno é justificado por alguns interlocutores5 pelo fato de que o sacerdócio no âmbito das igrejas cristãs (católicas e aquelas originárias da Reforma) é exercido quase que exclusivamente por homens, posição controversa entre os agentes. Atém mesmo entre as lideranças, o lugar que o sujeito ocupa na hierarquia religiosa impacta na atuação, como se verá mais adiante.

Partindo do princípio de que os discursos não constituem um campo separado das práticas sociais que produzem as identidades com base em sinais diacríticos da identificação étnica-racial seletivamente construídos, os grupos étnicos são “vistos como formas de organização de novas e adaptadas identidades ao “aqui e agora’” (Cunha 2009a:226). Entende-se que o campo religioso brasileiro, nas últimas décadas, tem sido um poderoso “aqui e agora” a impelir as religiões a também se posicionarem frente à diversidade étnico-cultural de seus fiéis.

Ao descrever os processos discursivos (Asad 2003) que orientam as práticas desses sujeitos, pretende-se verificar como são produzidos os conceitos em disputa (“identidade negra”, “cultura negra”, “negritude”, “herança africana”, “pan-africanismo”, “afrocentrismo” etc.), os quais põem segmentos religiosos distintos em diálogo na esfera pública. Com isso, não se imputa às categorias investigadas significados a priori – pelo contrário, queremos compreender seu processo de elaboração.

O conjunto de categorias operacionalizada pelos agentes é tomada como “nativo”, cujo significado não está apartado dos contextos e dos sujeitos que o empregam. Desse modo, importa saber como os consensos são estabelecidos por meio de discursos e como práticas ganham significados na esfera pública, põe atores em relação e promovem a efetivação de direitos. O recurso das aspas nos ajudará a colocar em suspeição esses termos, tal como fez a Manuela Carneiro da Cunha (2009b:373) ao tratar da noção de cultura e “cultura”.

Ganha relevo, neste debate, os deslocamentos de sentidos que são operados pelos agentes nas categorias de classificação “etnia” e “raça”, com base em certa noção de “cultura”. Isto é, como se verá mais adiante, a noção de raça acionada por alguns agentes em certos momentos parece apontar para o sentido de grupo étnico tal como fora definido por Fredrik Barth (1969).

Entre os anos 1970 e 1980, observa-se a gênese de duas posturas distintas frente às heranças culturais africanas no Brasil: combate e certa indiferença. Ou seja, por um lado, igrejas evangélicas neopentecostais assumem como elemento central da sua ação proselitistas a demonização das divindades, elementos e valores das religiões afro-brasileiras, inclusive daqueles presentes nos ícones da “identidade nacional”, como a capoeira, o carnaval, o samba etc. (Mariano 1999Silva 2007). Por outro lado, no âmbito das igrejas protestantes históricas emergem alguns coletivos de evangélicos negros que assumem um discurso de salvação que leva em consideração o pertencimento étnico-racial de seus fiéis sem, no entanto, ressaltar o que fora tradicionalmente evidenciado como “símbolos da cultura negra” (Burdick 2004).

Esse quadro desenhado no campo “evangélico” opõe-se ao contexto católico, pois, desde os anos de 1970, lideranças (formadas por leigas e leigos, padres e bispos) empreendem uma série de ações pastorais dentro e fora da igreja, em prol da população negra assumindo e ressignificando elementos culturais de origem africana. Tais atividades voltam-se para dentro da igreja, como a proposição de “liturgias inculturadas” (Oliveira 2016), e para fora, associando-se a outros coletivos do movimento negro (Oliveira 2017).

Neste texto, parte-se do pressuposto de que, atualmente, há um descentramento da identidade, isto é, o indivíduo não pode mais ser identificado com base em dados apriorísticos ou essencializantes. É por força da globalização que as identidades centradas e “fechadas” são deslocadas e pluralizadas. Dessa forma, a construção da identidade via interação com o grupo de origem não resulta em apenas uma definição, mas “produz uma variedade de possibilidades e novas posições de identidades… [tornando] as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas; menos fixa, unificadas ou trans-históricas” (Hall 2003:87).

Nesse contexto, considerando que no jogo das identidades os sujeitos estão “constantemente em negociação, não com um único conjunto de oposições que nos situe sempre na mesma relação com os outros, mas com uma série de posições diferentes” (Hall 2009:328), a constituição do Movimento Negro Evangélico participa dessa disputa pela autoridade em legitimar a “identidade negra” com base em seus pressupostos doutrinários. Dessa forma, os agentes religiosos buscam autoridade para enunciar um discurso tanto na esfera pública, acerca das políticas étnico-raciais, quanto no exercício do proselitismo, uma vez que seriam as religiões também articuladoras na construção da “negritude”.

O método de coleta de dados adotado abrangeu três níveis complementares: documental, observação participante (em campo) e entrevista e/ou coleta de depoimentos dos agentes observados. A pesquisa de campo privilegiou a produção escrita de lideranças religiosas, a participação em curso de formação sobre a presença do negro na igreja, entrevistas e depoimentos colhidos por meio de sites de relacionamento (especificamente o Afrokut, que reúne exclusivamente negras e negros evangélicos) e o acesso aos registros (entrevistas, reportagens etc.) das atividades feitas pelos próprios religiosos e divulgadas na mídia.

Este texto está dividido em duas partes: na primeira, apresenta-se o processo de configuração do MNE e, na segunda, discute-se como os símbolos da “herança africana no Brasil” são acionados por esses agentes, na conformação de suas ações pastorais.

Por Rosenilton Silva de Oliveira – Professor na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil.
Coordenador do Fateliku – grupo de pesquisa sobre educação, relações étnico-raciais, gênero e religião. Doutor em Antropologia.


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“Hoje eu orei, Ele é negro”: a gêneses do movimento negro evangélico

Humanitude ou como saciar a sede por humanidade

Frente ao fracasso do modelo ocidental de desenvolvimento, que coloca a cultura do ter acima da cultura do ser, cada vez é mais urgente desenvolver um projeto diferente de sociedade – algo que seja fundamentado na humanitude, um conceito que explora a abertura ao Outro, a única saída possível para um mundo desencantado.

Tornou-se lugar-comum dizer que o nosso mundo, que está nas garras de uma crise multidimensional e aparentemente eterna, encontra-se em um estado muito ruim. Essa crise, na realidade, revela uma perda de sentido, reforçada por uma tendência à homogeneização das culturas mundiais, provocada pela globalização acelerada dos mercados. Isso está levando a uma verdadeira desumanização das relações entre indivíduos, povos e Estados. Os atuais desafios ambientais, energéticos, demográficos e digitais – aos quais se somam a pobreza e as desigualdades vigentes – acentuam o sentimento geral de angústia existencial e uma falta de confiança no futuro.

O “modelo de desenvolvimento” que prevalece hoje em dia tem como base o que eu chamo de uma cultura do “ter”, do lucro. Ele já revelou suas limitações, e a crise atual confirma que já está falido. Esse “modelo ocidental” é responsável pelo eurocentrismo e pelo centralismo ocidental visto nas relações internacionais, tanto em termos de bens quanto de produção intelectual. Consequentemente, uma mudança de paradigma em direção à promoção de valores mais alinhados com uma cultura do “ser” se tornou um imperativo.

Foi com essas considerações em mente que, vários anos atrás, eu sugeri que explorássemos um novo conceito – humanitude – em referência à negritude, um conceito que herdei de meu mentor, o poeta Aimé Césaire, da Martinica.

Utilizo este conceito de humanitude para traduzir o que, na África, nós chamamos de maaya (em bamanankan, a língua bambara), neddaaku (em fulfulde, a língua fula), boroterey (em songai, a língua songai), nite (em wolof) e ubuntu (nas línguas bantu), entre outros. Existem muitos termos que significam, literalmente, “a qualidade de ser humano”.

Conectando humano a humano

As sociedades africanas sempre colocaram o “ser”, em vez de o “ter”, no centro do seu desenvolvimento. Em termos mais globais, certas sociedades não europeias têm uma cosmovisão que coloca o “ser” no centro de todas as relações com o mundo. Essa visão é caracterizada por uma busca permanente por relações não conflituosas, pacíficas, orientadas em direção ao consenso com os outros e à harmonia com o meio ambiente, no sentido mais amplo. Por muito tempo, essa concepção de mundo também era compartilhada pelo Ocidente, antes de ser dominada por uma forma de modernidade com base no mercado, no fundamentalismo material e na acumulação individualista.

A humanitude é a nossa abertura permanente ao Outro, nossas relações de ser humano para ser humano. Ela determina uma relação permanente de solidariedade, livre de manipulação – um impulso espontâneo de acolher o Outro. Essa humanitude torna possível “conectar humano com humano” – para usar a bela expressão de Césaire – e é a base para uma cultura do “ser”, o oposto de uma cultura totalitária do “ter”, que leva a relações permanentemente conflituosas de aquisição, ou mesmo dominação.

Em uma apresentação notável no simpósio Ubuntu, que ocorreu em Genebra, na Suíça, em abril de 2003, meu amigo e mentor de Burkina Faso, Joseph Ki-Zerbo (historiador, político e escritor, 1922-2006), enfatizou que:

“O principal, portanto […] é levar para o topo da agenda e das lutas sociais do planeta o conceito, a questão, a causa, o paradigma de ubuntu como um antídoto axiomático e específico ao mercantilismo dos seres humanos e da humanidade ocasionado pelo neoliberalismo sectário da economia de mercado”.

Em sua palestra Ubuntu ou “o homem como remédio para o homem”, que posteriormente foi publicada no livro Repères pour l’Afrique (Dacar: Panafrika; Silex; Nouvelles du Sud, 2007), Ki-Zerbo continua sua análise especificando que:

“[…] ubuntu pode ser a ferramenta mais poderosa para essa tarefa suprema. Porém, acima de tudo, deve se tornar seu objetivo e o significado da paz. Isso não quer dizer ir na direção de uma forma de culturalismo antropológico, mas, quando confrontado com o rolo compressor do pensamento único, ele se tornou urgente para desarmar conflitos em que o peso da responsabilidade recai na violência estrutural do status quo […]”.

Agora, eu estou convencido de que, considerando o fracasso dos atuais modelos de desenvolvimento, nós devemos pensar em como elaborar um novo projeto para a sociedade, fundamentado precisamente no conceito de humanitude.

O grande encontro internacional das ciências humanas, a primeira Conferência Mundial de Humanidades (World Humanities Conference – WHC), que será realizada em Liège, na Bélgica, de 6 a 12 de agosto de 2017, oferece uma oportunidade de se aprofundar nesse conceito.

Um evento sem precedentes

Liège, chamada de “Cidade Ardente”, tanto em espírito quanto em engenhosidade, é uma cidade multicultural no coração da Europa, e abrigará um evento sem precedentes apoiado pelo rei da Bélgica.

Então, por que uma Conferência Mundial de Humanidades?

A ideia me ocorreu em 2009, durante meu primeiro mandato como presidente do Conselho Internacional de Filosofia e Ciências Humanas (International Council for Philosophy and Human Sciences – CIPSH), uma organização não governamental criada sob os auspícios da UNESCO em 1949.

A Conferência foi resultado de três observações. Após episódios recorrentes de instabilidade relacionados à globalização financeira, a crise de 2008-2009, mais do que apenas financeira ou econômica, tornou-se, de fato, “total”. Era uma crise da sociedade, o que, de certa forma, confirmou a falência do modelo de desenvolvimento dominante, neoliberal e ocidental, levando a uma verdadeira perda de significado.

Minha segunda observação foi a progressiva marginalização das ciências humanas no mundo. Como se pode aceitar que, testemunhando uma situação como essa, que deveria provocar alguma reação, os que têm a responsabilidade de nos explicar a complexidade das transformações sociais permanecem paralisados, impossibilitados de se mover?

Terceiro, eu observei a falta de envolvimento, senão a total ausência, ou repúdio, por parte de estudiosos das ciências humanas de fora da Europa e do “Ocidente” na produção intelectual e na cooperação mundial. A situação se agravou com os riscos de desaparecimento de conhecimentos tradicionais e da metade das línguas do mundo – o que agora se chama de epistemicídio e linguicídio.

É por isso que, em 2009, pareceu-me não somente óbvio, mas também imprescindível, propor que a UNESCO organizasse uma Conferência Mundial de Humanidades. Como primeira tentativa nesse sentido, seu objetivo seria iniciar o processo de reabilitação das ciências humanas no mundo.

Uma ansiedade insuportável

A questão central a ser discutida na Conferência é o papel das ciências humanas em um século XXI caracterizado pela diversidade cultural, pelo fracasso de várias formas de pensamento único, e pela necessidade de se reintroduzir considerações de médio e longo prazo nos pensamentos do dia a dia. Este é um século marcado por mudanças mundiais, migração crescente e tensões sociais e econômicas – cuja resolução depende, em grande medida, de habilidades interculturais, da compreensão da unidade humana em toda a sua diversidade. Ela também se apoia na necessidade de reforçar as relações das ciências entre as disciplinas e com as artes e tecnologias.

Este é um século que começou com o desenvolvimento de um terrorismo global que não poupa nenhuma região do mundo, nem país algum, atacando, de forma tão cega quanto desumana, cidadãos inocentes que são vítimas de uma violência gratuita, bárbara e indescritível. Uma ansiedade insuportável atravessa o planeta, mais ainda porque esses atos de violência – conhecidos durante as conquistas coloniais e guerras de independência – permaneceram relativamente desconhecidos ao Ocidente enclausurado desde a Segunda Guerra Mundial, com algumas exceções.

Portanto, o objetivo principal da Conferência consiste em estudar formas pelas quais as humanidades estão auxiliando ou podem auxiliar, nacional, regional e internacionalmente, a mensurar e entender as transformações culturais vinculadas à globalização gradual de intercâmbios, de forma a administrá-los melhor – em todas as suas dimensões econômicas, sociais e ambientais.

Diante da crise social e humana que estamos vivenciando, e um mundo corrompido no qual o processo de desumanização aumenta e ganha força, a ambição da Conferência consiste em construir um diálogo fértil entre as mentes atuais sobre os desafios, os riscos e os novos conhecimentos, por meio dos quais as humanidades podem tornar nosso mundo mais compreensível, menos opaco, menos belicoso, menos assassino e, ao mesmo tempo – é a esperança que compartilhamos – mais humano.

As humanidades são uma celebração da genialidade das línguas da espécie humana e do conhecimento que surge da proliferação de nossas práticas sociais, políticas, econômicas e artísticas.

Reabilitar e reconstruir as ciências humanas

O título da Conferência, Desafios e Responsabilidades para um Planeta em Transição (Challenges and Responsibilities for a Planet in Transition), situa claramente as questões subjacentes a esta conferência. De acordo com a UNESCO, são os seguintes os maiores desafios do nosso planeta em transição: crescimento populacional; a recomposição de territórios; fluxos migratórios; energia e limites ambientais; a homogeneização de culturas no contexto da globalização e, inversamente, a construção de novas identidades; e a chegada da sociedade digital, que, muitas vezes, cria uma sociedade dividida.

Há um sentimento de que os modelos de desenvolvimento dominantes fracassaram, especialmente o modelo neoliberal, que parece estar se impondo aos povos do mundo. Nesse contexto, torna-se imperativo reconsiderar o papel das ciências humanas em nossas sociedades contemporâneas. É preciso levar em conta tanto as especificidades e os recursos inerentes a cada cultura, valorizando cada um de forma sábia, quanto as possibilidades de intercâmbio, em prol do diálogo e do enriquecimento mútuo.

Com isso, a Conferência é uma oportunidade de se recuar para reabilitar e reconstruir as ciências humanas, para produzir uma mudança de paradigma, permitindo a reinvenção de um mundo fundado no respeito por sua rica diversidade cultural e linguística. Esse novo paradigma nos permitirá substituir as relações conflituosas de competição por uma solidariedade genuína e universal, que é a única forma de ajudar a enfrentar os desafios do nosso planeta em transição!

Em suma, temos de saciar a sede de humanidade do nosso planeta, vivendo e consagrando nossa humanitude!

Adama Samassékou

Adama Samassékou (Mali) é presidente da Conferência Mundial de Humanidades (WHC). Ex-ministro da Educação Nacional do Mali, foi membro do comitê preparatório para a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (Genebra 2002-2003). Samassékou foi também o primeiro secretário-executivo da Academia Africana de Línguas da União Africana (Acalan), com sede em Bamako. Após dois mandatos como presidente do Conselho Internacional de Filosofia e Ciências Humanas (CIPSH), de novembro de 2008 a outubro de 2014, ele agora é seu presidente honorário.

Fonte:  UNESCO

Letramento Racial para Gestores(as) da Educação Básica: Pressupostos, Orientações e referenciais

Historicamente, o racismo é uma realidade social e cultural no Brasil, que permeia também o âmbito escolar. As instituições do Estado Brasileiro no geral e consequentemente a escola reproduzem o racismo estrutural.  Isto é: aquele que permeia historicamente a sociedade, estruturando suas relações sociais, políticas, econômicas, jurídicas como componente orgânico. Torna-se pressuposto para a educação necessária para o século XXI avança para além desse racismo, não o reproduzindo institucionalmente, mas investindo seriamente no seu desmantelamento.

Muitos são os documentos normativos, pesquisas acadêmicas e trabalhos científicos que convocam a escola a fazer o exercício de rever seus posicionamentos e ações pedagógicas nesse sentido. Estes são conhecidos e consultados pelos profissionais de educação na elaboração de intervenções pedagógicas antirracistas? Existe um planejamento contemplando esse propósito?

Achismos e senso comum já não cabem nas escolas ao tratar a Educação para as Relações étnico-Raciais.  Planejar, construir e efetivar um “Plano de Ação”, é fundamental para incluir de forma curricular e sem equívocos este propósito.  É urgente e imprescindível qualificar os(as) profissionais de educação  para que a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, alterada em seu Artigo 26-A e 79-B pela Lei Federal 10.639/03, seja observada quanto à obrigatoriedade de incluir no currículo a História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, bem como disseminar a Educação para as Relações Étnico-Raciais nas escolas.

Assim, torna-se necessário alguns questionamentos: Os gestores escolares estão preparados e fundamentados teoricamente para enfrentar esse desafio? Quais práticas escolares cotidianas, refletindo uma educação antirracista e emancipatória deverão ser consolidadas e como? Quais seriam os compromissos profissionais, éticos e pedagógicos a serem assumidos pelos Técnicos Educacionais das Secretarias de Educação e pelos gestores e coordenadores escolares nesta tarefa? Que conhecimentos deverão fazer parte das reflexões de gestores para se criar condições didático-metodológicas favoráveis a construção de uma cultura escolar de respeito às diferenças e valorização da diversidade e implantação da História e Cultura Afro-brasileira e Africana e Indígena?

É urgente desqualificar a narrativa equivocada de que o racismo no ambiente escolar é apenas uma questão moral, de relações interpessoais. A escola antirracista é aquela que além de não aceitar o racismo em suas estruturas, se posiciona contra ele impedindo sua reprodução por meio de ações concretas. Qualificar as reflexões e debates no meio escolar para descortinar as formas como o racismo estrutural entrelaça seus fios nas ações escolares cotidianas é uma ação ética, política e pedagógica, urgente e necessária.

Objetivando ampliar o letramento racial  de educadores e educadoras, subsidiando os trabalhos dos  Técnicos educacionais, dos gestores escolares, e  dos coordenadores/orientadores pedagógicos, fortalecendo suas atuações profissionais quando a consolidação de uma educação antirracista, a DLR -Assessoria Afropedagógica,  coloca à disposição  sua vasta experiência nesse tema e  apresenta seu trabalho, oferecendo a realização do curso:

Letramento Racial para Gestores(as) da Educação Básica: Pressupostos, Orientações e referenciais para uma Educação Antirracista.  

OBJETIVOS:

  • Possibilitar reflexões sobre uma educação antirracista ampliando conhecimentos em relação ao trato didático/ pedagógico da Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na perspectiva da gestão escolar.
  • Refletir sobre o papel que deverá ser desempenhado por gestores quanto a Educação para as relações Étnico Raciais, fortalecendo ações afirmativas na Educação Básica.
  • Elencar princípios e referenciais para a elaboração, de um plano de gestão para o e consolidação efetiva da Lei 10.639/03 -11.645/08 na escola de atuação.
  • Identificar os pressupostos e as várias dimensões que deverão ser observadas ao se pensar um plano gestor de ações contemplando a consolidação de práticas escolares que reflitam uma educação antirracista e emancipatória, buscando a equidade étnico racial na educação.
  • Compreender diversos conceitos ligados ao Racismo Estrutural/ Institucional, relacionados às práticas escolares cotidianas pensando ações para avançar para além desse racismo.
  • Possibilitar aos cursistas reflexões e análise de alguns itens de documentos normativos que apresentam indicações para atuação efetiva de gestores quanto às questões raciais nas escolas.

SAIBA MAIS

PUBLICO-ALVO: Técnicos Educacionais das Secretarias de Educação, Gestores escolares, coordenadores e orientadores pedagógicos e demais interessados no assunto.

CARGA HORÁRIA: A carga horária, destinada a esse curso é de 8 Horas/Aulas, divididas em (4) quatro módulos de (2) duas horas.

Informações:

DLR-ASSESSORIA AFRO PEDAGÓGICA

Rosa Margarida de Carvalho Rocha

Negritude

Perto do fim de sua vida, Aimé Césaire declarou que a pergunta que ele e seu amigo Léopold Sédar Senghor começaram a levantar depois de se conhecerem foi: “Quem sou eu? Quem somos nós? O que somos nós neste mundo branco? ” E ele comentou: “Isso é um grande problema” (Césaire 2005, 23). “Quem sou eu?” é uma questão que Descartes colocou, e um leitor do filósofo francês naturalmente entende tal questão como universal, e o sujeito que diz “eu” aqui para representar qualquer ser humano. Mas quando “quem sou eu?” deve ser traduzido como “quem somos nós ?” tudo muda principalmente quando o “nós” tem que se definir contra um mundo que não deixa espaço para quem e o que são, porque são negros em um mundo onde “universal” parece significar naturalmente “branco”.

Negritude”, ou a autoafirmação dos povos negros, ou a afirmação dos valores da civilização de algo definido como “o mundo negro” como resposta à pergunta “o que somos nós neste mundo branco?” é de fato “um grande problema“: ele levanta muitas questões que serão examinadas aqui através dos seguintes títulos:


Fonte:

Diagne, Souleymane Bachir, “Négritude“, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2018 Edition), Edward N. Zalta (ed.), URL = <https://plato.stanford.edu/archives/sum2018/entries/negritude/ >.


 A gênese do conceito de Negritude

Movimento Negro Evangélico de Pernambuco repudia o ato de racismo religioso sofrido pelo Terreiro das Salinas

O Movimento Negro Evangélico de Pernambuco vem através desta nota repudiar de maneira veemente o ataque contra o Ilê Axé Ayabá Omi, entendendo que é necessária uma resposta urgente do poder público garantindo a liberdade e diversidade religiosa que são direitos humanos e básicos.

Sabemos que o incêndio criminoso que ocorreu no Terreiro das Salinas no dia 01 de janeiro de 2022, é fruto do racismo religioso que constitui esse país. O deus dos fundamentalistas cristãos é um deus que queima terreiros, um deus morto, que nada tem a ver com o Deus que confessamos. Por isso é nosso dever dizer que o único motivo para as violências sofridas pelas religiões de matriz afro-brasileiras e indígenas, é o racismo. Essa lógica que nos desumaniza, que demoniza as nossas crenças e como olhamos para o mundo. Acompanhamos a um tempo o trabalho do Terreiro de Salinas, seu compromisso com a comunidade local no enfrentamento à fome e também no reforço escolar que é oferecido no local.

Nos comprometemos a acompanhar todo o processo de reconstrução do terreiro e também de dialogar de maneira profunda com as nossas irmãs e irmãos vítimas de um ato tão violento, que é o de ter seu sagrado violado.

Por último, queremos dizer que o ministério de Jesus de Nazaré encarna nos perseguidos da história, nos que são demonizados e excluídos. Nos que são assassinados e empobrecidos todos os dias no Brasil. Se existe algo diabólico no contexto religioso brasileiro, se chama racismo religioso. Isso sim que é obra do mal, dos que tentam matar, roubar e destruir quem somos como comunidade negra. Por este motivo, também, não toleraremos qualquer associação das religiões de Matriz Africana com o inferno. Nossas irmãs e irmãos de terreiro merecem respeito, humanidade e liberdade para viverem plenamente a sua fé.

Colegiado do Movimento Negro Evangélico de Pernambuco

Nota de solidariedade à pastora Odja e sua família e de repúdio às ameaças de morte sofridas

Nota de solidariedade à pastora Odja Barros e sua família e de repúdio às ameaças de morte sofridas.

A Rede Afrokut enfatiza seu repúdio contra ameaças de morte sofridas pela pastora Odja Barros, da Igreja Batista do Pinheiro, Maceió em Alagoas. As ameaças contra a vida da pastora e teóloga Odja Barros e sua família ocorreram após a religiosa ter celebrado no dia 11 de dezembro de 2021 um casamento homoafetivo entre duas mulheres. O casamento ocorreu em um salão de festas de Maceió e foi uma das primeiras cerimônias realizadas no país entre pessoas do mesmo sexo por pastores batistas — a primeira que se tem notícias celebrada por uma mulher, que em muitas igrejas batistas sequer podem exercer a função de pastora.

Conforme o site g1, o pastor Wellington Santos, da Igreja Batista do Pinheiro e esposo de Odja Barros, a família toda está assustada com as ameaças.

Desde 2016 nós somos criticados pelo nosso trabalho junto às minorias, até campanha pessoal contra nós foi realizada. Mas quando isso toma essa proporção, de alguém ameaçar dar cinco tiros na cabeça da minha esposa, e cita que está monitorando minha família, nos dá a certeza que estamos vivendo uma barbárie. O debate deve acontecer no campo das ideias, quando as discordâncias viram ameaças de morte, é sinal disso”, relatou o pastor.

A Igreja Batista do Pinheiro é uma igreja acolhedora para todas as pessoas, pratica o cristianismo com respeito e apoio a todos os setores excluídos e oprimidos na sociedade, somando com os movimentos sociais na defesa dos direitos humanos. A Igreja Batista do Pinheiro tem sido um foco de resistência contra várias formas de injustiças, um exemplo notável foi a criação da Pastoral da Negritude, fundada por um grupo de pessoas comprometidas em despertar a comunidade evangélica para uma consciência negra, com a proposta de fazer uma releitura da bíblia na ótica étnico racial, resgatando a presença e a cultura africana na história bíblica. Também contribuir na inclusão social dos(as) afrodescendentes, na luta contra a discriminação racial, preconceitos, e xenofobia.

Portanto, manifestamos nossa incondicional solidariedade à pastora Odja Barros e a toda comunidade do Pinheiro e cobramos as autoridades do estado de Alagoas a identificação e punição dos covardes agressores, que se escondem com o vergonhoso véu do anonimato, respondam pelos seus atos.

Rede Afrokut

Imagem: arquivo pessoal

Mulheres Negras que ganharam o Prêmio Nobel

O Prêmio Nobel foi atribuído a mais de 900 pessoas, só 57 mulheres foram agraciadas, das quais apenas quatro mulheres negras ganharam o prêmio

Desde o início da premiação, apenas 18 pessoas negras agraciadas com o Prêmio Nobel.

Os negros foram premiados em três das seis categorias de premiação: treze na Paz, quatro em Literatura e uma em Economia. O primeiro negro a receber o prêmio, Ralph Bunche, recebeu o Nobel da Paz em 1950. O mais recente, Abdulrazak Gurnah, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2021.

Conheça  4 Mulheres Negras que ganharam o Prêmio Nobel:

Toni Morrison

“Primeira mulher negra a ganhar um Prêmio Nobel”.

Prêmio Nobel de Literatura – Ano: 1993

Toni Morrison, nascida em Lorain, 18 de Fevereiro de 1931, foi uma escritora estadunidense. Recebeu o Nobel de Literatura de 1993, por seus romances fortes e pungentes, que relatam as experiências de mulheres negras nos Estados Unidos durante os séculos XIX e XX. Seu livro de estréia, O olho mais azul (1970), é um estudo sobre raça, gênero e beleza — temas recorrentes em seus últimos romances.

Despertou a atenção da crítica internacional com Song of Solomon (1977). Amada (1987), o primeiro romance de uma trilogia que inclui Jazz (1992) e Paraíso (1997), ganhou o Prêmio Pulitzer de melhor ficção e foi escolhido pelo jornal americano The New York Times como “a melhor obra da ficção americana dos últimos 25 anos”. Morrison escreveu peças, ensaios, literatura infantil e um libreto de ópera. 

Wangari Muta Maathai

“Foi a primeira mulher africana a receber, em 2004, o Prêmio Nobel da Paz”.

Prêmio Nobel da Paz  – Ano: 2004

Wangari Muta Maathai, nasceu em Ihithe, Distrito de Nyeri, no Quênia, 1º de abril de 1940, e morreu Nairóbi, 25 de Setembro de 2011, foi uma professora e ativista política do meio-ambiente queniana.

Ellen Johnson Sirleaf

“Foi uma das três mulheres galardoadas com o Prêmio Nobel da Paz de 2011 graças ao seu trabalho como a Primeira Ministra da Libéria, atraindo investidores para a renovação do seu país”.

Prêmio Nobel da Paz – Ano: 2011

Ellen Johnson-Sirleaf, nascida em Monróvia, 29 de outubro de 1938, foi presidente da Libéria de 2006 até 2018. Foi a vencedora das eleições presidenciais de 8 de novembro de 2005, em que derrotou o ex-futebolista George Weah. Foi reeleita em 2011 para um novo mandato.

Leymah Gbowee

“Gbowee foi em 2011 uma das três personalidades galardoadas com o prémio Nobel da paz junto com a sua compatriota Sirleaf e a iemenita Tawakel Karman”.

Prêmio Nobel da Paz  – Ano: 2011

Leymah Roberta Gbowee, nascida em Monróvia, 1 de fevereiro de 1972, é uma ativista africana encarregada de organizar o movimento de paz que colocou fim à Segunda Guerra Civil da Libéria em 2003. Tal conduziu à eleição de Ellen Johnson-Sirleaf como a primeira mulher presidente de um país africano.

Do Afrokut


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14 personalidades negras que receberam o Prêmio Direitos Humanos do Governo Brasileiro

Conheça catorze personalidades negras que receberam o Prêmio Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.

O Prêmio Direitos Humanos é a mais alta condecoração do Governo Brasileiro a pessoas e entidades que se destacam na defesa, na promoção e no enfrentamento às violações dos Direitos Humanos. Esses agraciados, negros e negras, são pessoas com destacada atuação na luta antirracista, direitos do povo negro, e na promoção dos Direitos Humanos no Brasil.

O prêmio é uma honraria concedida pelo Governo Federal, desde 1995, a cerimônia de entrega do Prêmio acontece tradicionalmente em dezembro, em homenagem às comemorações da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Conheça os negros e negras agraciados do Prêmio Direitos Humanos:

1 – Eunice Aparecida de Jesus Prudente

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos em 2018, na categoria Igualdade Racial.

Eunice Prudente é advogada, com graduação, mestrado e doutorado pela USP. É autora do livro “Preconceito Racial e Igualdade Jurídica”, publicado em 1988 – obra pioneira no Brasil, com a tese pela criminalização da discriminação racial. Foi Secretária da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo (2007).

2 – Sonia Aparecida Dos Santos

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos em 2016, na categoria Igualdade Racial.

Ativista na luta contra o racismo, a militante integra o Movimento Negro UnificadoMNU, atuando na garantia dos direitos dos afro-brasileiros. Entre as ações desenvolvidas por ela, constam o enfrentamento ao genocídio da juventude negra, condições dignas à população da periferia e defesa das mulheres negras.

3 – Silvana do Amaral Verissimo

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos em 2015, na categoria Igualdade Racial.

Silvana atua em prol da mulher negra e do combate ao racismo, hoje ocupa várias atividades e posições nesse contexto, é membro do Comitê de Articulação e Monitoramento do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM; do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, representando a mulher negra; e do Fórum Nacional de Mulheres Negras.

4 – Mário Lucio Duarte Costa

Goleiro Aranha; Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2014, na categoria Igualdade Racial.

O Aranha, atuava como goleiro no Santos, foi um dos homenagedos em 2014. Ele foi premiado na categoria Igualdade Racial, por ter protagonizado uma forte cena de racismo. Em um jogo no Rio Grande do Sul, ele foi xingado por uma torcedora do Grêmio de macaco.

5 – Creuza Maria Oliveira

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial em 2011.

Em 1983, Creuza  ingressou na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas. Participou da fundação da Associação Profissional das Domésticas, em 1986, e foi umas das criadoras do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia, em 1990. Atualmente, exerce a função de presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, além de ser membro do Conselho Nacional da Promoção da Igualdade.

6 – Beatriz Moreira CostaMãe Beata

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial em 2010.

Mãe Beata foi escolhida para receber o Prêmio de Direitos Humanos 2010 do Programa Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República na Categoria Igualdade Racial.  A cerimônia de entrega do Prêmio aconteceu no dia 13 de Dezembro de 2010 em Brasília e contou com a presença do então presidente Lula. 

Mãe Beata de Iemanjá,  foi uma mãe-de-santo, escritora e artesã brasileira, que desenvolveu trabalhos relacionados à defesa e preservação do meio ambiente, aos direitos humanos, à educação, saúde, combate ao sexismo e ao racismo.

7 – Abdias Nascimento

Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2009, na categoria Igualdade Racial.

Abdias do Nascimento foi ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras.

Considerado um dos maiores expoentes da cultura negra e dos direitos humanos no Brasil e no mundo. Fundou entidades pioneiras como o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Foi um idealizador do Memorial Zumbi e do Movimento Negro Unificado (MNU) e atuou em movimentos nacionais e internacionais como a Frente Negra Brasileira, a Negritude e o Pan-Africanismo.

8 – Aurelielza Nascimento Santos

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Igualdade Racial em 2008.

Licenciada em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia no Departamento de Ciências HumanasCampus-V.  Foi Coordenadora da Executiva Baiana dos Estudantes de Geografia (CEBEGEO), Coordenadora do Centro Acadêmico de Geografia (CAGEO) da UNEB-Campus V e Diretora de Promoção da Igualdade Racial no município de Amélia Rodrigues – BA. Especialista em Educação à Distância pela UNEB e mestranda em Educação e Contemporaneidade pela UNEB – Campus I.

9 – Milton Santos (post mortem)

Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2007, na categoria Igualdade Racial.

O geógrafo, doutor e autor de 40 livros, recebeu homenagem póstuma. Milton Santos, foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. Também se destacou por seus trabalhos sobre a globalização nos anos 1990. A obra de Milton Santos caracterizou-se por apresentar um posicionamento crítico ao sistema capitalista, e seus pressupostos teóricos dominantes na geografia de seu tempo.  Ele também ganhou o Prêmio Vautrin Lud, em 1994, o de maior prestígio na área da geografia. O prêmio é considerado “o Nobel da Geografia”.

 

10 – Mãe Hilda Jitolu

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Personalidades em 2005.

Liderança de um dos terreiros mais tradicionais da cidade de Salvador, Mãe Hilda Jitolu foi um símbolo de resistência das religiões de matriz africana, que têm sofrido agressões vitais nos últimos anos no Brasil. 

Hilda Dias dos Santos, mais conhecida como Mãe Hilda Jitolú ou simplesmente Mãe Hilda, foi uma Ialorixá do candomblé Jeje, que tinha por ori a Obaluaiê, e ainda educadora e defensora da identidade afro-descendente, uma das mentoras do Ilê Aiyê.

11 – Maria José de Jesus Alves Cordeiro

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Ações Afirmativas em 2004.

A Professora Maria José de Jesus Alves Cordeiro, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero, Raça e Etnia (GEPEGRE/CNPq/UEMS); coordenadora do Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação, Gênero, Raça e Etnia (CEPEGRE/UEMS); e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas de Educação Superior/Mariluce Bittar  (GEPPES/MB). Coordenadora de subprojeto PIBID/Pedagogia. Membro do Coletivo de Mulheres Negras ‘Raimunda Luzia de Brito’ (CMNEGRAS/MS). Pesquisadora filiada a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).Integrante do GT 21- Educação e Relações Étnico-Racias da ANPED e pesquisadora da Rede Universitas/Br.

12 – Ivete Alves do Sacramento

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Ações Afirmativas em 2003.

Ivete Sacramento foi reitora da UNEB, no período de 1998 a 2006. Em 2002 ela surpreendeu o país a implantar as cotas para estudantes negros na universidade, dando início a uma polêmica e disputas juridicas em todo o país, que perdurou até este ano, com a constitucionalidade das cotas reconhecida por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A atuação da ex-reitora em defesa da democratrização do ensino superior foi reconhecido no Brasil e no exterior. São mais de 30 prêmios e condecorações, como o Prêmio Cláudia 2007, na categoria políticas públicas; a Medalha 2 de Julho, concedida pelo Governo da Bahia, a Medalha Tomé de Souza, da Câmara de Salvador e o Prêmio Direitos Humanos 2003, da Presidência da República.

13 – Maria da Fé da Silva Viana

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos na categoria Livre em 2001.

Maria da Fé da Silva Viana (Fezinha), teóloga de formação, educadora, ativista do movimento negro, coordenadora da Pastoral de Combate ao Racismo da Igreja Metodista e do Fórum Permanente de Mulheres Negras Cristãs. Vice-presidente do COMIRA (Conselho Municipal pela Igualdade Racial). Empenhada na busca de uma sociedade mais justa e fraterna.  Membro da Igreja Metodista de Fonte Carioca.

14 – Hernani Francisco da Silva

Vencedor do Prêmio Direitos Humanos em 2000, na categoria Livre.

Hernani recebeu o prêmio na categoria livre, pelo movimento, criado em 1988, para engajar jovens na luta contra o racismo; em 1991, fundou a Sociedade Cultural Missões Quilombo para modificar a visão equivocada e preconceituosa que as igrejas evangélicas têm da cultura negra

Hernani é fundador e editor da Rede Afrokut, uma plataforma voltada para a produção de conteúdo, com uma nova abordagem na superação do racismo, focada em uma mudança interior (autoconhecimento), com uma visão holística.

Do Afrokut


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O racismo religioso se apropriou até mesmo da bíblia para atacar tudo que vem da África

Interpretações racistas da Bíblia foram base para a escravidão e sustentam o racismo e a intolerância religiosa ainda hoje

Uma parte da história dos irmãos Caim e Abel é muito conhecida: o primeiro matou o segundo por inveja. Mas ela tem outras camadas. Uma delas foi alvo de uma interpretação teológica racista que serviu de base para a escravidão e ainda hoje sustenta o racismo e a intolerância religiosa. Quando Caim assassinou seu irmão, ele recebeu de Deus um sinal. A Bíblia não descreve esse sinal, mas não vacila quanto ao seu objetivo: proteger Caim.

“O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que o achasse.” (Gênesis 4.15). É o que diz o trecho. Ainda assim, entre os séculos XV e XVI, teólogos racistas elaboraram um discurso que apontava a marca como negra e sendo um sinal do pecado; que Deus havia tornado Caim um homem negro como punição.

 É nossa tarefa usar a mesma Bíblia para denunciar esses crimes, esse pecado

Segundo Ras André Guimarães, educador popular e pastor da Igreja Metodista Filadélfia, essa não é a única passagem bíblica que foi distorcida nesse sentido. Em um episódio de embriaguez de Noé, Cam, seu filho, o vê deitado nu em uma rede. Ao se deparar com a cena, ele a relata a seus irmãos, o que foi considerado um desrespeito. Quando Noé toma conhecimento do ato de seu filho, ele amaldiçoa seu neto Canaã, filho de Cam.

Noé diz que Canaã seria escravo de seus irmãos. E aí se construiu um discurso de que Canaã seria a África, logo todos os africanos seriam escravos desses irmãos. Então, tanto a maldição de Caim quanto a de Canaã são utilizadas para justificar a escravidão. E aí a gente vai ver todo um processo de ocupação de territórios da América com esse tipo de discurso de que o negro é fruto do pecado.”, explica Ras André.

Segundo o pastor metodista, a insinuação é de que existe uma ordem divina que justifica a exploração desse povo.

E aí qual o grande problema: a mentalidade religiosa, tanto do protestantismo, quanto do catolicismo, vai absorver esse imaginário, essa perspectiva racista, para justificar seu distanciamento com os pretos, descendentes de africanos. A leitura bíblica construída daí pra frente é toda de negação da figura negra”, complementa.

Nessa perspectiva, ele também acrescenta que a igreja cristã não rompeu com essa matriz escravagista.

Quando ela se depara com um país de maioria negra e essa maioria tá numa situação de sofrimento, não há resposta pra essa dor e sofrimento por parte dessas igrejas. Quem vai chorar pelos meninos mortos com 111 tiros? Pelos rapazes presos e torturados no supermercado? Há o imaginário de que aquilo é o destino, permissão de Deus”.

Para ele, todos os textos da Bíblia podem ser usados para combater o racismo:

O texto bíblico precisa ser lido com o viés das práticas de justiça, da mudança que Jesus trouxe. Salvação é as pessoas se livrarem desse inferno, do racismo, da intolerância religiosa. Quem são os samaritanos do tempo presente? São os povos subalternizados de hoje. Estão nas comunidades empobrecidas, na população indígena, nos terreiros de Candomblé.”.

Se uma igreja se coloca como cristã – que tem como sua base a vida, o testemunho, a luta e o serviço de Jesus Cristo – não há como separar o seu papel da luta antirracista. Se não há abraço, acolhimento, se uma criança sofre bullying por ser do Candomblé, a tarefa da igreja é denunciar. Conversar com os/as fiéis, apresentar textos que provocam o senso por justiça. Ouvir os relatos de quem sofre com a intolerância religiosa. Acho que essa é a nossa maior tarefa.”.

E todo esse racismo se estende ao campo religioso.

Em pleno século 21, espaços são depredados, pessoas são impedidas de trabalhar com suas indumentárias, deixam de conseguir um emprego. Tudo por conta de uma mentalidade que foi construída lá atrás, por alguém que usou a Bíblia para dizer que tudo que vinha da África era maldito. É nossa tarefa usar a mesma Bíblia para denunciar esses crimes, esse pecado.”, afirma o pastor.

A intolerância contra as religiões de matriz africana

Iyá Márcia destaca a importância do diálogo inter-religioso na luta contra a intolerância. Ela cresceu vendo sua mãe pedir e dar a benção a pastores/as, reverendas/os, padres.

Eu a questionava, falava que aquelas pessoas não eram do Candomblé e ela respondia que a gente pode tomar a benção de qualquer pessoa. ‘É muito bom ouvir um ‘Jeová lhe abençoe’, ‘Deus te abençoe’, dizia. O diálogo inter-religioso é promotor da paz.”.

O racismo religioso, dentre tantas formas de ataque, traz consigo a demonização das divindades da África. Diz que são “do mal”, mas é algo tão enraizado que as pessoas nem mesmo sabem dizer o porquê de pensarem assim. Foi naturalizado no imaginário social. E é preciso se refletir: religiões como o budismo ou o espiritismo não sofrem ataques como as religiões de matriz africanas. Por vezes, são até romantizadas.

Iyá Márcia de Ogum, ialorixá criada no Candomblé, ironiza a demonização feita por cristãos/as contra as religiões de matriz africana. Ela afirma que os povos de terreiro são acusados de cultuarem o diabo, mas o diabo sequer existe na sua cultura.

Diabo é uma nomenclatura das religiões cristãs. No Candomblé, existe o culto à ancestralidade e aos Orixás – Ogum, Oxum, Oyá, Iroko, logun edé.”.

Como exemplo escancarado de racismo, ela cita o caso da mãe que perdeu a guarda da filha após a jovem passar por rituais de iniciação no Candomblé, em São Paulo.

Só aconteceu porque se tratava do Candomblé. Com qualquer outra religião não haveria essa postura. A gente cresce ouvindo que a Justiça deve ser imparcial, mas a nossa termina sendo tendenciosa quando deixa de ouvir uma mãe para ouvir terceiros/as.”.

Ela também denuncia as estruturas negligentes do Estado para tratar do assunto.

Infelizmente nós não temos delegacias especializadas para receber as denúncias de racismo religioso e tomar as providências cabíveis contra os criminosos no nosso país. Muitas vezes, o/a criminoso/o não é chamado/a para ser ouvido/a no caso. Só se for um flagrante, como aconteceu uma vez com o busto de Mãe Gilda.”.

O busto de mãe Gilda, localizado no parque metropolitano do Abaeté, em Salvador, já foi alvo do racismo religioso na forma da depredação por duas vezes – em 2016, sendo reformado no mesmo ano, e em 2020, à luz do dia e em plena pandemia. No caso mais recente, o agressor disse que atacou a imagem da Mãe de Santo “a mando de Deus”. À época, a ialorixá Jaciara dos Santos, filha de Mãe Gilda, questionou: “que Deus é esse?”.

A CESE na luta e prática antirracista

A CESE entende o racismo como gerador de injustiças contra pessoas negras e sempre apoiou movimentos, organizações e grupos deste segmento. Nos últimos 15 anos, foram cerca de 660 projetos apoiados no campo da luta antirracista, beneficiando 314 mil pessoas com um investimento de 5 milhões de reais. Neste Dia da Consciência Negraa CESE reafirma a sua Política Institucional de Equidade Racial, na qual estão definidas estratégias para a superação do racismo no âmbito da gestão e ação institucionais.

Helivete Ribeiro,  pastora da Aliança de Batista do Brasil e presidenta da CESE, destaca que, como mulher negra evangélica, sabe que o racismo presente na sociedade tem reflexo nas comunidades de fé.

Poucas mulheres negras são pastoras, diaconizas ou seminaristas. Falta representatividade nas igrejas, na história e na tradição cristã, que na maioria das vezes, ainda é apresentada de forma eurocentrada, branca e heteronormativa.”, afirma.

Ela reforça a necessidade de se possibilitar a construção de uma teologia mais inclusiva, incorporando elementos da cultura negra sem demonizá-los, valorizando a identidade negra. 

Como evangélica, entendo que devemos estudar a liturgia universal que aceita todas as pessoas sem discriminação. Não podemos negar que há uma rejeição da herança cultural e religiosa africana que tem levado muitos/as de nós a negar nossa identidade racial para sermos ‘bons e boas cristãs’.’”.

“Como diz Lélia Gonzalez, escritora negra: ‘tonar-se negra é uma conquista’.

Ser mulher negra, pastora evangélica, ativista, divorciada, sim, é uma conquista. Não se trata só de mim. Como presidenta da CESE, me orgulho em fazer parte de uma organização que reconhece a existência dos racismos – institucional, estrutural, ambiental, religioso – na construção histórica do Estado e da sociedade brasileira e atua na defesa e garantia de direitos e tem o compromisso com a luta e a prática antirracista, finaliza a pastora Helivete.

As pastoras Sônia Mota e Bianca Daébs, respectivamente Diretora Executiva e Assessora para Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CESE reafirmam a importância do diálogo entre as religiões para a promoção da paz.

Posturas exclusivistas, verdades absolutas, demonização da religião do outro não contribuem para uma cultura de paz, que é o que, a princípio, as religiões defendem.”, afirmam,

 Fonte:  CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço